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quarta-feira, 24 de março de 2021

Bilhetes

 

Bilhetes

por G. Mirim (Antônio Wantuil de Freitas)

Reformador (FEB) Setembro 1946

 

            Num dos Concílios da Igreja, como os homens não pudessem compreender o Cristo, porquanto não achavam explicação possível, na época, para os “milagres” por ele realizados, decretaram como dogma que o Enviado era o próprio Deus, então dividido em três pessoas, tal como os deuses de antigas religiões.

            Com Buda, os fatos se passaram mais ou menos de forma semelhante. É a tendência natural dos homens. Entretanto, todos nos rimos da ingenuidade dos índios, por se terem curvado ao deus-Caramuru.

            Assim têm sempre procedido os homens, apesar de os iniciadores dos movimentos religiosos deixarem bem claramente explicado que eles não eram deuses, mas criaturas falíveis como nós o somos.

            Dessa maneira, com tais interpretações, a Humanidade se tem dividido ou conservado em verdadeiro estado de fanatismo religioso, estacionando o que veio para ser evolutivo. Swedenborg aí está, trancado nos livros que deixou, formando uma seita à parte.

            Também o Espiritismo já se vai também caminhando para esse estacionamento. Kardec foi muito grande e, daí, por não o compreenderem, aliás, por não assimilarem a Doutrina que ele recebeu através de médiuns, codificando-a, já existe uma tendência para as subdivisões, e, por conseguinte, para o enfraquecimento do meio e consequente vantagem para o sacerdotismo semi oficializado de outras igrejas.

            É necessário, portanto, que não confundamos a pessoa de Kardec com a obra por ele recebida do Alto. Não ponhamos em plano igual as obras que lhe foram ditadas e os trabalhos outros de sua própria pena. Nas primeiras estão as leis; nas segundas, as opiniões pessoais de um homem que, apesar da sua alta e ímpar posição no meio espírita, não pode ser considerado em igualdade com os Espíritos que lhe transmitiram aquelas leis, e tanto é justo esse nosso raciocínio, que ele próprio, agindo com a precaução dos sábios, em várias ocasiões repetiu essa mesma afirmativa de que estava sujeito a erros e, por isso mesmo, muitas vezes não afirmava, mas apresentava apenas hipóteses.

            Tenhamos por Allan Kardec o respeito e o amor de que se fez merecedor, mas não nos subdividamos por caprichos ou por vaidades exibicionistas que existam dentro de nós. Esforcemo-nos, antes, por reunir todos os meios espíritas conseguindo convencer, até mesmo os anglo-saxônicos, de que “O Livro dos Espíritos” é a ligação de todos nós.

            Se continuarmos como vamos, entregando-se cada um ao primeiro inimigo invisível que se lhe apresente, em breve teremos centenas de pequenos agrupamentos: os que só aceitam os fenômenos; os que repelem a reencarnação; os que rejeitam a teoria de Darwin; os que não toleram preces; os que não admitem a evocação de Espíritos, etc. etc., cada um com a sua denominação especial.

            Como vemos, todos aqueles que trabalham pela subdivisão da Doutrina e que procuram combater e criticar, sem construir, são criaturas que se vêm prestando para a obra dos inimigos invisíveis.

            Paulo foi considerado como o maior dos pregadores e o verdadeiro propagador do Cristianismo, porque procurou reunir todas as correntes, indo até mesmo à procura dos gentios, classe desprezível para os fanáticos do Judaísmo, então dominante, e para os que receberam, no berço, a educação dessa poderosa organização político-religiosa dos primeiros tempos.

            Dividir, criticar, condenar, acusar não é obra digna de um espírita, porque, a Doutrina nos ensina a trabalhar para a união, para a tolerância, para o amor;

            Trabalhemos, pois, pela união e nunca para a desunião.


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