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segunda-feira, 8 de março de 2021

Bilhetes

 


Bilhetes

G. Mirim (Antonio Wantuil de Freitas)

Reformador (FEB) Junho 1944

             Escreveram-nos uma carta não assinada, no entanto, fácil nos foi descobrir a sua origem pelo latinório (palavreado repleto de termos e citações latinas de forma confusa e imprópria). E como esse anônimo nos pediu que lêssemos as recomendações de Moisés, proibindo toda e qualquer comunicação com os mortos, fomos ao Velho-Testamento à procura do texto original, e vimos, claramente, que o missivista não soube interpretar o que leu ou julgou que seria fácil convencer-nos com frases e mais frases latinas.

            Lá se nos deparou, pelo contrário, a certeza da possibilidade de nos comunicarmos com os chamados mortos, porque Moisés, ao fazer a proibição que se encontra no versículo, afirmou para todos os séculos e gerações essa possibilidade, visto como, se ela não fosse possível, não haveria necessidade de ser proibida.

            Além dessa afirmativa de Moisés, pudemos concluir, pelas suas palavras, que ele somente proibiu que se procurassem as criaturas que viviam desse comércio criminoso, tanto assim que se não referiu aos médiuns, conhecidos naquela época pelo nome de profetas.

            Já nos dispúnhamos a abandonar o Velho Testamento e a virar as folhas da Bíblia, na ânsia de conhecermos algumas gotas da água viva dos Evangelhos, quando aos nossos olhos se apresentaram alguns pedacinhos de ouro daquele mesmo livro. E como o amigo que nos dirigiu aquela carta deve esperar que lhe enviemos alguma coisa em troca do que nos ofereceu, aqui lhe deixamos alguns excertos que merecem meditados:

             - "Os sacerdotes não farão calva na sua cabeça". - (1)

            - "Não cortareis os cabelos arredondando os cantos de vossa cabeça". (2)

            - "Não vestirá o homem vestido de mulher, porque abominação é ao Senhor teu Deus". (3)

            - "E o sacerdote tomará por esposa uma mulher na sua virgindade". (4) .

 (1) Lev., 21-5.

  (2) Lev., 19-27.

   (3) Deut., 22-5.

   (4) Lev., 21-13.

             Cremos que Moisés não falou para os espíritas, porque não usamos coroas, não cortamos os cabelos à frade, não vestimos batina e não aconselhamos o celibato.

            Se acreditam realmente no Velho Testamento e se proclamam a autoridade de Moisés como infalível, parece-nos que deveram ser coerentes aceitando as recomendações bíblicas, acima citadas, e todas as outras que dariam para encher inteiramente as páginas desta revista.

            O caso, porém, não é de crença e nem de fé no Evangelho, e muito menos do que apresentam os Livros do Velho Testamento. O amigo que nos escreveu, como milhares de outros que percorrem o mundo, sabe muito bem que a razão está conosco, com o Espiritismo, mas a ordem é combatê-lo, ainda que sem armas, visto que a razão e a lógica não podem ser combatidas com palavras ocas e ameaças, numa época em que o homem atingiu adiantamento intelectual que lhe permite examinar e distinguir aquilo que se lhe apresenta ao estudo.

            A ordem é lançar mão de todos os meios, e Moisés lhes pareceu utilíssimo... Erraram ainda, como o fizeram com outros meios e processos, abandonados hoje por improdutivos e contraproducentes.

            Todas as várias modalidades de guerra que moveram ao Espiritismo, nada mais conseguiram que despertar criaturas para o estudo da Nova Revelação. Não se convencem disso, bem o sabemos. Todavia, as nossas estatísticas asseveram que cresce o número de espíritas todas as vezes que os seus inimigos lhe abrem campanha; aliás, isso não é novidade, porque, há dois mil anos, os sacerdotes também lançaram mão de inúmeros processos, apoiados por todas as forças da época, e, quando se supunham em caminho para a vitória, jubilosos com a crucificação do Justo, eis que a ruína da classe sacerdotal foi completa e o Cristo reinou através da palavra daqueles humildes pescadores da Judeia.

            E a vitória atual, a vitória do Terceiro Milênio, é a vitória daquele mesmo crucificado sobre o erro e a mentira dos que lhe deturparam a palavra e lhe esqueceram o exemplo.


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