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segunda-feira, 1 de março de 2021

A natureza do indivíduo

                   Emmanuel

A natureza do indivíduo

Emmanuel por Porto Carreiro Neto

Reformador (FEB) Março 1949

 Amigo,

            Não estejamos a ingerir-nos em o que não nos toca, mas empenhemo-nos em o que nos concerne. Muitos problemas há, que não nos cabe resolver. São transcendências para nós, que mal enxergamos no grande oceano de nossas poucas faculdades e muita ignorância. Busquemos estudar o círculo em que nos debatemos, antes de procurar ultrapassá-lo; baste-nos esse círculo, que já é imenso para nossa pequenez. Olhemos em torno, e veremos quanto há que fazer. Sobram-nos problemas de como havemos de vencer a nós mesmos. Lutamos nas canseiras do desespero e da incompreensão, ansiados por libertar-nos desse círculo de ferro em que nos aprisionamos, enclausurados numa cegueira que nos furta a visão de maiores grandiosidades. Reconheçamos nossa mesquinhez dentro dum Universo infinito. Vejamos nossa miséria olhando a nós mesmos, empecidos (dificultados) os passos na áspera via do progresso, enquanto nos é fácil o torvo caminho das paixões. No altar divino, do Senhor Nosso que é longanimidade, sacrifiquemos a jactância (arrogância) e toda sofreguidão de transcender nosso minúsculo âmbito de conhecimentos. Repito-te: pesquisemos esse círculo, que muito já estudaremos e muito alcançaremos. Saibamos compreendê-lo, que ele se dilatará; e então, sem dele sairmos, verificaremos que os horizontes recuam.

            A Natureza é infinita; a cada qual é concedida uma parte, e a parte primeira é o nosso mundo interior. Quem somos? É o indivíduo um complexo tão grande, que pudéramos dizer ser ele uma Obra-prima da Criação de Deus. Nele se enfeixa tudo quanto o Senhor criou de belo. Mas o homem se incorpora as mais negras vilanias (mesquinharias), que empanam (dificultam) a virtude maior - O Amor; tece em torno do raio divino a névoa mais densa e caliginosa (tenebrosa). Onde exuberaria a grandeza, reina a sordícia (sordidez); onde estrugiria (ecoaria) a sublimidade, dorme pesado sono um abismo asqueroso. Como há de, então, embevecê-lo o fulgor das estrelas, se vive na sombra; como enlevá-lo a harmonia, quando é paradoxo e contraste em si mesmo; como extasiá-lo a maviosa linguagem das aves, quando a sufocam os sinistros urros de fera?

            Estudemo-nos a nós mesmos, na maravilha da Criação. As leis universais em nós mesmos se enquadram e a nós próprios se aplicam. O equilíbrio que governa o Universo em nós se faça, para não negarmos que somos realmente obra do Arquiteto insuperável. Então, expungir-se-ão (desaparecerão) de nós o egoísmo e a megalomania: viveremos em nós, mas não para nós; e, não ultrapassando a nós, encerraremos, por isto mesmo, a grandeza da Criação.


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