Pesquisar este blog

terça-feira, 17 de junho de 2014

29. A palavra de Camille Flammarion



pg. 16  de
‘Deus na Natureza’ de Camille Flammarion
(6ª Edição FEB - 1990)
-Tradução de Manuel Quintão-

            “Pensamos que o único meio eficaz de combater o negativismo contemporâneo é voltar contra ele o materialismo científico e utilizar as suas próprias armas para derrotá-lo. 

            Esse discrime compete antes à Ciência que à Filosofia.

            A Ideologia, a Metafísica, a Teologia, mesmo a Psicologia, dele se afastaram quanto possível. Nós não razoamos com palavras, mas com fatos.

            As verdades significativas da Astronomia, da Física e da Química, como da Fisiologia, são, de si mesmas, as defensoras intrépidas da realidade essencial do mundo.

            Por mais difícil que à primeira vista pareça a refutação científica do Materialismo contemporâneo, nossa posição é belíssima, desde que nos colocamos no mesmo plano dos nossos adversários. E nesta guerra eminentemente pacífica, estamos de antemão seguros da vitória.

            Basta-nos, com efeito, de vez que o inimigo está em falsa posição, descobrir a fraqueza dessa posição e desequilibrá-lo.”






domingo, 15 de junho de 2014

28. A palavra de Camille Flammarion



pg. 13/14  de
‘Deus na Natureza’ de Camille Flammarion
(6ª Edição FEB - 1990)
-Tradução de Manuel Quintão-


                        “É preciso ser cego, ou ter interesse em iludir-se a si e aos outros (quantos neste caso se encontram!), para não ver e não ajuizar a nossa atualidade pensante. Foi por ter a superstição matado o culto religioso, que nós o menosprezamos e abandonamos. E foi porque as características do verdadeiro se nos revelaram mais claramente, que a nossa alma aspira a um culto mais puro.”

27. A palavra de Camille Flammarion



pg. 13  de
‘Deus na Natureza’ de Camille Flammarion
(6ª Edição FEB - 1990)
-Tradução de Manuel Quintão-


            “A causa da nossa decadência social (passageira, de vez que a História não pode mentir a si mesma) deve-se à nossa falta de fé. A primeira hora deste nosso século marcou o derradeiro alento da religião de nossos pais. Baldos serão quaisquer esforços de restauração e reconstrução. Tudo o que se fizer não passará de simulacro, pois o que está morto não pode ressurgir. O sopro de uma revolução imensa passou sobre as nossas cabeças deitando por terra nossas velhas crenças, mas, entretanto, fecundando um mundo novo.”

26.A palavra de Camille Flammarion



pg. 10  de
‘Deus na Natureza’ de Camille Flammarion
(6ª Edição FEB - 1990)
-Tradução de Manuel Quintão-

            “O homem tem, por natureza, uma necessidade tão imperiosa de firmar-se numa convicção - particularmente quanto à existência de um coordenador do mundo e da destinação dos seres - que, quando não encontra uma fé satisfatória, experimenta a necessidade de se demonstrar a si mesmo que esse Deus não existe e busca, então, repousar o espírito no ateísmo e no niilismo.”

25. A palavra de Camille Flammarion



pgs. 9-10  de
‘Deus na Natureza’ de Camille Flammarion
(6ª Edição FEB - 1990)
-Tradução de Manuel Quintão-

            "O ceticismo e a dúvida universal imperam no âmago de nossa alma e nosso olhar perscrutador, que nenhuma ilusão fascina, vigila na cripta dos nossos pensamentos. Não nos despraz que assim seja. Não lastimemos que Deus não nos houvesse tudo revelado ao criar-nos, dando-nos contudo o direito de discutir. Essa prerrogativa do nosso ser é ótima em si mesma, como condição maior de progresso. Mas, se o ceticismo nos atalaia vigilante, também a necessidade de crença nos atrai. Podemos duvidar, certo, sem por isso nos isentarmos do insaciável desejo de conhecer e saber. Uma crença torna-se-nos imprescindível. Os espíritos que se vangloriam de não a possuírem são os mais ameaçados de cair na superstição ou de anular-se na indiferença."


quinta-feira, 12 de junho de 2014

24. A palavra de Camille Flammarion



pg. 21 de
‘A Morte e o seu mistério - Vol 2 de Camille Flammarion
(4ª Edição FEB - 1990)

            Encontramos muitas vezes, à nossa volta, homens incapazes de serem convencidos, a despeito da evidência das verificações; homens excelentes, de resto, sob outros pontos de vista, instruídos, agradáveis, filantropos, mas de quem os olhos do espírito estão dispostos de forma que não vêem direito à sua frente (Os caçadores afirmam que acontece o mesmo com as lebres). Esses olhos têm um prisma diante da retina, em vez do cristalino normal; e tal prisma desvia em alguns graus os raios luminosos, com refrações diversas segundo os tipos. A culpa não é deles. Não somente não querem reconhecer o Sol no meridiano, mas não podem fazê-lo. Opõem-se a isso vários modos de educação: uns, por credulidade, cega em certos ensinamentos não inteiramente demonstrados mas que os satisfazem; outros, por incredulidade não menos cega. Carlos du Prel conta em qualquer parte que um pregador de Viena pronunciou do alto do púlpito estas assombrosas palavras: - “Não acreditarei numa sugestão hipnótica senão quando a tiver visto, e não a verei nunca, porque tenho por princípio não assistir jamais a tal gênero de experiências.

            Que lógica! Que magnífico raciocínio!


            Os olhos não servem de nada a um cérebro cego, diz um provérbio árabe.

23. A palavra de Camille Flammarion



pg. 19 /20 de
‘A Morte e o seu mistério - Vol 2 de Camille Flammarion
(4ª Edição FEB - 1990)

            “Os pressentimentos são, por vezes, de tal precisão que certos psicólogos pensam que a alma humana, reduzida às suas únicas forças, não é capaz de senti-los e que se torna necessário associar-lhe a intervenção dum espírito exterior a ela. Estes analistas levam as consequências espiritualistas ainda mais longe do que eu tenho feito até aqui.

            Que nisto o cérebro entre em jogo, muito bem; mas ele não é mais do que o instrumento. A locomotiva não se moveria sem o maquinista. O aparelho elétrico não é o telegrafista. O telefone não é a pessoa que faz a chamada. A câmara escura não é o fotógrafo.

            Há ainda um outro aspecto do homem, de que não falei até agora e sobre o qual nada tenho que dizer aqui: - o caráter moral. Como é que combinações de moléculas químicas poderiam produzir a bondade, a devoção, o amor do bem, a honestidade, a probidade, a virtude, o sentimento do sacrifício, o espírito de justiça, a paixão da verdade, e todas as faculdades espirituais que constituem o domínio moral da Humanidade? As faculdades da alma são tão diferentes como os indivíduos: mas existe uma semelhança comum entre todas as almas: - a consciência, para condenar o mal e louvar o bem. Além do lado espírito da alma, há também o lado moral que constitui o próprio fundo da psique humana. Como ver nisto uma função da matéria cerebral?”


quarta-feira, 11 de junho de 2014

22. A palavra de Camille Flammarion



pg. 12 de
‘A Morte e o seu mistério - Vol 2 de Camille Flammarion
(4ª Edição FEB - 1990)

            “Uma parte do clero é hostil a tal gênero de estudos (de fenômenos espíritas) e entende que a Igreja deve conservar o seu monopólio. Esta opinião data dos tempos bíblicos. A evocação dos mortos era formalmente proibida aos hebreus, e Saul infringiu seus próprios decretos, indo consultar a pitonisa de Endor e convocar a sombra do profeta Samuel. Talvez se justifique esta proibição ao vulgo incompetente, que pode facilmente propender para as mais funestas tolices; mas impedir, em nosso tempo, as pessoas instruídas, refletidas, ponderadas, de estudarem tais problemas, dizer-lhes que Deus lhes não concedeu a inteligência para que se servissem dela e que devem humilhar a razão perante as afirmações duma Revelação divina contestável, pretender que a questão da natureza da alma e da sua sobrevivência, que tanto interessa, pessoalmente, a cada um de nós, está reservada para uma casta de casuístas que se arrogam o direito de julgar e de decidir entre o verdadeiro e o falso, entre Deus e o diabo, representa realmente estranho raciocínio e um anacronismo que nos reconduz à Idade Média. Quantos crimes não cometeu a Inquisição nos seus numerosos processos de bruxaria! Nas ideias atuais que dominam ainda certa classe de homens e de mulheres, há um erro formidável, extremamente prejudicial à investigação da verdade - erro tanto mais inexplicável quanto é certo que os fenômenos de que nos ocupamos apoiam as narrativas dos “Livros Santos”, entre outras, as das aparições de Jesus, desconhecidas ou negadas pelas nove décimas partes do gênero humano.”





21. A Palavra de Camille Flammarion



pg. 11 de
‘A Morte e o seu mistério - Vol 2 de Camille Flammarion
(4ª Edição FEB - 1990)


            "São poucos os pensadores na nossa Humanidade atual. O que nela mais há são comerciantes!.. Pois bem, não será esta proporção comparável à das observações psíquicas?

            Infelizmente, em geral, as pessoas que pertencem às classes superiores da sociedade - sábios, eruditos, artistas, escritores, magistrados, sacerdotes, médicos, etc. - mantêm-se em discreta reserva, como se tivessem medo de falar. Não são completamente livres, têm interesses a salvaguardar, e calam-se, ao passo que os outros falam. Esta pusilanimidade, esta covardia, são absolutamente desprezíveis. De que é que se tem medo? Negar os fatos, por ignorância, é desculpável. Mas, não ter a coragem de confessar o que se viu, que miséria!

            Há mais criminosos além dos que estão presos: - são os homens cultos que conhecem as verdades e não ousam revelá-las por temerem o ridículo ou por interesse pessoal. Tenho encontrado, durante a minha carreira, mais de um destes “homens de ciência”, muito inteligentes, muito instruídos, que foram testemunhas ou tiveram conhecimento de fatos metafísicos irrecusáveis, que não duvidam da existência inegável desses fenômenos, e não têm a coragem de o dizer, por um sentimento de mesquinhez imperdoável nos espíritos de real valor, ou que cochicham misteriosamente, com medo de serem ouvidos os seus depoimentos, que seriam de considerável peso para a vitória da verdade.


            Tais homens são indignos do nome de sábios. Muitos pertencem ao que se chama “alta sociedade” e receiam desacreditar-se, mostrando-se crédulos, embora creiam, entretanto, em dogmas muito discutíveis."

20. A palavra de Camille Flammarion



pgs. 85/86/87 de
Sonhos Estelares’ de Camille Flammarion
(Edição FEB - 1941)
-com tradução de Arnaldo S. Thiago-


            Dentro de cem milhões de anos, a Terra em que nos achamos não existirá mais, ou, se ainda restar alguma ruína, não será mais do que um fúnebre deserto; os diversos mundos do sistema solar terão terminado seu ciclo vital; extintas achar-se-ão há muito as histórias das várias humanidades que se tenham neles sucedido; o nosso próprio Sol sem dúvida, terá perdido sua luz e rolará, como um globo de trevas, na imensidade noturna. Mais uma vez lançado, talvez, pelas leis do destino, nos crisóis da metamorfose perpétua, reunido em um choque supremo a qualquer velho sol morto, como ele projetado através da vida eterna, terá ressuscitado, radiante Fênix, de suas cinzas reacendidas pela transformação do movimento em calor.

            Mas, então como hoje, as nebulosas terão dado à luz novos sóis, então, como hoje, o espaço imenso será povoado de astros sem número, gravitando na harmonia de suas atrações recíprocas, balançar-se-ão terras na luz de seus respectivos sóis, manhãs e tardes suceder-se-ão, céus azuis se desdobrarão, nuvens flutuarão no encantamento dos crepúsculos, atmosferas perfumadas soprarão sobre os bosques e sobre os vales, misteriosos silêncios suspenderão o canto do pássaro que gorjeia, e o eterno amor arrebatará os novos adolescentes no arrojo divino das aspirações insaciáveis. Ascensão maravilhosa da vida, a natureza cantará como hoje o hino da juventude e da felicidade, e a imperecível primavera lançará sempre flores neste universo imenso, em que o historiador do passado não vê mais do que túmulos!

            Se não há limites ao espaço; se, qualquer que seja o ponto do céu para o qual se volte o nosso pensamento, pode ele voar sempre sem que jamais coisa alguma o detenha, qualquer que seja a rapidez do seu vôo e qualquer que seja a duração do seu infatigável transporte, se, em uma palavra, o espaço é infinito em todos os sentidos, o mesmo pode-se afirmar com relação à eternidade; nada, tampouco, poderia limitá-la, e qualquer que seja a pausa que imaginemos a duração, qualquer que seja a hora, o minuto em que pretendêssemos dar-lhe um fim, nosso pensamento salta imediatamente além dessa pretensa barreira e continua seu caminho. O espaço infinito é atualmente povoado de mundos nascentes, de mundos chegados à idade viril, de mundos em decadência, de mundos mortos, disseminados em todas as regiões da imensidade sem limites, nebulosas gasosas, sóis de hidrogênio, astros oxidados, planetas em formação, satélites gelados, cometas desagregados... as forças da natureza mostram-se por toda parte em atividade, a energia da criação permanece constante, não podendo ser aumentada nem diminuída, e todas as ciências estão de acordo em testemunhar que o que chamamos destruição, aniquilamento não é mais que transformação. Astronomia revela-nos o tempo, como nos revelou o espaço; mostra-nos que a nossa época atual nada tem de particular na historia da natureza, do mesmo modo que o nosso lugar atual, e convida-nos a reconhecer a duração tanto quanto o espaço, estas duas formas da realidade, contemplando em uma mesma síntese os grandes aspectos do desenvolvimento do Universo.



domingo, 8 de junho de 2014

19. A palavra de Camille Flammarion



pgs. 79/80 de
Sonhos Estelares’ de Camille Flammarion
(Edição FEB - 1941)
-com tradução de Arnaldo S. Thiago-

O Universo Anterior

           "Tive um sonho, que não era bem um sonho.

            Achava-me como observador do mundo há cerca de cem milhões de anos, habitando um planeta situado no cortejo de uma das estrelas longínquas do espaço, em meio de um universo sideral análogo ao que existe atualmente, ainda não fosse o mesmo, pois que o universo de então está hoje destruído e o universo de hoje existia ainda.

            Havia, como em nossa época, constelações e estrelas, mas não eram as mesmas constelações nem as mesmas estrelas.

            Havia sóis, luas, terras habitadas, dias, noites, estações, anos, séculos, seres,  impressões, ideias, fatos; mas não eram os mesmos.

            A Terra em que nos achamos não estava ainda formada. Os materiais que a compõem flutuavam no espaço em estado de nebulosidade difusa, gravitando em torno do foco solar que gradualmente se condensava. Ainda não havia água, nem ar, nem terra, nem pedras, nem vegetais, nem animais, nem mesmo corpo algum dos reputados simples pela química: oxigenio. hidrogênio, azoto (nitrogênio), carbono, ferro, chumbo, cobre, etc. O gás que devia, por suas condensações e suas transformações ulteriores, dar nascimento às substâncias diversas. gasosas, líquidas ou sólidas, que constituem atualmente o nosso globo e seus habitantes, era um gás simples, homogêneo, contendo em seu seio - crisálida inconsciente - as possibilidades do futuro. Nenhum profeta, porém, teria podido pressentir o desconhecido que dormitava em seu mistério.

            Oferecia então o nosso planeta o aspecto dessas vagas nebulosas de gás, que o telescópio descobre no fundo dos céus e que o espectroscópio analisa. No meio das estrelas flutuava a nebulosa solar em via de condensação.

            A humanidade, com toda a sua história, cada um de nós com todas as suas energias,  todos os seres terrestres - estavam em gérmen nessa nebulosa e em suas forças; mas os seres e as coisas que conhecemos, não deviam chegar à existência senão após a longa incubação dos séculos. No lugar do que devia ser a Terra, nada mais havia do que um gás flutuando na imensidade estrelada. Ainda não era esse, realmente, "o lugar" em que nos achamos atualmente, porquanto a Terra, os planetas e todo o sistema solar vêm de longe e avançam rapidamente através da imensidade.

*

            Na história da criação, cem milhões de anos passam como um dia; apagam-se, dissipam-se - fugitivo sonho - no seio da eternidade que tudo absorve.

*

            Então, ainda que o nosso planeta não existisse, havia como hoje estrelas, sóis, sistemas solares e mundos habitados. As humanidades que povoavam esses mundos viviam sua vida, como nós vivemos a nossa.

            Era um espetáculo comovente para o pensador, contemplar o grande trabalho de todos esses seres. Na indiferença ou na paixão, no prazer ou na dor, no riso ou nas lágrimas, eles viviam, agitando-se ou repousando; combatendo, perdoando; acusando, esquecendo; amando, odiando; arrebatados no turbilhão fatal; nascendo, morrendo; sucedendo-se cegamente através das gerações e dos séculos; ignorantes da causa que os fez nascer; ignorando a sorte futura das mônadas e das almas; joguetes da Natureza que sopra mundos e seres, estrelas e átomos, séculos e minutos, como essas bolhas de sabão que as crianças fazem flutuar no espaço; todos precipitando-se no mar, à imagem desses turbilhões de areia que o vento do deserto levanta e transporta nas asas dos furacões ou das brisas suaves. Era espetáculo idêntico ao que nos oferece hoje a Terra: multidões animadas combatendo pela vida e não alcançando nada mais do que a morte.

            O que mais nos deve impressionar, nessa contemplação retrospectiva, é que, nessa época, a Terra não existia. Nenhum dos seres humanos que vivem atualmente, que viverão no futuro, ou que têm vivido no passado, nem estava ainda para nascer. Nada, nada do que existe em torno nós, existia. E, não obstante, sobre esses mundos antigos, desde muito desaparecidos, tinham as humanidades que os animavam a sua história atual e presente, cidades florescentes, campos cultivados, organizações sociais, ciências e artes, lutas e combates, leis e tribunais, e os árbitros da inteligência, historiadores, economistas, políticos, teólogos, literatos, esforçavam-se por distinguir o verdadeiro do falso e por escrever conscienciosamente o que chamavam - eles também - a história universal. Para todos eles, a criação limitava-se ao seu tempo e ao seu habitat; para todos eles, aí acabava a criação: o resto do universo sem limites perdia-se na insignificância, eclipsado por sua atualidade. Não imaginavam que antes deles uma eternidade já houvesse transcorrido e que após eles uma eternidade transcorreria ainda.

            Viviam, sábios ou ignorantes, ilustres ou obscuros, ricos ou pobres, opulentos ou miseráveis, religiosos ou céticos, viviam como se a era em que se encontravam jamais devesse acabar. Estes amontoavam, sem descuido de um minuto, uma fortuna que seus herdeiros apressar-se-iam em dissipar; aqueles sonhavam e contemplavam, sem receio do dia de amanhã; aqui, batalhões inflamavam a populaça por meio de clamores patrióticos; mais longe, pares amorosos casavam no mistério suas almas frementes. Premidos, como supunham eles, por negócios de uma importância imperiosa, enlevados na atração do prazer, ou arrebatados nas asas da ambição, os seres de então, como os de hoje, precipitavam-se no turbilhão da vida. Esses povos tiveram, como nós, dias de glória e dias de desespero: tiveram os seus 89 e os seus 93, como os seus Austerlitz e os seus Waterloo. Lá também os dramas da politica tiveram os seus 18 Brumário e os seus 2 de Dezembro. Do mesmo modo, não há muito ainda, sobre a nossa própria Terra, resplandecia a vida das Babilônias, das Tebas, Nínive, Memphis e Cartago; a glória das Semiramis, dos Sesostris, dos Salomão, Alexandre, Cambises, César, ao passo que em nossos dias o silêncio das fúnebres solidões reina soberanamente sobre as ruínas dos palácios e dos templos, na sono da noite avassaladora. Através da historia do Universo imenso somente povos, reinos, impérios têm desaparecido; mas também mundos inteiros, grupos de mundos, arquipélagos de planetas, universos!

             .....................................................

            Não se pode pensar sem terror na inumerável quantidade de seres que tem vivido sobre todos os mundos hoje desaparecidos, em todos os espíritos superiores que têm pensado, agido,  guiado as humanidades na via do progresso, da luz e da liberdade: não se pode pensar nesses PIatão, nesses Marco Aurélio, nesses Pascal, nesses Pascal, nesses Newton dos mundos desaparecidos, sem perguntar no que se transformaram eles. É muito fácil responder que deles nada resta, que assim como nasceram também morreram, que tudo é pó e em pó se converte: eis aí uma resposta fácil mas pouco satisfatória. 

                                                                                   *

            Certamente, ninguém pode ter a ingênua pretensão de desvendar o grande mistério. Para tratar desses insondáveis problemas de eternidade e de infinito, estamos pouco mais ou menos na situação de formigas que procurassem entre si informar-se a respeito da história da França. Malgrado todas as suas aptidões intelectuais tão legitimamente reconhecidas, aliás, mal grado toda a sua boa vontade, todos os seus esforços e todas as suas pesquisas, é bem provável que não fossem elas além da história do seu formigueiro e se não elevassem à concepção de ideias um pouco sensatas sobre os humanos e sobre os seus negócios. Para elas, evidentemente, os verdadeiros proprietários dos bosques e dos parques, são as formigas, os pulgões domesticados por elas e os parasitas da Terra são os insetos não comestíveis que as incomodam. Sabem que os pássaros existem? É duvidoso. Quanto aos homens, é bem provável que elas ignorem a sua existência (a menos, entretanto, que as dos países civilizados tenham em sua linguagem antenal uma expressão que corresponda à ideia de fabricante de açúcar, pasteleiro, cozinheiro, ou confeiteiro, ou de algum inimigo implacável tal como jardineiro). Mas ainda que acreditassem em nossa existência, não poderiam evidentemente adquirir sobre a raça humana e sua história, mais do que ... ideias de formigas.

*

            Seria, sem dúvida, tão inútil quão infantil perdermo-nos nas nebulosidades da metafísica para alcançar uma solução que verossimilmente nos escapará sempre; não é, porém, um objeto de contemplação menos digno de ocupar nossas ideias, o de pensar nesse aspecto particular da criação: o Tempo; como também o de pensar que de toda eternidade terras habitadas como a nossa flutuaram na luz de seus respectivos sóis, que de toda a eternidade tem havido humanidades gozando as alegrias da vida, e que de toda eternidade a hora do fim do mundo soou no quadrante secular dos destinos, amortalhando alternativamente os universos e os seres no sudário do aniquilamento e do olvido. 

            Porque nos é impossível conceber um começo que não fosse precedido de uma eternidade de inação, e por tão longe quanto nos possam conduzir as ciências de observação, mostram-nos elas, por toda parte, forças em perpétua atividade.

            Se o espaço infinito nos deslumbra por sua idade sem limites, a eternidade sem começo e sem fim, ergue-se, talvez ainda mais formidável, diante da nossa contemplação terrificada. As vozes do passado falam-nos do fundo do abismo: falam-nos do futuro.

            O passado dos mundos desaparecidos, é o futuro da Terra."



18. A palavra de Camille Flammarion


pgs. 73/74/75 de
Sonhos Estelares’ de Camille Flammarion
(Edição FEB - 1941)
-com tradução de Arnaldo S. Thiago-


            “Entre os últimos mundos em plena vitalidade que visitei nesta viagem através dos universos longínquos, há um que me pareceu particularmente notável pelo estado de perfeição de seu progresso social. Ainda que esse mundo seja o mais afastado de todos os que têm sido adivinhados nas profundezas do espaço, a humanidade, entretanto, que o habita não é muito diferente da nossa sob o ponto de vista físico; é dividida também entre dois sexos e as formas orgânicas parecem-se um pouco as da nossa raça. Mas o estado social é sensivelmente superior ao nosso.

            Uma harmonia perpétua reina entre todos membros dessa vasta família. Simples e modesto, cada um desses seres não tem mais alta ambição do que a de se elevar gradualmente no conhecimento das coisas e na perfeição moral.

            A atmosfera não é inteiramente nutritiva e ali todos são, como somos aqui, obrigados a comer para viver. Mas lá nutrem-se exclusivamente de frutos e de vegetais e não se mata nenhum ser animado.

            As funções da vida material, não tomando mais do que uma parte mínima do tempo, vive-se lá sobretudo intelectualmente. Em lugar das rivalidades pessoais de interesses, pequenos ou grandes, e das ambições diversas que agitam a vida inteira dos homens e das mulheres de nossa medíocre pátria terrestre, ninguém lá se preocupa senão com estudos e divertimentos.

            Não se inventou o dinheiro. Não há ricos nem pobres. Os frutos necessários à nutrição podem ser colhidos por toda a parte, muito além de todas as necessidades. O verão é ali perpétuo e ninguém se preocupa tão pouco com qualquer espécie de vestimenta, por isso que as formas corpóreas conservam sempre sua beleza e a coqueteria nada teria a dissimular.

            Não se envelhece naquele mundo. Quando a idade madura é atingida, o Indivíduo adormece e o corpo se desagrega, como uma nuvem que se torna invisível pela mudança de estado de suas moléculas.

            Lei alguma instituiu ali os vínculos matrimoniais. Como seria impossível contrair uma união por interesse, pois que não existem nem castas nem fortunas, somente o amor determina as escolhas. É raro que o passar dos anos faça descobrir qualquer divergência de caráter, suficiente para conduzir ao desejo de uma outra escolha; quando, porém, essa divergência se manifesta, cadeia alguma prende os esposos. Aliás, estes permanecem amantes, jamais tornando-se esposos. O desejo da mudança, da variedade, da curiosidade, pouco intervém, porquanto os seres que livremente fazem a sua escolha, amam-se mutuamente mais do que a todos os outros e a sua escolha baseia-se no conhecimento reciproco.

            Os amigos são verdadeiros e fiéis e não há exemplo de traição ditada por um vil sentimento de inveja.

            Ao contrário do que se passa sobre a Terra, todo homem cuja vida fosse dirigida pelo sentimento do interesse pessoal ou da ambição, seria considerado como um monstro inexplicável e altamente desprezível. Lá não se encontram, como se nós, desses homens que se tornam constantemente desgraçados pelo desejo de abarcar todos os lugares sem estarem jamais satisfeitos com a sua sorte e que, arrivistas infatigáveis, de tudo se apoderam, em seu egoísmo insaciável e morrem desgostosos, cumulados de honras e de vaidades.

            Não existem fronteiras nesse mundo. A humanidade forma uma única raça, uma única família. As comunicações são estabelecidas sobre o globo inteiro por uma espécie de palavra que voa com a velocidade do relâmpago.

................................................

            A ciência, dita oficial, de forma alguma foi lá instituída. Nenhuma Sorbonne condenou ali a teoria do movimento da Terra. Nenhuma Academia condenou a doutrina da perpétua paz. Lá não se nos deparam títulos ou condecorações; só o valor pessoal, intelectual e moral é apreciado.

            A palavra infalibilidade não existe na linguagem daquele povo. 

            Em sua religião natural jamais pronunciaram o nome de Deus, nem ousaram jamais entregar-se a culto algum, compreendendo que uma tal puerilidade ou um tal orgulho seriam indignos de seu espírito. Consiste a sua religião em crer na imortalidade pelo próprio conhecimento da natureza íntima dos seres, em preparar-se para a vida futura, tornando-se melhores e mais perfeitos pelo estudo continuo da criação, e em amarem-se uns aos outros com um sentimento esclarecido da justiça e da equidade."




17. A palavra de Camille Flammarion



pgs. 67  de
Sonhos Estelares’ de Camille Flammarion
(Edição FEB - 1941)
-com tradução de Arnaldo S. Thiago-


            “O universo não se formou, como uma peça inteiriça, na origem das coisas. Essa origem mesmo não existe. Encontramos no espaço sois de todas as idades, Entre eles há antigos, como também há novos sois. Aqui, berços; mais além, túmulos. Se as primeiras (?) criações formadas pela "matéria" e pela "energia", não se tivessem renovado, não haveria mais universos. Toda a energia primitiva que houvesse animado os sois, ter-se-ia esgotado. Matéria e energia, aliás, não constituem mais do que uma só coisa.

            Do mesmo modo que, percorrendo uma floresta, encontramos diante de nós carvalhos em ruína, árvores verdes e rebentos novos, também o viajor celeste encontra no espaço mundos há muito tempo mortos, terras agonizantes, moradas em plena atividade e astros apenas saídos da sua eclosão.


            Tudo morre; mas tudo ressuscita.”

quinta-feira, 5 de junho de 2014

16. O pensamento de Camille Flammarion




pgs. 70  de
Sonhos Estelares’ de Camille Flammarion
(Edição FEB - 1941)
-com tradução de Arnaldo S. Thiago-


            “Pode o matemático calcular, desde hoje, com uma grande aproximação, a época na qual o nosso sol estará extinto e em que a Terra rolará na eterna noite como um gélido cemitério. A história inteira da humanidade terrestre terá chegado ao nada mais absoluto. Tempo virá em que as próprias ruinas serão destruídas.”


15. O pensamento de Camille Flammarion



pgs. 68  de
Sonhos Estelares’ de Camille Flammarion
(Edição FEB - 1941)
-com tradução de Arnaldo S. Thiago-

            “Objetar-me-ão talvez alguns conservadores do passado, que há, mesmo em França, nos observatórios franceses, astrônomos que comungam, rezam o seu rosário e empunham tocheiros nas capelas, e que a mesma mentalidade pode-se constatar em certos observatórios ingleses, espanhóis, italianos, alemães, russos e outros. Sim, sem dúvida alguma, o fato é Incontestável. Um tal fenômeno psicológico tem duas explicações. Ou esses indivíduos híbridos são sinceros, ou não o são. Se são crentes, são ilógicos e estão em desacordo perpétuo com sua razão científica, e então o mais que se pode fazer é admirar a estranha acomodação que a sua consciência é capaz absolutamente em contradição uma com outra.
Conquanto inexplicável, esta sinceridade é digna de respeito, como a da criança inocente que acredita em tudo que se lhe diz.”



14. O pensamento de Camille Flammarion



pgs. 67  de
Sonhos Estelares’ de Camille Flammarion
(Edição FEB - 1941)
com tradução de Arnaldo S. Thiago

            De que bizarros sistemas religiosos não tem até agora a humanidade terrestre rodeado sua imaginação infecunda! O israelita, que supõe ser agradável a "Deus" praticando a circuncisão ou comprando uma faca nova para estar certo de que não a tocou a banha de porco; o cristão que imagina fazer com que "Deus" baixe sobre uma mesa, cristão esse a quem os predicadores contam que as preces e os jejuns têm influencia sobre a meteorologia e a agricultura (*); o muçulmano que vê a porta do paraíso de Maomé aberta diante dele quando apunhala um missionário; o fanático que se precipita sob as rodas do carro de Jaggernaut (ser lançado a Moloch – (ou demônio)); o budista que permanece fascinado na contemplação beata de seu umbigo ou põe em movimento um moinho de preces, para redimir-se de seus pecados, fazem certamente do desconhecido e incognoscível, a mais ridícula, a mais pueril das ideias.


            Todas essas ninharias do espírito estavam em correlação com a ilusão primitiva da pequenez do universo, considerado como uma espécie de escrínio revestido de pregos de ouro, encerrando a Terra em seu seio. Na verdade, se não tivesse tido astronomia outro resultado mais do que o de ampliar as nossas concepções gerais, e mostrar-nos a relatividade das coisas terrestres no seio do absoluto, libertando-nos daquela antiga escravidão, das ideias e, tornando-nos livres diante do infinito, mereceria ela, mesmo assim, a nossa veneração e o nosso reconhecimento eternos, porque sem ela seríamos ainda incapazes de pensar com exatidão”

terça-feira, 3 de junho de 2014

13. O pensamento de Camille Flammarion




pgs. 67  de
Sonhos Estelares’ de Camille Flammarion

(Edição FEB - 1941)
-com tradução de Arnaldo S. Thiago-

            “Que ingenuidade entre os teólogos sinceros!  que impostura a dos chefes de Estado. que ainda ousam investir-se do título de mandatários de Deus, para subjugar os povos! Os verdadeiros ateus não são esses homens, ignorantes ou mentirosos, que fazem da mais sublime das ideias a cúmplice de todas as suas mediocridades, e os verdadeiros deístas não são os pesquisadores independentes cuja única ambição consiste em remontar laboriosamente às causas, gradualmente aproximando-se da Verdade?”


domingo, 1 de junho de 2014

O perdão ao semelhante (a palavra de Mateus)


O Perdão 
ao Semelhante

18,23 Por isso, o reino dos Céus é comparado a um rei que quis acertar contas com seus servos.
18,24 Quando começou a ajustá-las, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil  talentos.
18,25 Como ele não tinha com que pagar, seu senhor ordenou que fosse vendido  ele, sua mulher, seus filhos e todos os  seus  bens  para  pagar  a  dívida.   
18,26 Este servo, então, prostrou-se por terra diante dele e suplicava-lhe: Dá-me um prazo e  eu pagarei tudo!   
18,27 Cheio de compaixão, o senhor o deixou ir embora e perdoou-lhe a dívida. 18,28  Apenas saiu dali, encontrou um de seus companheiros de serviço que lhe devia 100 denários. Agarrou-o a garganta e quase o estrangulou, dizendo: - Paga o que me deves!
18,29  O outro caiu-lhe aos pés e pediu-lhe: - Dá-me um prazo e eu te pagarei!
18,30  Mas, sem nada querer ouvir, este homem o fez lançar na prisão, até que tivesse pago sua dívida.
18,31 Vendo isto, os outros servos, profundamente tristes, vieram contar a seu senhor o que se tinha passado.
18,32  Então, o senhor o chamou e lhe disse: Servo mau, eu te perdoei toda a dívida, porque me suplicaste,
18,33  não devias também tu compadecer-te de teu companheiro de serviço, como eu tive piedade de ti?
18,34 E o senhor, encolerizado, entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a sua dívida.
18,35 “Assim vos tratará Meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo seu coração.”    
                             
          Para Mt (18,33), -Compaixão do teu Companheiro - encontramos a palavra de Emmanuel  em  “Caminho, Verdade e vida”, por Chico Xavier:

            “Em qualquer parte, não pode o homem agir, isoladamente, em se tratando da obra de Deus, que se aperfeiçoa em todos os lugares.

            O Pai estabeleceu a cooperação como princípio dos mais nobres, no centro das leis que regem a vida.

             No recanto mais humilde, encontrarás um companheiro de esforço. Em casa, ele pode chamar-se “pai” ou “filho”; no caminho, pode denominar-se “amigo” ou “camarada de ideal”.

            No fundo, há um só Pai que é Deus e uma grande família que se compõe de irmãos.

            Se o Eterno encaminhou ao teu ambiente um companheiro menos desejável, tem compaixão e ensina sempre.

             Eleva os que te rodeiam.

            Santifica os laços que  Jesus promoveu a bem de tua alma e de todos os que te cercam.

            Se a tarefa apresenta obstáculos, lembra-te das inúmeras vezes em que Cristo já aplicou misericórdia ao teu espírito. Isso atenua as sombras do coração.

            Observa em cada companheiro de luta ou do dia uma bênção e uma oportunidade de atender ao programa divino, acerca de tua existência.

            Há dificuldades e percalços, incompreensões e desentendimentos? Usa a misericórdia que  Jesus já usou contigo, dando-te nova ocasião de santificar e de aprender.”