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sexta-feira, 21 de junho de 2013

b/c 'O Mandamento do Senhor'



b/c  O Mandamento do Senhor
Ernani Cabral
Reformador (FEB) Fevereiro 1959



            Finalmente, este amor que nós devemos, manifesta-se também de modo material: cuidando do corpo; cuidando dos bens; cuidando da família, que é o desdobramento ou a multiplicação de nosso próprio "eu". 

            Consoante se infere de João, 2 :21, o corpo é o santuário ou o templo do Espírito. Portanto, devemos tratá-lo bem e jamais malbaratarmos nossa saúde. Tenhamos o devido cuidado com o corpo. É oportuno a esse respeito o conselho de Paulo, em I Cor., 6:15 a 20:

            "Não sabeis vós que os vossos corpos são membros do Cristo? Tomarei pois os membros do Cristo e fá-los-ei membros de uma meretriz? Não, por certo.
            "Ou não sabeis que o que se ajunta a uma meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque serão, disse, dois numa só carne.
            "Mas o que se ajunta com o Senhor é um mesmo em espírito.
            "Fugi da prostituição. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo.
            "Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?
            "Porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus."

            Vítor Hugo disse algures: "O corpo, por mais doente ou disforme que seja, é uma bênção para nosso Espírito, cheio de culpas."

            É através do corpo que o Espírito se redime, neste mundo de provas e de expiações...

            Finalmente, cuidar de nossos bens ou tratar de nossos interesses materiais, certo que é dever respeitável.

            A Religião não deve fazer-nos desinteressados das coisas materiais justas, porque, se assim fosse, não haveria progresso no mundo, e estaríamos tocando às raias do fanatismo, que é um grande mal.

            Mas todas aquelas condições de amor a nós mesmos são também cumprimento do dever, e este é indispensável à retidão da conduta ou à manifestação de nossos sentimentos cristãos, no lar ou na sociedade. Ai de quem não cumpre com o dever! Ai de quem procura desfazer-se da cruz de sua redenção!

            Porém, na luta pela vida, na aquisição de certas utilidades, na multiplicação de nossa fortuna, visando ao bem-estar próprio e da família, devemos ter o devido cuidado para não lesarmos nosso irmão, nem pisarmos no direito alheio. Infeliz daquele que trai, que prejudica ou que se locupleta com o sofrimento do semelhante.

            Assim, o amor a nós mesmos deve fugir de qualquer manifestação do egoísmo, que é a hipertrofia da personalidade, sempre danosa ou prejudicial a terceiros. Quem motivar o sofrimento alheio, cedo ou tarde colherá o fruto triste e doloroso do que plantou, pois "a cada um segundo suas obras". (Mateus, 16 :27.) É como se explicam certos padecimentos e certos desastres, que são expiações ou reparações de débitos de vidas pretéritas. O esquecimento da culpa de outras existências é uma bênção divina, a fim de não perturbar o Espírito com a recordação de seu passado delituoso. Mas sendo Deus justo, nada é arbitrário, tudo tem sua razão de ser. Deste modo, a lamentação não adianta, é preciso que nos conformemos sempre com a vontade de Deus. Não se move uma folha sem a Sua vontade e Ele sempre sabe o que faz. Confiemos, entretanto, em Sua bondade, pois "após a tempestade vem a bonança". E a misericórdia do Senhor, quando tarda, vem a caminho...

            O amor à família é o amor a nós mesmos, refletindo-se na prole ou no cônjuge, que é nossa própria carne (Mateus, 19:6).

            Vem a propósito essa outra lição de Paulo, o iluminado apóstolo dos gentios, em I Timóteo, 3:5: "Se alguém não sabe governar bem a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?" É claro que não. Todos nós devemos esforçar para estabelecermos na família um ambiente de calma, compreensão e amor. Isto é fundamental para o espírita, essencial aos que desejam dedicar-se às coisas de Deus. E para certas incompreensões o remédio é a paciência, a tolerância, a bondade, que são outras tantas manifestações do amor ou da caridade. A figura do tirano doméstico -homem ou mulher-, infelizmente tão comum, é repasto dos maus Espíritos, que se comprazem com a desavença nos lares...

            Os sentimentos cristãos e a prece, quando sinceramente manifestados, resolvem os casos mais complexos de tal natureza, desde que haja persistência, esperança e fé.

            O amor ao próximo como a nós mesmos, é sentimento semelhante ao amor a Deus, disse Jesus, o Bom Pastor (Mateus, 22 :39) .

            Destarte, a mais nobre manifestação de amor ao próximo como a nós mesmos, está no perdão. E quando mais difícil este for ao nosso coração, maior, mais agradável ao Senhor.

            O perdão é uma necessidade para o Espírito, Quem não esquece a ingratidão, a ofensa ou a injustiça, sofre. E quem resvala pelo abismo do ódio, só pode encontrar trevas ou desassossego dentro de si mesmo!

            O perdão é bálsamo reparador das energias morais combalidas, é a elevação do Espírito em busca de Deus, que é a fonte eterna do perdão, Tal o exemplo que o Cordeiro Imaculado nos deu, no alto da cruz, pedindo-o ainda para os seus algozes. (Lucas, 23 :34) .

            O Cristo de Deus ensinou, na prece dominical, que implorássemos ao Pai Celestial:

            "Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.
            "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai Celestial vos perdoará a vós.
            "Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas." (Mateus, 6 :14 e 15.)

            O perdão, portanto, é ainda uma necessidade para a liberação de nossas próprias dívidas.

            Entretanto, o amor ao próximo manifesta-se ainda por diversos modos, por maneiras infinitas de fazer o bem, mas, sobretudo, pela caridade.

            A caridade pode ser material, intelectual e; sobretudo, moral. As duas últimas, genuinamente espirituais, são excelentes, embora a primeira, quando oportuna e justa, seja também muito útil e generosa.

            Realmente, quem sofre frio precisa de agasalho. Quem tem fome, quer pão. Devemos auxiliar o necessitado, sempre que pudermos e ainda com boa vontade. Quem dá com irritação, falta à caridade ou não a realiza bem.

            A caridade intelectual está na elucidação de nosso semelhante. Nosso Senhor afirmou, em Mateus, 5:14 a 16:

            "Vós sois a luz do mundo: não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; "Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa.
            "Assim, resplandeça a vossa luz diante dos homens."

            Quem tem noção da verdade deve propagá-la, a fim de não agir como egoísta. O saber é uma riqueza, que deve também ser distribuída. Nada justificará o silêncio daquele que pode elucidar; nem o acanhamento, que é pretexto vão e que pode ser vencido; nem o temor humano, que é covardia; nem a humildade, que neste caso será falsa. Se somente o justo falasse ou escrevesse, quem se atreveria a pregar o Evangelho?

            A causa do Senhor é o que há de mais importante na vida; apesar de imperfeitos, devemos ser colaboradores da obra de Deus.

            A caridade intelectual consiste, portanto, na elucidação de nosso semelhante. E quanto o espírita poderá fazer nesse terreno, disseminando a verdade! Mas é preciso denodo, perseverança e fé, pois...

            "Ninguém que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus." (Lucas, 9:62).


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