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quinta-feira, 27 de junho de 2013

12. 'Rimas do Além Túmulo' - Ao Papa



12
‘Rimas do Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
 Guerra Junqueiro

Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929

Casa Editora Guajarina

Mensageiro da Paz


Ao Papa,

À luz veloz da ciência, o mundo inteiro
uniu uma doutrina - olímpico luzeiro,
que veio esclarecer o pensamento humano.
E, ante o seu fulgor, ideal, soberano, 
os monstros, os chacais ficaram estarrecidos
-inimigos da Luz, querem estar escondidos
na Treva que ensanguenta o sórdido Passado;
foi em vão que tentaram afogar o brado
que veio despertar da escura letargia
o mundo ignorante que, há séculos, dormia...

E ao crente que acorda aos raios desta Aurora,
não se atira de novo ao letargo de outrora...

Os torpes argumentos falham, são mesquinhos
farrapos em mistura à lama dos caminhos:
ninguém para eles olha: o Porvir, radioso,
esmaga sob os pés um Passado enganoso!

Onde enclausuraste, ó papa, o teu critério?
Se ao passado te chama o vulto de Tibério,
acena-te ao porvir a imagem de Jesus
curvado no caminho ao peso de uma cruz!
Qual preferes dos dois, o Justo ou o criminoso?
Se o Culpado te aponta o poderio, o gozo,
o Redentor te ensina a dar pela pobreza,
cheio de Caridade, essa enorme riqueza
acumulada, aí, no Vaticano - um templo
no qual os santos dão o escandaloso exemplo
da vaidade, cobertos de pedras preciosas,
com mantos de cetim e sedas valiosas,
no largo pedestal de altares cintilantes,
cercados de rubis e d’ouro, diamantes,
-mas, sem fulguração igual ao Nazareno
que espalhou pela Terra o Seu olhar sereno...

A Crença está unida à ciência indiscutível:
descrer do Espiritismo, ó papa, é impossível!
Em face da Verdade, podes duvidar?  
Confessa-te vencido, e desce desse altar;
rasga a púrpura, e veste a mais humilde túnica; 
de Jesus cada servo, na aspiração única
de praticar o Bem, viveu humildemente,
sem taças de champanhe e pipas de aguardente!
Abaixo as sombras tonsuradas de batina,      
ministros que escolheram a risível sina
de querer derrubar, com farsas, o alvião
possante da verdade! Isto, é uma irrisão!
 
Escuta, ó papa: enfim, vou dar-te um bom conselho:
queres excomungar-me? - deixa este aparelho (1)
em paz; olha não vás lança-lo ao Purgatório:
a médium não tem culpa deste palavrório
indiscreto demais, e um poucochinho certo...
Mas, que queres, ó papa, o céu não foi aberto
p'ra mim, e eu não conheço ainda o padre-eterno,
tampouco me lançaram inda no Inferno...
(Então onde estou eu? .. No Espaço, eis a verdade,
no meio de outras Almas, na erraticidade.)

Nota (1) – Alusão à médium, srta. América Delgado, que recebeu estes versos,
em 19 de Dezembro de 1927. Os Espíritos chamam aos médiuns – “aparelhos”.

Achando-se Junqueiro livre da prisão
da Carne, ao Deus de Amor pediu inspiração.
Ideias infernais, de um sonhador antigo,
que após já ter dormido inerte num jazigo;
levanta-se, e vem dar - entusiasticamente
- as RIMAS DE ALÉM TUMULO à liberta gente!

Bem cedo despertou, quem ousa contesta-lo?
poeta que tombou, depois de forte abalo,
e, cansado, vai ter por leito a sepultura;
mas, passada esta fria e trágica tortura,
lobrigando o fulgor de novos horizontes,
ele se extasiou ao pé de claras fontes
de essência - luz, de essência pura da VERDADE!

E bebeu, e bebeu até à saciedade,
da essência bendita, a essência sem par,
como a tonta falena que quer penetrar
no âmago das flores, bebendo o seu perfume...
Como o cego que busca nas trevas um lume
que o oriente, assim o sonhador dizia
alguém que o amparava, alguém que o conduzia:
Como sou pequenino ao pé destas grandezas!
Oh! dize-me por que contemplo estas belezas,
sem poder explica-las? sou analfabeto,
menor que um grão de areia, menos que um inseto!
E assim respondeu-lhe a imagem soberana:
Não tem valor algum a sapiência humana!..

Ó papa, eu não te odeio, quero esclarecer-te;
estas rimas do Além vim lesto oferecer-te,
esperando encontrar em ti um velho amigo.
Papa, eu não te destrato; papa, eu não maldigo:
talvez maldigas, tu, a voz que, desse Além,
ansiosa te chama à prática do Bem!

Sê vigário de Deus, mas vive na humildade;
pisa o báculo, quebra a tiara - Vaidade!
E, se desejas cumprir a cristã missão
das Almas conduzir ao porto - Salvação,
caminha pela Terra aliviando as dores
dos fracos órfãozinhos, entes sofredores
que gemem no silêncio horrível e sombrio,
famintos, maltrapilhos, a tremer de frio!

Coberto com burel humilde de pobreza,
terás, perante Deus, a divina riqueza
da Perfeição, tesouro esplendoroso
que aos Justos proporciona o verdadeiro gozo;
cumprindo a Lei de Deus, trabalha sem cessar,
repele a Farsa feita à sombra do Altar.
A Idolatria ê um crime; as Almas benfazejas
não vivem em altares, não moram nas igrejas!..
E, quando de regresso à verdadeira Vida,
receberes do Alto a benção merecida,
irmão, volve um olhar pela amplidão sem fim...

Não te esqueças, ò papa, orar também por mim!


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