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quarta-feira, 12 de junho de 2013

10b. Revelação dos Papas' - Leão I


Leão 1 e Átila




10b

‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)

- Comunicações d’Além Túmulo -


Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier

Officinas Graphicas d’A Noite
Rua do Carmo, 29
1918
-continuação-

Leão I ,  papa


          A morte trouxe-me muitas perturbações, aflições e lágrimas.

          Logo ao desencarnar, achei-me, em trevas tão densas que me fizeram chorar amargamente a minha desdita, sem ouvir ali, no meio do horror, uma voz que me consolasse, isto durante um tempo que não posso medir nem calcular, pois, como sabeis, no espaço, onde ficam as almas sofredoras, suportando os horrores das trevas, não existe tempo, o que faz parecer eterno o sofrimento; por isso é que não vos posso precisar a duração do meu tormento.

          Ali fiquei nessa situação dolorosa, nesse desespero que não vos posso descrever; ali permaneci sem ter noção do que se passava no mundo; era como se houvesse para sempre mergulhado no fundo de um abismo, onde todas as esperanças, todos os ideais, todas as aparições, todos os desejos e todos os sentimentos tivessem também apagado para sempre.

          Caminhava sem rumo, sem norte, pois tanto fazia marchar para frente, recuar ou deslizar para a esquerda ou para a direita, nada alterava, era sempre a mesma a minha situação.

          Era um caminho sem saída, um problema sem solução.

          Para variar tinha apenas uma coisa, única: a visão constante dos meus erros, dos meus crimes e das minhas torpezas.

          As minhas vítimas eram as únicas almas que me visitavam no meio desse desespero, e vinham somente para agravar a minha situação, aumentar o meu martírio.

          Chorava copiosamente, implorava que me arrancassem daquele lugar, me furtassem a essa escuridão maldita que tanto me fazia sofrer! Gritava e, de tanto gritar e imprecar, sentia-me fatigado e caia em delíquio que, por instantes, me fazia esquecer o sofrimento e as dores que me atormentavam. Assim continuei; assim vivi sem poder encontrar alívio para o meu desespero.

          Comecei depois de muito sofrer, a recordar-me das palavras de Jesus e repeti-las constantemente.

          Sentia então um grande e indefinido prazer em recordar certos atos bons que praticara, e um desejo ardente de orar, de penitenciar-me, começou a invadir minha alma.

          Orei de fato, e com fervor.

          Comecei a sentir os efeitos que a prece sincera de arrependimento, que fazia, ia produzindo em torno de mim, aliviando-me, tornando menos densa a treva, permitindo-me avistar, embora a furto, os famosos semblantes do espírito guia, dos protetores e amigos, que ansiavam por me verem liberto e arrependido das minhas culpas.

          O meu fervor aumentava, progredia, avolumava-se, e uma alegria, um gozo que não posso definir, começou a substituir o desespero e a aflição em que me achava e que me pareciam eternos.

          A prece e o arrependimento me deram paz e sossego, e pude recuperar luz para o meu pobre espírito; aos poucos, achei-me em plena claridade, cercando dos espíritos que me procuravam confortar com os conselhos e explicações que vinham trazer por ordem superior e que eu aceitava com viva satisfação, ouvindo-os com desmedido interesse.

          Foi uma aurora que rompeu para mim, um novo dia que raiou para o meu espírito; foi o começo de uma nova era, na qual entrou minha alma alegre e satisfeita!

          Vi daí por diante todas as coisas espirituais por um prisma muito diverso daquele pelo qual as encarava em vida.

          Compreendi quanto fora culpado, toda a grandeza da responsabilidade que pesara sobre mim, senti-me enfastiado, aborrecido, enojado desse passado negro, dessa vida inútil, na qual eu só procurava comprometer o meu espírito, lançando-o no horror das trevas que me envolveram logo após a morte.

          Direis vós: - estivestes então no inferno a sofrer todos esses tormentos? Eu vos responderei: - não; o inferno não existe, jamais existiu, jamais existirá; estive dentro da minha consciência, esse abismo onde fui mergulhado e de onde dificilmente saí: era ela a minha própria consciência envolta nas trevas criadas pelos meus erros, formadas pelos meus crimes, acumuladas aí pelas minhas torpezas. Foi a minha própria consciência que me castigou; foi aí que encontrei o inferno e as torturas atrozes que suportei.

          O inferno não existe, assim como também não existe o céu.

          O que há no mundo dos espíritos são consciências - sombrias umas, luminosas, radiantes da claridades eternas outras: aí tendes o inferno e o céu.

          Abandonai essa crença retrógrada; convencei-vos de que vós mesmos podeis criar o vosso céu ou construir o vosso inferno, e, um dia, haveis de sofrer os horrores das trevas que fordes, desde já, condensando desde hoje, ou gozar os encantos e doçuras do céu que ides, desde hoje, construindo com a prática do bem e da caridade, com as virtudes que cultivardes na vida terrena.

          Eu vos recomendo cuidado, firmeza, honestidade, fé, tolerância, caridade, justiça, amor ao próximo, abnegação e sacrifício por tudo que é nobre e santo, respeito às leis de Deus, zelo pelas coisas sagradas e desprendimento do bens e gozos terrenos, pois não são eles os únicos que existem.

          Aconselho que vos prepareis para a vida de amanhã, gloriosa e eterna, para a vida espiritual, onde são felizes unicamente os que na Terra cumprem o seu dever sacrificando-se pelo bem, pela verdade, pela justiça e pelo amor.

          Sejam as minhas palavras um aviso, o toque de rebate nas fileiras cristãs, para que fiquem a postos, alerta, a fim de poderem enfrentar os inimigos da alma, que hão de procurar conduzindo-vos para o caminho do mal, da desgraça, da ruína e das trevas.

          Que possais resistir às tentações e ao apelo constante da maldade, do crime e do pecado, são os desejos de
Leão I ,  papa

Setembro de 1915


Informações complementares...

Leão I -  Foi papa de 29/09/440 até 10/11/461.   44º papa na contagem da igreja de Roma, contagem essa que exclui os antipapas. Considerado o mais notável papa da igreja primitiva, segundo avaliação da própria igreja de Roma. Enfatizou a identidade do papado com Pedro. Escreveu longas missivas de admoestação aos bispos da África, da Gália e da Itália, combatendo heresias. Quando Hilário de Arles excedeu seus limites, assumindo poderes patriarcais nos bispado da Gália, ele o confinou em sua própria diocese. Mobilizou o imperador do ocidente para que reconhecesse formalmente a jurisdição papal sobre todas as igrejas ocidentais. Tomou drásticas medidas contra os maniqueus. Organizou os bispos da Espanha contra a heresia priscialianista. Censurou Anastácio, bispo de Tessalonica afirmando que ele não tinha o plenitudo potestatis (plenos poderes), prerrogativa do papa de Roma e de Leão I. Disse ele: ”se não observarmos a vigilância de que fomos incumbidos, não teremos como nos desculpar perante aquele que nos quis sentinelas.”  Em 431, em Éfeso, afirmou a divindade de Cristo, declarando que Maria não era simplesmente a mãe de Jesus mas a ‘Mãe de Deus’. Escreveu um tratado dizendo que Jesus tinha duas naturezas: a humana e a divina, unidas em uma só pessoa.
            Roma – que já sofrera diversos ataques dos chamados bárbaros do norte – teve em Leão I um interlocutor válido. Entendeu-se com Átila, o Huno, em 452, conseguindo que seus exércitos retrocedessem sem saquear Roma. Já em 455, Genserico, o Vândalo, saqueia Roma abstendo-se, porém, de incendiá-la, ainda a pedido do papa Leão I.

Fonte: ‘Santos e Pecadores’ por Eamon Duffy (Ed. Cosac & Naify 1998)

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