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quinta-feira, 7 de julho de 2011

'Perguntas de um Pastor'



Perguntas
de um Pastor 
               

com base em artigo de Carlos Imbassahy
Reformador (FEB) Dezembro 1943

            Um pastor protestante, em S.J. da Boavista, SP, lança-nos perguntas, que tem como irrespondíveis.
            Elas vêm ao pé de um longo artigo, como tiro de misericórdia...
            Lá vai a primeira:

1.         Porque no Livro dos Espíritos, resposta 625, se diz que Jesus é o mais perfeito guia e modelo e o Espiritismo desprezou o Evangelho de Cristo, para elaborar um Evangelho segundo o Espiritismo?

            Quem disse, a não ser o pastor, que o Espiritismo desprezou o Evangelho do Cristo? E como desprezou? E porque desprezou? E onde desprezou?
            Quando se declara - o Evangelho segundo Lucas, Marcos, Mateus ou João pretenderá alguém que o Evangelho do Cristo foi desprezado?
             O Evangelho segundo João, Mateus, Marcos ou Lucas é o Evangelho do Cristo, que eles escreveram; o Evangelho segundo o espiritismo é o Evangelho do Cristo que os Espíritos interpretaram.
            Nem ao menos o Evangelho conforme os Espíritos se desvia, se aparta ou difere daqueles apresentados pelos evangelistas. Os Espíritos aceitaram o espírito do Evangelho, de modo absoluto, e a letra, com poucas divergências. Como, porém, a letra mata e o espírito vivifica, trataram de vivificar os ensinos do Senhor para que não os matasse a letra obscura, que os exegetas não compreenderam e que as seitas do Cristianismo mantêm, em risco de prejudicar todo o monumentam edifício que o Mestre erigiu.
            Assim, por exemplo, no Velho e no Novo Testamento se declara que o Criador quer a salvação do ímpio, a regeneração do pecador, a remissão do pecado, a reunião das ovelhas sob um só pastor.
            Mas no texto sagrado se fala do fogo eterno. Logo daí inferiram a existência do inferno. E ficou o Pai, cheio de infinita bondade, a criar um instituto de infinito horror; e ficou o onisciente, o onipotente, desejando e prescrevendo umas tantas ordenanças que não se obedecem; e estabelecendo umas tantas leis que não se cumprem.
            Por obviar a este disparate, os Espíritos trouxeram à terra os necessários esclarecimentos sobre o que podia ser o fogo eterno, ou seja o fogo da purificação, que não se apaga.
            Assim, foram varrendo as nuvens que enevoavam os horizontes da palavra divina e daí o Evangelho segundo o Espiritismo. Mas, os Evangelhos são os mesmos como é o mesmo espírito das lições de Jesus.

2.         Porque Jesus admitiu sofrimento sem culpa numa existência anterior (Jo 9:1-3) e o Espiritismo dogmatiza que o sofrimento tem sua explicação nos males cometidos numa existência anterior?

            Por mais que lêssemos e examinássemos os versículos apontados, não vimos onde Jesus admite “sofrimento sem culpa numa existência anterior”. Dir-se-ía que o ilustre inquiridor está escrevendo para quem não conhece as Escrituras ou não as pode adquirir.
            O que o texto diz é o seguinte:
            “E ao passar viu Jesus um homem que era cego de nascença, seus filhos lhe perguntaram: Mestre, que pecado cometeu este homem ou cometeram seus pais, para que nascesse cego? Respondeu-lhes Jesus: Nem ele pecou nem pecaram seus pais; isto assim é para que nele se manifestassem as obras do poder de Deus.”         
            Quem nega aí a existência do sofrimento anterior?
            Os discípulos só se poderiam referir à época presente, visto que nada conheciam de vidas pretéritas. Jesus lhes respondeu conforme à pergunta que fizeram, isto é, que, naquela vida, nem ele nem o pai pecaram.
            As obras do poder de Deus podem ser interpretadas de diversos modos, se é que foi precisamente assim que falou Jesus.
            Penso eu que estas obras seriam o poder de sua justiça, que seguia o seu curso. Era a dívida contraída que se saldava; era o final da expiação, - e tínhamos, então, nele, paciente, verificadas as obras do Criador.
            Essa interpretação tem a vantagem de satisfazer a razão; por ela poderemos compreender a eqüidade de Deus. Por isso é que os Espíritos vieram elucidar os Evangelhos. O que não se compreenderia é que o Onipotente lançasse um cego no mundo, e o fizesse sofrer, só para que, a folhas tantas, tivesse o inefável prazer de operar um milagre, e mostrar aos discípulos, embasbacados, o seu formidando poder.
            Esse procedimento estaria, por certo, muito de acordo com as mentes enfatuadas e pueris dos tiranetes deste mundo. Não se ajustaria, porém, à excelsa magnitude do Pai da Criação.

3.         Porque o Espiritismo ensina a caridade, se ela atrasa o processo de purificação, por diminuir o sofrimento do padecente?

            Permita-nos responder com uma pergunta. A cartilha, por onde rezam os presbíteros, diz o seguinte:
            “Pelo decreto de Deus e para a manifestação de sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros predestinados para a morte eterna.” (Confissão de Fé  e os Catecismos da Igreja Presbiteriana)   
            E mais:
            “Segundo o inescrutável conselho de sua própria vontade, pela qual ele concede ou recusa misericórdia, como lhe apraz, para a glória do seu soberano poder sobre as suas criaturas, o resto dos homens, para louvor de sua gloriosa justiça, foi Deus servido não contemplar e ordená-los para a desonra e ira por causa dos seus pecados.”
            Das escrituras, conforme as entende e traduz o douto pastor, transparece que Deus cega e endurece suas criaturas, recusa-lhes a graça pela qual poderiam ser iluminadas em seus entendimentos e movidas em seus corações; tira-lhes, ainda, os dons que já possuíam e as expõem a objetos que lhes propiciam os pecados; entrega-as às próprias paixões, à tentações do mundo, ao poder se Satanás. E, assim, o Senhor, enquanto emprega meios para o abrandamento de uns, trata de endurecer outros.
            Tudo isto parece curial e deve ser de uma grande justiça, diante do nosso digno contestante. Mas o que eu tinha a perguntar era o seguinte: Se os indivíduos estão previamente fadados para a vida eterna e para a morte eterna; se o que impera e dirige o mundo é o arbítrio divino, que emprega meios para o abrandamento de uns e o endurecimento de outros; se tudo está preordenado, predestinado, preestabelecido, que adianta o pastoreio do eminente contraditor?
            “Deus, para sua própria glória, predestinou tudo que acontece, especialmente com referência aos anjos e aos homens.”
            E, ainda:
            “para patentear sua gloriosa graça, escolheu alguns homens para a vida eterna e os meios para conseguí-la e deixou e predestinou os mais à desonra e à ira.” (O Catecismo Maior)
             Entretanto continua o pastor o apostolado de encaminhar as almas, de dirigir o rebanho, e, perseverante no magistério, não se lembrou de que perde o tempo, visto que a vontade divina é um imperativo contra o qual de nada valem os trabalhos, as canseiras, as lutas do preclaro escritor.
            Porque, ainda, faz uso da tribuna e da pena, porque não esmorece no seu poder combativo, porque ataca implacavelmente o Espiritismo, se lhe não cabe mover um grão de areia contra a ordem estabelecida pela providência, pela previdência, pela presciência, pela vontade imutável do Criador?...
            Enquanto fica o pastor a refletir, passo eu a responder às suas;
            A prescrição do Pai é que façamos a caridade. O Cristo só indagará, quando tiver que colocar uns à direita e outros à esquerda, se eles deram de comer, de beber, de vestir... Desse modo, o Espiritismo estabeleceu que fora da Caridade não há salvação.       
             Os indivíduos, a quem estão reservadas as provas, passarão por elas infalivelmente. Teremos que lhes assistir ao sofrimento, de braços cruzados, como acontece agora diante das desgraças que assolam o mundo. Perecem sob o ferro, o fogo, as inundações, pela fome, pelo frio, pela tortura; passam por todas as dores possíveis, os nossos pobres irmãos, nos quatro cantos da terra. Que lhes podemos fazer? Não nos é permitido minorar-lhes o sofrimento, ainda que o queiramos. Cumpre-se, portanto, a lei, sem os receios que afligem o Sr. Pastor - o de que se atrase o processo de purificação.
            A nossa caridade será, em alguns casos, em pura perda. Se ela, porém, se perde em relação àquele que dela é objeto, não se perderá nunca para quem a pratica.
            É esta a principal razão da caridade, pastor amigo. E aí tem elucidada a sua terceira pergunta.


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