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domingo, 24 de julho de 2011

Prefácio do livro "O Espinho da Insatisfação"


Prefácio de   Francisco Thiesen

livro
  
‘O Espinho da Insatisfação’
de Newton Boechat  (1ª Ed. FEB -1980)



Do Meu Jardim

“A roseira espinhosa produz essências raras.”   Emmanuel


     Dedico-me às tarefas do LIVRO ESPÍRITA intensivamente, já vai para dez anos consecutivos, junto ao Departamento Editoria da Federação Espírita Brasileira. Essas tarefas, que abrangem todo o ciclo de editoração, no qual sempre me sinto plenamente realizado, extrapolam mesmo fronteiras linguísticas e ultrapassam limites territoriais.

     Tudo começou silenciosamente, passo a passo, quando A. Wantuil de Freitas, em maio de l970, designou-me para o cargo de 2º Procurador e Gerente de “Reformador”. No mês de agosto, eleito pelo Conselho Superior para o posto de Tesoureiro da Casa, e escolhido, pelo substituto do criador da “Cidade do Livro” – em São Cristóvão -, para administrar tão grandioso empreendimento, fui penetrando progressivamente no complexo mundo dos livros.

     Para tanto, tive o apoio e o estímulo do novo Presidente a fim de conduzir, modernizar e ampliar o que a FEB havia conseguido projetar e edificar na Terra, para difundir em larga escala o Espiritismo, o Evangelho e o Esperanto.

     Identificado com a obra do livro, nela prossegui com o mesmo ânimo quando me coube exercer a Presidência da Federação, pois em relação ao livro – inclusive o LIVRO ESPÍRITA – a minha vinculação, sem sombra de dúvida – remonta a outros avatares.

     Mas na atualidade a minha posição, pelo menos até hoje, é a do jardineiro num importante trato de terra, ajudando a cultivar as flores de um Jardim formado desde muitos anos antes, de modo a conseguir os melhores resultados na produção de flores e essências.

     Assim, a minha vocação, jungida à popularização dos ensinos da Doutrina dos Espíritos, pelo livro, harmoniza-se, confunde-se, identifica-se inteiramente com a Missão da Casa de Ismael, com o Programa que lhe está afeto.

     Daí o motivo por que – no título desde prefácio – talvez me haja colocado na condição compreensível de involuntário “usurpador”: - “Do meu Jardim...”

*
     Newton Boechat, confrade assaz conhecido e estimado, orador de vários dotes, poliglota, jornalista espírita e autor do livro “Ide e Pregai...”, lançado, em 1971, pela Casa-Máter do Espiritismo, no Brasil – além de médium -, escolheu-me, de comum acordo com seus companheiros, para escrever o prefácio de um novo livro: - O ESPINHO DA INSATISFAÇÃO”.

     Conquanto não se tratasse, àquela altura, de uma estréia, a preferência pelo meu nome chegou a causar-me surpresa e justificado receio. É que sempre julguei de fato séria e delicada a responsabilidade de ingressar com os meus pensamentos em livro alheio. Era verdadeiramente um “espinho”...

     A entrega à FEB dos originais está marcada com data deveras significativa, de um aniversário de fundação da Instituição de Ismael: 2-1-1973. Além de quatro sugestões alternativas do autor, com nomes de pessoas e respectivas preferências quanto ao título, figura nos papéis a seguinte observação: “Título a critério da FEB (se não for conveniente qualquer um dos apontados).”

     Dois capítulos da obra foram publicados em “Reformador”: “Um espinho na carne histórica da França” (novembro de 1975) e “Paulo, Popéia e o espinho da insatisfação” (fevereiro de 1976). Em ambos os números da Revista da FEB foram colocadas notas de rodapé, alertando que tais páginas constituíam capítulos ainda inéditos do livro “O Problema da Insatisfação” (um dos últimos sugeridos). Mais adiante, ao ser preparada a  programação de um rol de novos livros – entre os quais o de Newton Boechat -, optei finalmente pelo título que consta da obra em caráter definitivo. A escolha prendeu-se à idéia conciliadora de preferências – sem transigência em questões de princípios -, harmonizando e somando inteligentes indicações.

     A rigor, seria perfeitamente dispensável o prefácio. Contudo, a dívida contraída pela aceitação do honroso convite precisava ser resgatada. É o que prazerosamente faço.
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     Alinhando questões transcendentes e examinando-as de maneira simples e penetrante, o autor conduz a mente dos leitores e permite-lhes de tudo tirar ilações próprias as mais corretas. O livro a um só tempo dá divulgação a fatos e documentos de real valia, de interesse histórico do Espiritismo, como Doutrina e como Movimento, e desvela ocorrências e enigmas de modo sério, instrutivo, quer no campo das motivações, quer no das conseqüências dos atos de indivíduos e grupos, sejam estes religiosos, políticos, culturais, praticados nas “esquinas da História”, na “encruzilhada dos séculos”.

     Evocando o iluminado Paulo de Tarso ao confabular com Popéia, a quem recorrera no exercício de seu fecundo ministério de evangelização – como em diferentes oportunidades valera-se de amigos influentes e decididos, usando das “riquezas da iniqüidade” e provando que havia santos na casa de Nero” - , ou rememorando o que se passara nos bastidores da trama satânica urdida no Louvre, na França de Carlos IX, à frente Catarina de Médicis, para o desencadeamento da sinistra chacina de 24 de agosto de 1572 (Noite de São Bartolomeu), a presente obra de Newton Boechat propicia ensinamentos norteados pela ambição política desenfreada e pela intolerância religiosa a nível de escuro fanatismo.

     Francisco Cândido Xavier, no livro, com os frutos de sua mediunidade cristalina e experiências vividas nesta e noutra existência carnal, é incluído em depoimentos de alta expressividade, reunidos e jogados com sensatez e rara sensibilidade no corpo de um capítulo que contém episódios históricos analisados sob a angulação filosófica da Terceira Revelação.

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     Imagino o que seja a insatisfação, habituado, há vários anos, a sentir no imo d’alma a penetração dilacerante dos espinhos dos insatisfeitos. Diz-nos, todavia, o Espírito Emmanuel: “(...) Deus, que é a Providência de tua alma dilacerada, é igualmente a Providência dos que te ferem.” Nada mais certo nem mais justo, e o livro que prefacio disso a todos nos convence.

     E o tempo continuará correndo; ou, se se preferir, todos prosseguirão em movimentação incessante ao longo do tempo, errando e sofrendo, acertando e crescendo, servindo e vivendo, evoluindo e passando... E o farão com tranquilidade de consciência, na paz relativa que pode ser desfrutada mesmo neste mundo, se, conscientizando-se no espírito do Evangelho de Nosso Senhor Jesus-Cristo, entenderem as sábias e amorosas palavras de Emmanuel: “Não pedirás ao botão entreaberto o prodígio da rosa que só amanhã desabrochará plena de cor e perfume.”
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     Se consegui dizer algo de valioso neste preâmbulo, o mérito pertencerá aos autores cujos pensamentos repeti, transcrevendo-os, ou apenas aspeando-os quando os nomes não foram identificados; mas se tal não se deu restar-me-á o conforto de saber que do trato de terra que ajudo a cultivar, e que não me pertence – “Do meu Jardim” -, as rosas são distribuídas sem espinhos.

                                                                                  Rio de Janeiro (RJ), outubro de 1979.

                           Francisco Thiesen


Nota da Editora: As transcrições de Emmanuel (psicografia de Francisco Cândido Xavier) são do livro “Assim Vencerás”, Ed. IDEAL, S. Paulo (SP), 1978.


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