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sábado, 27 de fevereiro de 2021

Domingos e Dias Santos



 Domingos e Dias Santos

por Vinícius (Pedro de Camargo) 

Reformador (FEB) Maio 1951

           O título desta crônica traz-me uma série de saudosas recordações.

            Conheci, em minha mocidade, um rapaz de temperamento jovial, sempre bem humorado, que viajava para uma grande casa comercial, com sede em Santos.

            Achando-se em certa cidade do interior, indicaram-lhe que ali se organizara uma firma para explorar o gênero de comércio que ele representava. Dirigiu-se, então, o aludido moço, aos componentes da nova organização, a fim de oferecer-lhes as mercadorias próprias do ramo a que se iam dedicar. Entrando em conhecimento direto com eles, perguntou-lhes qual era a sua firma. Responderam-lhe: Domingos & Dias Santos. Retruca de pronto o viajante: Nada feito. Sinto muito, mas não podemos encetar transações. Sua firma não inspira confiança porque não conta com os dias úteis! 

            Nos países latinos vigora o espírito daquela firma comercial com quem o “cometa” faceto (brincalhão) não quis entrar em entendimento. Os feriados e dias santos, impostos por força de decretos, quebram, a cada passo, o ritmo do trabalho, reduzindo a produção, e, consequentemente, acoroçoando (incentivando) a malandrice e a majoração do custo da vida.

            O farisaísmo (hipocrisia) de antanho (do passado) censurou o Educador Excelso - porque não impunha aos seus discípulos a guarda dos sábados. Revidando essa crítica, disse o Mestre: O sábado foi criado para o homem, e não o homem para o sábado. Meu Pai age sempre, nunca cessa de agir, e eu também. 

            Nós, os cristãos novos, fazemos outro conceito a propósito da santificação de tempo. De modo geral achamos que todos os dias, em si mesmos, são santos, restando, por isso, serem santificados pelas nossas obras. O dia mais santo, segundo o nosso credo, é aquele em que praticamos espontaneamente um grande bem; em que conseguimos amparar um irmão que sofre, mitigando, ou, se possível, afastando a causa da sua dor. Consideramos também, como santo, aquele dia em que vencemos uma das nossas muitas imperfeições, mantendo à distância os tentadores da Terra e do Espaço... Finalmente, é um dia festivo e solene para o espiritista aquele em que lhe seja concedida a graça de levar a alegria a um coração desesperado, a um lar que se encontre em dificuldades.

            A santificação deve partir de nós, seres conscientes e responsáveis, e não de almanaques. Nossa fé não conta dias especiais em que seja cultuada de modo particular. Não é uma espécie de vestido novo para atos solenes e para festividades. Ela nos inspira os pensamentos e as preocupações de todos os instantes, revelando-se em nosso comportamento cotidiano, tanto no seio da família como no da sociedade. Não se restringe a datas, estas ou aquelas: domina completamente as nossas almas.

            Quando o Mestre inseriu, na oração que nos legou, esta frase: santificado seja o teu nome - referindo-se ao nosso Pai celestial - quis dizer, com isso, que a cada um de nós cumpre o dever de santificar, em si próprio, o nome de Deus. Ele não pode ser mais santo do que é, visto como é a perfeição única, infinita, porém, nós, seus filhos, temos obrigação de santifica-lo, tornando-nos os reflexos, embora pálidos, da sua santidade, de vez que fomos criados à sua imagem e semelhança.


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