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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

À face da crítica

 

À face da critica

A Redação   Reformador (FEB) 16 de Janeiro de 1930

             Muitos são, de fato, os inimigos e contraditores da doutrina dos Espíritos.

            Não há, nisto, novidade maior, de vez que todas as doutrinas de qualquer tempo, encontram acérrimos opositores.

            E, quanto maiores e melhores forem os princípios novos a proclamar, tanto mais acérrimos serão os embates, discrimes (aquilo que separa) e controvérsias a vencer.

            O Espiritismo, que não é, essencialmente considerado, uma doutrina nova, a não ser na generalização do seu conhecimento e na prática dos seus processos e rendimentos, não poderá subtrair-se à lei de hostilidade necessária à sua evolução e definitivo triunfo.  Teremos assim, que no plano ideal, como no plano físico, a luta é condição intrínseca da própria vida. A passividade incondicional propendendo para a inércia, é a necrose da energia, é a própria morte.

            Logicamente, ninguém se preocupa com inimigos desvaliosos; nem se atiram pedras a árvores que não dão frutos.

            Ora, a doutrina espírita, por isso mesmo que fecunda de frutos opimos (abundantes), do ponto de vista individual como coletivo; por isso mesmo que afeta uma reforma profunda de hábitos e costumes, públicos e privados; a ferir, para erradicar, ideias e preconceitos embasados em tradições seculares, tem, e não poderia deixar de ter, inimigos pertinazes e pervicazes (obstinados), em todas as classes sociais.

            Sob um tal prisma, não há lamentar e sim exaltar com a crítica e sim exultar com a crítica insidiosas que nos movem os elementos antes suspeitos por interessados no desprestígio da causa, do que conscientes convictos de sua maleficência.

            Nesse jogo de paixões pouco nobres, sem dúvida, só podem iludir se os espíritos superficiais, os incultos, os que vêm, leem e pensam de conta alheia.

            Os que, porém, se não ajustam nem medem o raciocínio pelas bastilhas de tradições consagradas, sejam elas de ordem religiosa ou científica, esses, os que sabem e sentem que a Verdade não tem bonzos (sacerdotes ou homens místicos) invulneráveis nem códices definitivos no tempo e no espaço, não se deixam impressionar e menos açaimar (calar) por tais processos de reprimenda, virtualmente incompatíveis com a cultura filosófica do nosso tempo.

            Ao invés de nos alarmarmos ou nos agastarmos com essa critica mais interesseira que sincera, mais violenta que racional, devêramos todos nós torná-la como estímulo providencial e necessário ao revigoramento das próprias energias, para aumentar o patrimônio teórico e ampliar o campo experimental da prática doutrinaria.

            Em vez de polêmicas e retaliações estéreis e irritantes, doutrinamentos elevados, com vistas a equação de tantos de nossos problemas sociais e mesmo políticos, que encontram na ética doutrinária senão imediata e radical solução, ao menos atenuantes e perspectivas capazes de melhorar fatores e premissas.

            Em vez de círculos concêntricos a pivotarem (mudarem radicalmente) em esferas limitadas, de interesses pessoais e familiares; a vegetarem na sombra indecisa dos ambientes convencionais, uma organização menos passível de reflexos pessoais com programas definidos e moldados nas mais severas normas aconselhadas pelos Espíritos elevados, que são, de direito e de fato, os vexilários (porta-bandeiras) da causa.

            Não podemos nem devemos estagnar só por só na repetição de argumentos, a revidar libelos estafados e sediços (cediços – os que não deixam margem a dúvidas), fazendo o jogo mesmo dos trivialíssimos adversários em sua política de campanário (politicagem).

            Eles, esses adversários, não se renderiam com palavras, nem mesmo com fatos. Diante deles, a nossa atitude outra não pode ser, que a do sábio Gamaliel diante dos colegas doutos ao tratar dos Apóstolos e da doutrina d'O Cristo. Ou a doutrina era verdadeira e nada lhe deteria a consagração no tribunal da consciência, ou era falsa a doutrina e cairia por si mesma.

            O Espiritismo é a doutrina d'O Cristo, prometida para os tempos hodiernos (tempos atuais) e servida por esses mesmos Apóstolos, do alto daqueles simbólicos doze tronos de que nos falam os Evangelhos.

            São eles, esses Apóstolos, que nos enviam os seus arautos com aquelas verdades, aquelas muitas outras coisas que o Senhor tinha a dizer e não disse, por faltar à humanidade a madureza de compreensão.

            Essa madureza não se improvisou durante vinte séculos, porque ela é o fruto da experiência iterativa (repetida, reiterada) e dolorosa de muitas etapas de exílio para as gerações de uma só e sempre a mesma humanidade.

            Ainda hoje, em que pesem os progressos realizados, a ascensão de nível global para a compreensão das coisas do céu, muita gente reluta, repele e hostiliza estas verdades.

            Mas, que importa? Não temos nós visto o surto da doutrina em pouco mais de meio século?

            Não temos visto fariseus e saduceus convertidos e penitentes de todos os dias? Saulos, os haverá sempre, porque aberta está sempre a “Estrada de Damasco”. Somente a cada qual se assigna a hora que ninguém poderá precipitar de um segundo.

            As críticas de um Lombroso, muito mais que as estultícias (bobagens) de um cura de aldeia deveriam impressionar os bisonhos prosélitos espiritistas.

            Mas Lombroso um dia se converteu e se retratou.

            Citando um, poderíamos citar dez, cem, mil casos idênticos.

            Certo, os magnatas da Igreja, detentores de privilégios e regalos que os Apóstolos não possuíam e de que o grande Paulo se destituiu para melhor servir ao Senhor, dificilmente imitarão Lombroso; mas a nós que conhecemos a lei das reencarnações, não nos deve preocupar essa campanha, senão na parte em que ela nos pode aproveitar e que vem a ser: a correção dos nossos atos no que possam conter de legitimamente censuráveis para a sua crítica, e a piedade para essa mesma crítica no que ela traduza, em consciência, de injustiça e má fé.

            Proceder de outro modo seria perder um tempo inútil e precioso. Inútil porque lhes não modificaríamos o ânimo, e precioso porque necessário à edificação de nós mesmos.


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