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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Norma de Conduta



Norma
de Conduta

           
            Diz Renan, em sua obra, a "Vida de Jesus", interessante sob vários aspectos - embora nem sempre retrate com fidelidade, a pessoa do Divino Mestre - que o cristão é a antítese do homem mundano.

            Parece-nos, todavia, que essa concepção literal dos ensinamentos do Cristo não está certa. Se Deus criou o mundo e nos colocou na Terra, é claro que também devemos contribuir para a evolução de nosso planeta, não somente nos aspectos moral e intelectual, mas também no âmbito material, que é, igualmente, muito importante. Melhorando-se as condições econômicas do meio, mais confortavelmente viverão as criaturas, sentindo-se, assim, mais felizes.

            O problema humano consiste em encontrar a felicidade. É para isto que vivemos e nossos anseios visam tal meta, como escopo da vida.  Mas Jesus advertiu que "a felicidade não é deste mundo", a fim de compreendermos que, sendo este plano "de provas e de expiações", não poderemos encontrá-la, inteiramente, por aqui. Todavia, temos o dever de contribuir para a evolução do planeta, espiritual e materialmente.

            O Messias declarou, outrossim, que "nem só de pão vive o homem". Mas fazendo tal assertiva, ele reconheceu que o homem também vive de pão, embora não deva enxergar, exclusivamente, as coisas materiais. Por outro lado, nós, os que vivemos ainda neste mundo, não devemos olhar tão somente para as coisas espirituais.

            Cremos que o bom senso está no equilíbrio, entre os dois lados da vida. Aquele que vê somente as coisas do mundo, é mundano. Mas aquele que se enclausura exclusivamente numa beatitude doentia, é fanático. O cristão verdadeiro não deve ser a antítese do mundano, como Renan supôs, mas viver sem dar valor excessivo às coisas do mundo, harmonizando-as criteriosamente com o lado espiritual da vida.

            Se Deus nos deu mulher e filhos, devemos esforçar-nos para que eles vivam com conforto, tenham boa educação e possam ser encaminhados na vida, não para um plano de privações ou de angústias, mas de evolução, ou seja, de ascensão para o melhor.

            Precisamos, em geral, ser caridosos, bons para com os semelhantes, fugir do mal e do erro, por serem caminhos de nossa própria desgraça, ou por outra, da infelicidade. Os Evangelhos são simples lições de amor e de virtudes, para nosso bem. 

            Mas quando vier o sofrimento - que também educa - não nos revoltemos, que é pior. Tal conformidade com a vontade do Pai Celestial não implica em deixarmos de nos esforçar para melhoria de nosso estado.

            Em resumo, o cristão não deve ser elemento social passivo, mas ter a inteligência e a atividade necessárias para prosperar, moral, intelectual e materialmente, pois a lei de Deus é da evolução, em todos os sentidos.

            Se o materialismo é condenável, o misticismo também o é. In media est virtus, já frisava a sabedoria romana. O mérito e o critério estão no equilíbrio. 

            Consultar os Espíritos de como devemos agir em determinadas circunstâncias, também está errado. Temos o livre arbítrio; que Deus nos outorgou, não somos crianças e precisamos aprender pela nossa própria experiência e com o nosso esforço, apesar de auxiliados, muitas vezes, sem que o percebamos.

            Espiritismo é norma de conduta para a vida em sociedade. Daí a interpretação às palavras do Salvador, sem tabus ou dogmas, que amedrontam o indivíduo. Mas não devemos ter amor somente nas horas de sessões, quando nos reunimos em nome de Jesus. A bondade deve ser externada no lar e na luta pela vida. Aí é que o cristão exercita as suas virtudes e prova o grau de seu valor espiritual.

            Sejamos fortes, mas atenciosos com todos, inclusive com os que abraçam outros credos, que também são nossos irmãos; sejamos sinceros na prática indistinta do bem, sem desprezarmos as coisas deste mundo, pois nele mourejamos e devemos evoluir, em todos os sentidos. Não nos esqueçamos das coisas da alma, mas tenhamos cuidado com o fanatismo, pois este é tão prejudicial ao espírito como o próprio ateísmo. Jesus realçou na sua palavra meiga, mas incisiva, que quer amor e não sacrifício.

Ernani Cabral
Reformador (FEB) Outubro 1947




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