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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

22. 'O Cristianismo do Cristo e o dos seus vigários'


22

 “O Cristianismo do Cristo
e o dos seus Vigários...
           
Autor: Padre Alta (Doutor pela Sorbonne)
Tradução de Guillon Ribeiro
1921
Ed. Federação Espírita Brasileira
Direitos cedidos pela Editores Vigot Frères, Paris


            "Que é o Terceiro Estado? Nada! Que deve ele ser? Tudo!" bradava Síéyès nos Estados Gerais, em 1789, Evidentemente, Siéyès não era matemático, pois o terço não é o todo e, para fazer o todo, são precisos os dois outros terços. Mas, Siéyès era padre e fora educado pelos Jesuítas. Tinha, a cerca da Igreja, a noção que definitivamente seus mestres lhe incutiram e se propunha a aplicá-la ao Estado.

            Na primeira hora da história da Igreja, diziam os apóstolos: "Somos delegados para pregar a palavra de Deus. Quanto às coisas administrativas, escolhei dentre vós sete homens inteligentes e cheios do Espírito de Deus, aos quais confiaremos esse encargo" (27).

                        (27) Atos dos Apóstolos, VI

            Como já tive ocasião de dizer, foram as reclamações dos cristãos helênicos que ocasionaram essa criação eclesiástica. Um pouco mais tarde, ainda por causa dos Gregos, foram precisos doutores capazes de apresentar o Cristianismo como uma filosofia e não apenas como moral religiosa. Achavam-se assim constituídos, quando S. Paulo escreveu aos Coríntios, por volta dos anos 53 e 54, as três ordens incumbidas de dirigir os fiéis:

          1º Os inspirados: apóstolos, profetas, evangelistas.

          2º Os intelectuais: doutores e instrutores.

          3º Os administradores: diáconos, presbíteros, bispos.

            Assim o título, como as funções de bispo, muito menos honorÍficas do que hoje, eram atribuídas, não a um só; mas a muitos, em cada comunidade cristã um pouco numerosa .

            Esses administradores eram, então, na Igreja - abaixo dos profetas e dos doutores - o que eram na França, quando da Revolução, os a quem se chamava "o Terceiro Estado", denominado hoje "a Burguesia".

            Assim, quando a Igreja realizava o sentido de seu nome - Igreja é uma palavra grega que significa Escol - havia, acima dos bispos, não um papa - São Paulo, em sua Epístola aos Gálatas, mostra, muito claramente, que ele se reconhecia no direito e, algumas vezes, no dever de resistir S. Pedro - mas os inspirados de Deus e os doutores. Inspiração, ciência, administração eram as três forças diretoras da Igreja e todos limitavam suas ambições, segundo o mandato conferido por Jesus Cristo, a ser "o sal da terra".

            Porém, como já eu vos disse, como já vos demonstrei positivamente, quando, mais tarde, foram trazidos ao Cristianismo, não por inspiração do Espírito Santo, sim por agradar ao imperador Constantino, multidões cuja quantidade fatalmente excluía a qualidade, os administradores também fatalmente assumiram maior importância e logo, modelando a organização da Igreja pela do Império, fizeram no Catolicismo uma revolução precisamente às avessas da que em 1789 foi feita na França, porquanto, em vez de destruir a realeza, que não existia na Igreja, arranjaram as coisas de modo que ela constituísse uma realeza. Unicamente a luta entre Roma e Constantinopla retardou a realização da empresa. Desde, porém, a primeira reunião, sob a presidência de Constantino, daqueles Estados Gerais chamados Concílios Ecumênicos, os 318 bispos que compuseram o de Niceia, isto é, os administradores
eclesiásticos, fortes pela proteção do imperador, para nitidamente significarem que, dali em diante, tudo na Igreja lhes pertencia, cortaram oficialmente as questões filosóficas, que o espírito de potência dos Gregos suscitara, a propósito da unidade de Deus. Mais tarde, continuaram a fazer o mesmo em Constantinopla, em Êfeso, na Calcedônia, etc., a propósito de todos os mistérios: Trindade, Encarnação, Redenção, etc., até que, em 1870, o último dos Estados Gerais eclesiásticos, abdicando todos os direitos, os enfeixou oficialmente nas mãos do Soberano Pontífice.

            Como foi que, dos 318 autoritários do ano 313, o poder eclesiástico passou ao único administrador de 1870 e de agora? Eis de que modo as coisas se deram.




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