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domingo, 21 de maio de 2017

Respondendo

Respondendo 
Irmão X por Chico Xavier
Reformador (FEB) Novembro 1956

 Meu caro M ... (1)

Indagando como interpretam os Espíritos o problema da guerra atômica, em síntese você pergunta como apreciamos nós, os desencarnados que tanto nos agarramos ao Evangelho de Jesus, a evolução da técnica científica no plano dos homens, e, sem pestanejar, devo dizer-lhe que o progresso da inteligência, na Terra de hoje, é realmente enorme.
Quem diria, no limiar deste século, que o mundo seria conduzido às facilidades que atualmente lhe favorecem a vida?
Poderosas embarcações aéreas cruzam o espaço, com velocidade supersônica, e transatlânticos, figurando cidades, flutuam no mar, eliminando as distâncias.
O turista viaja de um polo a outro mais facilmente que um de nossos antepassados quando se locomovia de sua taba para a maloca vizinha. Pela onda radiofônica, um repórter instalado no Rio ouve uma informação de Tóquio com mais segurança que uma resposta verbal que lhe desfechemos no ouvido entre quatro paredes, e, pelos prodígios da televisão, a família não precisa ausentar-se do conforto mais íntimo, para seguir, com atenção, os grandes eventos públicos.
No campo da Medicina, o avanço é surpreendente. Até o coração já foi abordado com êxito por instrumentos operatórios.
Entretanto, meu amigo, punge-nos observar o atraso do sentimento quando comparado ao raciocínio.
Quase sempre, o engenheiro que constrói pontes admiráveis, solucionando aflitivos problemas do trânsito, não sabe caminhar pacificamente dentro de casa. Há cirurgiões exímios que subtraem a úlcera duodenal e extirpam o câncer, ignorando como fazer a oclusão de um desgosto doméstico. Temos estudiosos que analisam a posição de galáxias remotas de acordo com os últimos apontamentos de Palomar e
não conseguem ver a necessidade de amor na residência que lhes é própria, não conseguem ver a necessidade de amor na residência que lhes é própria. Encontramos viajantes que excursionam pela Terra inteira, despendendo milhões e desconhecendo como viver em paz no domicílio em que nasceram.
Vocês dispõem de especialistas de todos os gêneros.
Há quem idealize arranha-céus, edificando-os sem dificuldade, há quem invente máquinas, as mais diversas, desde o trator pesado que derruba montanhas ao pequenino aparelho de cortar ovos, e há quem conduza a eletricidade aos menores recantos da vida, oferecendo repouso aos braços; contudo, não se sabe ainda como resolver as desarmonias da parentela, os enigmas das paixões animalizantes, as aflições do tédio, as predisposições ao suicídio e as aberrações da vaidade.
As rixas de marido e mulher, as bocas maldizentes, a desilusão com os amigos, a ingratidão de muitos jovens e a rabugice de muitos velhos são chagas morais, tão deprimentes no século XX como na época recuada dos faraós.
E penso, então, como seria importante a criação de máquinas que nos dessem juízo e equilíbrio, honestidade e paciência, discernimento e vergonha.
Entretanto, meu caro, semelhantes valores não são adquiríveis com alumínio ou aço, ouro ou ferro, soro de macaco ou terramicina. Constituem talentos do Espírito que é preciso conquistar ao preço de nosso próprio esforço. Assim sendo, não vale subir à estratosfera e descer ao abismo oceânico, alardeando o orgulho vão de quem domina por fora, derrotado por dentro.
É por isso que nós, os Espíritos desencarnados, conscientes dos próprios débitos e das próprias fraquezas, nos apegamos com tanto ardor ao Cristo vivo, o doador da imortalidade vitoriosa, porque para nós, antes de tudo, importa melhorar o coração e aprender a viver.


sexta-feira, 19 de maio de 2017

O método nas tarefas mediúnicas


O método nas tarefas mediúnicas
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Novembro 1956

Nas tarefas mediúnicas, o método de ação é importantíssimo. Sem ele os resultados poderão ser intermitentes, deficientes ou nulos, em virtude da instabilidade fluídica, que perturba a concentração dos componentes do grupo de trabalho psíquico. Quer para os Espíritos, que tão benévola e eficazmente cooperam para amenizar as dores do mundo físico, quer para os trabalhadores terrenos do Espiritismo, o método é necessário ao serviço comum. Com ele poder-se-á conseguir maior concentração de fluidos, maior homogeneidade de pensamento nas reuniões, maior disciplina no trabalho, que se desenvolverá naturalmente, sem altibaixos, facilitando a obtenção de efeitos mais seguros nas obras de caridade espiritual e mais sólida normalização de esforços, sem sobrecarga para os médiuns.

Devemos lembrar sempre que uma casa espírita é um templo sem imagens nem rituais, sem sacerdócio militarmente organizado, mas dispondo de hierarquia funcional imprescindível ao estabelecimento da ordem, da disciplina e do amor à Doutrina codificada por Allan Kardec. Essa hierarquia, no entanto, terá de ser rigorosamente subordinada aos princípios doutrinários. Quanto maior for a obediência a esses princípios, mais seguros serão os resultados da colaboração entre os médiuns e os Espíritos, porque estes sentirão menos empecilhos para levar a bom termo seus elevados desígnios. Às vezes, pessoas egressas de outras religiões e ainda não suficientemente libertas de hábitos nelas adquiridos, procuram fazer enxertos nas práticas espíritas, mesmo inconscientemente do erro que praticam, criando inovações absurdas por contrárias aos postulados doutrinários firmados pelo Codificador.

Como o Espiritismo não tem papa nem bispos, nem corpo organizado, de sacerdotes, sendo, como é, uma Doutrina liberal, que confia na consciência do homem esclarecido e deixa a seu livre arbítrio as decisões que toma e os rumos que segue, algumas pessoas desconhecedoras das determinações doutrinárias se julgam aptas a adotar atitudes personalistas e a adotar normas distantes dos ensinamentos que Allan Kardec resumiu na Codificação. Nenhum espírita digno deste nome abusa da liberdade que tem dentro do Espiritismo, começando por admitir que seu primeiro dever é ser humilde para se colocar em condições de compreender melhor o alcance dos ensinamentos ditados por elevadas e nobres Entidades do Além. Sem humildade não há Espiritismo, porque esta é a qualidade principal daquele que se decide a aceitar a tutela de Jesus, através das lições contidas na Codificação. Assim, o espírita consciente de seus deveres morais e espirituais subordina-se aos princípios doutrinários, porque compreende que não há nem pode haver liberdade absoluta, neste mundo de relatividades em que vivemos. Basta meditar sobre as leis que regem a vida, para se reconhecer que toda liberdade é limitada. Semelham-se as determinações de ordem moral e as de natureza biológica. O homem não deve fazer umas tantas coisas, embora, se o quiser, possa realizá-las, respondendo pessoalmente pelas consequências. Isso tanto acontece na vida moral e espiritual, como na vida física. Se alguém voluntariamente abrevia os dias de sua peregrinação terrena, ou os de outrem, arrastará todo o peso da enorme responsabilidade contraída quando cometeu esse crime. A propósito, mais um valioso subsídio para o estudo da responsabilidade do homem em face das leis de Deus se encontra nesse prodigioso livro – “Memórias de um Suicida”, ditado à médium Yvonne A. Pereira pelo Espírito de um famoso suicida, sob a orientação do Espírito de Léon Denis, o “suave poeta do Espiritismo”.

A responsabilidade está sempre presente em nossos atos e pensamentos, e a Doutrina Espírita, elucidativa e confortadora, como nenhuma outra, dá-nos meios e forças para atendermos às necessidades multifárias da nossa existência terrena e às que temos com o mundo espiritual.

Tudo para nós, seres humanos, é relativo, dada a nossa impossibilidade de compreender e abarcar o Absoluto, que é Deus. Somente Ele conhece a essência do Universo. O que promana do Alto, como os ensinamentos espirituais que servem de santelmo à Humanidade nas horas aflitivas, atende, por isso, ao relativismo do mundo físico, surpreendendo-nos com as revelações progressivas da Verdade, à medida que nos vamos tornando mais aptos à recepção e assimilação paulatina do Conhecimento. Em todos os tempos, as revelações têm permitido ao homem tomar contato e apreender novos aspectos da Verdade, assim como de retificar pontos que erradamente aceitara como revelações, sem os haver submetido ao crivo do raciocínio e à evidência verdadeiramente irretorquível dos fatos. A proporção que a Humanidade vai evolvendo, consolidando sua posição em face do Universo, as revelações vão surgindo, ora aqui, ora ali, deste ou daquele modo, por isto ou por aquilo, aguçando-nos a curiosidade sempre insatisfeita no terreno científico, estimulando a nossa consciência na busca do futuro espiritual e nos dando, a pouco e pouco, novos elementos para
progredirmos em direção ao porvir, com mais segurança em nosso trabalho e mais confiança em nossas possibilidades.

Se o Criador age tão cautelosamente, seguindo um método de sucessivas e progressivas revelações, para não nos levar à desorientação pela incapacidade de compreender toda a Verdade de uma só vez, porque nós, insulados em limitações de limitações, não devemos subordinar nossos estudos e nossa conduta às lições de Mais Alto, seguindo também um sistema de trabalho uniforme e racional. mas progressivo, capaz de permitir a cada um dos nossos semelhantes, como a nós mesmos, a assimilação gradual das Verdades subsidiárias da Grande Verdade?

O médium, por ser um “chamado”, tem enorme responsabilidade moral e espiritual. Não lhe cabe desistir de sua função mediúnica, nem coagi-la ou compromete-la em tarefas que colidam com a Doutrina do Espiritismo, consoante o que se encontra em Kardec. Deve, portanto, estabelecer a sua própria disciplina de trabalho, realizando meditações diárias, precedidas e concluídas pela prece; comparecendo assídua e fielmente às sessões de desenvolvimento ou de trabalho mediúnico, se já for médium desenvolvido.

Isto não quer dizer que, sendo necessário, não se entregue ao exercício da mediunidade fora dos dias e horas já determinadas, porque não há horário nem dia estabelecido para a prática da caridade, para a realização do bem. O médium é simples instrumento dos Espíritos. Amparado pela Doutrina e pelas luzes evangélicas, saberá quando pode agir assim, pois há ocasiões em que seu concurso é imprescindível, fora dos programas preestabelecidos para os serviços mediúnicos. Nesses casos, o próprio Guia lhe dará a intuição precisa, no momento oportuno, se deve ou não entregar-se a tarefa extraordinária. Fora disto, no entanto, o médium necessita de resguardar-se, porque o exercício da mediunidade importa em desgaste nervoso quando não há método de trabalho. Os médiuns esclarecidos sabem quando devem repousar, porque recebem dos Guias a orientação devida. Estes sabem que a mediunidade exige cuidado e que os médiuns são instrumentos delicados, que devem ser cuidadosamente tratados, a fim de restarem sempre os melhores serviços.

Afora esta parte, os médiuns devem adotar um método de vida pessoal compatível com a manutenção da saúde, evitando excessos de qualquer natureza.


O método tão necessário à vida do homem, é de suma importância para o médium particularmente, esteja ou não entregue ao labor mediúnico. Muitos benefícios podem decorrer da ação metódica, benefícios que podem ser mais bem sentidos do que descritos. 

Erasmo (Desidério)


Erasmo (Desidério)
Autor não identificado pela revista Reformador (FEB)
Reformador (FEB) Fevereiro 1956

Erasmo, um dos mais eruditos escritores de sua época, nasceu em Roterdam, na Holanda em 1467. Foi o Voltaire do século XVI. Desencarnou na Suíça, em 1536, Na Inglaterra, Erasmo escreveu o Elogio da Loucura, obra que mereceu traduzida em inúmeras línguas.

Em sua obra - Manual do Soldado Cristão -, cremos que ainda não traduzida para o português, expõe a vacuidade do que, na religião católica, é simples forma, rito material, comparado com o espírito de sincera piedade apostólica.

Nos Colóquios, expõe a série de vícios e loucuras de padres, monges, exploradores de milagres e de relíquias e outras superstições e abusos.

Erasmo traduziu o Novo Testamento. Foi um escritor da língua latina, a qual, na sua pena, teve toda a vitalidade e frescor de um idioma vivo e usual, com um vocabulário riquíssimo, uma sintaxe cuidadosamente clássica e um estilo encantador.

Os trabalhos escritos e publicados por Erasmo formam a Biblioteca Erasmiana.

Dele escreveu um dos seus biógrafos: "O fundo do seu caráter era de um vivo sentimento: generoso de coração, caritativo, doce, trato urbano, constante na amizade."

Para conhecimento de um que outro leitor que lhe desconheça a obra, abaixo transcrevemos alguns trechos do seu famoso livro - Elogio da Loucura:

"Que é, afinal a vida humana? - Uma comédia. Cada qual aparece diferente de si mesma; cada qual representa o seu papel sempre mascarado, pelo menos enquanto o chefe dos comediantes não o faz descer do palco. O mesmo ator aparece sob várias figuras, e o que estava sentado no trono, soberbamente vestido, surge, em seguida, disfarçado em escravo, coberto por miseráveis andrajos. Para dizer a verdade, tudo neste mundo não passa de uma sombra e de uma aparência, mas o fato é que essa grande e longa comédia não pode ser representada de outra forma." 

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Mas porque não falar dos que julgam que, em virtude dos perdões e das indulgências, não tem nenhuma dívida para com a divindade! Com a exatidão de uma clepsidra e da mesma maneira por que, matematicamente, sem receber erro de cálculo, medem os espaços, os séculos, os anos, os meses, os dias, - assim também, com essa espécie de falazes remissões, medem eles as horas do purgatório. Outra espécie de extravagantes é constituída pelos que, confiando em certos pequenos sinais exteriores de devoção, em certos palanflórios, em certas rezas que algum piedoso impostor inventou para se divertir ou por interesse, estão convencidos de que irão gozar uma inalterável felicidade, conquistar riquezas, obter honras, satisfazer determinados prazeres, nutrir-se bem, conservar-se sãos, viver longamente e levar uma velhice robusta. E como se isso não bastasse, ainda esperam poder ocupar no paraíso um posto elevado, porém, de só passarem ao número dos beatos tão tarde quanto possível. Pensam, então, chegado o tempo de voar por entre inefáveis e eternas delícias do céu, uma vez abandonados pelos bens da Terra, a que se aferram de todo o coração.

Persuadidos dos perdões e das indulgências, ao negociante, ao militar, ao juiz, basta lançar a uma bandeja uma pequena moeda, para ficarem tão limpos e tão puros dos seus numerosos roubos como quando saíram da pia batismal. Tantos falsos juramentos, tantas impurezas, tantas bebedeiras, tantas brigas, tantos assassínios, tantas imposturas, tantas perfídias, tantas traições, numa palavra, todos os delitos se redimem com um pouco de dinheiro, e de tal maneira se redimem que se julga poder voltar a cometer de novo toda sorte de más ações.

Paremos por aqui. Todo o livro é uma condenação aos costumes dos poderosos do seu tempo: bispos, cardeais, papas, fidalgos, príncipes e monarcas.


O Sonho de Salom Alejhem


O Sonho de Salom Alejhem
Cristiano Agarido (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Fevereiro 1956

O mais primoroso escritor da nova literatura israelita publicou seus livros sob o pseudônimo de SaIom Alejhem, que significa "Paz seja convosco”.

Num primoroso livrinho com o título “Igual para todos”, conta ele uma história que tentaremos resumir aqui.

Os homens viviam descontentes e preocupados com as desigualdades monetárias: uns possuíam bilhões, enquanto outros nunca tinham um níquel. Resolveram dirigir a Deus uma petição, para que fosse reunido todo o dinheiro
existente no mundo e redistribuído em partes iguais para cada ser humano. Deus deferiu o pedido e mandou à Terra anjos que tomaram formas humanas e executaram o mandato. Todo o dinheiro foi reunido e distribuído. Coube cinco milhões de rublos a cada ser humano. Um casal com oito filhos recebeu logo cinquenta milhões; um casal sem filhos, apenas dez milhões; um celibatário, cinco milhões. Houve imenso regozijo no primeiro momento; mas todos os camponeses abandonaram a lavoura, os operários deixaram as construções no ponto em que se achavam, os ferroviários paralisaram todo o tráfego, as lojas não se abriram, os coveiros deixaram a enxada, os padeiros não acenderam os fornos, os professores despediram seus alunos, as cozinheiras correram para a rua.

Toda a população saiu para as ruas à procura de alimentos, mas o mercado estava fechado. Uma pobre velha conseguira assar pães para levar aos netos. Quiseram comprar-lhe os pães, porém ela se recusou a vender. Tomaram a cesta por violência e espancaram a anciã. Um popular arrombou a porta de um açougue e foi morto pelo machado do açougueiro. Toda a multidão atacou os açougues e os machados entraram em ação: houve uma carnificina no bairro dos açougueiros.

A população faminta atacava para tomar de assalto os restos de alimentos que sobejaram da véspera. Cada ser humano se tornou uma fera e o mundo, um inferno.

Então Meier, o único sábio que se opusera à petição, explicou:

- Está muito longe ainda o tempo em que o homem agirá pelo coração e pela inteligência; por enquanto ele se comporta apenas como o animal, somente o estômago o dirige; só o medo da fome o leva a produzir alguma coisa.

Não merece ainda mais do que a escravidão em que vive. O seu egoísmo o isola de todos os outros e não reconhece nenhuma solidariedade.

Só como escravo ele colabora para o bem geral.

Infelizmente, Meier tem razão. São raríssimos os indivíduos capazes de fazer alguma coisa por amor, por ideal de solidariedade. Quase ninguém percebe a interdependência existente entre os seres.

O Espiritismo nos vem revelar outro aspecto desse mesmo problema.

No plano espiritual próximo da Terra, já livre do aguilhão da fome, o Espírito age por amor ou por ódio ou fica ocioso. Agindo por amor sente-se feliz, cria um céu em seu próprio ser; agindo por ódio, cria um inferno; ficando ocioso sofre tédio e desespero que o impelem a agir, a criar seu céu ou seu inferno.


sexta-feira, 12 de maio de 2017

Vozes do Alto


Trabalho, Solidariedade, Tolerância
Clóvis Jordão de Andrade
Reformador (FEB) Outubro 1939

Allan Kardec, o insigne filósofo do Cristianismo redivivo, codificador dos sublimes ensinamentos emanados dos Espíritos mensageiros da Boa Nova, soube dar exato cumprimento à nobre tarefa a que o destinara a Sabedoria Divina. Não somente soube cumprir as obrigações de um mandato, por todos os títulos, edificante, como também fazer prevalecesse uma concepção nova perante um mundo indiferente, contaminado de seitas, crenças e preconceitos de toda ordem.

As obras fundamentais do grande iluminado da terceira revelação refletem, nitidamente, todas as características do verdadeiro Cristianismo, todas leis que regem o homem nos planos físico e psíquico, de par com as penas e recompensas que o aguardam depois da morte.

"O Espiritismo, longe de negar ou destruir o Evangelho, vem, ao contrário, confirmar,
explicar e desenvolver, pelas novas leis da natureza, que revela, tudo quanto o Cristo disse e
fez", proclamou ele.

Não é demais acrescentarmos que a nossa tarefa, na qualidade de cristãos novos, de seguidores do Cristianismo redivivo, consiste tão somente em difundir os sublimes ensinamentos evangélicos em espírito e verdade, bem como dar o bom e imprescindível exemplo de "trabalho, solidariedade e tolerância" para a completa evangelização da grande família humana.

Sob a égide dessa magnífica trilogia, que representa o marco da nossa grandeza espiritual, está assente o luminoso fanal do Progresso, do amor e da Fraternidade para todas as criaturas.

Na sua missão de Consolador, o Espiritismo é o amparo do mundo neste século de declives, de progresso científico, de tempestades de amarguras, em que as grandes ideias florescem e a sua sublime doutrina ressurge para o cumprimento dos legítimos postulados, pela exemplificação do trabalho, da solidariedade e da tolerância.


Prece na noite silenciosa

Prece na noite silenciosa
José Brígido (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Outubro de 1954

Galaor acendeu a lâmpada de óleo, abriu a esmo o grande Livro Sagrado, mergulhou o espírito na meditação dos textos e dentre em pouco se afrouxaram os laços que limitavam sua memória a este mundo de rigoroso aprendizado espiritual. Quando a chama da lâmpada tremeluziu e findou, Galaor caiu de joelhos, abriu os braços, ergueu o semblante austero, conservando as pálpebras cerradas, e concebeu esta prece que seus lábios não proferiram mas que se transmitiram por seu coração  referto de ternura.

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“Há silêncio na Terra, Senhor!  

A noite é extensa e profunda. Entregue às sombras, repousa toda a Criação. As almas pervagam o espaço infinito. Umas, procuram seus mentores espirituais, na  ânsia do aprimoramento; outras, preferem a erraticidade improdutiva, demorando-se em aventuras que retardam sua evolução cósmica!

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"Há silêncio na Terra, Senhor!

Recebe esta prece que meu coração te envia, cheio de contrição. Meus lábios permanecem inertes, para que o ruído de suas expressões bárbaras não profane a sublime majestade deste instante. No silêncio da noite imensa, meu coração fala por minha mente concentrada em Ti! A Criação repousa, tranquila, enquanto a Lua passeia seu opalino reflexo por sobre montes e cordilheiras, vales e campinas, desertos e vergéis, lagos e regatos, caudalosos rios e revoltos mares!

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Tudo é paz na noite imensa!

Tudo é imenso na paz da noite!  

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Pressinto repercutirem dentro de mim os ecos do silêncio que santificam a alma e favorecem a comunhão do meu pobre espírito com a Tua bondade redentora. Deixa, Ó Senhor, que meu coração possa louvar a tua sabedoria. Tu és a Serenidade que visita em todos os instantes o espírito do mundo, glorificando-o no trabalho evolutivo através dos milênios. Tu és todo Bondade que sustenta as almas em peregrinação eterna. Tu és o Amor que purifica o esforço dos que Te procuram. Tu és a Beleza que coroa o trabalho santo da caridade. Tu és o Êxtase que beneficia a ascese dos espíritos bem-aventurados, osculando as almas ainda conspurcadas pelo pecado e ensejando-lhes a mundificação necessária ao contato da Tua magnanimidade.

"Há silêncio na Terra, Senhor!

Contudo; multiplicam-se as vibrações divinas da Tua misericórdia. Elas alcançam os santos na humildade das celas recônditas, mas também atingem os celerados, mais pioneiros dos pensamentos negativos do que dos sóbrios cárceres que os retêm ... Agora, Senhor, tudo é silêncio,  tudo é paz... Se os mais felizes já pressentem as mensagens carinhosas do Teu amor, os rebelados, que ainda conservam o coração fechado às solicitações do bem, recebem a caridade da Tua indulgência! E assim, um dia, se renderão à Verdade; um dia abrirão os olhos da  alma para poderem enxergar as luzes que esparges pelo Universo. Dirige para estes, ó Senhor, a esmola que me couber das Tuas grandes graças! Todavia, deixa para mim um pouco da esperança que alimenta a minha fé em que, sejam quais forem os obstáculos, persistirei na caminhada que me traçaste!

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Graças Te dou, ó Altíssimo!

Permitiste me emparedasse nestas sombras transitórias para que melhor sentisse a luz que vem de Ti; para que se liberasse um pouco meu corpo etéreo do corpo denso em que realizo meu atual aprendizado terreno. Assim, minh’alma, como um pássaro feliz, já pode livrar-se no espaço incomensurável, experimentando a glória fugaz da liberdade espiritual que me aguarda no porvir! Recebe esta prece que meu coração Te envia no silêncio da noite extensa e profunda! Dá que em todos os momentos da minha exemplificação terreal.., eu não olvide as graças que têm sido antecipadas ao meu esforço! Amparo-me nas quedas, que são muitas para que eu possa enxergar melhor Tua refulgente rota!

Abençoa-me, Senhor, para que minha maldade seja cada vez menos perniciosa e que o sentimento divino do bem se desenvolva em minh’alma, nela desabrochando, cada dia mais radioso, como uma bela flor de lótus, no altar sagrado da Tua infinita ternura!

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Tudo é paz na noite imensa!

Tudo é imenso na paz da noite!

Recebe, Augusto Pai, com benevolência, perdoando-me, tão singela mensagem de amor à Tua grandeza. Ungida de humildade, nasceu e se expandiu no silêncio.  E no silêncio deve sobreestar. É, Senhor, a prece do silêncio que canta a alegria no imo de um Espírito reconhecido; é a voz do silêncio que repercute em ecos remotos, nas mais sutis vibrações através dos sete céus! Em breve, esta face da Terra estará de novo imersa na luz solar. Entretanto, todo o seu esplendor será menor que as claridades que iluminam neste instante meu coração agradecido! Todo o meu ser é luz, porque a Tua misericórdia me levará um dia à ascensão da bem-aventurança!

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Quando o Sol começou a tingir de ouro as gigantescas montanhas de píncaros                nimbados de nuvens, Galaor ergueu-se devagar. Beijou o Grande Livro Sagrado,            fechou-o afetuosamente e bendisse o dia que chegava.




Atendamos ao Senhor


Atendamos ao Senhor
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Fevereiro de 1956

Deixa que a claridade do Evangelho penetre o teu coração, cada dia, a fim de que os teus pensamentos e atos sejam a carta que diriges ao Mundo e à Humanidade, em nome do Mestre Divino, a cuja sabedoria te afeiçoas.

Se recebeste o aviso da Boa Nova e se soubeste ouvir os apelos do Amigo Sublime, não vaciles na execução do mandato de amor que o Céu te confia. A Terra aguarda o nosso testemunho de boa vontade, à maneira do campo que espera, ansioso, a devoção do cultivador.

Não hesites.

Ao redor de teus passos, a começar de teu próprio ambiente doméstico, há cipoais de aflição e charcos de angústia, espinheiros de discórdia e pedregulhos de incompreensão, desafiando-te a capacidade de servir.

Escutemos o Celeste Orientador e retiremo-nos da torre escura em que o nosso "eu" se refugia para o exame sistemático das consciências alheias, de modo a ombrearmos fraternalmente com todos aqueles que reclamam nosso entendimento e cooperação,

Hoje mesmo é dia de começar.

Efetivamente, os falsos profetas que confundem os semelhantes são portadores de amargurosas experiências para a vida comum, tornando-se passíveis de repressão da Justiça Divina, mas não nos esqueçamos de que o aprendiz do Evangelho, em fuga dos testemunhos que lhe competem, na aplicação com o Senhor, procurando enganar a si mesmo, é de todos os falsos profetas o mais lastimável e o mais infeliz.



Nossa Casa


Nossa Casa
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Fevereiro 1956

 A mente é a casa viva onde cada um de nós reside, segundo as nossas próprias concepções.

A imaginação é o arquiteto de nosso verdadeiro domicílio.

Se julgarmos que o ouro é o material adequado à nossa construção, cedo sofremos a ventania destruidora ou enregelante da ambição e da inveja, do remorso e do tédio, que costuma envolver a fortuna, em seu castelo de imprevidência.

Se supomos que o poder humano deve ser o agasalho de nosso espírito, somos apressadamente defrontados pela desilusão que habitualmente coroa a fronte das criaturas enganadas pelos desvarios da autoridade.

Se encontramos alegria na crítica ou na perversidade, naturalmente nos demoramos no cárcere escuro da maledicência ou do crime.

Moramos, em espírito, onde projetamos nosso pensamento.

Respiramos o bem ou o mal, de acordo com as nossas preferências na vida.

Na Terra, muitas vezes temos a máscara física emoldurada em honrarias e esplendores, guardando nossa alma em deploráveis cubículos de padecimentos e trevas.

Só o trabalho incessante no bem pode oferecer-nos a milagrosa química do amor para a sublimação de nosso lar interno.

Por isso mesmo, disse Jesus: - "meu Pai trabalha até hoje e eu trabalho também".

Idealizemos mais luz para o nosso caminho.


Abracemos o serviço infatigável aos nossos semelhantes e a nossa experiência, de alicerces na Terra, culminará feliz e vitoriosa, nos esplendores do Céu. 

Cresçamos para o bem


Cresçamos para o bem
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Janeiro 1956


“Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, pois não
lhe dá Deus o espírito por medida." João 3:34.

Observa a munificência das concessões divinas por toda a parte.

Enquanto o homem raciona a distribuição desse ou daquele recurso, Deus não altera as suas leis de abundância.

Anota na Terra em torno de ti:
O Sol magnificente nutrindo a vida em todas as direções ...
O ar puro e sem medida...
A fonte que se dá sem reservas ...
Tudo infinitamente doado a todos.
Tudo liberalmente repartido.
Qual ocorre às concessões do Senhor na ordem material, acontece no reino do espírito.

As portas da sabedoria e do amor jazem constantemente abertas. Os tesouros da Ciência e as alegrias da compreensão humana, as glórias da arte e as luzes da sublimação interior são acessíveis a todas as criaturas. 

No entanto, do rio de graças da vida, cada alma somente retira a porção de riquezas que possa perceber e utilizar proveitosamente.

Estuda, observa, trabalha e renova-te para o bem.

Amplia a visão que te é própria e auxilia os outros, ajudando a ti mesmo.

Recorda que Deus a ninguém dá seus dons por medida, contudo, cada alma traz consigo a medida que instalou no próprio íntimo para a recepção dos dons de Deus.

Evitando a Tentação


Evitando a tentação
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Janeiro 1956

"Vigiai e orai para não entrardes em tentação." Marcos 14:38

Vigiar não quer dizer apenas guardar. Significa também precaver-se e cuidar. E quem diz cuidar afirma igualmente trabalhar e defender-se.

Orar, a seu turno, não exprime somente adorar e aquietar-se, mas, acima de tudo, comungar com o Poder Divino, que é crescimento incessante para a luz, e com o Divino Amor, que é serviço infatigável no bem.

Tudo o que repousa em excesso é relegado pela Natureza à inutilidade.

O tesouro escondido transforma-se em cadeia de usura. A água estagnada cria larvas de insetos patogênicos.

Não te admitas na atitude de vigilância e oração, fugindo à luta com que a Terra te desafia.

Inteligência parada e mãos paradas impõem paralisia ao coração que, da inércia, cai na cegueira.

Vibra com a vida que estua, sublime, ao redor de ti, e trabalha infatigavelmente, dilatando as fronteiras do bem, aprendendo e ajudando aos outros em teu próprio favor. Essa é a mais alta fórmula de vigiar e orar para não cairmos em tentação. 

Falsos Profetas


Falsos Profetas
F. Salústio (indalício Mendes)
Reformador (FEB) Janeiro 1956

Observa-se nos setores espíritas, da parte da  grande maioria, perfeita concordância com os princípios doutrinários do Espiritismo e uma elogiável fidelidade às instituições mais representativas do nosso movimento. Entretanto, uma minoria, tocada pela mais irrequieta volubilidade, dá solidariedade a tudo quanto aparece com sabor de novidade, deixando-se levar pela palavra sedutora de pretensos profetas, que não criam nada, verdadeiramente, mas apenas promovem a dissociação das coletividades existentes, enfraquecendo-as ou tentando enfraquecê-las, a fim de melhor alcançarem seus objetivos. Ora, em todos os tempos, nas épocas de maiores crises morais e espirituais, surgem e se multiplicam os "salvadores" da Humanidade, que predicam em nome de Deus, citam a cada passo o Evangelho de Jesus, e, sem verdadeira formação doutrinária, atraem os ingênuos, os superficiais, afastando-os do caminho em que se encontravam para levá-los por outros rumos aparentemente com a mesma finalidade redentora.

Este é o quadro que se observa atualmente no mundo e principalmente no Brasil. Os "missionários" pululam e avançam, dizendo-se portadores de elevada missão, quando outros, bem menos altos, devem ser os seus legítimos objetivos. São os "camelots" da religião, que não desejam nada senão a sinceridade dos homens, mas pretendem tudo através de petitórios inesgotáveis. Precisam os homens de excessiva credulidade atentar para esta passagem do Evangelho de Jesus: "Levantar-se-ão falsos Cristos e falsos profetas, que farão grandes prodígios e coisas de espantar, a ponto de seduzir os próprios escolhidos."

Dentro do Espiritismo, o espírita digno deste nome tem tudo quanto é possível almejar para a realização dos ideais evangélicos.

Nossa Doutrina não é utilitarista, mas ensina os homens a reconstruírem sua personalidade para uma vida melhor no mundo terreno e no mundo espiritual. O Espiritismo procura reformar o homem para que o homem possa, reformado, operar a modificação da sociedade para melhor. Sem que o indivíduo se aperfeiçoe, impossível será o aperfeiçoamento da Terra. Mas é mister que os espíritas de verdade não se distraiam do trabalho que aceitaram em nossa Seara. Abandoná-lo para ouvir arengas de falsos profetas ou para perder tempo inutilmente, negligenciando o compromisso assumido, é renunciar à sua própria felicidade.

Os "falsos profetas" trazem sempre um plano de interesse imediato. Basta que lhes observemos cuidadosamente as palavras para que se desnudem suas reais intenções. Que devem, então, fazer os espíritas ainda inseguros e presas da volubilidade? Resistir à tentação de ouvi-los e acompanhá-los, porque o que eles prometem, já o Espiritismo realiza amplamente. O que eles desejam é dividir, porque, dividindo o ambiente espírita, encontrarão campo mais fácil para se desenvolverem. Justamente isso é que os espíritas devem evitar, permanecendo fiéis aos seus pontos de vista, aos seus centros, às suas instituições, que trabalham sem espalhafato nem propaganda; que realizam suas obras de assistência social sem trombetearem os benefícios que propagam; que pregam, ensinam e buscam exemplificar o Evangelho, com o único objetivo de servir ao próximo, conforme o têm provado através de anos e anos de atividade benemérita.


Os espíritas devem meditar acerca do momento em que vivemos, não olvidando as palavras de Jesus, acima reproduzidas, a respeito dos falsos profetas. Precisam dar o testemunho de união e fidelidade inabalável ao Espiritismo, não se deixando seduzir por falsos apóstolos. Os que tão depressa se empolgam por novidades, é porque ainda não sabem o que querem, ignoram o que na verdade necessitam, e contraem, assim, enorme responsabilidade para com o futuro, pois terão muito mais a perder do que supõem. São cegos que querem ser conduzidos por cegos. Os espíritas legítimos não se deixam tão facilmente abalar por sensações novas, porque não são espíritas por artifício, mas pelo coração. A eles não se aplica, portanto, o que disse Jesus, aludindo à profecia de Isaías: "Este povo me honra de lábios, mas conserva longe de mim o coração".     

Roteiro dos Médiuns


Roteiro dos Médiuns
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Janeiro 1956

Ninguém é realmente espírita se não observa rigorosamente os princípios doutrinários do espiritismo. Aceitar as manifestações fenomênicas, frequentar sessões, tomar passes mediúnicos, consultar irmãos desencarnados, não confere condição espírita a quem quer que seja. Falar e escrever sobre assuntos espíritas, comentando trechos do Evangelho segundo o Espiritismo sem, no entanto, a imprescindível exemplificação, é dar falsa aparência de autoridade. O legítimo doutrinador dá os exemplos de observância da Doutrina e do Evangelho, haurindo  de sua conduta os elementos para as dissertações e os artigos. Bem difícil se torna seguir o caminho reto, mas íngreme, da exemplificação. Mas nele é que está o verdadeiro mérito do doutrinador. O “faz o que eu digo e não o que eu faço” é divisa dos acomodadores imersos nas trevas do farisaísmo. O espírita prega o Espiritismo principalmente pelo exemplo.

Isto posto, observemos a enorme, a imensa responsabilidade dos médiuns. Não se julgue que a mediunidade seja um ornato espiritual. É, antes, uma sobrecarga, um compromisso muito sério. Para uns, ela não tem o caráter de missão; para outros, é um encargo que dirá, no futuro, da verdadeira personalidade do médium. Missão ou encargo, de qualquer modo significa responsabilidade. Portanto, o médium que se exime do trabalho mediúnico, falseando deveres que deve cumprir, assume uma posição muito grave em face de Deus. A nenhum deles é lícito esquivar-se ao trabalho, pois as responsabilidades se multiplicam, acarretando-lhes, não raro, embaraços suscetíveis de lhes causarem perturbações em toda uma existência. Quase todo médium possui uma constituição nervosa muito delicada e sensível. O trabalho mediúnico bem orientado e metódico lhe favorece o equilíbrio da economia nervosa, o que se torna benéfico à sua saúde e também ao seu futuro espiritual. Fugir às obrigações decorrentes da mediunidade representa um erro de consequências muitas vezes lamentáveis. Ninguém é médium por acaso. O dom lhe é conferido pelo Alto para ser exercido na Terra. Essa incumbência, se gera benefícios, produz também responsabilidade. Há médiuns que ligam pouca ou nenhuma importância ao mediunismo. Preferem os passatempos agradáveis, os prazeres mundanos, ao trabalho fatigante e benemérito numa sala de desenvolvimento mediúnico ou no trabalho de assistência aos semelhantes. Se quisessem meditar um pouco e pensar acerca dos obstáculos que essa atitude imprevidente poderá criar-lhes no futuro, certamente prefeririam a boa luta de todos os dias, em vez de o enganador descanso das tarefas mediúnicas e a perniciosa perda de tempo em conversas fúteis ou em encontros nada edificantes.

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Mediunidade é trabalho. Mediunidade é responsabilidade. Mediunidade é um meio de aferir a verdadeira estatura moral do Espírito que, encarnado, se deixa iludir pela volubilidade dos sentidos materiais, renunciando a compromissos de honra assumidos no Além. Muitos casos de distúrbios nervosos, ante os quais a Medicina se confessa impotente, se originam do abandono do exercício da mediunidade. O acúmulo de energia nervosa provoca perturbações graves pois o indivíduo não encontra meios de dar vasão a essa força sustada pelos fenômenos da “retenção de mediunidade”. Se se entregar ao exercício da faculdade mediúnica, sob orientação segura e metódica, a pouco e pouco poderá restabelecer o equilíbrio nervoso e readquirir, desta forma, a normalidade psíquica afetada justamente pela sobrecarga mediúnica.

Se todo médium se dispusesse a seguir, com inflexível rigor, o rumo certo, tomando como exemplo a vida limpa de Francisco Cândido Xavier, o trabalho mediúnico seria de tal modo enriquecido que belas revelações viriam juntar--se às que já nos chegam através do devotado irmão de Pedro Leopoldo e de outros médiuns sinceramente dedicados ao Espiritismo. A humildade é a primeira qualidade do espírita, principalmente do médium. A pontualidade no cumprimento de seus deveres, assim como a elevação do espírito a climas morais progressivamente mais altos, são pontos de indiscutível vantagem para o aprimoramento de sua personalidade mediúnica. O médium que estuda e vai para o campo de serviço com a mente adequadamente esclarecida, terá maior franquia espiritual do que aquele que se mostra indiferente ao estudo e desassizado. Entre um lavrador que não procura adaptar-se às necessidades de sua época, utilizando meios mais práticos e inteligentes de trabalho, e outro que busca estudar o problema da fertilização da terra, da adubagem conveniente a cada natureza de plantação, recorrendo também aos processos científicos de lavrar o terreno, não há dúvida de que este último obterá resultados muito mais vantajosos, não só porque os processos por ele empregados são mais seguros e econômicos, como porque lhe será possível fazer cálculos de produção mais amplos e garantidos do que os do lavrador apegado a princípios empíricos. O médium estudioso e fiel observador da Doutrina é um lavrador progressista. Quer ir para a frente, desenvolvendo sua capacidade produtiva. O outro, mais lento, menos senhor de si, porque não se liberta dos hábitos adquiridos, poderá ter safras satisfatórias, mas estará mais sujeito a desastres, por não saber como defender-se da intempérie, das pragas, etc.

Quanto melhores forem os médiuns, tanto mais elevado será o nível doutrinário do Espiritismo, que deve assentar-se em duas pilastras mestras: Doutrina e Evangelho. A elevação moral dos médiuns terá de amparar-se nas lições evangélicas de Jesus e nos ensinamentos doutrinários contidos nos livros de Kardec, complementados pela obra de Roustaing - Nos ‘Os Quatro Evangelhos’, e pela de Sayão - "Elucidações Evangélicas" assim como de EmmanueI e André Luiz, para somente mencionar as principais.

Humildade, estudo, trabalho, devotamente, renúncia e, sobretudo, fidelidade aos princípios espíritas, eis o roteiro aconselhável aos médiuns.


Idolatria


Idolatria
Martins Peralva
Reformador (FEB) Dezembro 1956

"Varões, por que fazeis essas coisas? -  ATOS.

Encontravam-se Barnabé e Paulo em Listra, pregando o Evangelho nascente e curando os enfermos, quando os habitantes da cidade, impressionados com os prodígios por eles operados em nome do Cristo, iniciaram estranho movimento de idolatria visando os servidores da Boa Nova.

A Barnabé chamavam Júpiter e a Paulo, Mercúrio, retribuindo-lhes, assim, a elevada condição de deuses.

Um sacerdote do Templo de Júpiter tentou até sacrificar animais ali mesmo, no local das pregações, ante os bandeirantes do Evangelho e em sua honra.

A perigosa e sutil iniciativa dos listrenses, embora inspirada na simplicidade, encontrou, contudo, imediata e enérgica repulsa da parte dos pregadores.

E não podia deixar de ser assim, uma vez que ambos, especialmente o sincero Apóstolo da Gentilidade, detestavam, qualquer tipo de idolatria.

Convencido das próprias limitações, que ainda lhes assinalavam o procedimento, realizavam a pregação em nome de Jesus-Cristo e para Jesus-Cristo faziam convergir o amor das populações que, através dos discursos e das curas, eram acordadas para o Evangelho do Reino.

Repelindo, energicamente, o leviano endeusamento, e possuídos de santa indignação rasgaram os vestidos e gritaram: "Varões, porque fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões."

Na censura dos pregadores, registrada por Lucas em Atos, identificamos uma mistura de revolta e tristeza, exteriorizando o indescritível mal-estar causado pela conduta dos habitantes de Listra.

O exemplo de Barnabé e Paulo deve servir de roteiro para os servidores de todas as épocas, especialmente da atualidade, quando o Cristianismo se restaura, gradativamente, sob as renovadoras claridades do Espiritismo, e quando o vírus do elogio indiscriminado se propaga, violentamente, em todos os setores.

Devemos cultivar - e difundir de modo incessante - a ideia de que Jesus é o motivo central do nosso esforço e o supremo objetivo de nossas humildes realizações.

Na caminhada ascensional, neste imenso educandário que é a Terra, o aprendizado é comum a todos, embora cada discípulo ocupe, realmente, diferente degrau na escala evolutiva.

Guardamos ainda, no dizer de Humberto de Campos, "suaves infantilidades no coração", o que significa dizer: porta aberta a equívocos geralmente lastimáveis.

Por que aceitar, pois, o operário do Bem, títulos de educação indevidos, se amanhã, nas bifurcações do caminho, no difícil momento dos testemunhos, reconheceremos a nossa condição deficitária de criaturas falíveis, sujeitas, como acentuaram Barnabé e Paulo, "às mesmas paixões”?

Deus é o vértice da nossa marcha.

E Jesus, Seu Dileto Filho, o ponto de convergência das nossas aspirações.

Glorificarmos a Deus e a Jesus através do serviço incessante no Bem, neste ou naquele setor, a fim de que o futuro nos dê, em bênçãos de amor e sabedoria, a Celeste Resposta ao nosso esforço - este sim, deve ser o supremo escopo das vidas que a Eles desejam consagrar-se.

Se nos é impossível, por agora, dar à nossa vida o sentido apostólico que assinalou a trajetória de Barnabé e Paulo, sigamos, pelo menos, o exemplo daqueles abnegados pregadores, levando aos incensadores de todos os tempos a linguagem, muita vez silenciosa, do nosso constrangimento:

"Varões, por que fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões...”