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sexta-feira, 19 de maio de 2017

O método nas tarefas mediúnicas


O método nas tarefas mediúnicas
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Novembro 1956

Nas tarefas mediúnicas, o método de ação é importantíssimo. Sem ele os resultados poderão ser intermitentes, deficientes ou nulos, em virtude da instabilidade fluídica, que perturba a concentração dos componentes do grupo de trabalho psíquico. Quer para os Espíritos, que tão benévola e eficazmente cooperam para amenizar as dores do mundo físico, quer para os trabalhadores terrenos do Espiritismo, o método é necessário ao serviço comum. Com ele poder-se-á conseguir maior concentração de fluidos, maior homogeneidade de pensamento nas reuniões, maior disciplina no trabalho, que se desenvolverá naturalmente, sem altibaixos, facilitando a obtenção de efeitos mais seguros nas obras de caridade espiritual e mais sólida normalização de esforços, sem sobrecarga para os médiuns.

Devemos lembrar sempre que uma casa espírita é um templo sem imagens nem rituais, sem sacerdócio militarmente organizado, mas dispondo de hierarquia funcional imprescindível ao estabelecimento da ordem, da disciplina e do amor à Doutrina codificada por Allan Kardec. Essa hierarquia, no entanto, terá de ser rigorosamente subordinada aos princípios doutrinários. Quanto maior for a obediência a esses princípios, mais seguros serão os resultados da colaboração entre os médiuns e os Espíritos, porque estes sentirão menos empecilhos para levar a bom termo seus elevados desígnios. Às vezes, pessoas egressas de outras religiões e ainda não suficientemente libertas de hábitos nelas adquiridos, procuram fazer enxertos nas práticas espíritas, mesmo inconscientemente do erro que praticam, criando inovações absurdas por contrárias aos postulados doutrinários firmados pelo Codificador.

Como o Espiritismo não tem papa nem bispos, nem corpo organizado, de sacerdotes, sendo, como é, uma Doutrina liberal, que confia na consciência do homem esclarecido e deixa a seu livre arbítrio as decisões que toma e os rumos que segue, algumas pessoas desconhecedoras das determinações doutrinárias se julgam aptas a adotar atitudes personalistas e a adotar normas distantes dos ensinamentos que Allan Kardec resumiu na Codificação. Nenhum espírita digno deste nome abusa da liberdade que tem dentro do Espiritismo, começando por admitir que seu primeiro dever é ser humilde para se colocar em condições de compreender melhor o alcance dos ensinamentos ditados por elevadas e nobres Entidades do Além. Sem humildade não há Espiritismo, porque esta é a qualidade principal daquele que se decide a aceitar a tutela de Jesus, através das lições contidas na Codificação. Assim, o espírita consciente de seus deveres morais e espirituais subordina-se aos princípios doutrinários, porque compreende que não há nem pode haver liberdade absoluta, neste mundo de relatividades em que vivemos. Basta meditar sobre as leis que regem a vida, para se reconhecer que toda liberdade é limitada. Semelham-se as determinações de ordem moral e as de natureza biológica. O homem não deve fazer umas tantas coisas, embora, se o quiser, possa realizá-las, respondendo pessoalmente pelas consequências. Isso tanto acontece na vida moral e espiritual, como na vida física. Se alguém voluntariamente abrevia os dias de sua peregrinação terrena, ou os de outrem, arrastará todo o peso da enorme responsabilidade contraída quando cometeu esse crime. A propósito, mais um valioso subsídio para o estudo da responsabilidade do homem em face das leis de Deus se encontra nesse prodigioso livro – “Memórias de um Suicida”, ditado à médium Yvonne A. Pereira pelo Espírito de um famoso suicida, sob a orientação do Espírito de Léon Denis, o “suave poeta do Espiritismo”.

A responsabilidade está sempre presente em nossos atos e pensamentos, e a Doutrina Espírita, elucidativa e confortadora, como nenhuma outra, dá-nos meios e forças para atendermos às necessidades multifárias da nossa existência terrena e às que temos com o mundo espiritual.

Tudo para nós, seres humanos, é relativo, dada a nossa impossibilidade de compreender e abarcar o Absoluto, que é Deus. Somente Ele conhece a essência do Universo. O que promana do Alto, como os ensinamentos espirituais que servem de santelmo à Humanidade nas horas aflitivas, atende, por isso, ao relativismo do mundo físico, surpreendendo-nos com as revelações progressivas da Verdade, à medida que nos vamos tornando mais aptos à recepção e assimilação paulatina do Conhecimento. Em todos os tempos, as revelações têm permitido ao homem tomar contato e apreender novos aspectos da Verdade, assim como de retificar pontos que erradamente aceitara como revelações, sem os haver submetido ao crivo do raciocínio e à evidência verdadeiramente irretorquível dos fatos. A proporção que a Humanidade vai evolvendo, consolidando sua posição em face do Universo, as revelações vão surgindo, ora aqui, ora ali, deste ou daquele modo, por isto ou por aquilo, aguçando-nos a curiosidade sempre insatisfeita no terreno científico, estimulando a nossa consciência na busca do futuro espiritual e nos dando, a pouco e pouco, novos elementos para
progredirmos em direção ao porvir, com mais segurança em nosso trabalho e mais confiança em nossas possibilidades.

Se o Criador age tão cautelosamente, seguindo um método de sucessivas e progressivas revelações, para não nos levar à desorientação pela incapacidade de compreender toda a Verdade de uma só vez, porque nós, insulados em limitações de limitações, não devemos subordinar nossos estudos e nossa conduta às lições de Mais Alto, seguindo também um sistema de trabalho uniforme e racional. mas progressivo, capaz de permitir a cada um dos nossos semelhantes, como a nós mesmos, a assimilação gradual das Verdades subsidiárias da Grande Verdade?

O médium, por ser um “chamado”, tem enorme responsabilidade moral e espiritual. Não lhe cabe desistir de sua função mediúnica, nem coagi-la ou compromete-la em tarefas que colidam com a Doutrina do Espiritismo, consoante o que se encontra em Kardec. Deve, portanto, estabelecer a sua própria disciplina de trabalho, realizando meditações diárias, precedidas e concluídas pela prece; comparecendo assídua e fielmente às sessões de desenvolvimento ou de trabalho mediúnico, se já for médium desenvolvido.

Isto não quer dizer que, sendo necessário, não se entregue ao exercício da mediunidade fora dos dias e horas já determinadas, porque não há horário nem dia estabelecido para a prática da caridade, para a realização do bem. O médium é simples instrumento dos Espíritos. Amparado pela Doutrina e pelas luzes evangélicas, saberá quando pode agir assim, pois há ocasiões em que seu concurso é imprescindível, fora dos programas preestabelecidos para os serviços mediúnicos. Nesses casos, o próprio Guia lhe dará a intuição precisa, no momento oportuno, se deve ou não entregar-se a tarefa extraordinária. Fora disto, no entanto, o médium necessita de resguardar-se, porque o exercício da mediunidade importa em desgaste nervoso quando não há método de trabalho. Os médiuns esclarecidos sabem quando devem repousar, porque recebem dos Guias a orientação devida. Estes sabem que a mediunidade exige cuidado e que os médiuns são instrumentos delicados, que devem ser cuidadosamente tratados, a fim de restarem sempre os melhores serviços.

Afora esta parte, os médiuns devem adotar um método de vida pessoal compatível com a manutenção da saúde, evitando excessos de qualquer natureza.


O método tão necessário à vida do homem, é de suma importância para o médium particularmente, esteja ou não entregue ao labor mediúnico. Muitos benefícios podem decorrer da ação metódica, benefícios que podem ser mais bem sentidos do que descritos. 

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