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segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Sobre o perispírito



 Sobre o perispírito

por Pedro Richard        Reformador (FEB) 1º Agosto 1917

             Alocução proferida perante a Comissão de Assistência aos Necessitados, pelo seu diretor, Pedro Richard:

             Nesta cadeira, onde a bondade me colocou, procedo com o máximo cuidado para que eu seja apenas um fiel expositor da doutrina que, por misericórdia, nos foi revelada pelos espíritos ao serviço do Nosso Senhor Jesus Cristo.  

            Como sabeis, a primeira fase da revelação, que trata da parte filosófica e doutrinária, os espíritos deram a Allan Kardec por diversos médiuns, sendo que o seu complemento, que diz com a parte científica e evangélica, foi confiada a Roustaing que a recebeu pelo médium Mme. Collignon.  

            Tratando-se, pois, do perispírito, que é o agente intermediário entre o espírito e o corpo material, isto é, o veículo pelo qual o espírito pode agir sobre a matéria, dizem-nos o espíritos que esse agente participa das duas naturezas: do espírito e da matéria. Assim, somos levados a procurar - o quanto estiver ao nosso alcance – compreender a natureza do espírito e da matéria.

            Por isso aconselhei, na sessão passada, o estudo dos pontos da nossa doutrina, que tratam dessa transcendental questão.

            Como vistes, a revelação dada no Livro dos Espíritos e no Gênese está de acordo com a ampla revelação dada a Roustaing, no volume 1º, págs. 258 a 315.  

            Na monumental revelação da origem da criação, os espíritos, por ordem de Jesus, nos deram o máximo que podemos comportar.

            Vamos procurar fazer sua síntese, e para desempenhar-me de tão alto encargo, ergo os olhos para Jesus, pedindo-lhe que supra as minhas deficiências, permitindo que a minha exposição seja clara e compreendida por vós outros.

            Diz a Revelação (Roustaing): “Tudo na criação tem uma origem comum; tudo procede do infinitamente pequeno para o infinitamente grande, até Deus, que é o ponto de partida e reunião. Tudo vem de Deus e volta para Deus” (1)

           (1) As citações de Roustaing são, algumas textuais e o outras em resumo.

             O fluido universal, que parte de Deus e que é dirigido pela sua inteligência e vontade suprema I é o elemento produtor de todas a criações, quer espirituais e fluídicas, quer materiais, enfim de tudo quanto morre, vive e existe.

            A vontade do Senhor Deus Onipotente, que a tudo preside, anima este fluido em todas as suas variedades e com ele produz as mais sutis combinações, até as essências espirituais, os princípios primitivos de espíritos em gérmen.  

            Nos mundos primitivos o Criador coloca os princípios constitutivos, na ordem espiritual, fluídica e material, dos diversos reinos que os séculos hão de elaborar.

            Ao mesmo tempo, o princípio inteligente desenvolve-se com a matéria que com ele progride, passando destarte de essência à vida e cujo progresso se faz sob a vigilância de espíritos prepostos.

            E assim ele passa “sucessivamente pelos reinos mineral, vegetal e animal e pelas formas e espécies intermediárias desses três reinos.”

            Nas primeiras fases a essência espiritual, absolutamente sem consciência do seu ser, se manifesta pela essência da vida.

            Percorrendo todos os degraus da escala e chegando ao desenvolvimento máximo nesses reinos, das suas formas intermediárias, o espírito em estado de formação e continuamente sob a vigilância dos espíritos prepostos é conduzido para mundos ad hoc, isto é, mundos apropriados ao fim colimado, para dele ser expurgado toda a materialidade que o contato da matéria grosseira lhe imprimiu.

            Aí ele se prepara para entrar propriamente na vida espiritual, chegando por tal processo ao verdadeiro estado de espírito formado, consciente e responsável.  

            É, então, quando ele se apossa do livre arbítrio, isto é, da faculdade de pensar e de agir por sua vontade.

            De posse desse dom (o livra arbítrio) ele opera, prepara a constituição fluídica que se chama perispírito, afim de poder agir sobre a matéria.

            Donde se vê que o espírito não pode agir sobre a matéria, na qual não é possível ligar-se sem esse agente intermediário. O perispírito, pois, é bem o veículo pelo qual o espírito se pode ligar e agir na matéria.  

            Do que tem se dito se conclui que o espírito em formação, durante todo esse tempo em que esteve ligado intimamente à matéria, faz o seu progresso relativo e proporcional. Indo para o mundo as hoc, sofre todo o expurgo da materialidade que lhe imprimiu o contato íntimo da matéria. É quando ele tem entrada na vida de livre pensador. Nessa estação de chegada, o espírito fica plenamente constituído com todas as suas faculdades, tornando-se, por isso, incompatível com a ligação direta com a matéria; daí a necessidade de um agente intermediário, de um veículo que lhe permita entrar em relações e ter contato, mais ou menos íntimo com a matéria grosseira.

            Peço, com muito empenho, a vossa atenção para este ponto primordial.

            Tudo está ligado por laços contínuos e indestrutíveis, no universo.

            Não há solução de continuidade.

            Essa mesma cadeia, que de Deus parte e que a Ele volta, contém em si tudo quanto é necessário para a execução do Seu plano divino: a Criação.

            Os seus elos estão ligados pelos reinos intermediários (permitam a expressão) e participam das espécies relativas.

            Assim sendo, o elo final não podia dispensar essa ligação, daí a formação natural e lógica do períspirito, que necessariamente tem de participar das duas naturezas, a espiritual e a material.

            Vede como é profunda e grandiosa essa cadeia infinita, que liga todas coisas e tudo na ordem universal e conduz o amor do homem ao amor infinito e puríssimo do seu Criador, do seu Deus!  

O espírito depois de plenamente constituído, de posse do livre arbítrio, consciente, dotado de inteligência e vontade com todos os seus predicados, forma, como vimos, o seu perispírito, para poder movimentar esses dotes e ser com eles o próprio artífice do seu progresso.

            Agora vejamos como o próprio espírito colabora na confecção do seu perispírito.

             Constituído o espírito do modo como vimos de expor ele, com o concurso e direção de espíritos propostos e por intermédio do magnetismo, atrai da atmosfera do mundo ad hoc, onde ele então se acha, o fluido necessário que, combinado com os elementos do seu próprio ser espiritual, forma em torno de si o envoltório que se denomina perispírito. Dizemos e empregamos o termo elementos, porque nos falta um termo apropriado que defina coisas que não estão sujeitas à análise dos nossos sentidos de homens.

            Pois que o espírito é alguma coisa de real, é obvio que tem uma origem preparada.

            Tudo na natureza é sabiamente preparado e previsto.

            Tomai de uma semente e analisai-a. Os nossos instrumentos, imperfeitos que são, pouco nos dizem da sua essência.

            E, no entanto, lá está a vida, o espírito em formação; o tipo da espécie, o gérmen da procriação, enfim, tudo quanto se faz necessário ao fim para que foi criado.

            Da pequenina semente iremos até aos mundos em formação. Sempre a mesma ordem presidindo a tudo. Tudo está maravilhosamente, atendido e organizado.

            Prossigamos:

            O espírito combina esses dois elementos, um tirado do seu próprio ser, o outro extraído da atmosfera em que ele se acha envolvido, e forma o seu envoltório, ao princípio tão sutil que dificilmente é percebido pelos próprios espíritos prepostos, segundo eles mesmos nos dizem.

            A proporção que o espírito vai agindo, mais visível se vai tornando o envoltório.

            A parte espiritual do perispírito é o receptáculo das impressões do espírito. Ela participa das suas condições morais. A material participa das condições do elemento atmosférico.

            Assim sendo, é claro que é o espírito quem modifica as condições do perispírito tornando-o mais ou menos grosseiro, pesado e materializado, de acordo com os seus sentimentos.

            Quando o espírito muda de planeta, reforma o seu perispírito quanto à parte material, deixando-a na atmosfera do planeta de onde saiu, porque agora essa parte tem de ser tirada da atmosfera do novo planeta em que vai o espírito habitar.  

            A parte espiritual conserva-se até que se modifiquem as condições morais do espírito.

            Como vedes, o assunto é complexo e profundo e o expositor é baldo de recursos.

            Perdoai-me se não satisfiz as vossas exigências.

            Uma coisa vos pede o vosso companheiro, é que estudeis a Revelação da Revelação dada a Roustaing e muito melhor do que eu compreendereis o ponto em questão.

           


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