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sábado, 7 de novembro de 2020

O hábito faz o monge

 


O hábito faz o monge  

Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Maio 1962

             A tolerância é virtude, mas não invalida a necessidade do corretivo em benefício daquele que a recebe. Quando há tolerância com o mal, sem o esclarecimento adequado para a tentativa regeneradora, o sentimento de indulgência se confunde com o de conivência e, neste caso, prejudica ainda mais aquele com o qual se procurou ser tolerante. É imprescindível, portanto, que, no exercício da tolerância, saibamos exercer a ajuda pelo esclarecimento, procurando amparar o faltoso para que ele não reincida na falta.

            Desde, porém, que o erro é insistentemente praticado, percebe-se a inutilidade da tolerância sistemática, porque, em lugar de se favorecer a recuperação do faltoso, dá-se lhe estímulo involuntário. E quando a falta procede de uma organização que defende uma doutrina cristã, que sabe, portanto, a importância do bom exemplo e a alta nocividade do mau exemplo, a tolerância tem de ser exercida ainda com maior cuidado por aqueles que a observam e veem que ela não está palmilhando o terreno que leva ao respeito das ideias que diz acatar.

            Todos nós somos imperfeitos e falíveis. Desde, porém, que desempenhemos uma função ou ocupemos um cargo, com a responsabilidade de respeitar programa preestabelecido, seremos faltosos se não o fizermos e se, consciente e repetidamente, infringirmos as determinações desse programa. Não nos move o desejo ou a preocupação de atacar ninguém. Se exercemos a crítica em determinados casos fazemo-lo com o fim de demonstrar contrastes e contradições flagrantes, erros que se eternizam, mas o fazemos com o objetivo cristão de induzir o criticado a uma revisão de suas ideias e de seus atos, para alcançar a possibilidade de acertada retificação de rumos. 

            Lemos que a Igreja Católica resolveu, mais uma vez, tomar posição na política, “orientando o eleitorado”. A LEC) (Liga Eleitoral Católica) adquiriu fama negativa por sua conduta, Agora surgiu a ALEF (Aliança Eleitoral pela Família), que também, como a outra, tem o beneplácito do Cardeal Arcebispo. Os objetivos explícitos são louváveis, mas os implícitos, geralmente os que prevalecem, conforme a LEC já demonstrou, se prestam a fins que ferem a liberdade de opinião, a liberdade de voto, o direito que cada ser humano deve ter de livre escolha. Disse Jesus: “a César o que é de César”...

            Estamos chovendo no molhado, porque os exemplos de humildade deixados pelo Cristo, inclusive com o “lava-pés” por ele instituído, se chocam com práticas que não são rigorosamente cristãs.

            Vejamos este trecho de telegrama de 21 de Março, publicado nos jornais do Rio: “Cidade do Vaticano, 21 - Os novos cardeais da Igreja Católica romana beijaram hoje as sapatilhas de seda do Papa João XXIII", etc.

            Em casos como esses, “o hábito (costume) faz o monge”.

 Do blog: Este artigo é datado de quase 60 anos atrás. Hoje, outras são as correntes religiosas que buscam ocupar grande espaço no mundo da política. Não nos cabe desenvolver o assunto. Apenas registra-lo.


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