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terça-feira, 27 de agosto de 2019

Três respostas



Três Respostas
Redação 
Reformador (FEB) Março 1924

Durante o ministério público de Jesus, um homem pertencente, segundo Mateus, à classe preponderante dos escribas, achegando-se ao Senhor, lhe disse:

“Mestre, eu seguir-te-ei para onde quer que fores.”

Quem destarte formulou a promessa não estava em situação de lhe compreender o alcance, nem de sentir o peso das responsabilidades decorrentes.

           Iludia-se.

Os escribas, bem sabe o leitor, eram “doutores que ensinavam a lei de Moisés e a explicavam ao povo.”

Os discípulos de Jesus, por Ele chamados - espíritos descidos para acompanha-lo na missão terrena - eram gente simples, humilde e pobre, sem posição social.

Celso os denominou vagabundos e mendigos.

Ao fazer a espontânea promessa, que os evangelistas nos transmitiram, o presunçoso letrado de Israel supôs encontrar franco acolhimento.

Talvez visasse vantagens de ordem material.

O discipulado era sacrifício pessoal, dedicação e sofrimento.

Poderia aspira-lo o escriba, seguindo o exemplo do divino Mestre?

“As raposas tem seus covis e ninhos as aves do céu; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.”

Foi esta a resposta do Senhor que, na frase evangélica, “não necessitava de que lhe dessem testemunho de homem algum, pois Ele bem sabia por si mesmo o que havia no homem - ipse enim sciebat quid esset in homine. (João, II, 25.)

*

Outra pessoa, segundo Lucas, veio dizer a Jesus:  

“Eu, Senhor seguir-te-ei, mas dá licença que eu vá primeiro dispor dos bens que tenho em minha casa.”

Esse irmão preestabelece condições para, em tempo futuro, satisfazer o compromisso. Precisa dispor dos bens, liquidar os negócios. Pede adiamento. Qual o prazo para essa liquidação? Como seria levada a efeito?

Durante o período dilatório, manteria o pretendente a primitiva resolução?

Poderiam surgir imprevistas dificuldades e chegar o momento do regresso à vida espiritual.

Jesus sentenciou:

“Nenhum, que mete a sua mão no arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.”

Vamos transcrever, a propósito, o seguinte ditado inserido na grande obra de ROUSTAlNG:

“É preciso que as condições pessoais, egoísticas, não te façam olhar atrás e abandonar a obra que tens de executar. Começaste a caminhar para a frente, segue teu caminho, pois parar é recuar.” (1)

(1) Os Quatro Evangelhos (trad. de Guillon Ribeiro) vol. II, pag. 54.

*

Tem sido objeto de muitos e variados comentários a resposta de Jesus ao discípulo (na versão do primeiro Evangelho) o qual lhe pedira permissão para ir enterrar o pai:

“Segue-me, e deixa que os mortos sepultem os seus mortos.”

A feição deste artigo não nos permite acompanhar os comentadores.

O leitor poderá verificar, com facilidade, as explicações perfeitamente harmônicas, de ALLAN KARDEC e ROUSTAING. (1)

(1) A. KARDEC- O Evang. Seg. o Espirit., cap. XXIII, ns. 7 e seg.; ROUSTAING “Obra e vol. cit. P. 50 e seg..

A lição de Jesus é toda espiritual.

Observemos, de passagem, que a lei mosaica vedava ao sumo pontífice assistir a enterro, embora fosse do pai ou da mãe. (Levítico, XXI, 11)

Aos nazarenos ou nazireus foi imposto o mesmo preceito. (Números, VI, 6, 7.)

*

Em Mateus, (VIII, 19-22) e Lucas (IX, 57-62) encontram-se os textos citados acima.

Invocando-os, pretendemos acentuar a concordância entre a lição evangélica e o ensino dos Espíritos, conforme costumamos fazer nesta coluna.

O espírita, obreiro da seara, deve compreender as suas responsabilidades de crente. Não lhe é lícito recuar. Cumpre-lhe, ao contrário, executar de boa vontade a tarefa a que se obrigou.

A fé lhe não foi imposta. Adquiriu-a pelo esforço próprio.

Adotando a doutrina com as suas normas diretoras, sabe os resultados provenientes dos desvios nesta existência e na outra post mortem.

A denominada morte é passagem para a vida real - Janua vita. A encarnação é descida do Espírito à matéria, onde fica encarcerado.

O Espiritismo vem assim explicar as palavras do Senhor, que de novo
esplendem pela voz dos seus mensageiros.

Seja-nos permitido encerrar este artigo com a lição de ALLAN KARDEC:

“A vida espiritual é a verdadeira, por ser a vida normal do Espírito. A existência terrestre é apenas transitória e passageira, espécie de morte, se a compararmos ao esplendor e atividade da vida espiritual.
O corpo não passa de grosseira veste, envolvendo momentaneamente o Espírito, qual cadeia que o prende ao solo terreno, e por cuja libertação sente-se feliz. O respeito que se tem pelos mortos não se liga à matéria, mas pela lembrança ao espírito ausente... Jesus ensinou aos homens, dizendo-lhes: Não vos inquieteis com o corpo, mas pensai antes no Espírito; ide ensinar o reino de Deus; ide dizer aos homens que a sua pátria não é a Terra, mas o céu, onde somente está a verdadeira vida.”


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