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sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Inspirações - 7



Inspirações – 7
por Angel Aquarod
Reformador (FEB) Julho 1923

SOBRE A COMUNICAÇÃO COM OS ESPÍRITOS

         No Espiritismo, o principal é a doutrina, temo-lo dito muitas vezes, como, em todos os reinos, o fruto é a consequência do crescimento, do desenvolvimento total das plantas, dos animais e dos homens. Porém, do mesmo modo que não se pode nem se deve desprezar, nas demais ordens, os indivíduos para que se desenvolvam, cresçam e não cessem de desenvolver-se e crescer, até chegarem à plenitude, que é a época da madureza do fruto e da colheita, não se pode nem se deve desprezar, no Espiritismo, o fenômeno, o cultivo da parte experimental, a comunicação com os desencarnados, por meio da mediunidade. Tudo isto constitui a árvore do Espiritismo; a doutrina é o fruto. Sem o cultivo da árvore, como se poderia conseguir o fruto?

Entretanto, assim como há bons e maus agricultores em todos os domínios do conhecimento humano, das especialidades que abraçam, na divisão das tarefas impostas por Deus às criaturas humanas, também há, no Espiritismo, bons e maus e, entre estes dois extremos, medianos cultores da parte experimental.

Mas, como poderá o homem, em qualquer ramo de atividade, chegar a aperfeiçoar-se no cultivo que se lhe confiou, se não se lhe permitir a necessária aprendizagem? Pretender-se é, porventura, que todo espírito encarnado, que começa a cultivar um ramo de conhecimentos, ou a atuar em qualquer ordem de manifestação, desde o primeiro momento faça obra de mestre? Impossível.

Por isso, não estão de todo com a razão os que entendem de eliminar do campo da experimentação dos fenômenos espíritas todos os que não se mostram bem habilitados para o caso. Não estão com a razão, quando pretendem aquela eliminação, de maneira absoluta; têm-na pretendendo que todo aquele que se coloque à frente de tais trabalhos esteja suficientemente habilitado para isso.

Não se pode, contudo, reclamar uma habilidade extraordinária em todos os casos e circunstâncias, porque, em muitas ocasiões, impossível é que tenham essa habilitação perfeita os indivíduos chamados a atuar em tal terreno. Preciso é se deixe que, pelo estudo, pela prática e pelo conselho de irmãos mais conhecedores do assunto, ou dos próprios guias invisíveis, eles se instruam e tornem mestres.

Não se deve esquecer de considerar este assunto sob outro aspecto. Geralmente, dentro do campo espírita, existe, entre a maior parte dos inclinados a laborar no terreno experimental, a pretensão de que é recomendável o método que eles particularmente adotam e seguem, olvidados de que os métodos de experimentação e de trabalho, empregados desde a aparição do Espiritismo, são múltiplos e variados e que, mediante qualquer deles, o fenômeno se tem produzido, a comunicação entre os dois mundos se tem verificado. E não é tudo. Em inúmeras ocasiões o fenômeno se há produzido entre pessoas que, ou não haviam jamais ouvido falar de Espiritismo, ou não lhe davam atenção alguma, se não lhe eram hostis. Nada obstante, o milagre se operou e os chamados mortos se manifestaram, iniciando nos mistérios do além os que o ignoravam completamente.

Os Espíritos, para produzirem os fenômenos que consideram próprios a transmitir à humanidade terrestre as mensagens que a Bondade divina lhe envia, não atentam nas pequenezas que trazem divididos os homens, causando entre eles desavenças fundas e irredutíveis rivalidades.

A questão dos métodos de comunicação com o mundo invisível é coisa assaz secundaria, para que os Espíritos se preocupem com isso. Eles acodem onde é preciso, seja entre os espíritas, capazes ou não, seja entre os que em nada creem do que ao Espiritismo possa referir-se; seja no seio de qualquer confissão religiosa hostil à doutrina que teve como codificador Allan Kardec.

O de que principalmente necessita quem deseje pôr-se em comunicação com o mundo invisível, entre os que a tal tarefa queiram dedicar-se, é um vivo propósito de realizar o bem e ser causa do progresso das almas. Nestas condições, sempre se obtêm bons resultados nas sessões, porque tão magnificas disposições suprem de sobra a falta de conhecimentos dos que as dirigem, como dos que a elas concorrem.

Existindo essas boas disposições, se houver aparelhos aproveitáveis entre os que se reúnem, os Espíritos do Bem os utilizam, em obediência nos desígnios divinos, dando as instruções que correspondam no modo de ser e crer dos componentes do grupo e auxiliando-os, para que possam ser instrumentos da caridade espiritual, levando a saúde ao enfermo, acalmando dores, espargindo consolações e iluminando as consciências com a luz do céu, graduada pela capacidade visual de cada Espírito chamado a receber este benefício.

Não se pode, pois, excluir dos trabalhos chamados de Espiritismo prático os adeptos que não reúnam condições excepcionais de conhecimento do assunto, ou uma inteligência notável. Há espíritas para os quais fora de desejar que unicamente os sábios se ocupassem com a fenomenologia espirita, considerando que toda ela deve ser tratada cientificamente e com precauções tão escrupulosas e minucias tais, que as experimentações excluam qualquer dúvida a respeito de sua autenticidade. Estão certos os que assim pensam, quando pretendem que esses requisitos se cumpram para oferecer ao mundo profano provas inconcussas da realidade do fenômeno; porém, quanto ao mais, não lhes assiste razão.

O fenômeno espirita, a comunicação entre os dois mundos têm maiores alcances do que tudo isso, suas projeções são muito mais vastas e seus resultados de uma transcendência muito superior à que se traduz pela simples experimentação científica com provas irrecusáveis da autenticidade do fenômeno e ainda da certeza da comunicação ultraterrena.  

Quando o homem já está convencido da verdade espírita e não alimenta dúvida alguma a respeito do intercâmbio com o mundo invisível, não necessita apelar para aquelas precauções rigorosas preconizadas pelos adeptos a que antes me referi. Em tais condições e tendo confiança nos instrumentos ou seja nos médiuns de que se utilizam os Espíritos para comunicar-se, já têm bastante e para esta classe de trabalhos não são os mais sábios, segundo o mundo, os mais aptos, sim os que possuam maior fé, os melhor intencionados, os mais em dispostos à elevação espiritual a exercer a caridade com o próximo, seja este encarnado ou desencarnado.

Ficamos, pois, deste modo, em que, por não ter superior cultura, nem, sequer, conhecimentos muito profundos do Espiritismo, não se deve excluir a ninguém dos trabalhos chamados práticos, quando se lhes reconheçam as bons qualidades e excelentes disposições morais que mencionei.

Precisamente, os chamados sábios são os menos indicados para o labor transcendental, de alta espiritualidade e de consequências caritativas, que podem e devem obter-se nas sessões espíritas, por carecerem de humildade, por estarem aferrados a certos determinismos e prevenções, que afugentam, em vez de atrair, os Espíritos de elevação moral, que são exatamente os que dão as verdadeiras instruções doutrinárias e produzem os efeitos mais benéficos entre os que se reúnem em sessão.

E, a respeito de métodos de trabalho, não seria mal que se aperfeiçoassem todos os que existem, procurando-se que em cada nova sessão, facilitassem as comunicações e fossem utilizados com mais conhecimento de causa por todos. Porém disto a chegar à unificação, isto é, a estabelecer um método único, uniforme, com a obrigação de o seguirem - todos os experimentadores, há um mundo de permeio.

No que é secundário, deve-se deixar completa liberdade aos grupos e centros espíritas que trabalhem com a compreensão que Deus lhes conceda, sem os ridiculizar, nem estigmatizar. Basta que se lhes deem bons conselhos e se lhes demonstrem os bons resultados obtidos pelo método que se lhes possa aconselhar, deixando-os depois em completa liberdade, deixando a cargo dos seus guias o resto, que eles sabem melhor do que ninguém o que podem aconselhar a seus dirigidos. Isto quando se trate de adeptos de boa fé, por conseguinte, com as melhores intenções. Quando se trate de pessoas e núcleos de exploração da ideia, em benefício de instintos baixos e grosseiros, do que é puramente material, já a coisa é outra.

Esses não são núcleos espíritas e a seus componentes não se deve considerar como tais. Deles, portanto, não me ocuparei, que meu objetivo foi somente chamar a atenção para errôneos modos de pensar e proceder, trazendo o meu grão de areia no acervo comum de quantos se interessam pela boa e reta marcha do Espiritismo e procuram dirigir a seus adeptos toda espécie de observações e conselhos que possam facilitar-lhes um bom labor.

O Espiritismo veio para favorecer o avanço da humanidade, para seu progresso moral e o consegue ensinando aos indivíduos tudo o que os pode fazer progredir espiritualmente. Isso faço, na fraca medida do que posso. Se conseguir o meu propósito, dar-me-ei por satisfeito, uma vez que terei contribuído para o bem os meus irmãos em Deus, de ambos os mundos, que é tudo ao que aspira minha alma.

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