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quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Inspirações - 13



Inspirações – 13
por Angel Aquarod
Reformador (FEB) Dezembro 1923

O ESPIRITISMO NAS BAIXAS CAMADAS SOCIAIS

Se o Espiritismo, com as asas de seus elevadíssimos ensinamentos, penetra no gabinete do sábio e o convida a sondar os arcanos da natureza e a pesquisar no oculto, também com as asas de sua piedade, portador de divinas consolações, desce ao tugúrio do indigente, penetra na lôbrega mansão dos Infortunados, roça sua alva túnica pelo ladrilho dos prostíbulos, invade a cela do recluso; alenta o delinquente condenado pela justiça humana, dando-lhe forças para carregar suas pesadas cadeias; atrai a atenção dos párias do presente; acaricia o ignorante, chamando-o a si; afaga o indignado contra a injustiça social oferendo lhe maior esclarecimento das coisas que ele estuda, para fazê-lo conhecer que em tudo há a justiça que ele não sabe ver. A esse e a quantos rastejam pelas baixas camadas sociais, com o exato conhecimento do porque do que lhes sucede, oferece uma âncora salvadora, um lenitivo as penas, uma certeza necessária da eternidade da vida, um motivo de alegria em meio dos penares terrenos e a segura redenção do gênero humano.

A ninguém o Espiritismo se nega. Por conseguinte, não terá que ser ocultado dos seres que vivem na humilde condição descrita acima.

Não andam acertados os que temem que doutrina que professais chegue a ser tão popular, que até nas mais baixas camadas sociais encontre assento. Precisamente, se alguém necessita dos consolos que o Espiritismo pode proporcionar são todos esses seres desprezados pela sociedade que se qualifica a si mesma de culta. A esses infelizes é que buscava o doce Nazareno, para prodigalizar-lhes o pão de vida que com tanta abundância distribuiu pela espécie humana. E o Espiritismo seria menos? Ah, não!

Não temais que esses irmãozinhos vossos, que ocupam os últimos lugares na escala social o prostituam. Desde que o não compreendam bem. Sem, nem por isso será inútil o ensino que do Espiritismo recebam.

Em verdade, a esses irmãozinhos vossos e meus não se pode pedir que sejam poços de sabedoria; não se pode exigir que tudo compreendam e vejam à luz de clara lógica; não se pode exigir que sejam filósofos acabados. Tudo isso está acima deles e deles não se pode esperar. Pode-se, porém, esperar que compreendam o que há de essencial na doutrina, que percebam o porquê da vida, o plano da criação, na sua expressão mais simples, o bastante para não andarem cegos pelo deserto terrestre. Deles se pode esperar que, conhecendo a existência do mundo super físico, a comunicação dos espíritos e os bons efeitos da oração, busquem neste recurso magnífico e celestial, maior bem para si e para os outros. Pode-se esperar, dos que arrastam as cadeias do presidiário, que se tornem dignos cidadãos, amigos de praticar o bem entre seus companheiros, por meio da prece sentida, e se convertam em dóceis servidores do Pai e de seus irmãos, preparando-se para merecer o convívio da gente honrada, ao recobrarem a liberdade. Pode-se esperar do indigente que, não obstante a sua penúria, se mantenha honrado e espere mais do esforço próprio, do trabalho honesto o gozo do necessário para a subsistência, do que da humilhante dádiva do orgulhoso senhor. Pode-se esperar do desvalido, do enfermo, do desamparado, do desprezado, que suporte seus sofrimentos, sua condição infeliz, com resignação, conformando-se com a vontade divina. Pode-se esperar do revolucionário impenitente que modifique seu modo de ver as questões de sua competência e abandone os processos violentos, procurando a solução dos problemas sociais na santa doutrina pregada por Jesus. Pode-se esperar da infeliz meretriz que, compreendendo as leis que regem o mundo moral e confiando na misericórdia divina, imite a Madalena e se converta em providência redentora de outras irmãs também caídas no lodaçal do vício... Pode-se esperar que do ignorante faça um aplicado ao estudo e que lhe desperte no íntimo as arraias do saber, ensinando-lhe que pela sabedoria e pelo amor se chega até Deus.  

Pode-se esperar do perdido, do ocioso, do viciado em todos os ramos da má vida, que volte atrás e, arrependido de seu proceder, tome outro roteiro, voltando, qual filho pródigo, à casa do Pai. Tudo isso e muito mais se pode esperar desses irmãozinhos nossos, tão desprezados, tão escarnecidos e até tão perseguidos.

Podereis objetar-me: Que será o Espiritismo entre essa gente? Será o que é, nem mais nem menos. Pode a alma humana, que jaz pura no mais íntimo de vosso ser, tirar sua pureza da escória com que a vestis, envoltório físico as vezes dominado pelas mais baixas paixões? Não, não é verdade? Pois, do mesmo modo, o Espiritismo, não obstante mal compreendido e pior praticado quanto a seu lado moral, por muitos de seus adeptos, sempre é o mesmo; não perde nunca um só átomo que seja de sua pureza.

Assim, distribui com todos o manjar que Ele a todos oferece a fim de que os que possam aproveitar alguma coisa do seu espírito aproveitem.

Não está ao vosso alcance determinar quais os que podem aproveitar do Espiritismo e quais os que dele nada podem aproveitar. Assim sendo, oferecei-o a todos, sem distinção, porque quem deva tirar dele proveito o abraçará com entusiasmo e beneficiará de seus ensinamentos. Não deveis insistir com tenacidade junto dos que o repelem, mas não deixeis de oferece-lo a quem quer que seja e mais que a todos aos que sofrem, aos descontentes da vida, aos que necessitam de consolo. A todos estes oferecei-o e não poupeis esforços para dar-lhes conhecimento de vossas crenças.

Não temais pelo uso que possam fazer do que lhes ensinais. Por muito mal que compreendam o que lhes ensineis, sempre será maior o bem que obterão e que proporcionarão à própria sociedade de que fazem parte, do que o mal que possam causar à doutrina. Esse mal será sempre nulo, porque a doutrina é intangível. Ninguém a pode prejudicar jamais.

Jesus nunca deixou de descer às mais ínfimas camadas sociais para levar aos irmãos que as compunham a saúde da alma. Deveis fazer o mesmo com o Espiritismo e com o Cristianismo, explicado à sua luz.

O Espiritismo não veio exclusivamente para os entendidos e para os felizes. Veio para todos. A ninguém, pois, negueis a sua luz, sob pretexto algum; iluminai todos os vossos irmãos de cativeiro, pondo a luz que possuis sobre o candelabro. Isso representará o pagamento de uma dívida que tendes para com eles; não lhes negueis o pagamento de tão justo tributo.

Para todos há alimento no Espiritismo, que corresponde a todos os estados e a todas as necessidades da criatura humana. Só vos compete, pois, graduar seus ensinamentos à natureza e à extensão dessas necessidades, regular a maneira de ministra-los, etc., etc., para dar a cada um o que lhe possa ser útil, por corresponder ao estado de sua consciência.

Entrego ao vosso estudo esta matéria para que desentranheis dela a caudal imensa de sábios ensinamentos que encerra e encontrareis o modo mais fácil de fazerdes penetrar o Espiritismo em todas as inteligências, seja qual for a cultura dos indivíduos e a classe social a que pertençam.

Tende presente, ao demais, que pouca diferença há, considerando-se o valor intrínseco dos espíritos, entre os que ocupam as últimas camadas sociais e os que ocupam as camadas médias e as mais altas. A lei divina é sumamente igualitária; é o que poderíeis dizer, na vossa linguagem humana, à moderna, socialista, pois que todos os espíritos, nas suas diferentes encarnações, passam por todas as camadas sociais e até se sentam nas curuis (poltronas) dos magistrados, ditando sentenças condenatórias, para, na encarnação seguinte, arrastar a grilheta numa prisão ou morrer num patíbulo.
           
Dos que estão em cima aos que estão embaixo, passando por todos os outros, não há privilégio algum. Assim, não estabeleçais diferenças entre eles para a difusão do vosso ideal, que para Deus não há classes privilegiadas. Para Ele todos precisam e devem ser iluminados pela luz da Nova Revelação, sejam quais forem e a classe em que se achem e a condição de vida que buscaram.

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