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quinta-feira, 6 de abril de 2017

Nótulas Espiritualistas


  Nótulas Espiritualistas
Dr. Antônio J. Freire
in Reformador (FEB)  Abril  1954

            A maior vitória que o Homem pode alcançar - vitória de resgate e de redenção - é vencer a sua alma passional  e instintiva; é subjugar a sua má índole; as suas tendências e pendores animalizados , vibrando, ainda, num longínquo atavismo de que só muito tarde se  poderá libertar, porque a evolução moral é muito lenta e morosa.  
            O essencial é o Homem saber conquistar o almejado auto-domínio, uma vontade forte e tenaz, para, assim, vencer suas grosseiras paixões e transmutar os seus vícios em virtudes cristãs.

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            Para encurtar o caminho da salvação tem o Homem meios variados, que vão das Ciências e Filosofias às Religiões. Mas um dos melhores, dos mais práticos e eficientes, ao alcance de sábios e ignorantes, de ricos e de pobres, de justos e de pecadores, é a oração, a  prece, conjugada com a leitura e meditação dos Evangelhos.
            A prece é o mais ativo agente da nossa reforma espiritual, quando praticada com fervor, sinceridade, com desinteresse material, ao impulso duma vontade forte, contínua, implorando ao Divino Criador mais graça para o Bem da Humanidade do que para nós próprios.
            Só pela aplicação aturada das virtudes cristãs, a desorientada Humanidade poderá evitar o pavoroso cataclismo que a envolve por todos os lados, desde as bombas atômicas e termonucleares à invasão da ferocidade bolchevista. Um pavor!

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            O melhor roteiro,  para orientar a nossa conduta este “Vale de Lágrimas”, inçado de embustes, de armadilhas, habilmente camufladas de traições dos mais astuciosos, está gravado em lei refulgentes na Área de Aliança contida na nossa alma espiritual, de essência divina.
            É ali que devia reinar soberanamente a consciência moral, somente, o nosso mais dedicado amigo, o nosso incorruptível e mais sábio conselheiro.
            Na nossa luminosa consciência moral trazemos um admirável roteiro, certo e seguro – de natureza divina – para podermos atravessar incólumes as tempestades deste ingrato Mundo, ainda tão perverso e malévolo.
            Infelizmente, poucos são aqueles que procuram ouvir e interpretar as suas vozes interiores, que surgem lá do fundo recôndito das suas consciências íntimas.

            Neste cruciante e desalentador turbilhão de ódios e de ambições desenfreadas, a força bruta prevalece sobre o Direito humano, e o Direito Divino, de há muito, está votado ao ostracismo. Reinam “o bezerro de ouro”, os gozos e os prazeres mais aviltantes e monstruosos, as influências mais depravadas.

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            A Humanidade está anestesiada e insensível à Voz de Jesus. De Jesus que baixou a este Planeta nas luminosas asas do resgate e da redenção, do amor e da compaixão.
            Mal vão à nossa pervertida Humanidade, se não souber seguir os lídimos e redentores ensinamentos do Cristo – o filho dileto de Deus.

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            O ódio e a inveja, a vaidade e a hipocrisia, orientados num feroz e aterrador egoísmo, são os padrões da vida moderna, prevalecendo até na intimidade das famílias.
            Do tremendo choque de desmarcadas ambições, despidas dum mínimo de valor moral, resultam injustiças e tremendas lutas sociais, em que são vencidos os mais sérios, honestos e competentes. A vitória cabe aos mais audaciosos e petulantes onde predomina, num complexo de inferioridade, a ausência de escrúpulos aliada à astúcia do réptil.

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            As almas sensíveis, num estado superior de relativa evolução, sofrem tormentosas angústias sobre a satânica pressão de tanta protérvia, de tanta insânia, num caudal de violências e de flagrantes injustiças.
            Só há um refúgio para as almas desalentadas e sofredoras onde o bem foi subvertido pelo Mal, por vezes, constituindo o lastimoso agregado dos Vencidos da Vida: a prece fervorosa, e o perdão, sem reservas, sem prevenções, aberto, leal, sincero, tal qual Jesus o propagou e exemplificou do alto do Gólgota.
            Só o perdão das ofensas recebidas, por mais profundas, dolorosas e extensas que sejam, dulcifica a apasigua a alma angustiada, cicatrizando os ferimentos recebidos.
            O perdão é o aro de aliança que liga a criatura ao seu Divino Criador.
            Quem sabe perdoar, sabe amar.
            Quem sabe amar o próximo de todo o seu coração, evoluciona retilineamente para Deus. 
            Amar e sofrer é a divisa do justo.

Lisboa, 1954



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