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domingo, 5 de julho de 2020

O precioso legado de Roustaing


O precioso legado de Roustaing
Vinélius Di Marco (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Dezembro 1957

            A famosa e importante obra mediúnica divulgada sob o título “Os Quatro Evangelhos - Espiritismo Cristão ou Revelação da Revelação” constituí uma das mais fecundas fontes para o estudo mais profundo do Espiritismo em face do Evangelho. Jean Baptiste Roustaing, homem de sólida moral e vasta cultura, bastonário ilustre de Bordéus, possuía a idoneidade indispensável ao patrocínio de trabalho de tão grande envergadura.

            A magnitude dessa grandiosa obra, que constitui uma das maiores realizações dos Espíritos, depois das revelações codificadas por Allan Kardec, no nobre afã de dotar a Humanidade de elementos positivos que a possibilitem à compreensão perfeita dos problemas humanos relacionados com os problemas do Além, impõe-se ao respeito das criaturas austeras e desejosas de conhecimentos mais amplos em tão melindroso terreno. “Os Quatro Evangelhos”; não estão em conflito com o Pentateuco kardequiano. Se as obras do Codificador são a base do Espiritismo, porque lhe constituem o corpo doutrinário, “Os Quatro Evangelhos” representam a exegese do conteúdo evangélico de nossa crença, por penetrar mais intimamente na questão, elucidando-a com simplicidade e segurança de argumentos, de modo a nos dar deles não uma visão superficial e demasiado restrita, mas uma compreensão bastante clara de verdades até então aparentemente irreveladas, que desde tempos imemoriais vêm sendo transmitidas ao homem através da palavra simbólica dos orientais, onde quase sempre o véu espesso da letra cobre a fulgurância de prodigiosos ensinamentos.

Guillon Ribeiro

            A autoridade moral e intelectual do tradutor desse valiosíssimo trabalho – Dr. Guillon Ribeiro, cuja educação evangélica irrepreensível pode ser equiparada à desse outro extraordinário vulto do Espiritismo que foi o Dr. Bittencourt Sampaio - constitui advertência assaz ponderável da extrema seriedade dos ensinamentos recebidos e coordenados por J. B. Roustaing. Entretanto, para melhor assimilação de tais ensinamentos, é recomendável que o leitor, antes de se entregar à leitura de “Os Quatro Evangelhos”, já esteja familiarizado com “O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec.

            Nos serões de estudo do Espiritismo Cristão, não é possível prescindir de “Os Quatro Evangelhos”. Suas revelações desenvolvem o conhecimento progressivo do leitor no sentido evangélico, porque demonstram, através das comunicações dos Evangelistas, verdades maravilhosas, não só quanto à explicação dos textos evangélicos em espírito e verdade, como quanto à origem dos Espíritos, à natureza dos fluidos, ao magnetismo, aos processos evolutivos a que o Espírito se encontra sujeito pelos séculos afora, etc.. A propósito, esclarece no prefácio o Dr. Guillon Ribeiro, com aquele aticismo (elegância e sobriedade de linguagem), aquela propriedade de linguagem vernácula que lhe era muito peculiar: “...além de ser obra de estudo e meditação metódica dos Evangelhos, a “Revelação da Revelação” será sempre também indispensável obra de consulta, não só para os que já lhe hajam perlustrado as páginas, como ainda para os que, sem o terem feito, busquem de momento elucidar qualquer das grandes questões que o Espiritismo veio pôr em foco.” Esta é a palavra autorizadíssima de um dos mais conspícuos mestres do Espiritismo brasileiro.

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            J. B. Roustaing, que sempre teve na mais alta conta o Codificador e sua obra, prefaciando “Os Quatro Evangelhos”, faz considerações muito judiciosas, das quais apenas vamos reproduzir alguns trechos, a seguir: “Com a minha vida inteira irresistivelmente presa à pesquisa da verdade, na ordem física, moral e intelectual, deliberei informar-me cientificamente, primeiro pelo estudo e pelo exame, depois pela observação e pela experimentação, do que haveria de possível, de verdadeiro ou de falso nessa comunicação do mundo espiritual com o mundo corporal, nessa doutrina e ciência espíritas.


            “Li O Livro dos Espíritos. Nas páginas desse volume encontrei uma moral pura, uma doutrina racional, de harmonia com o espírito e progresso dos tempos modernos, consoladora para a razão ‘humana; a explicação lógica e transcendente da lei divina ou natural, das leis de adoração, de trabalho, de reprodução, de destruição, de sociedade, de progresso, de igualdade, de liberdade, de justiça, de amor e de caridade, do aperfeiçoamento moral, dos sofrimentos e gozos futuros.” E prossegue em maiores considerações sobre essa obra:

            “Em seguida li ‘O Livro dos Médiuns’ e nele se me deparou uma explicação racional: da possibilidade das comunicações do mundo corpóreo com o mundo espiritual; das vias e meios próprios para essas comunicações, das aptidões e faculdades mediúnicas no homem: da mediunidade e das condições de moralidade e de experiência para seu exercício útil e proveitoso nas relações do mundo visível com o mundo invisível, sempre e exclusivamente com o objetivo da prece, da caridade de além túmulo, do ensinamento moral, da instrução que os bons Espíritos, na era nova que começa, têm a missão de dar e que é invariavelmente proporcionada e adequada ao desenvolvimento intelectual e moral do homem. Achei, enfim, a explicação racional das vantagens e inconvenientes da mediunidade, dos escolhos e perigos a evitar e dos caminhos a seguir para praticá-la."

            De estudo em estudo, de pesquisa em pesquisa, através da história e da filosofia, Roustaing se certificou da existência de uma congérie (série) de erros e impropriedades. “Vi ensinados, desde a antiguidade até hoje, num amálgama de erros e de verdades, dispersas e ocultas aos olhos das massas, os princípios que a doutrina e a ciência espíritas vieram por em foco: 1º - a pluralidade dos mundos e sua hierarquia; 2º - a pluralidade das existências e sua hierarquia; 3º - a lei de renascimento; 4º - as noções da alma no estado de encarnação e no de liberdade e as de seus destinos. Perlustrei os livros das duas revelações, o Antigo e o Novo Testamento. Entregando-me a essa leitura, que empreendera outrora e abandonara por obscura e incompreensível, verifiquei que, graças à doutrina e à ciência espíritas, sobre aquelas páginas se projetavam vivos raios de luz, a cuja claridade minha inteligência e minha razão alguma coisa divisavam através do véu da letra. Reconheci, nesses livros sagrados, ser um fato a comunicação do mundo espiritual com o mundo corporal, comunicação que na ordem divina, providencial, é o instrumento de que se serve Deus para enviar aos homens a luz e a verdade adequadas ao tempo e às necessidades de cada época, na medida do que a Humanidade, conforme o meio em que se coloca, pode suportar e compreender, como condição e elemento do seu progresso. Vi que a revelação de Deus é permanente e progressiva.  

            “Encontrei nos Evangelhos, veladas pela letra: 1º - a afirmação da pluralidade dos mundos e da sua habitabilidade; 2º - a lei dos renascimentos como meio único, para o homem, de ver o reino de Deus, isto é: de chegar à Perfeição pela purificação e pelo progresso; 3º - a afirmação da imortalidade da alma, da sua individualidade após a morte, dos seus destinos futuros, da sua vida eterna."

            Mais tarde, por intermédio de Mme. Collignon, médium respeitável, foi recolhido copioso material fornecido pelos Evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João, assistidos pelos Apóstolos, para a formação dessa obra transcendente que é “Os quatro Evangelhos” - Espiritismo Cristão ou Revelação da Revelação.

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            Homem sábio, de sabida austeridade, Jean B. Roustaing foi também um escolhido para esse trabalho gigantesco. Devemos-lhe, portanto, toda gratidão e respeito. É baseado em "Os Quatro Evangelhos" que a Federação Espírita Brasileira realiza (-va) proveitosamente estudos semanais em suas sessões públicas, disseminando conhecimentos preciosos que demonstram a importância intrínseca que eles têm para a Religião Espírita porque neles estão o fundamento do Espiritismo Cristão, do Cristianismo verdadeiro, explicado espiriticamente. Para bem nos enfronharmos nas sutilezas do Evangelho, teremos de ir buscar nas páginas da obra de Roustaing a luz profusa de esclarecimentos feitos em espírito e verdade



Um comentário:

  1. "Para bem nos enfronharmos nas sutilezas do Evangelho, teremos de ir buscar nas páginas da obra de Roustaing a luz profusa de esclarecimentos feitos em espírito e verdade." Hoje e sempre periodicamente! Valioso artigo!

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