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quarta-feira, 1 de julho de 2020

A falência do materialismo - Partes 1, 2 e 3




A falência do materialismo - parte 1
Cândido Elesbão
Reformador (FEB) Novembro 1918

            Quem quer que, sem espírito de sistema e livre de preconceitos e vaidades, empreender a crítica da psicologia ortodoxa, a qual os materialistas concedem foro de cidade há de sentir uma forte decepção e confessar que esse capítulo da fisiologia que, na classificação das ciências de H. Spencer goza os privilégios de ciência à parte e foi a pedra de toque da crítica do filósofo inglês à seriação de Comte, há de confessar que ela é uma verdadeira colcha de retalhos, que não satisfaz, de modo algum às nossas tendências porque as não explica e as nossas aspirações porque, essencial e grosseiramente  materialista, as não incentiva.
            A vaidade, milenarmente considerada a causa de todos os nossos erros, culminou nestes dois séculos, o passado e o atual, e o homem, que não sabe de onde veio nem para  onde vai, cego de orgulho, repudia o Evangelho que lhe não incensa a vaidade e o reduz à condição de humilde pecador e proclama a excelência das explicações ditas positivas ou científicas, pelas que prescinde de investigar a sua origem – e já não pode então ser coerente negando a Criação, como na filosofia de Comte - ou aceita a explicação evolucionista e inteiramente dominado pelas encenações naturalísticas de Lamarck ou pelos embustes monísticos de Haekel não sente ofender-se o seu desmedido orgulho e admite que entre o macaco e os animais há maiores diferenças que entre o macaco e o homem. Repugna ao seu orgulho de falido rei da Criação admitir que a obra de Deus não se s a ente humilhado ao confessar que teve por antecedente na série animal um macaco da ordem dos primatas! E, para explicar a vida, para demonstrar a consciência, inventa a base física do espírito, e, com Haeckel, não vacila em descer aos bas-fonds dos laboratórios e declara que toda essa trama de idealismos, todo esse conjunto de coisas sutis se origina de uma ação química difundida na teoria do carbono, como Haeckel a denomina, encerando na mesma grosseira retorta os materiais que entram na composição das almas!
            Na psicologia moderna, a psicologia do sábio materialista os absurdos pululam e nela se trás a sua preocupação de demolir o edifício que condena o seu orgulho e contra cujos muros a sua louca vaidade esbarra fragorosamente.
            Nessa psicologia, a cada passo surgem os absurdos pretendendo explicar aquilo cuja explicação evangélica repudiam por, como afirmam, incompatível com a dignidade humana.  
            Ora, ou o homem não tem direito a essa dignidade, descende do macaco, e pois entre os termos da série animal não há tanta diferença que autorizem privilégios, ou tem na e é obra do supremo Árbitro dos mundos. Não há como fugir ao dilema sem arranhar a lógica. Senão, que nos venham explicar onde começa e de que é feita essa dignidade, que ao símio superior é negada.
            A Psicologia escolástica se baseia no observado e não passa de absurdo a memória da célula ou memória orgânica com que Th. Ribot pretendeu arquitetar uma teoria que satisfizesse os caprichos e os defeitos dos vaidosos e dos fúteis.
            Essa ciência materialista, por mais que para isso se esforce, não consegue opor ao dogma da Criação, o dogma grosseiro da matéria incriada, que isso é negar a própria ciência, admitindo que do nada se pode fazer alguma coisa; para tanto, fora preciso que essa ciência e essas filosofias arrivistas já houvessem conseguido demonstrar a possibilidade, sequer, da geração espontânea, que, segundo Haeckel mesmo, “não é possível atualmente, mas, outrora, quem sabe?
            Não foi somente o transformismo ou monismo, como denomina Haeckel, o único filho repudiado da verdadeira ciência, e nem o único que sofreu golpes como os que lhe vibrou o célebre materialista G. G. Stockes: a ciência repelia também a superfectação que foi a teoria das localizações cerebrais de Gall, como já vai passando do ridículo a fantasmagoria que E. Metachinikoff denominou - fagocitose - e que, já em 1890, no Congresso médico de Berlim, recebia a condenação do eminente Kock.
            Ribot afirma desassombradamente que o verdadeiro tipo da memória orgânica deve ser procurado no grupo de fatos que Hortley denominou ações automáticas secundárias, em oposição aos atos automáticos primitivos ou inatos.  
            Essas ações secundárias ou movimentes adquiridos, afirma Ribot, são a base da nossa vida e, para provoca-lo cita o exemplo da locomoção nas crianças que é um poder adquirido, enquanto que nos irracionais é inato.
            E continua asseverando que essa força da coordenação de movimentos, que mantém o equilíbrio do corpo, tem de ser adquirida particularmente. É aqui que o sábio cai no absurdo, porque desse modo nega o princípio de fixação de caracteres e tendências adquiridas, que é a base da filosofia evolucionista; nega a mesma memória orgânica ou da célula, de que é campeão, afirmando que nos irracionais existe essa memória que torna a locomoção inata e negando-a ao homem e mente por último à sua psicologia, porque nega a hereditariedade e o atavismo, que são o seu fundamento. E lá onde a ciência materialista não vai e não vão os olhos dos seus pregoeiros, porque não vê por eles o microscópio, lá mesmo vai a nossa fé demonstrável, vai a razão por nós e onde acham eles a incógnita que tornou o seu problema insolúvel, nós, os que cremos no Espiritismo, encontramos Deus, que é a suprema razão que o materialismo moderno nega por vaidade mas não consegue destruir na consciência dos seus próprios pioneiros. Fere isso a dignidade dos sábios? Envergonha os a possibilidade de confessarem que Deus é o criador do mundo? Como então se não vexam de sua ignorância? Qual das suas confissões rebaixa mais o homem?
            Não afirmamos uma só coisa que não provemos, enquanto essa ciência de vaidade e de orgulho anda a tatear, de hipótese em hipótese, de absurdo em absurdo; e quando o materialismo presente a falência dos seus dogmas, apela para o tempo e diz que é preciso esperar, porque tal ou tal incógnita terá o seu valor conhecido daqui a cinquenta ou daqui a cem anos; ou então, como no caso da geração espontânea, confessa pela boca do pai do materialismo moderno que “ela não é possível agora mas, outrora, quem sabe?” Assim é Haeckel, assim é Ribot e com eles andam embrenhados num labirinto de dúvidas todos os campeões da mentira e do erro.
            As consequências decorrentes desta anarquia moral, são, para a humanidade, simplesmente deploráveis e é ao erro grosseiro do materialismo, que pensa organizar a Sociedade Moral sem Deus, A pseudo moral de sanção científica, entendendo-se por ciência tudo quanto esses fátuos arquitetam para negar a nossa origem divina e a criação universal pela vontade de Deus, é a esse erro que tal anarquia se deve.
            E é exatamente por isso que, em plenos tempos atuais Felix, le Dantee nos afirma que é o egoísmo a base de toda sociedade e depois de verdadeiros malabarismos de ideias e frases nos afirma com autoridade insuspeita, porque é a confissão completa da falência dos dogmas da sua ciência que tudo quanto os homens têm feito para banir das consciências o domínio do sobrenatural só tem tido um efeito contraproducente, implantando a anarquia onde deve reinar a ordem e gerando o ódio dos restos esfrangalhados da fraternidade universal que eles golpeiam desapiedadamente.
            Eis como fala le Dantee:
            “Sob o verniz artificial da civilização, a concorrência e a rivalidade primitiva se sobrepõem ao egoísmo necessário (?) do instinto de conservação. Geralmente, em uma sociedade em estado pacífico, esta rivalidade não se manifesta por lutas efetivas, por batalhas nas ruas, mas, nem por isso deixam essas rivalidades de ficar profundamente gravadas no íntimo de cada um de nós; e como não ser assim, se somos seres vivos? Os cidadãos de uma mesma nação não são perfeitamente irmãos senão enquanto contra o invasor estrangeiro. Passado este período excepcional, que exalta a fraternidade sob a influência do perigo comum, os concidadãos se separam uns dos outros por ódios latentes, ou, pelo menos, fazem parte de agrupamentos rivais, e verdadeiramente inimigos; as famílias se tornam agrupamentos rivais, quando não são elas próprias divididas pelas rivalidades íntimas. “(F. le DanteeL’Egoisme base de toute societé: 9me mille, pags. 189, 190 e seguintes.)
            Pois bem, o escritor toma o efeito pela causa, evidentemente. E sabeis qual a fórmula aconselhada por esses doutrinadores para o aperfeiçoamento dos nossos sentimentos, muito embora concluam que a fraternidade é uma utopia?
            Lede: Egoísmo, mais egoísmo, sempre egoísmo!

 A falência do materialismo - parte 2
Cândido Elesbão
Reformador (FEB) 1º Fevereiro 1919

            Sendo todas as questões religiosas do domínio da moral, é claro que todos os trabalhos, quer de exegese quer de sistematização tem a sua base na psicologia e é pois a ela que nos havemos de referir e é pois a ela que nos havemos com maior' frequência, criticando o empirismo dos seus codificadores materialistas e esforçando-nos sempre em demonstrar as nossas leis, os nossos métodos, que nos conduzem a conclusões diversas das dos materialistas e que a nossa consciência aceita sem nenhum esforço, porque nos apontam a verdade.
            A não ser assim, cairíamos no erro dos nossos adversários, o erro da vaidade moderna, que estabelece premissas muitas vezes verdadeiras para chegar a conclusões sempre inteiramente falsas.
            Nós consideramos, preliminarmente, com H. Spencer, que a psicologia é uma ciência completa e não um capítulo apenas da Biologia, como quer Comte, porque, se é certo que há uma, muito limitada, aliás, relação entre o fenômenos da ordem psicológica e os de ordem fisiológica, essa relação não chega a ser a relação de causa e efeito e, o moral independe absolutamente do físico, isto é, os fenômenos do espírito nada têm de comum com a matéria, não existindo portanto a subordinação absoluta de um a outro, como pretendem os campeões do materialismo em todas as suas modalidades. Spencer foi menos materialista, talvez inconscientemente, e lançou as bases de um método mais racional, porque, principalmente Spencer não tinha em vista nenhuma construção religiosa que precisasse de alicerces fora da razão, como sucedeu a Comte que, tomado da ideia fixa de modificar a sociedade de seu tempo de modo a conseguir gozar as delícias de uma vida sem as peias que a moral impõe, arquitetou uma filosofia, descobriu novos métodos, traçou caminhos novos à lógica, baniu do domínio da ciência a investigação das causas primárias e finais, substituiu Deus pela Humanidade, Maria Santíssima por Clotilde e morreu quando já se preparava para substituir-se a José, o modesto carpinteiro da Galileia que nunca pensou na possibilidade de causar inveja a um filósofo do século XIX. Eis aí a razão porque Comte proclamava a necessidade de “libertar a ciência das hipóteses religiosas”, porque era preciso construir uma Moral sem Deus e essa Moral reclamava uma revolução completa da psicologia para poder explicar o que para ele era inexplicável, e a derrocada da Moral evangélica que repelia os desvarios da sua senilidade vaidosa.
            Dentro do evangelho nenhuma construção Moral se enquadra senão a de Cristo e,  como a Moral de sanção científica é uma burla já escalpelada por J. Grasset no seu interessante opúsculo “O Evangelho e a Sociologia”, foi preciso demolir o Evangelho, prescrever a revelação, negar a consciência, negar Deus, porque Deus não sancionaria jamais as libertinagens cerebrais do fundador do positivismo.
            Se Augusto Comte pois, obedecendo ao critério da “complexidade crescente e generalidade decrescentes”, achou a Astronomia perfeitamente libertada da Física e da Química com o só recurso da análise espectral para que a tivesse colocado no segundo termo da sua série, isto é, logo a seguir à matemática e precedendo àquelas duas ciências,  deveria igualmente ter visto que a Psicologia já estava suficientemente desprendido da Biologia para poder formar um termo especial da série dos conhecimentos humanos. Se o não viu, se o não fez, foi porque lhe não convinha ao seu caso particular, isto é, porque a Psicologia, como a Moral, não se poderiam estabelecer sobre o critério materialista, pois como muito judiciosamente observa o materialista Ostwald, (Esquisse d'une Philosophie des Sciences, pag. 174) “Nous ne savons pas quelle est I'espéce dénérgie qui a propage dans le nerf.”  
            Ora, se ainda hoje se afirma isso, é porque a razão está conosco, os que dizemos que os fenômenos da alma estão fora da apreciação pelo critério materialista que subordina as manifestações do sentimento e da razão às precárias contingências da substância nervosa.
            E Comte mesmo, sentindo que as coisas no domínio espiritual não se passam como as descrevem os demolidores de Deus, não hesitou em, com escândalo dos cientistas do seu tempo, proclamar a tese do literato Vauvegnargues pela boca de Clotilde: “Os grandes pensamentos vem do coração.”
            A crítica do conhecimento e as várias teorias do conhecimento que correm mundo, seja a de Kant, seja a de Ostwald, nada mais são que engenhosas construções destinadas a favorecer a mistificação a que visam quantos não querem que o conhecimento venha de Deus. Kant mesmo não conseguiu subordinar o mundo ao seu imperativo categórico, espécie de deus pagão que ele descobriu dentro das nossas consciências porque, para mudar apenas o nome todos nós preferimos ficar com a denominação antiga, que é Deus.
            Para nós, portanto, os modernos dualistas que estudamos o espiritismo, a Psicologia está perfeitamente edificada, desprendida da Biologia no sentido da não subordinação dos fenômenos do espírito à matéria e só para nós ela passou a ser uma ciência verdadeiramente experimental, porque foi sobre ela, sobre as suas experiências, que se calcaram os estudos dos fenômenos espíritas, que já preocupam o mundo inteiro sem o escândalo dos primeiros dias.

A falência do materialismo - parte 3
Cândido Elesbão
Reformador (FEB) 15 de Fevereiro de 1919

            A Psicologia, portanto, é para nós uma ciência, a mais importante das ciências e não pode, como as demais, no dizer do eminente Farias Brito ser “reduzida a sistematizações rigorosas e fórmulas precisas”.
            (O mundo interior). Daí, uma nova teoria do conhecimento, única compatível com a verdade, porque diz igualmente com a razão e com o sentimento e não sanciona o absurdo de Ribot quando ele proclama a independência radical entre o sentimento religioso e o Moral. (Psychologie des sentiments).
            Para nós, pois, o problema humano é um problema religioso, eminentemente e exclusivamente religioso, porque é um problema moral; a sua solução, portanto, residirá na filosofia que conciliar a razão e o sentimento, e se desdobre numa religião ou filosófica prática que possa ser chamada religião científica, isto é, que seja a mais alta manifestação da intelectualidade dentro da mais perfeita expressão da sentimentalidade.
            Não podemos admitir outras leis nem outros métodos, senão estes que a razão nos aponta e subordinam a Deus, porque um método é um instrumento da ação para o aproveitamento da existência no seu lado prático e animal e o conhecimento, que faz à aridez dos métodos, será sempre a revelação espontânea de Deus, que é um metodizável.
            Nós professamos, por consequência, uma psicologia que rejeita os métodos materialistas e não se prende ao microscópio e não reduz a vida intelectual a vida de uma célula nervosa, por mais aperfeiçoada que ela seja. A nossa psicologia é espiritualista porque, só pelo espírito nós vivemos e só pelo espírito chegamos a sentir Deus em toda criação. E porque é a consciência quem no lo mostra em tudo, foi preciso aos materialistas subordinar a consciência à matéria, dá-la como função do grosseiro invólucro que a custo carregamos na Terra, para que pudessem edificar uma ciência desprendida de hipóteses religiosas, como se fosse possível desvirtuar o problema humano e fazê-lo deixar de ser um problema religioso!  
            E para chegar a esse resultado o materialismo inverteu tudo, e, para que a solução estivesse de acordo com os dados do problema, este foi invertido também, de maneira que, enquanto para nós, espiritualistas, o problema humano e o da felicidade do homem após a morte, para eles, os sábios, esse problema é o da felicidade do homem na Terra. Mas, mesmo assim, a nossa filosofia ainda é mais verdadeira e mais útil que a deles, porque, enquanto a solução que encontraram não se enquadra no nosso problema, isto é, não faz a felicidade do homem depois da morte, a nossa resolve os dois, o nosso e o deles, porque, preparando o espírito para se aproximar de Deus, prepara a sua felicidade na Terra também, plantando na sua consciência virtudes que nos enchem de paz e igualmente nos aproximam de Deus.
            Que só a nossa demonstração e só a nossa experimentação conduzem à Verdade confessa-o o próprio Ribot, como se pode ver na sua obra L'herédité psychologique, 8ª edição, págs. 188 e seguintes, em que, tratando da herança mórbida ele classifica em duas ordens os fenômenos que se passam no cérebro humano: as desordens do espírito a que correspondem alterações evidentes dos tecidos dos centros nervosos e aquelas em que o encéfalo não apresenta nenhuma alteração apreciável.  
            Fundando-se nos fatos da segunda categoria é que muitos alienistas, com Leuret à frente sustentam poder a loucura ter causas puramente psicológicas, isto é, inteiramente independentes das condições do cérebro, livres portanto da influência física e, pois, de causa inteiramente desconhecida. O mesmo afirma Esquirol, e quase a mesma coisa sustenta o eminente alienista português Júlio de Mattos, notadamente na sua importante obra. “A Loucura”, que, apesar de materialista, combate muitos erros e exageros de Legrand du Sarelle, Kraft-Ebbing e outros; Júlio de Mattos afirma que, de um modo geral, se pode dizer que o louco já nasceu louco, não sendo a loucura um acidente repentino; pois, esta só esperava o momento oportuno para se manifestar muito embora não se encontrem nas diversas regiões cerebrais de muitos loucos, nenhum estigma da loucura.
            Que as coisas se podem passar assim, nós admitimos perfeitamente: discordamos porém das conclusões desses escritores, porque interpretamos diversamente os fatos e lhes damos a nossa explicação espírita. Como quer que seja, porém, nada autoriza as conclusões dos materialistas, porque tais fenômenos não se podem subordinar à matéria, e se não dependem dela, tanto que lhe não são subordinados, é porque ela os não gera, e só nós acertamos quando dizemos que tudo no mundo se passa segundo a vontade de Deus.
            Ribot conclui então do seguinte modo: “Tudo concorre, em ciência, segundo Leuret, para arruinar esta tese: que a loucura tem sempre e necessariamente o seu foco em uma alteração orgânica, concorrendo portanto a observação científica para chegarmos a esta definição:- a loucura consiste numa aberração do entendimento... e as suas causas pertencem as mais das vezes a uma ordem de fenômenos completamente estranhos às leis da matéria.” O grifo é nosso. Ribot continua: “Apesar destas afirmações categóricas, a tese de Lauret cada vez conta menor número de adeptos, mesmo entre os filósofos. É porque, no fundo, ela repousa apenas sobre a nossa ignorância e sobre a nossa impotência; pois, em muitos casos, não há causa física porque nós não a vemos. Mas, para além dos limites que o poder do microscópio não ultrapassa, produzem-se fenômenos que, embora inapreciáveis por nossos sentidos, não menos materiais.” Ora, isto é metafísica e está muito à vontade junto das causas primárias e finais que esse mesmo materialista Ribot condena. Se eles condenam a metafísica, dizendo-a incompatível com a ciência, e se expressam desse modo, é porque apenas estão trocando os nomes às coisas, isto é, convencidos do seu erro, apenas pretendem substituir o nome da metafísica por outro qualquer que lhes soe melhor ao ouvido. Apenas isto. Se, pois, para além do campo do microscópio se passam coisas que escapam aos sentidos e nem por isso deixam de ser exatas, então não neguem Deus com o argumento de que é indemonstrável.
            Mas, a ciência oficial cheia de preconceitos, inçada de orgulho, nada vê que não seja no campo do microscópio e confessa que, mesmo o que não pode ver, é função da matéria. Ora, essa ciência tateou anos infindáveis num labirinto de conjecturas em relação ao soluço, ao espirro e ao sono, e ainda em relação a este último continua na mais santa ignorância, muito embora os seus pregadores houvessem arranjado a teoria do afastamento dos neurônios para explicar o fenômeno, que para nós é elementar, mas, nem mesmo essa teoria chegou a ser o seu novelo de Ariadne, porque eles, os sábios, continuam a ignorar porque as células cerebrais se afastam, como se afastam, quais os espaços que se originam entre os seus prolongamentos ou neurônios, sem prejuízo da capacidade do crânio, e sem os desastres das compressões, que eles mesmos classificam de mortais, e autorizam a trepanação dos ossos da cabeça, quer para levantar o osso que comprime as serosas ou até a massa encefálica, quer para esgotar os líquidos que produzem tais compressões no troubes ou na congestão cerebral.
            E os mais audazes e menos conscientes, mesmo aceitando essa explicação materialista do sono, nunca foram além da sua explicação material, do seu mecanismo elemental e quando se lhes pergunta o que é o sonho, eles emudecem prudentemente e só  poucos apelam para o futuro, esperando a resposta materialista, ao passo que nós outros, os espíritas, os que eles chamam pomposamente de ignorantes, já avançamos muito mais e dentro da nossa modéstia, armados pela fé inquebrantável, dizemos lhes:
            Vinde aprender com Jesus.

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