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quinta-feira, 30 de julho de 2020

A Mediunidade nos Evangelhos



A Mediunidade nos Evangelhos – 1/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Julho 1994

            Enquanto o Mestre permaneceu na crosta planetária, há quase vinte séculos, vivendo junto aos apóstolos e discípulos, e pregando às multidões, ensinou sobre a Verdade, o Caminho e a Vida. Legou aos homens, sob sua amorável tutela, a Boa Nova; suas lições preciosas se estenderam sobre os mais variados temas, todos identificados com as necessidades humanas e de intensa força renovadora, destinada às almas ignorantes da Verdade, distantes do Caminho e sem Vida superior. Com o advento do Espiritismo Consolador ficou mais fácil entender o Mestre e aproveitar seus ensinamentos. A mediunidade, de imensa significação nesse processo milenário da evolução humana, agora no limiar de sua etapa de redenção, foi por ele tratada com naturalidade, beleza e precisão. Contou com colaboradores valiosos, encarnados e desencarnados para lidar com aspectos mediúnicos intimamente relacionados aos problemas humanos que desejava intencionalmente ressaltar. Ao mesmo tempo, deixou entrever a importância da mediunidade, elemento de ligação entre o Céu e a Terra, entre o mundo invisível e o nosso, nas épocas mais relevantes para os destinos humanos e cercou-se de médiuns de todas as qualidades. O presente estudo de doze casos escolhidos dos textos sagrados busca anotar alguns de seus ensinos, reverenciando a pedagogia incomparável do sublime Nazareno.

O Caso de Pedro

            Chegando às cercanias de Cesaréia de Filipe, Jesus perguntou a seus discípulos: Que é o que os homens dizem do filho do homem? Eles responderam: Uns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros que é Jeremias, ou um dos profetas. Jesus lhes perguntou: E vós quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: És o Cristo! filho de Deus vivo. Jesus lhe respondeu: Bem aventurado és, Simão, filho de Jonas porque não foram a carne nem o sangue que isso te revelaram mas meu Pai que está nos céus. E eu te digo que és Pedro e que sobre esta pedra edificarei a minha igreja... (Mateus. Cap. 16. vv, 13-18.)

            Os homens da época não sabiam exatamente quem era o Cristo. João Batista já havia sido decapitado a mando de Herodes, Elias e Jeremias eram profetas mais antigos e as respostas dos homens atestavam a sua crença na reencarnação. Mas Jesus, ao transferir a pergunta aos discípulos, buscava uma resposta certa, para que ficasse claro aos homens de todas as épocas que Ele não era reencarnação de quaisquer dos líderes ou profetas daquele povo e sim uma personalidade única, distinta das demais. E. para tanto, utilizou-se da inspiração ou, tal a precisão da resposta de Pedro, como exatamente desejava o Mestre, de um recurso psicofônico. Aquela resposta era tão importante e grave que esclarecia a origem especialíssima daquele Espírito e gravaria na Humanidade a excelência e a sublimidade de sua missão.

            Como sabemos, muitos Espíritos superiores estiveram em torno de Jesus e dos apóstolos participando de todas as etapas do seu messianato, em tarefas de colaboração e atendimento às circunstâncias, naquele cenário de luz que se estruturou sobre o Orbe. E muitos deles se manifestaram pela mediunidade dos convivas do Cristo. Pedro, ao que se sabe, era médium desenvolvido e adiantado que, nas mãos dos Espíritos do Senhor, tomara-se instrumento poderoso de difusão da luz. Sua organização física era bastante maleável e se prestava a todas as influências e expressões mediúnicas.

            Apesar disso, em outras ocasiões, Pedro esteve às voltas com suas próprias ideias e nestas Jesus nos ensina sobre o que a falta da inspiração elevada pode ocasionar. Uma delas ocorreu quando Ele lhes declarou a necessidade de que “fosse a Jerusalém, sofresse muito nas mãos dos príncipes dos sacerdotes, fosse morto e ressuscita-se”. Antecipando-lhes os fatos, Jesus patenteava que os acontecimentos do Calvário estavam previstos e que não foram puramente humanos. Mas Pedro, chamando-o à parte o repreendeu, dizendo: “Tal não aconteça, Senhor! Nada disso te sucederá.” E Jesus responde: “Afasta-te de mim, pois que não tens o gosto das coisas de Deus e sim o das coisas dos homens.” Entenda-se: Pedro falava por si, com os receios humanos naturais de quem amava profundamente o Mestre e não sob inspiração superior. Estava ele encarnado e, mesmo sendo um Espírito elevado, transpareciam as limitações impostas pela carne. E Jesus mostrou-lhe isso, dentro da preparação para os graves compromissos da missão futura de Pedro, a partir da ascensão do Nazareno.

            A outra ocasião foi quando da negação repetida antes do sacrifício da cruz. Pedro o negou três vezes, aliás, como lhe previra o Mestre, faltou-lhe novamente a inspiração superior que somente a prece lhe proporcionaria.

            Mas algum tempo depois, o pescador de Cafarnaum, então pescador de almas, conforme o Mestre lhe adiantara, erguia em sua casa humilde a pedra fundamental, a Casa do Caminho do Cristianismo primitivo, onde durante anos se difundiu a Boa Nova das claridades eternas e se realizaram os mais belos gestos da fraternidade pura.



A Mediunidade nos Evangelhos – 2/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Agosto 1994

O caso da estrela de Belém

            Tendo Jesus nascido em Belém de Judá ao tempo do rei Herodes, eis que do Oriente vieram alguns magos a Jerusalém, dizendo: “Onde está aquele que nasceu rei dos Judeus? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.” (... e logo a estrela que tinham visto no Oriente lhes tomou a dianteira e só se deteve quando chegaram ao lugar onde estava o menino. Quando viram a estrela eles se sentiram transportados de imensa alegria e entrando na casa, ai encontraram o menino com Maria, sua mãe, e prosternando-se o adoraram. (Mateus, Cap. II vv , 1, 2, 9, 11).

            Desde o início a missão de Jesus na Terra foi pontilhada de fatos marcantes que tinham por objetivo gravar nos espíritos dos que lá viviam a importância do que estava em curso, para os destinos humanos. Para o futuro, os Evangelhos levariam em seus registros os fatos memoráveis. Foi assim com a anunciação do anjo Gabriel a Maria, a gravidez de Isabel “estéril”, a mudez de Zacarias no templo, a visita do anjo aos pastores e destes à manjedoura, o cântico de Simeão. O mesmo se deu com os magos e a estrela de Belém.

            O conhecimento a respeito dos corpos celestes, à época, era limitado. Nada se sabia sobre as leis do movimento, a composição e a estrutura estelar e suas outras características físicas. Qualquer corpo brilhante suspenso a grande distância ou aparentemente incrustado no firmamento poderia ser entendido como uma estrela.

            Era comum a crença de que os astros do céu regiam a vida dos homens na Terra. Estes nasciam e morriam sob a influência dos planetas ou estrelas. Segundo os sábios, conforme essa Influência fosse boa ou má, através da qualidade dos fluidos emanados, a vida seria mais ou menos promissora, em termos de saúde, riqueza, realização de desejos, estudos e longevidade.

            Essa crença que, aliás, perdurou por séculos, facilitou a aceitação da ideia de que aquela “estrela” fosse a que regeria os destinos do Rabi da Galileia. A revelação sobre o nascimento do “rei dos Judeus”, o aviso de que um enviado do Grande Ser descera à Terra para ser o rei dos Judeus, a fim de regenerar a Humanidade, o comando para que viessem do Oriente a Jerusalém e que seguissem aquela “estrela”, lhes foram dados em sonho, através de seus mentores. Os três magos que eram também médiuns videntes, perceberam a manifestação espirítica luminosa preparada pelos Espíritos superiores, entenderam-na como uma estrela e cumpriram as determinações do mundo invisível.

            Muito se especulou sobre a origem da estrela-guia. Surgiram as hipóteses de que fosse um cometa, uma estrela cadente, o planeta Vênus, um disco voador... A luz que, sob a forma de estrela cintilava aos olhos dos magos nada tinha de comum com os astros que povoam a imensidade. A “estrela” dos magos deslocou-se à frente deles, na marcha lenta e regular de homens que viajam, praticando, como guia de seus passos, um ato inteligente. Foram Espíritos elevados que intensificaram a luminescência de suas vestes perispirituais, agregando e condensando fluidos e dando-lhes forma estelar capazes de impressionar o perispírito sensível dos magos, em processo de vidência mediúnica. Desnecessário ressaltar que as estrelas verdadeiras como corpos celestes que formam o cenário de nossas noites, são a principal estrutura física a compor o Universo visível, pelos confins da Criação e obedecem a leis físicas que as mantêm em movimentos previsíveis e por isso, pelas suas dimensões e estrutura, jamais poderiam servir como lanternas nas mãos dos Espíritos, mesmo superiores.

            Este episódio foi um dos mais belos a ressaltar a excelsitude do espírito que preparava a redenção da sua Humanidade e a deixar claro que Ele já estava entre os homens... para a alegria dos magos e para a glória do Pai Celeste.

            Encerrando sua participação naquele cenário sublime, a mediunidade dos magos esteve novamente presente quando seus mentores, no desdobramento do sono, avisarem-nos de que não retornassem a Herodes e seguissem outro caminho. O obscuro rei desejava localizar o menino Jesus para não permitir - o que julgava uma ameaça - que o reinado da luz se estabelecesse entre os judeus.


A Mediunidade nos Evangelhos – 3/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Setembro 1994

O caso de João Batista

            A esse tempo veio João Batista pregando pelo deserto da Judéia. Dizia: “farei penitência, pois que o reino dos céus está próximo. Porquanto, eis aqui aquele de quem falou o profeta Isaias, dizendo: “Voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor; tornai retas suas sendas.” João trazia uma veste de pelos de camelo e um cinto de couro em volta da cintura; alimentava-se de gafanhoto e mel silvestre. Os habitantes de Jerusalém, de toda a Judéia e de toda a região circunvizinha do Jordão vinham ter com ele e, confessando seus pecados eram por ele batizados (Mateus, Cap. III, vv. 1-6).

            Espírito superior, novamente em missão na Terra, João tornou-se o precursor do Divino Mestre. Era Elias reencarnado, conforme as Escrituras e o testemunho do próprio Mestre, quando disse: - Se quiserdes compreender o que digo, ele é o Elias que havia de vir (referindo-se a João Batista). Muitos séculos antes havia sido Moisés, e, como tal, recebera a primeira grande Revelação, no Sinal, promulgando o Decálogo como médium poderoso que fui e sob a intervenção de Espíritos superiores. Assim como mais tarde ocorreria com Maria de Nazaré, quando o anjo lhe anuncia a vinda do Cristo, merecera uma anunciação pelo mesmo anjo Gabriel, que, apresentando-se a Zacarias, seu pai, antecipa-lhe a importante missão, a sua condição de Espírito pleno de virtudes e sua “grandeza aos olhos do Senhor”.

            Ao iniciar a sua tarefa junto aos homens, João, inspirado, chama-lhes a atenção pera si, reportando-se à profecia de Isaías sobre ele mesmo e sua missão, outro veemente registro da grandeza desse Espírito. E ele “prepara o caminho do Senhor” realizando uma condenação aos homens que vinham ter com ele para que se arrependessem publicamente de seus erros, em gesto de humildade, para que, mais adiante, pudessem receber em seus corações os ensinos do Mestre.

            Reuniu multidões em seu redor, e, de caráter “ríspido”, pelos seus costumes e hábitos, distintos daqueles de seus contemporâneos, chamava sobre si a atenção dos homens. Era tal sua ascendência moral sobre eles que chegaram a crer se tratasse do Messias que estava por vir. Mas, falando ao povo, esclarecia-lhes o sentido precursor de sua missão e antecipava: “Eu, por mim, vos batizo com água; porém outro virá, mais poderoso que eu e de cujas alpercatas não sou digno de desatar as correias prosternando a seu pés, o qual vos batizará em Espírito Santo e em fogo.”

            É, exatamente em seu encontro com João que Jesus, aos olhos dos homens, inicia a sua missão. Submete-se ao batismo pela água sem ter do que se penitenciar. João chega a manifestar ao Mestre que ele é que deveria ser por Ele batizado em respeito a ascendência de Jesus sobre ele, o que era de seu pleno conhecimento.

            E conta a narrativa de Lucas que enquanto Jesus orava, após sair das águas do Jordão “o céu se abriu e um Espírito Santo desceu sobre Ele na forma corporal de uma pomba; e ouviu-se uma voz no céu que dizia: “és meu filho bem-amado; em ti hei posto todas as minhas complacências”, Estes efeitos físicos preparados pelos Espíritos superiores tinham por finalidade ressaltar para a multidão presente àqueles cometimentos, causando-lhes forte Impressão e gravando-lhes na mente, a ideia de que o Messias já estava entre os homens, ali mesmo em meio ao povo. Materialização da figura emblemática de uma pomba, representando a pureza do Cristo e voz direta a anunciá-lo como enviado de Deus.

            E, como sabemos, apesar de todas as providências nesse sentido, desde aquela época até os dias atuais, muitos deixaram de reconhecer Jesus como aquele cuja vinda, os profetas haviam anunciado para a redenção da Humanidade.

            Algum tempo depois, em meio à sua missão, Jesus recebe a visita de discípulos de João e lhes afirma: “Em verdade vos digo: Nenhum dentre quantos hão nascido de mulher foi maior do que João Batista (...) (Mateus, Cap. XI, v. 1) foi a única referência direta de Jesus sobre a condição espiritual hierárquica de algum de seus colaboradores.

            Segundo a narrativa de João Evangelista (Cap. III, v. 30), o Precursor fora protagonista de um dos mais belos exemplos de lucidez espiritual, comunhão com o Alto (inspiração}, reverência ao Mestre e humildade ao afirmar: “É preciso que Ele cresça e que eu diminua.” Referia-se ao crescimento da missão de Jesus, para onde deveriam convergir todas as atenções humanas e espirituais e. para tanto, era necessário que a sua participação, preparatória para a do Cristo, se encerrasse. O que de fato ocorreu.



A Mediunidade nos Evangelhos – 4/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB)  Outubro 1994

                  A multiplicação dos pães e dos peixes

            Mas Jesus lhes disse: Dai-lhes vós mesmos de comer. Ao que eles replicaram: Só se formos nós mesmos comprar comida para todo este povo, pois não temos mais que cinco pães e dois peixes. Eram cerca de cinco mil pessoas. Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, levantou os olhos ao céu e os abençoou, depois os partiu e entregou aos discípulos para que os distribuíssem pela multidão. Todos comeram, ficaram saciados e ainda encheram doze cestos com os pedaços que sobraram (Lucas, Cap. IX, vv, 13 a 17). (Destacamos.)

            A multidão fora ao encontro de Jesus para ouvi-lo e muitos havia que, enfermos, foram curados pelo Divino Médico. A situação ensejava uma nova lição e ao mesmo tempo uma demonstração da generosidade e do caráter marcante das ações do Mestre, com vistas ao reconhecimento dos homens, de então e do futuro, de sua condição de guia da humanidade terrestre a fim de levá-la à redenção.

            Para que a multidão fosse saciada bastaria a poderosa vontade do Cristo a manipular certos fluidos que, atuantes nas pessoas presentes, fariam cessar suas necessidades momentâneas. Mas a multiplicação dos pães e peixes causaria uma impressão muito maior do que houvera causado a vontade de Jesus operando aqueles fluidos. Era mister que um efeito físico se desse diante daqueles observadores materiais.

            Desta feita, a manifestação superior não envolvia apenas uns poucos protagonistas. como no caso dos magos, em que a faculdade de vidência que possuíam possibilitou o episódio da estrela-guia. Aqui, o milagre se daria diante de cinco mil pessoas, como afirma a própria narrativa de Lucas.

            E a natureza do fenômeno mediúnico seria outra, adequada, como sempre, às circunstâncias. Os fenômenos de efeitos físicos são incomuns, mas, como sabemos, muito marcantes. A ectoplasmia, ou a manipulação, pelos Espíritos, de fluidos densos que certas pessoas, ou outros elementos da natureza podem despender é a base das materializações e dos fenômenos de transporte. A partir dos pães e peixes que detinha, Jesus atraia os fluidos ectoplasmáticos apropriados à produção de tais alimentos e os tornava, juntamente com os Espíritos prepostos à produção de tal efeito, visíveis e tangíveis, dando-lhe o aspecto, a forma e o sabor dos alimentos originais, além de propriedades nutritivas suficientes para satisfazer as necessidades da multidão faminta. Os pedaços de pão e peixe eram depositados nos cestos e servidos pelos discípulos e se renovavam indefinidamente, sempre mediante a intervenção dos Espíritos, até que todos fossem atendidos.

            Os discípulos e a multidão ficaram vivamente impressionados com o ocorrido que, juntamente com outros tantos fatos, serviu para chamar para si a atenção de todos, como era necessário, diante dos ensinamentos morais que o Mestre legaria ao homem, e que tanto precisariam ser conhecidos, valorizados e vividos. A narrativa de João sobre o episódio ressalta este aspecto (Cap. VI, v. 16): Tendo visto o milagre que Jesus fizera, toda aquela gente dizia: Este é verdadeiramente o profeta que tinha de vir ao mundo.

            O pão espiritual era o principal alimento que Jesus vinha oferecer à sua Humanidade e seria distribuído fartamente por todos os tempos, através da Boa Nova. Foi o próprio Mestre quem disse: Trabalhai por ter, não o alimento que perece, mas o que se conserva para a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará, porque foi nele que Deus, o Pai, imprimiu seu selo e seu caráter. E afirmou ainda: Eu sou o pão da vida, aquele que vem a mim não mais terá fome ... (João, Cap. VI, vv. 27 e 35.)



A Mediunidade nos Evangelhos – 5/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB)  Novembro 1994

                                 O caso de Maria Madalena

            Maria, porém, se conservou do lado de fora, perto do sepulcro, chorando. E como, a chorar, se abaixasse para olhar dentro do sepulcro, viu dois anjos vestidos de branco, sentados no lugar onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. Eles lhe perguntaram: Mulher, porque choras? Ela respondeu: Porque levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram. Tendo dito isso, voltou-se para trás e viu a Jesus de pé, mas sem saber que em ele. Perguntou-lhe então Jesus: Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela, julgando que fosse o jardineiro, lhe disse: Senhor, se foste tu que o tiraste, dize-me onde o puseste e eu o levarei. Jesus lhe disse: Maria! Ela, voltando-se lhe disse: Mestre! Disse-lhe Jesus: Não me toques, pois que ainda não subi a meu Pai... (João, Cap. XX, vv. 11 a 17.)

            Elas partiram apressadamente do sepulcro, amedrontadas, mas ao mesmo tempo cheias de contentamento e correram a dar a notícia aos discípulos. E eis que Jesus lhes surgiu diante e disse: Salve! Elas se aproximaram dele, abraçaram-se lhe aos pés e o adoraram (Mateus, Cap. XXVIII. vv. 8 e 9).

            Maria Madalena foi ao sepulcro, ao nascer do sol, com os aromas que havia comprado e preparado para o embalsamamento do corpo de Jesus. Era médium vidente e audiente, percebeu a figura dos anjos ou Espíritos superiores e estabeleceu com eles o diálogo a respeito do desaparecimento do corpo de Jesus.

            Jesus, com fisionomia distinta daquela conhecida de Madalena, apresenta-se lhe e estabelece-se novo diálogo entre a médium e, desta feita, o Mestre. Maria não o reconhece de pronto.

            Jesus se mostra, então, com seu semblante e voz habituais e ela o reconhece. Tal era sua alegria por sabe-lo vivo, ela que tanto amava aquele seu Mestre, que desejaria, num impulso, toca-lo. Mas Jesus sabia que eram seus olhos espirituais que permitiam que ela o visse e que se buscasse tocá-lo, seria em vão. E recomenda que não o fizesse. Esta recomendação sugere que a mediunidade de vidência que ela possuía era de alto grau, haja vista que é uma característica dos médiuns que a possuem poderem confundir a realidade espiritual com a do plano físico, julgando pessoas comuns, Espíritos desencarnados.

            A primeira aparição de Jesus a Maria Madalena foi simplesmente visível e audível, mas não tangível.

            Mas, segundo a narrativa de Mateus, algumas mulheres estavam, em outro momento, junto a Madalena. Eram Maria, mãe de Tiago e Salomé, Joana e outras. Desta feita, apesar de todas serem médiuns videntes e audientes, uma qualidade diferente de manifestação se dava: Jesus se lhes apresentou visível e tangível, tal qual elas o haviam conhecido. Era um caso de efeito físico de ectoplasmia, em que Jesus materializado deixou-se ver, ouvir, abraçar... Há referências de que o ectoplasma de que se servira Jesus em muitas circunstâncias, provinha de fontes diversas: Maria de Nazareth, e alguns de seus apóstolos e ainda os vinhedos e trigais abundantes naquelas regiões. Cremos também que, em face da plêiade de médiuns identificados e anônimos que o cercaram, essas fontes estiveram sempre próximas do amado Mestre.

            E Jesus lhes recomendou que avisassem aos seus irmãos, os discípulos, que fossem à Galileia porque lá o veriam. Como sabemos, Jesus faz outras aparições, como na estrada de Emaús aos dois discípulos. E estes também noticiam sobre o Cristo aos onze apóstolos que neles não acreditam, como não haviam crido em Madalena e nas demais mulheres. Só acreditam quando Jesus apareceu a eles próprios. E tudo se deu para que a ressurreição prometida se patenteasse aos olhos de muitos e, com ela, a Imortalidade da alma.

            Maria Madalena, como ressalta Emmanuel, foi a primeira pessoa a quem Jesus visitara, na sua ressurreição. Por que razões profundas deixaria o Divino Mestre tantas figuras mais próximas de sua vida para surgir aos olhos de Madalena, em primeiro lugar? Dentre os vultos da Boa Nova, ninguém fez tanta violência a si mesmo, para seguir o Salvador, como a inesquecível obsidiada de Magdala. Com seu gesto inesquecível, Jesus ratificou a lição de que a sua doutrina será, para todos os aprendizes e seguidores, o código de ouro das vidas transformadas para a glória do bem. E ninguém, como Maria de Magdala, houvera transformado a sua à luz do Evangelho redentor.

            Depois de ver e abraçar o Cordeiro de Deus, Maria confirma sua renovação espiritual e vai ao encontro dos leprosos que procediam da lduméia, cansados e tristes, a fim de dar-lhes notícias da Boa Nova, das palavras de esperança que o Mestre deixara aos seus tutelados, contagiando-os com sua alegria e com sua fé. Lenindo lhes as chagas físicas e morais e abdicando do mundo para sempre, dedica-se inteiramente aos aflitos daquele vale de lágrimas, até o fim de seus dias.



A Mediunidade nos Evangelhos – 6/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB)  Dezembro 1994

                                      Certos doentes...

            Ora, sucedeu achar-se na sinagoga um homem possuído de um espírito imundo, que exclamou: Que tens tu conosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Sei quem és: és o santo de Deus. Jesus, em tom de ameaça, disse-lhe: Cala-te e sai desse homem. Logo, o espírito impuro agitando-o em convulsões violentas e soltando um grito estridente, saiu do homem. (Marcos, Cap. I, vv. 23-26)

            Apresentaram lhe então um homem cego e mudo, possesso do demônio. Ele o curou, de sorte que o homem começou a ver e a falar. (Mateus, Cap. XII, v. 22.)

            Jesus perguntou ao pai do menino: Desde quando isso lhe sucede? O pai respondeu: Desde a infância; e o espírito o tem muitas vezes lançado ora à água ora ao fogo, para faze-lo perecer. Jesus, vendo o povo acorrer, ameaçou o espírito impuro, dizendo: Espírito surdo e mudo, eu te ordeno, eu: Sai deste menino e não entres mais nele. (Marcos, Cap. IX, w. 21, 22 e 25.)

            Um dia, viu ali uma mulher possuída de um espírito que a punha doente, havia dezoito anos; era tão curvada que não podia olhar para cima. Vendo-a, Jesus a chamou e lhe disse; Mulher, estás livre da tua enfermidade. E, Impondo-lhe as mãos, ela se endireitou no mesmo instante e rendeu graças a Deus. (Lucas, Cap. XIII, vv. 10-13.}

            A mediunidade, já o sabemos, é elemento de ligação entre seres de dois planos de vida diferentes. Jesus, o Mestre, em meio a tantos ensinamentos, retificou também a influência espiritual, invisível portanto, até que fosse desvendada, como elemento causal de moléstias humanas, físicas e morais. É imperioso reconhecer este fato porque ele dá margem a uma verdadeira revolução na compreensão dos mecanismos causadores ou agravantes de muitas enfermidades. Apesar dos progressos da ciência médica, especialmente nas últimas décadas do esclarecimento sobre a etiopatogenia e fisiopatologia das doenças orgânicas, há, ainda, muito a ser conquistado sobre as origens das mesmas para que a eficácia da terapêutica médica seja superior à dos nossos dias e para que uma medicina mais curativa e menos paliativa venha a se tomar realidade.

            E sobre a doença mental, muito maior é a distância a ser percorrida tendo em vista o apenas o acanhado progresso feito pela Psiquiatria, até o presente. Muito possivelmente, por tratar-se de processo que envolve a mente humana e por ser esta muito facilmente alcançada pelas influências do plano invisível, qualquer evolução mais substancial sobre psicopatologia e, consequentemente, da terapia das doenças mentais, terá que passar pelo caminho da realidade espiritual e das Interações entre seres em desarmonia e fisicamente vinculados por induções e ressonâncias espirituais.

            Só o conhecimento da tecitura perispiritual, elemento de ligação entre o Espírito encarnado e seu organismo físico, matriz sutil deste último e sede de desarmonias adquiridas no passado e das leis que regem as influências dos Espíritos sobre os homens e vice-versa, permitirão a elucidação definitiva de muitas enfermidades que assolam a humanidade deste orbe. A partir disso, abrir-se-ão novos rumos terapêuticos.

            Enquanto isso não se dá, graças ao entendimento que o Evangelho e a Doutrina dos Espíritos nos facultam as atividades de desobsessão vão-se multiplicando nos núcleos espíritas, em assistência crescente às multidões de Espíritos que vivem em meio a sombra densa da ignorância e da revolta, do ódio e da oposição sistemática e histórica aos princípios elementares da proposta evangélica de amor e de progresso. Como atuam vivamente sobre o ser humano encarnado, seja em nível mental, seja vencendo as barreiras naturais e penetrando na estrutura perispiritual e orgânica destes, transferem-lhes, voluntária ou involuntariamente seu contexto íntimo desarmônico, suas dores e suas vibrações em desatino.

            É preciso lembrar, como afirma Kardec em “A Gênese” que, naquela época, os hebreus acreditavam na influência dos maus Espíritos, na maior parte das enfermidades humanas. Durante muitos séculos, o homem manteve esta crença mas, como não encontrou método ou mecanismo para a detecção e análise sistemáticas dessa participação do Invisível nem soube livrar-se da influência dos Espíritos inferiores, porque não reconheceu o valor da necessidade de sua evolução moral e evangelização, do cultivo do perdão e da fraternidade, para que gradativamente os liames dolorosos e vínculos de sombra se dissipassem, foi buscar no próprio cérebro a causa destes males. Aí só encontrou os efeitos nas intrincadas redes neuronais e na bioquímica complexa e variada.

            E é no próprio Evangelho que ele pode encontrar tanto as evidências da influenciação de criaturas perniciosas sobre os encarnados, chegando ao extremo da possessão e subjugação, como a noção muito claramente estudada pelo Espiritismo de que os algozes e as vítimas se revezam e se influenciam mutuamente na esteira do tempo e das reencarnações. E como não poderia deixar de ser, de que só a renovação dos sentimentos, a substituição voluntária das viciações em torno do egoísmo pelas virtudes da alma, a partir do esclarecimento das criaturas sobre seus sofrimentos e suas causas, poderá reverter tão doloroso quadro espiritual de nossa Terra. Quebrar-se-ão, enfim, as cadeias fluídicas que nos atrelam uns aos outros, auferindo o Espírito imortal e redimido o galardão da liberdade e da vitória sobre si mesmo.


A Mediunidade nos Evangelhos – 7/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB)  Janeiro 1995

A transfiguração do Tabor

            Seis dias depois, Jesus chamou a Pedro, a Tiago e a João, irmão de Tiago e, afastando-se com eles, os conduziu a um monte elevado. E ele se transfigurou diante deles; seu rosto resplandeceu como o sol, suas vestes se tornaram como a neve. E eis que lhes aparecerecem Elias e Moisés, que com ele falavam. Disse então Pedro a Jesus: Senhor, estamos bem aqui; se quiseres faremos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias. Pedro ainda falava quando uma nuvem luminosa os cobriu e uma voz que da nuvem saia, disse: Este é meu filho diletoem quem hei posto todas as mlnhas complacências; escutai-o. Ouvindo Isso os discípulos caíram de rosto em terra, presos de grande temor. Jesus se aproximou, tocou-os e lhes disse: Levantai-vos e não temais. Erguendo então os olhos, eles a ninguém mais viram senão somente a Jesus (Mateus, Cap. XVII, vv. 1-8).

            Quando um Espírito encarnado opera, com o concurse de seus mentores ou auxiliares, certas transformações na sua textura perispiritual, notadamente no seu envoltório, e estas se Irradiam em torno do corpo, qual atmosfera fluídica, pode ocorrer na superfície mesma do corpo uma mudança do seu aspecto habitual. É como se aquele não mais tivesse o perispírito todo contido em si, como se uma parte se extravasasse além das suas fronteiras. E essa parte, no caso de um Espírito superior, apresenta-se radiosa e bela, cobrindo ou substituindo a imagem corpórea.

            Este fenômeno, do rol dos chamados efeitos físicos, é incomum e conhecido como transfiguração. Ele também pode ocorrer com Espíritos desencarnados, analogamente. Quando os chamados agêneres, tomando um corpo de ectoplasma denso e visível, a revestir seu perispírito com vistas ao desempenho de tarefa mais ou menos longa, modificam sua aparência para obter novo efeito sobre os que lhes partilham a situação, transfiguram-se.

            No episódio do Tabor, por meio da transfiguração, Jesus retoma por alguns momentos, à vista dos discípulos, atributos de sua natureza sublime, desconhecidos deles, até então. Ainda assim, adequando à condição dos três escolhidos, de o suportarem. A pujante manifestação se dá após ter Jesus antecipado aos discípulos a necessidade de que fosse ele a Jerusalém, fosse morto e ressuscitasse.

            Foi mais uma oportunidade de o Mestre reafirmar sua elevadíssima condição de Cristo Divino e estabelecer uma relação de imenso significado entre a revelação moisaica e a sua missão. Moisés e Elias haviam prometido a vinda do Messias. Vê-los juntos e dialogando com a resplandecente figura do Cristo revelava-lhes a superioridade deste em relação àqueles a quem Deus havia entregado os destinos do povo hebreu, ao mesmo tempo em que mostrava a continuidade da Revelação, agora sob os vívidos auspícios do filho do Homem. A presença dos dois santificava e sancionava, aos olhos dos apóstolos, a missão que Jesus desempenhava. Com isso, cumpria-se mais um item da preparação daqueles apóstolos para os cometimentos previstos, reforçando lhes a fé, tanto para que suportassem os dolorosos e decisivos momentos que o Mestre viveria no Calvário, como para o futuro de suas graves responsabilidades Junto à divulgação da Boa Nova, após sua ascensão.

            Repetindo a ocorrido quando do encontro de Jesus com João, o precursor, nas margens do Jordão, dá-se a fenômeno de voz direta, anunciando: “Este é meu filho dileto em quem hei posto todas as minhas complacências; escutai-o.” Deus não se comunica diretamente com os homens, mas sim pelo concurso dos Espíritos prepostos. Era como se o Pai o apresentasse, desta feita aos apóstolos e, por conseguinte, a toda a Humanidade. Tal o impacto do que fora visto e ouvido que os três se prostram, amedrontados, diante de
Jesus.

            Pedro, em decorrência da tradição hebraica, acreditava que Moisés e Elias haviam ressuscitado e tinham novamente corpos de carne, justificando a construção de três tendas. Tudo indica que ambos foram percebidos pelos apóstolos por aparição ou ectoplasmia e não por simples vidência.

            João, Tiago e Pedro, escolhidos que foram para tão espetacular vivência, testemunharam as providências do Alto para que, no futuro, a nossa Humanidade, uma vez conhecendo aqueles fatos pelas narrativas dos evangelistas, soubesse da unicidade das revelações sobre a Verdade, que culminaria com o advento do Consolador e que teria que ser conhecida e vivida, integralmente.



A Mediunidade nos Evangelhos – 8/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Fevereiro 1995

Os Evangelistas

            Disse então Jesus a seus discípulos: Se alguém quiser vir nas minhas pegadas, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me, porquanto, aquele que quiser salvar a vida a perderá e aquele que perder a vida por minha causa a encontrará. (Mateus, Cap. XV vv. 24 e 25).

            E, chamando para junto de si o povo e os discípulos, disse: Se alguém me quiser acompanhar, renuncie a si mesmo, carregue a sua cruz e siga-me, porquanto, aquele que quiser salvar a vida a perderá, mas aquele que perder a vida por minha causa e do Evangelho a salvará (Marcos, Cap. VIII, vv. 34 e 35).

            E dizia a todos: Se alguém quiser vir nas minhas pegadas, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me; porquanto, aquele que quiser salvar a vida a perderá e aquele que perder a vida por minha causa a salvará (Lucas, Cap. IX. vv. 23 e 24).

            Dos quatro livros que narram a Boa Nova, legado de amor sublime e luz eterna do Divino Mestre, os Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas apresentam entre si tais semelhanças que, muitas vezes, como nestes versículos, podem ser colocados juntos e abarcados com “um só olhar”, daí serem chamados sinóticos.

            Ao que se sabe, os três livros foram escritos pelos evangelistas, em lugares, ocasiões e idiomas distintos, daí a notabilidade de suas concordâncias, tão marcantes e tão numerosas, que excedem as possibilidades da memória, mesmo a dos antigos e dos orientais.

            Mateus, o publicano, pertencente ao colégio dos doze apóstolos, escreveu o primeiro; tê-lo-ia redigido na Palestina, em língua hebraica, o aramaico, depois foi traduzido para o grego. Marcos, nativo de Jerusalém, (Atos, 12:12) e discípulo de Pedro, escreveu o segundo na língua helênica não tendo sido como Mateus testemunha ocular dos fatos que narrou. Há quem afirme que a convivência com o pescador de Cafarnaum é que permitiu a Marcos redigir este Evangelho, baseado, portanto, na memória de Pedro. Lucas, natural de Antioquia, na Síria, médico (Colossenses 4: 14) e amigo de Paulo, ter-se-ia convertido ao Cristianismo após a morte de Estêvão e editou o terceiro livro, também em grego, sem qualquer experiência pessoal junto ao Mestre. Na qualidade de amigo e colaborador dos apóstolos, acompanhou Paulo na segunda e terceira excursões missionárias, fazendo-lhe, também, companhia nos cárceres de Cesaréia e de Roma. Esta convivência teria sido fundamental para que Lucas conhecesse os fatos sobre os quais se dedicaria a registrar. Além disso, esteve muito tempo junto a Maria de Nazaré.  

            A chamada questão sinótica ensejou diversas tentativas de solução, exaustivamente analisadas pelos estudiosos do Cristianismo durante todos estes séculos. Mas, nenhuma delas, de per si, fora capaz de, satisfatoriamente, esclarecer a questão.

            Os evangelistas haviam sido escolhidos pelo Mestre para a especial tarefa de registrar os fatos mais marcantes que deveriam tornar-se conhecidos pela Humanidade e permanecer ao alcance de todos aqueles que desejassem encontrar um roteiro seguro para guia-los pela estrada do progresso espiritual, nos séculos porvindouros. Para tanto, serviu-se Jesus de homens de especial sensibilidade mediúnica, profundamente afinizados com os objetivos da Boa Nova e da sua divulgação. Inspirados pelos Espíritos superiores, independentemente de suas origens, de onde se encontrassem ou de seus idiomas nativos, receberam os conteúdos fundamentais da mesma fonte espiritual, muitos anos após a ascensão do Nazareno, em tarefa sob sua própria égide. A psicografia foi o recurso que possibilitou a garantia da permanência da Verdade. E as coincidências que tanto intrigaram os estudiosos atestam a gravidade dos ensinos que ficaram e a origem espiritual comum, ao mesmo tempo que sugerem um caráter ao menos semimecânico da mediunidade psicográfica utilizada e comum aos evangelistas. Por seu turno, as diferenças também se justificam. A medida que, por mais intensa a atuação da espiritualidade, os matizes ou alguma influência anímica de cada um dos evangelistas, também se fizeram notar.

            O quarto Evangelho, não sinótico, porque não estritamente concordante com os três primeiros. Foi escrito por João, filho de Zebedeu e natural de Betsaida. Como Mateus, pertenceu ao grupo dos doze apóstolos, que privaram com o Mestre e o teria redigido já em idade avançada, possivelmente em Éfeso. Apesar disso o Evangelho de João difere notavelmente dos três primeiros quer quanto ao conteúdo, quer quanto à forma e, supondo-os conhecidos, completam-nos. João, corno os demais, era médium inspirado e o que escreveu está em luminosa harmonia com os anteriores, desde que entendido segundo o “espírito que vivifica”.

            Ao se reconhecer a importância da mediunidade dos evangelistas na elaboração da Boa Nova confirma-se a noção, que o Espiritismo enseja de que o planejamento superior para o progresso da criatura humana encarnada passa, obrigatoriamente, pela presença do Mundo Maior, fonte inesgotável da Verdade, a derramar-se sobre o Espírito em mergulho transitório na carne e a envolvê-lo em um campo divinal, agente facilitador e dinamizador de seu progresso.



A Mediunidade nos Evangelhos – 9/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Maio 1995

As predições

            Jesus respondeu! Vede que ninguém vos engane, pois que muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e a muitos enganarão. Haveis de ouvir falar de guerras e de rumores de guerra. (...) pois nação se levantará contra nação, reino contra reino, e haverá pestes, fomes e terremotos em diversos lugares. Todas estas coisas, porém, são apenas o princípio das dores, Muitos falsos profetas se levantarão e seduzirão a muitos. E, porque abundará a iniquidade a caridade de muitos esfriará. (Mateus, Cap. XXIV, vv, 4 a 8, 11 e 12.)

            Subindo para Jerusalém, Jesus chamou de parte os doze discípulos e lhes disse: Vamos para Jerusalém e o filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas que o condenarão a morte. Entregá-Io-ão aos gentios para que seja escarnecido, flagelado e crucificado. E ele ao terceiro dia ressuscitará. (Mateus, Cap. XX, vv. 17a 19.)

            Tenho-vos dito estas coisas, estando ainda convosco. Mas o Consolador, que é o Espírito Santo, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará das coisas e vos fará. lembrar tudo o que vos tenho dito. (João. Cap. XIV, vv. 25 e 26.)

            Há muito, desde a Antiguidade, o Ser humano percebeu que a sucessão dos fatos transcorridos diante de seus olhos estava vinculada a passagem do tempo, um referencial que estabelece que é passado o conjunto das vivências que ele não está mais a experimentar em seu presente. Mas o futuro, a continuação ou projeção da sua realidade atual, o homem sempre buscaria adentrar, através de indagações à sua própria consciência ou consultando médiuns de todas as épocas e que, na esteira do tempo, vislumbraram os acontecimentos futuros, antecipando-os.

            Objeto de perquirições de toda sorte e motivo de intensa busca, interessou a muitos, nobres e doutos, indivíduos e reinos, por motivos dignos, como instrumento de auxílio visando ao progresso, mas, muitas vezes por razões menores, por vezes torpes, envolvendo dominações entre povos, lutas sectárias, particularismos e ambições desmedidas pelos poderes transitórios.

            A faculdade de pressentir as coisas porvindouras é um atributo da alma e se explica pela teoria da presciência. Trata-se de processo anímico-mediúnico, quando a alma se desprende e adquire, em maior ou menor grau, condições de Espírito livre. Muitas vezes se dá por inspiração, vidência, audiência ou psicofonia. Em se tratando de Espíritos adiantados e especialmente se em missão para este efeito, poderão abarcar um período bastante longo, percebendo-o como se fora o presente. Para estes Espíritos, já sem vínculos com a matéria, o espaço e o tempo, os referenciais de nosso mundo deixam de existir.

            Jesus-Cristo, Protetor e Governador de nosso Planeta, “médium de Deus”, é superior a todas as almas que, através dos milênios, estiveram vinculadas aos objetivos evolucionários de nosso orbe, nos dois planos existenciais, como Espíritos livres ou retidos transitoriamente na carne. Farol de luz sublime, intermediava os desígnios divinais, diretamente à Terra, através do concurso de seus auxiliares. Pela sua condição e pelas características de sua missão terrena, esteve acompanhado de uma plêiade de Espíritos Superiores, seus prepostos, muitos deles encarnados, e os poderes espirituais que Ele possuía, incluindo o da presciência, eram em grau superlativo.

            Desde a lei antiga e os profetas do Velho Testamento, a Humanidade possui em seus registros narrativas que anteciparam por muitos séculos os fatos mercantes relacionados aos destinos humanos. Jesus, como atestam os Evangelhos, legou-nos os mais belos e marcantes exemplos de sua presciência, de sua condição de antecipar os cometimentos que se dariam desde o futuro mais próximo, marcadamente os acontecimentos que os apóstolos e discípulos viveriam, até aqueles que se dariam milênios adiante, além de fazer os mais graves prognósticos sobre as situações e dificuldades por que passaria o orbe terreno, durante o longo período de suas lutas redentoras.

            Com essas e muitas outras predições Jesus selou para sempre a aliança entre os homens e seus destinos espirituais, mostrando-lhes que uma percepção extraordinária da Vida era possível, como decorrência da repercussão vibratória que o existir humano projeta em torno de si.

            Em graus diversos e sob variadas formas, as grandes religiões da Antiguidade tiveram pessoas inspiradas que pretendiam falar em nome de seu deus. Em especial, entre os povos vizinhos de Israel, um caso de êxtase profético é relatado em Biblos no século XI a.C.; é atestada a existência de videntes e de profetas em Hama, no Orontes no século VIII a.C. Quanto à forma e ao conteúdo, suas mensagens, dirigidas ao rei, parecem-se com as dos mais antigos profetas de Israel, mencionados no Antigo Testamento.

            Foram muitos os profetas de Israel e suas narrativas estão conservadas nas Escrituras. O profetismo foi uma de suas mais marcantes características. Em muitas passagens depreende-se que os profetas tinham consciência da origem “divina” de suas palavras, e acreditavam-se seus mensageiros e intérpretes. A mensagem recebida era transmitida pelo profeta em formas variadas: em trechos líricos ou em relatos em prosa, em parábolas ou às claras, no estilo breve dos oráculos, mas também utilizando as formas literárias do sermão, do processo, dos escritos de sabedoria, ou dos salmos culturais, das canções amorosas, da sátira, das lamentações fúnebres.
           
            Em meio ao fulgor da religiosidade hebraica, manifesta-se o planejamento da vinda de Jesus. A presença do Messias, do Salvador, do Ungido de Deus foi antecipada especialmente por Isaías, Miquéias e Jeremias. “Ele será da casa de David e sairá como ela, de Belém de Efrata. Recebera os mais magníficos títulos e o Espírito de Deus repousará sobre Ele com todo o cortejo de seus dons" - vaticinaram esses mesmos profetas. Zacarias anunciara “a vinda de um rei, mas que será humilde e pacífico". Ezequiel descreve-o antes como um mediador e um pastor do que como um soberano poderoso, Também Isaías prediz: “O Servo de Deus não terá projeção humana, será rejeitado pelos seus, mas alcançará a salvação deles ao preço de sua própria vida.” E Daniel vê chegar sobre as nuvens “um como que filho do homem, que recebe de Deus um domínio sobre todos os povos, um reino que não passará". 

            Ao vir à Terra Jesus cumpre as previsões, refere-se ao Antigo Testamento dizendo-se Aquele ali anunciado e, por sua vez, estabelece na Boa Nova o recurso precioso da antecipação.

            E, para assinalar indelevelmente a importância de sua capacidade premonitória, selando com fatos objetivos e imediatos a condição de realidade das profecias, Jesus, ao mesmo tempo que previa a derrocada de civilizações endurecidas pelas violações e anestesia dos sentidos, e prometia o reino de Deus aos mansos e pacíficos, bem como o advento do Consolador, envolvia-se na previsão de fatos mais próximos, facilmente comprováveis, como a negação de Pedro, a traição do discípulo imaturo e o seu próprio ressurgimento após o drama do Calvário.

            A profecia, seja ela de que natureza for, constitui um apelo dos planos espirituais da Vida, com o objetivo de suprir a cegueira humana e oferecer testemunhos da Realidade Superior que cerca a Humanidade encarnada. Os profetas foram e são ainda aqueles que vão na frente da grande caravana do progresso espiritual das coletividades, como sentinelas avançadas, incumbidas de aplainar os caminhos para seus irmãos. Embora nem sempre os seres humanos respondam a tempo, por falta de sensibilidade ou de coragem para encarar a realidade existencial, a Espiritualidade Superior demonstra, desse modo, que os seres em fases mais acanhadas de evolução não se encontram nunca ao desamparo.



A Mediunidade nos Evangelhos – 10/10
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Junho 1995

A cobertura espiritual

            Tendo reunido os doze apóstolos, Jesus lhes deu poder sobre os Espíritos impuros, a fim de que os expulsassem e o de curar todas as doenças e enfermidades ... Ide e pregai!... Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos... Sereis levados por minha causa à presença dos governadores e dos reis... não vos cause inquietação o como haveis de falar, nem o que direis... Porquanto não sois vós quem fala, é o Espírito de vosso Pai quem fala por vós. (Mateus, Cap. X. vv. 1, 7, 16 e 18 a 20.)

            Os setenta e dois discípulos voltaram cheios de alegria... E Jesus lhes disse: ...Vedes que vos dei o poder de esmagar todas as serpentes, os escorpiões e todo o poder do inimigo... (Lucas, Cap. X, vv. 17 a 19.)

            Vou mandar-vos o dom de meu Pai que vos foi prometido; permanecei, entretanto, na cidade até que sejais revestidos do poder do alto. (Lucas, Cap. XXlV, v. 49.)

            Os apóstolos e os discípulos eram médiuns, intermediários entre os Espíritos superiores que os assistiam e os homens. Com o auxílio das faculdades mediúnicas é que eles laboraram e falaram, no desempenho de suas missões, no desdobramento e na extensão da luz e da Verdade.

            Eram Espíritos elevados, encarnados em missão, que aceitaram as condições rigorosas da primeira fase de suas existências humanas, a que antecedeu à vocação, a fim de concorrerem para a obra de redenção. Em seus trabalhos tiveram o auxílio dos Espíritos superiores que os acompanharam sempre, neutralizando neles a influência da carne sobre o Espírito. Desse concurso resultaram as grandes coisas que os apóstolos realizaram.

            Eles aceitaram aquela existência humana, cuja primeira parte devia transcorrer em condições tão humildes quanto vulgares, a fim de melhor fazerem sentir aos homens a transformação do portageiro, do pescador ignorante em homens inspirados, manejadores de todos os idiomas e capazes de operar prodígios à vista das nações espantadas.

            Deu-lhes Jesus poder e autoridade sobre os Espíritos maus e ignorantes, a condição de curar os males e enfermidades de “ressuscitar” os mortos, de purificar os leprosos, através da assistência dos Espíritos superiores, sustentados estes se necessário, pelos Espíritos puros.

            Ao referir aos apóstolos que quem falaria diante dos governadores e reis seria o Espírito de vosso Pai. O Mestre fez questão de ratificar a cobertura espiritual que daria aos seus seguidores, para que eles, homens saídos do povo sem educação e sem maneiras, depositassem confiança na inspiração e seguissem na árdua tarefa da divulgação da Boa Nova. Certos de que a Inspiração do Espírito Santo (Lucas, Cap. XII, v. 12.) os ampararia, avançaram com passos firmes para os desafios do gigantesco empreendimento.

            Pelas locuções Espírito Santo e Espirito de vosso Pai designam-se os Espíritos puros. os Espíritos superiores e os bons Espíritos que o Senhor envia para guiar ou Inspirar os que têm por missão fazer triunfar a Verdade.

            Interessante notar que essas promessas aos apóstolos e discípulos, bem como suas realizações preliminares foram feitas antes do Calvário e se deram quando Jesus estava ainda na fase de prepará-los para os cometimentos futuros, acompanhando-os amorosamente. Mas aquela última, quando lhes sugere que permanecessem na cidade de Jerusalém até que fossem revestidos de um poder do Alto, ocorrera numa de suas aparições, após o sacrifício na cruz e, dessa maneira, sob o véu da letra, o Mestre os prevenia do episódio que marcaria em definitivo essa cobertura espiritual como aconteceria no dia de Pentecostes, narrado em Atos dos Apóstolos. Tudo para que confiassem em si próprios e não deixassem que a ausência física do Mestre, dali em diante, os tornasse inseguros. A própria “ressurreição” deixava claro que Ele não só não morrera como, também, estaria zelando por todos eles e pela continuidade da tarefa.

            E a promessa de proteção espiritual era para todos os tempos, assegurando o auxílio do Alto para os seguidores fiéis do Sublime Nazareno, que seriam enviados a todas as partes do Planeta, nos séculos do porvir, para darem continuidade A Causa do Evangelho. No contexto de uma Humanidade paupérrima de virtudes da alma, sua evolução espiritual é dependente dessa presença invisível de falanges superiores a sustentar os obreiros sinceros, dinamizando o processo milenário no sentido de tomar este mundo um Reino de Deus. 



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