Pesquisar este blog

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Nuvem por Juno


Nuvem por Juno
por Vinícius (Pedro de Camargo)
Reformador (FEB) 15 Fevereiro 1919

            Frequentemente ouvimos pessoas que não tem aprofundado o assunto, emitir este conceito: Toda religião é boa uma vez que haja sinceridade entre seus adeptos.
            Este parecer não traduz, em verdade, o pensamento daqueles que assim se exprimem. O mérito que eles atribuem a todas as religiões, mérito que faz jus ao qualificativo “boa”, não pertence às religiões mas à sinceridade.
            A sinceridade é uma virtude e, como tal, é sempre boa uma vez onde quer que se manifeste, onde quer que esteja. A sinceridade tem o mesmo valor, assume o mesmo característico de virtude, quer a verifiquemos no católico romano, no protestante, no espírita, no positivista e no ateu. Isso é que faz supor que qualquer credo seja bom desde que se constate sinceridade em seus adeptos.  
            Ora, sendo a virtude aquilo que é bom em toda a parte, segue-se naturalmente que a verdadeira religião deve ser a religião da virtude; não só daquela virtude denominada - sinceridade - mas da virtude em geral, debaixo das múltiplas modalidades em que se desdobra.  
            O amor é a virtude por excelência. Do amor derivam todas as virtudes, conforme ensinou magistralmente o Apóstolo dos Gentios quando disse:  

            “O amor é longânimo, é benigno, é paciente, não inveja, não se jacta, não se ensoberbece, não busca interesses próprios, não se irrita, não suspeita mal. O amor  
regozija-se com a verdade e com a justiça: tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.”  

            A religião do amor, aquela que prescreve o culto desse sentimento como base, tal como Jesus o ilustrou na Parábola do Bom Samaritano, essa é, de fato, a única religião capaz de regenerar e aperfeiçoar o homem, conduzindo-o à realização dos elevados destinos da vida, porque o amor encerra o dever, encerra, finalmente, todas as fórmulas múltiplas da virtude.
            Tal é a religião encarnada e difundida por Jesus Cristo. O Evangelho todo é, em substância, a mais alta e elevada consagração do amor e o mais formidável libelo contra o egoísmo que, como se sabe, é o grande inimigo daquela virtude.
            O Espiritismo não se apresenta no mundo e como uma nova fé, como um novo credo, como uma nova religião, o Espiritismo aponta a religião do amor personificada em Jesus Cristo como a única fé que regenera e salva.
            Não se diga, pois, que toda religião é boa: diga-se que a virtude é sempre digna, onde quer que se manifeste, se ostente. Diga-se que a religião verdadeira é aquela que, fundando-se exclusivamente no culto da virtude, renuncia ao mundo com suas ambições, não age sobre os sentidos por meio de cerimônias e de aparatos, mas atua sobre a razão e o coração, educando os poderes do Espírito e aprimorando os sentimentos.
            Não é ao sectarismo, que divide a família humana, que devemos reverência: é a virtude. A virtude faz jus ao respeito, mesmo por parte daqueles que dela vivem divorciados, o que justifica a sabedoria deste conceito: “A hipocrisia é o preito de homenagem que o vício rende à virtude.”  
            Basta, portanto, de ilusão, não tomemos mais a nuvem por Juno (1).

            (1) iludir-se; tomar os desejos por realidade.
                Expressão idiomática greco-romana. É explicada pela Wikipédia como se segue: 
            “Após apiedar-se de uma punição aplicada ao vilão Íxion, criador de cavalos, Zeus convidou-o para um banquete no Olimpo. Tendo-se embriagado pelo néctar, Íxion passou a assediar Hera (Juno, na mitologia romana), a própria mulher de seu anfitrião. Ao perceber as intenções do visitante, Hera alertou o esposo a respeito das intenções de seu convidado. Zeus, em lugar de irritar-se, achou divertida a situação, e para testar seu hóspede, moldou uma nuvem na forma de sua própria esposa e deixou-a a sós com Íxion, que a possuiu. Desse conúbio nasceu a raça dos Centauros, metade homens, metade cavalos. Como Íxion divulgou aos mortais que havia possuído a esposa de Zeus, este o fulminou com um raio e o lançou ao Tártaro, onde foi preso a uma roda em chamas e condenado a nela girar pela eternidade.”


Nenhum comentário:

Postar um comentário