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sábado, 18 de julho de 2020

Desobsessão Coletiva


Desobsessão  Coletiva
por Sérgio Thiesen
Reformador (FEB) Dezembro 1999

            “Qual é o teu nome?" - indaga Jesus. Responde-lhe: “O meu nome é Legião, porque somos muitos.” E lhe imploravam com insistência que não os mandasse para fora daquela região (Gerasa). (Marcos 5:9-10).

            Obsessão é o maior flagelo da Humanidade. Os vínculos dolorosos estabelecidos na eternidade entre as almas que vivem no Planeta surgiram e se perpetuam há milênios, aprisionando-as entre si e caracterizando a massa de Espíritos que aqui reside como primitiva. Com raízes no egoísmo desenfreado, vivemos ainda imersos em sombras que atuam tanto nos indivíduos como nas coletividades, instituições, famílias, cidades, povos, obstaculizando os anseios incipientes de redenção e libertação.

            Na Codificação, Kardec estuda a obsessão em “O Livro dos Médiuns”, no capítulo XXIII, enfocando aqueles casos em que os médiuns eram obsidiados e como se devia fazer para evitá-la ou combatê-la, fossem casos simples de fascinação ou subjugação.

            Em obras complementares, André Luiz estuda o assunto com detalhes, publicando até mesmo uma obra específica, de título 'Desobsessão", em 1946.

            Por todo o Brasil, no Centro Espíritas, vão surgindo reuniões mediúnicas voltadas para o seu tratamento, caracterizando-se pelo diálogo fraterno e o esclarecimento dos obsessores trazidos pelos mentores espirituais, que se manifestam através da psicofonia. Hermínio C. Miranda em “Diálogo com as Sombras”, de 1979, aprofunda o tema valorizando ainda mais a doutrinação e o atendimento individualizado.

            Nas obras de André Luiz, pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier, bem como nas de autores espirituais como Manoel Philomeno de Miranda, há referência às manifestações de grupos de Espíritos vinculados a certos casos por eles narrados.

            Durante sucessivos anos de experiência em reuniões e desobsessão, notamos, em muitos casos, a presença de grupos maiores ou menores de Espíritos que eram identificados pelo autor e por médiuns videntes como sendo os responsáveis pela influência nociva sobre os doentes atendidos.

            Em todos esses casos havia ou não a manifestação pela psicofonia de uma das entidades que fazia parte do grupo e do processo obsessivo. A partir dos primeiros casos fomos desenvolvendo algumas técnicas para atender não apenas ao Espírito comunicante (quando este se manifestava, “representando” os demais) mas a todo o grupo coletivamente. Estas foram sendo testadas e na medida que podiam ser repetidas em situações semelhantes com resultados igualmente positivos, foram sendo incorporadas como recursos de tratamento.

            Passamos ao estudo de alguns casos ou situações que exemplificam a necessidade de se atentar para o coletivo, multiplicando os benefícios do atendimento.

            Muitas vezes comparece ou é trazida entidade que desencarnou violentamente como vítima de guerra. São Espíritos que, passado um tempo maior ou menor desde o conflito, por vezes séculos, se apresentam como mutilados, sentindo dores físicas intensas, em várias partes do corpo, com fome e frio, muitas vezes desconhecendo que já desencarnaram. Através da oração, do diálogo fraterno e consolador e da transferência de recursos fluídicos para ele, apresenta profunda recuperação de seus males físicos e morais. Por ocasião de seu atendimento, médiuns percebem o cenário da última batalha e a presença de inúmeros Espírito dispersos pelo chão, “agonizantes”, andrajosos, com uniformes rotos, esquálidos, amontoados entre gritos e gemidos, armas, espalhadas... Este quadro é cheio de vida, independentemente de quando tenha sido o confronto e aqueles que ali permaneceram lá se encontram desde então. Este contexto se apresenta quando iniciamos o atendimento para uma pessoa encarnada, doente, com as mais variadas patologias, físicas ou mentais, incluindo a depressão, síndrome do pânico ou a esquizofrenia. Outras vezes este contexto é aberto pela espiritualidade mesmo sem estarmos atendendo a algum encarnado identificado no início. Quase sempre o encarnado foi um dos agressores e responsáveis por tudo aquilo que se apresenta no cenário do conflito e é quando o contexto todo é tratado, com a recuperação e encaminhamento de todas as vítimas é que ocorre, algum tempo depois sua melhora clínica, independente do tratamento médico concomitante. Outras vezes o paciente encarnado é uma das vítimas e, apesar de mergulhado em nova existência corporal, algo de si, através de vínculos sutis, em fenomenologia de ressonância, o mantém ainda atrelado àquela experiência dolorosa. E com repercussões negativas em si próprio, contribuindo para ou mesmo gerando sua doença atual. Só com a abordagem ampla e coletiva em que todos são beneficiados, recuperados e conduzidos para hospitais e colônias espirituais é que se dá a reversão moral de todo o drama e a libertação da vítima bem como de todos os envolvidos. A isto se segue, comumente, significativa melhora clínica. Todo o desenrolar das diversas etapas de tratamento é monitorado pelos médiuns videntes. Situações análogas têm sido geradas por guerras, revoluções, conflitos armados em geral e apesar do tempo que delas tenha decorrido, suas consequências ainda se arrastam até que tudo efetivamente seja tratado e se harmonize. São verdadeiros bolsões de Espíritos, que sem energia externa benéfica e por ignorância quanto aos meios para sua libertação detêm-se estagnados, sofrendo e fazendo sofrer, consciente ou inconscientemente, por ação direta ou por fenômenos ressonantes psíquicos.

            Alguns dos casos tratados foram de guerras ou batalhas conhecidas da História, mas a maioria situava-se sob o véu da obscuridade. Uma de que me recordo foi na região de Hiroshima, onde restavam milhares de Espíritos vitimados pela radiação ionizante no final da Segunda Grande Guerra.

            Outra recente reunião possibilitou o atendimento às vítimas de conflitos étnicos entre minorias da África e no Kosovo. Levas de Espíritos são resgatadas e encaminhadas aos hospitais da espiritualidade.

            Outra situação é a dos Espíritos enfermos que desencarnaram por enfermidades diversas mais ou menos longas, que são trazidas à psicofonia, manifestando suas dores, limitações funcionais e com a impressão de estarem ainda no leito de hospital, geralmente em enfermarias, onde permaneceram por muito tempo até serem resgatados. Espontaneamente os questionados por nós referem-se a inúmeros outros doentes que vivem em situações semelhantes no mesmo ambiente hospitalar. Uma vez confirmada esta realidade pelos próprios médiuns em tarefa, após o atendimento do caso inicial, dedicamos a etapa seguinte aos demais e com as técnicas e recursos pertinentes, os benefícios lhes são dirigidos, alcançando a todos, modificando suas condições perispirituais no próprio ambiente em que se demoravam, sendo, após, levados para os núcleos de assistência na espiritualidade. Já houve casos em que o mentor propunha o atendimento a determinados hospitais de nossa cidade para o encaminhamento dos Espíritos aí retidos. Tivemos oportunidade de atender processos semelhantes, mas de enfermos vitimados por epidemias como a peste bubônica na Europa, há vários séculos ou por suicídio coletivo de tribo indígena na Amazônia em 1991. A distância não impede que possamos atendê-los, bem como a defasagem de tempo entre o ocorrido e a data dos atendimentos.

            Por vezes, são trazidas vítimas de acidentes de avião, trens, terremotos, enchentes, incêndios, furacões. Tenham sido recentes ou esquecidos nos registros humanos, permanecem juntas e em profundo sofrimento, necessitando de energia externa para serem resgatados. Quando qualquer deste tipo de vítima é trazido procuramos dedicar uma etapa seguinte na busca de grupos de entidades com semelhante padecimento vinculados entre si e ao que foi trazido inicialmente. Busca tratamento ainda na região onde se deu a catástrofe e posterior encaminhamento.

            Uma última situação comum que gostaríamos de lembrar é a dos Espíritos aprisionados em regiões umbralinas ou trevosas por magos, gênios do mal, “dragões” e outras criaturas maléficas que, em suas bases edificadas, mantêm-se por séculos dominando e hostilizando aqueles mais enfraquecidos ou doentes. São vistas em masmorras, cavernas, ambientes infectos, em meio a roedores, morcegos, etc. Nesse caso, o coletivo se prende tanto às numerosas hostes dos obsessores hierarquicamente organizados em verdadeiros impérios do mal, como às de suas vítimas desencarnadas, sem falarmos do que atuam sobre pessoas e instituições na crosta da Terra. A hierarquia das trevas, também na nossa experiência, é algo impressionante e foi objeto de estudo por parte de Áureo no livro “Universo e Vida”, psicografia de Hernani T. Sant' Anna (edição da FEB). Para estas questões existem recursos tanto para resgatar destas prisões coletivas aqueles que lá são mantidos como para neutralizar a ação de seus algozes. Quando um de seus líderes é encaminhado, um número apreciável de vítimas, dos dois lados da vida, é liberado concomitantemente. Quanto maior seu poderio ou mais maléficos eles são, maior o benefício e o número de criaturas que se libertam quando de sua capitulação e afastamento definitivo, em relação aos que se lhes estavam subjugados. Chama-nos a atenção a quantidade, o conjunto de Espíritos ligado a cada caso, tanto no rol de seus asseclas como de suas vítimas encarnadas e desencarnadas. À guisa de exemplo, lembro-me de que, recentemente, em uma de nossas reuniões, compareceu pela psicofonia uma freira desejando falar-nos. Contava que ouvira dizer que poderíamos ajudá-la e expôs seu problema. Havia um grupo de crianças sob sua responsabilidade, mas que se detinha em região inferior sob influência de certo Espíritos trevosos. Sem entrarmos no mérito causal e aplicando recursos específicos, pudemos constatar a liberação e migração desse grupo de entidades na direção de um jardim, em torno de um hospital na espiritualidade em colônia próxima da crosta. A irmã acompanhou todo o atendimento até que a última criança lá chegasse e, emocionada, agradeceu. A edificação das trevas foi vista ruir ao impacto das vibrações de altíssima frequência dirigidas para lá.

            “Na desobsessão coletiva não se preterem quaisquer dos cuidados atinentes ao trabalho habitual de desobsessão como o preparo do médium, do coordenador, a estruturação do grupo, o diálogo fraterno, a prece, a fluidoterapia...”

            Como tratar as situações coletivas? Na medida que o coordenador passa a verificar atentamente, diante de cada caso que é trazido, a presença de outros Espíritos, como nos exemplos citados, seja por sua sensibilidade seja pela dos médiuns videntes do grupo, ele deve predispor-se a expandir o tratamento aos demais sem deixar de cuidar daquele que, escolhido pelo Mundo Maior, exatamente propiciará que todos se beneficiem. A frequência vibratória do comunicante, seja um enfermo, seja um prisioneiro numa base ou edificação das sombras, é um registro de identidade que ele irradia e que possui vínculos mente-fluido-magnéticos com todos aqueles que viveram (e ainda vivem) tal drama, tanto vítimas quanto eventuais causadores. Após a constatação e o diálogo iniciais, o coordenador deve projetar energia mental, consciente do que se passa com o grupo em questão, de tal modo que suas reais necessidades espirituais sejam atendidas, de forma a plasmar, por exemplo, a recuperação, integridade e saúde de seus perispíritos ou sua libertação dos liames que os mantinham cativo. Após esta etapa fundamental faz-se necessária a condução de todo o grupo para as regiões astralinas, onde estão os hospitais e zonas de triagem para que lá o tratamento tenha continuidade e se conclua, sob a égide dos benfeitores do Alto. A condução através de energia mental e vital emitida pelo doutrinador é acompanhada pelos médiuns até que se complete, certificando-se de que todos foram beneficiados e que efetivamente chegaram até lá. Cada grupo de trabalho conta com a cobertura necessária destes núcleos de assistência e guardam relação “geográfica” com sua localização na Terra.

            Não se preterem quaisquer dos cuidados atinentes ao trabalho habitual de desobsessão, como o preparo dos médiuns, do coordenador, a estruturação do grupo, o diálogo fraterno, a prece, a fluidoterapia... A energia vital do grupo, a coesão e solidez da corrente e o monitoramento pela vidência são essenciais. Alguém poderia questionar por que não se deixar para a Espiritualidade Superior realizar estas coisas no mundo espiritual. Pelas mesmas razões que não esperamos que eles façam e resolvam no mundo espiritual os atendimentos individuais, trazendo-os através da psicofonia.

            Lembramos ainda que esta abrangência que a atividade de desobsessão pode alcançar surgiu da experiência no trato dos casos individuais e foram acontecendo naturalmente na medida que notávamos o conjunto de entidades vinculadas a cada caso e nos propúnhamos a beneficiá-las.

            Queremos ressaltar que: 1) Processos obsessivos envolvendo grande número de vítimas ou algozes são comuns. 2) As situações pendentes, acumuladas na esteira do tempo abrangendo questões morais e cármicas, vinculando os seres entre si, são graves, frequentes e de enorme capacidade geradora de enfermidades e psicopatias humanas. 3) São, por isso, incomparavelmente maiores os benefícios advindos do tratamento coletivo. 4) Os recursos fundamentais para se estender o atendimento para grupos de Espíritos são os mesmos dos trabalhos bem orientados de desobsessão, acrescidos de alguns requisitos e condições. 5) Os recursos originados e trazidos pela Espiritualidade para esta expansão quali-quantitativa vão sendo acrescidos na medida que o grupo funcione com esta proposição. 6) É patente o interesse do Mundo Maior no sentido de que novos grupos se preparem para estes cometimentos, auxiliando na mais efetiva reversão de tão doloroso quadro moral de nosso orbe.

Referências Bibliográficas:

l. SANT’ANNA, Hernani T. pelo Espírito Áureo. ed. FEB, 1978.
2. MIRANDA, Hermínio C. Diálogo com as Sombras, ed. FEB. 1976.
3. AZEVEDO, José Lacerda, Espírito e Matéria. Novos Horizontes para a Medicina, ed. Pallotti, 1988.
4. KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns, ed, FEB 1993.
5. XAVIER. Francisco Cândido. Pelo Espírito André Luiz, ed. FEB 1946.




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