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quarta-feira, 8 de julho de 2020

A Alma do Progresso



A Alma do Progresso
Redação 
Reformador (FEB) 1º de Novembro de 1925

            Alguns filósofos evolucionistas, notadamente Spencer (Herbert Spencer 1820-1903 filósofo, biólogo e antropólogo inglês, um dos representantes do liberalismo clássico. Spencer foi um profundo admirador da obra de Charles Darwin. É dele a expressão "sobrevivência do mais apto." Fonte: Wikipédia), consideram a caridade como sendo uma falsa virtude, inútil, funesta e, por isso mesmo, um estorvo ao progresso da humanidade. Na opinião deles, a caridade é, pois, um mal, porque prolonga a existência dos indivíduos que não merecem viver. Os desventurados caquéticos, os viciosos devem desaparecer, para darem lugar aos indivíduos sãos e fortes.  
            Tentaram eles deduzir da observação da vida nas espécies inferiores, uma lei de ordem geral que abrange o homem e firmasse o princípio bárbaro do sacrifício dos fracos, dos tarados, dos indesejáveis, do rebutalho humano em benefício dos fortes. Tal doutrina é a do bem do indivíduo e da espécie, é o ego-altruísmo de Spencer. Mas, por brilhante que seja o renome do sábio materialista inglês, não podemos aceitar esse altruísmo utilitário, porque fazemos distinção entre o determinismo fatal das forças da natureza, ou entre as leis físicas, que governam a evolução das espécies inferiores, e a lei moral, que é o  imperativo categórico dos seres inteligentes e livres.
            Compreendemos que o filósofo deseje o melhoramento da espécie, objetivando a felicidade humana, mas indispensável é que a sua concepção do mundo se alargue e ele veja, além da substância, o Espírito, além do acaso, ou das forças da natureza, a suprema inteligência, causa de todas as causas. Porque o pensamento não pode alçar-se à compreensão dessa regência superior do plano espiritual da humanidade e do universo, imaginou possível a seleção, dentro da espécie humana, por meios violentos, que aberram da razão, do bom senso e da moral.  
            Até ao advento da renascença cristã – a era espírita - a humanidade vivera na ignorância da sua verdadeira razão de ser, das leis que prescreveram as diversas posições e desigualdades entre os homem. Hoje, porém, o Espiritismo lhe desvenda a sua alta missão, explica o por quê de tantos contrastes a causa da existência dos seres incapazes e inúteis. Ela, a humanidade, o crisol onde os Espíritos atrasados se purificam e sabemos que entre os dois planos - material e moral - há um nexo infalível. A medida que o Espírito se depura, a matéria, que é o instrumento do seu progresso, também evolui, aprimorando as formas.
            O moral se reflete no físico, plasma a substância na proporção exata dos méritos e deméritos do Espírito. Quanto mais inferior é uma humanidade, tanto mais copioso os contrastes, tanto mais numerosos os males físicos. 
            Na humanidade superior, dominada pelo ideal, a perfeição das formas está na razão direta da beleza moral. Nela tudo é ritmo, porque o Espírito deixou nas camadas inferiores, onde viveu e se purificou, todo os resíduos das paixões cegas.
            Ora, para, a humanidade chegar a essa altura, a que foi destinada, de que há ela mister? Porventura de banir a caridade do computo da atividade humana? Considera-la falsa virtude, inútil e funesta? Não, certamente.  
            A caridade é o buril das raças e dos povos bárbaros; é a domadora das almas rudes;
é, enfim, a água que limpa todas as manchas, na frase de Pedro, o apóstolo.
            Não nos referimos, está claro, à caridade da esmola. Queremos falar daquela que toca a alma dos desgraçados, dos pervertidos, dos párias do mundo, que os encoraja para a luta e os regenera.
            E, se na verdade, não se concebe caridade sem justiça, porque são uma entidade mesma, evidente que o homem, desde a sua origem, a conhece. Ele vem marchando, desde todos os tempos, ao lado de uma companheira constante, ora com ela subindo a montanha aspérrima da purificação, ora rolando pelos despenhadeiros.
            É a dor. Sob o seu manto se escondem a justiça, que corrige, e a caridade, que amansa. Ambas falam ao homem pela sensibilidade: ora defendem, ora estimulam, ora purificam.   
            A caridade é o poder máximo que faz golfar das rochas vivas a pura linfa do sentimento. Ela é a realeza dos céus e o manto de toda a dureza. Onde pousa, deixa indelével traço. Se as feras indomáveis não lhe resistem, se os irracionais não esquecem as blandícias de seus afagos, poderia o Espírito ser o único rebelde?
            A caridade é o amor de Deus, unindo as almas, cobrindo todos os abismos que as separam, modificando todos os meios onde vivem. Seja agente, seja paciente, a caridade beneficia sempre.
            Finalizando, diremos com Gaston Sortais: “De outra maneira, nem a família nem a sociedade poderia subsistir. Uma humanidade composta de cidadãos fortes e robustos, unicamente unidos pelo interesse, seria mera coleção de belos animais, constituiria uma humanidade moralmente depravada. Vale mais que ela seja fisicamente menos perfeita, onde, porém, brilhe a caridade e o devotamento. Esta a beleza excelsa, a perfeição verdadeira.” (1)

(1) Gaston Sortais, Traité de philosophie” vol II, § 65

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