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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

VI. 'Apreciando a Paulo'


VI
‘Apreciando a Paulo’
      comentários em torno
    das Epístolas de S. Paulo
   por Ernani Cabral

            Tipografia Kardec - 1958


Ora o Senhor encaminhe os vossos corações
na caridade de Deus e na paciência de Cristo.
Mando-vos, porém, Irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo,
que vos aparteis de todo irmão que andar desordenadamente,
e não segundo a tradição que de nós recebeu,
Porque vós mesmos sabeis como convém imitar-nos,
pois que, não nos houvemos desordenadamente entre vós,
Nem de graça comemos o pão de homem algum,
 mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e dia
 para não sermos pesados a nenhum de vós.
Não porque não tivéssemos autoridade,
mas para vos dar em nós mesmo exemplo, para nos imitardes.
Porque quando ainda estávamos convosco,
vos mandamos isto que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também.
.:Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam
desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs.
A esses tais, porém. mandamos e exortamos por' nosso Senhor,
Jesus-Cristo que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão.
E vós, irmãos, não vos canseis de fazer bem.”
2ª Epístola aos Tessalonicenses, 3-5 a 13.


            “Dize-me com quem andas e eu te direi quem és”, reza a sabedoria popular.

            O apóstolo dos gentios recomenda “que vos aparteis de todo irmão que andar desordenadamente”, e não segundo os bons costumes.

            Esta lição é sobretudo para os moços. As boas companhias servem de estímulo e de exemplo. Enquanto que os maus, os irreverentes, os que não cumprem os seus deveres e andam por caminhos escusos, prejudicam e corrompem os caracteres em formação. A faculdade imitativa é peculiar aos jovens, mesmo que de tal não se apercebam.

            Assim como o estilo é, geralmente, o fruto da assimilação, decorrente das leituras feitas, o caráter também sofre influências, muitas vezes decisivas, das companhias que a pessoa tenha ou com as quais conviva.

            Os fatores mesológicos, isto é, as persuasões, excitações e exemplos do meio ambiente, comunicam-se e são naturalmente seguidos.

            As concepções de vida, os gostos e as ideias de um grupo tem profunda influência em todos os seus componentes. Daí porque Paulo, com a sabedoria que lhe foi incutida pelo Espírito Santo, recomendou aos cristãos, como norma de conduta, afastarem-se dos que andam, por maus caminhos, isto é, dos que não procedem bem.

            As leituras possuem também influência preponderante na formação do caráter. Os livros incutem ideias, dão juízos especiais sobre as coisas e despertam inclinações ou pendores.

            Portanto, devemos tratar da higiene mental, procurando ler, d epreferência, aquilo que possa servir para nossa edificação moral.

            Quanto ao trabalho, Paulo o aconselha e o abençoa. Nós, espíritas, bem sabemos que “o trabalho é uma prece”. Estimula faculdades, serve de distração e é proveitoso a quem o exercita. A inércia ou a preguiça, ao contrário, gera a indolência e é fonte de outros pecados ou de várias imperfeições.

            A sabedoria antiga dizia que “a mulher deve viver de mãos ocupadas”. As que nada querem fazer acabam por se interessar somente com a sua vaidade, com o luxo e com as coisas fúteis. Por outro lado, o homem ocioso é um inútil, um peso morto para a sociedade. Por isto, Paulo foi categórico e rigoroso: “Se alguém não quiser trabalhar, não coma também.” E acrescentou: “Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando; antes fazendo coisas vãs. A esses tais, porém, mandamos, e exortamos por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão.”

            O Apóstolo realça ainda, sua conduta e sua operosidade, “trabalhando noite e dia para não serem pesados” aos demais. Frisa que o fazia para que servisse de exemplo a todos os cristãos achando que, só se deve ganhar remuneração através do trabalho honesto e perseverante. Ele era apóstolo mas não quis viver à custa de dízimos, nem da benemerência alheia... Este foi o seu exemplo!

            Está no começo da transcrição que acima fizemos:
                       
            “O Senhor encaminhe os vossos corações na caridade de Deus e na paciência do Cristo.”

            Tudo, verdadeiramente, se resume na caridade, vale dizer, no amor.                           

            O mandamento é “ama a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a ti mesmo. Nisto se resumem as leis e os profetas.” (Mateus, 22:37 a 40)

            Assim, o Divino Mestre prescreveu amar ao próximo, tanto quanto a nós mesmos.

            Ora, quem não procura as boas companhias, quem não trabalha ou estuda e não se esforça em prol do bem, deixa de ter amor para consigo mesmo, porque resvalará pelo mau caminho, tornando-se improdutivo e viciado.

            Por isto, Paulo deseja que o Senhor encaminhe nossos corações “para a caridade de Deus e a paciência de Jesus”. Aliás, esta grande virtude, a paciência, é uma das características do cristão, devendo ser exercitada tanto no lar como na sociedade.

            Quem não tem paciência não é caridoso, nem generoso, nem humilde, já que precisamos saber suportar e tolerar as imperfeições de nossos irmãos.

            Se todos tivessem o mesmo nível mental, se todos possuíssem o mesmo entendimento e os mesmos gostos, não haveria oportunidade de as virtudes serem postas à prova.

            Somos diamantes brutos que nos lapidamos pelo rostir recíproco, pelo atrito de nossas ideias, de nossos atos e de nossos pontos de vista. Nesse burilamento, é mister que nos portemos como cristãos, isto é, com tolerância, humildade e paciência, já que nem todos podem compreender as coisas do mesmo modo, e precisamos respeitar as concepções alheias, pois não devemos querer escravizar os outros às nossas ideias, por mais acertadas que sejam. Convém respeitemos o livre arbítrio de nosso semelhante, assim como Deus respeita o nosso! Destarte, os próprios filhos, encaminhemo-los na vida, porém sem lhes impor nossos pontos de vista com exigências descabidas ou com impertinências, mas ensinando-os com amor.

            A caridade de Deus, a que o apóstolo se refere, assim no lo exige. Por outro lado, também não é acertado fugir do mundo, mas tão somente das más companhias ou das más leituras, porque elas são capazes de perverter.

            Meditemos nos ensinamentos de Paulo. Leiamos suas epístolas, que se abeberaram na mesma fonte de água viva, que dessedenta os espíritos, tranquilizando os corações, e que é Jesus, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, na frase expressiva de João Batista.      .

            ´”E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem.”

            É pela bondade que se conhece o espírita, vale dizer, o cristão, ou aquele que adora a Deus “em espírito e verdade”. Este é um regenerado e procura fazer o bem, toda a vez que se lhe oferece oportunidade. Porque o Cristo de Deus quer de nós somente isto: que melhoremos nossos corações para sermos felizes!

            O caminho está em seus ensinamentos, a cujos princípios Paulo sempre se refere, dando-lhes o testemunho da fé viva e profunda, que foi demonstrada através de seu exemplo dignificante, vale dizer, por suas obras sinceras e generosas, jamais desmentidas, desde que se encontrou com o Senhor Jesus na estrada de Damasco.

            Paulo comentou as lições do Divino Mestre, que perdurarão por toda a eternidade, chamando ao aprisco as ovelhas desgarradas e traçando o roteiro de luz ao seu rebanho.

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