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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Irreversibilidade do Tempo


Irreversibilidade
do Tempo
por Inaldo Lacerda Lima
in Reformador (FEB) Jan 1994

            O tempo é irreversível. O minuto que passou não mais retomará, nem aqui nem alhures. Talvez, por isso mesmo, nos mundos felizes ou no espaço absoluto o tempo seja inexistente, e os seres inteligentes vivam o eterno presente.

            Dizemos espaço absoluto a fim de tentar um conceito de tempo sem relatividade ou sucessão das coisas que nos liguem à eternidade. É que dentro da eternidade as coisas não se sucedem. Elas são ou estão. Isso é tudo.

            O tempo diz respeito a quem está em marcha e percebe que as coisas não são fixas ou permanentes. Eis por que no ser inteligente há ânsia; há busca; há desejo de renovações e estabelecem-se dúvidas ou incertezas. Vive-se ao sabor das surpresas do caminho.

            É o caso da felicidade. Somos felizes ou infelizes, até o instante em que percebemos a insatisfação ou por ela somos surpreendidos, ou despertados para a realidade do que efetivamente somos. Julgamos então haver descoberto o nosso equívoco quanto à felicidade que pensávamos haver alcançado, ou concluído que não éramos tão infelizes quanto supúnhamos. E, nesse sentido, quanto mais imperfeito é o indivíduo, maior é a soma de suas insatisfações e menos estável a sua felicidade.
           
            Jesus, o sábio dos sábios, falando com absoluto conhecimento de causa, afirmou perante Pilatos: "O meu reino não é deste mundo." Mas Pilatos, que o sabia inocente, conhecia o veneno do sacerdotalismo organizado de seu tempo, não quis pôr em risco o seu insignificante "reinado", a sua equivocada felicidade, deixando o inocente entregue à sanha dos maus.

            Jó, no Antigo Testamento, percebendo o estado miserável em que caiu, exclamou, desolado: "Sobrevieram-me pavores; como vento perseguem a minha honra e como nuvem passou a minha felicidade" (Jó, 30: 15).
           
            Com esse introito, desejamos refletir, com os companheiros que nos lerem, a respeito da irreversibilidade do tempo e os vaníssimos propósitos de retardamento da nossa marcha em favor de qualquer presunção de felicidade material, neste mundo-escola em que vivemos graças à misericórdia do Pai...

            Somos espírita e, por enquanto, aqui, só para espíritas falamos. Falamos principalmente àqueles que, como nós, um dia se sentiram frustrados diante da pretensa felicidade. O que, na verdade, contribuiu para a formação da convicção de que felicidade é algo que construímos dentro de nós e que nada tem a ver com supostos bens materiais e passageiros.

            A bem da verdade, o que intitulamos de felicidade não passa de algum conforto ou bem-estar muito relativo a que não devemos dispensar exagerado apego.

            Logo, não compensa retardarmos nossa marcha na direção da eternidade em função da valorização excessiva dos bens materiais deste mundo, diante dos quais nosso papel não deixa de ser de meros administradores. Retardar é perder tempo.

            O tempo é irreversível, dissemos. A perfeição que buscamos alcançar pela exercitação diuturna do Evangelho, enquanto acertamos as nossas contas com a justiça divina, conduz-nos direta e ininterruptamente ao gozo dos bens eternos e inconspurcáveis do Espírito. Perder tempo é, pois, obstaculizar a caminhada no roteiro da Luz.

            Deus nos outorgou, como espécie de instrumental de alertamento contra possíveis tendências a qualquer descontinuidade na marcha evolutiva, a possibilidade de acompanhar e sentir o espetáculo dramático das dores do mundo, onde, por vezes, somos constrangidos a identificar-nos com algum de seus personagens. Acentua-se-nos, então, a convicção de que o homem é o construtor de seu próprio destino.

            Se as dores do mundo são consequência da ignorância moral e espiritual da Humanidade como um todo, surge, em nós, no âmago da consciência, interessante indagação: como ajudar os homens no reconhecimento de sua responsabilidade na mudança de cenário tão desolador?

            E se nós espíritas, depositários, pela bondade divina, da Terceira Revelação - instrumento de agilização do processo regenerador do Orbe, deixando-nos influenciar pela aparente presença de "alguns bancos com sombra na estrada do progresso", resolvermos interromper a marcha, a título de descanso oportuno? Quem o fizesse cometeria tão grave equívoco que dificilmente se perdoaria perante o tribunal da consciência.

            É preciso retirar o Planeta do caos do materialismo e, para isso, o seu Governador conta com a colaboração, hoje, daqueles que, ontem, fomos, também, instrumentos de erros e destruição. Despertos, agora, do sonambulismo obliterador da consciência, eis-nos convocados para trabalhadores da vinha do Senhor na seara bendita.

            Portanto, não nos sentimos à vontade para "fugir" do trabalho ou produzi-lo com menos devotamento, embora possamos fazê-lo, no exercício errôneo do livre-arbítrio. Ele existe e nos pertence como outorga divina, mas sob a condição de respondermos pelo modo como o utilizarmos.

            Abrimos o livro "Obras Póstumas", em sua Segunda Parte, e encontramos, na página 299 da 13ª edição FEB, a Comunicação intitulada Minha Volta, que revela ter sido o Codificador informado pelo Espírito de Verdade quanto ao seu retomo ao mundo físico, tempos depois de sua desencarnação: "Não permanecerás longo tempo entre nós. Terás que volver à Terra para concluir a tua missão, que não podes terminar nesta existência" E, desse diálogo, guardamos uma frase que muito nos tem ajudado como alertamento em benefício de nossos próprios passos na condição de espírita, neste mundo. Eis a frase, que colocamos em desta que:

            "SE FOSSE POSSÍVEL, ABSOLUTAMENTE NÃO SAIRIAS DAÍ; MAS É PRECISO QUE SE CUMPRA A LEI DA NATUREZA."

            Reflitamos: "Se fosse possível, absolutamente não sairias daí." Que isso quer dizer? Significa que o Governo deste Orbe tem pressa! Não fora a necessidade de cumprir-se a lei da Natureza, Kardec não teria desencarnado. Todavia, para fazer face ao interregno forçado voltaria em condições que lhe permitiriam trabalhar desde cedo, isto é, desde a juventude.

            O que nos chama a atenção em tudo isso, já o expressamos: o Cristo tem pressa. Ele, mais do que ninguém, conhece, como Governador da Terra, a irreversibilidade do tempo. Ninguém deve perdê-lo em vão, mormente quando se é reconhecido à amorabilidade divina.

            Efetivamente, o tempo urge. Sempre o temos afirmado em muitos de nossos escritos.

            Desde o instante de nossa estreia nas fileiras da Doutrina-Luz, temos notado os espíritas acenarem, impressionados, para a aurora do Terceiro Milênio. E o Terceiro Milênio aí está a apenas seis anos, na curva ininterrupta do tempo. E, apesar disso, há muitos trabalhadores, dentre os convocados para a Vinha, estacionados à margem do tempo. E o tempo é irreversível...



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