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terça-feira, 13 de agosto de 2013

2f. e 2g. 'Apreciando a Paulo'


2f
‘Apreciando a Paulo’
      comentários em torno
    das Epístolas de S. Paulo
   por Ernani Cabral

Tipografia Kardec - 1958

            Por vezes enfrento com ardor o problema dos dogmas e outros como o da mercantilização das coisas religiosas, fato que reputo assaz condenável. Mas não me tomem por iconoclasta, que tenha o prazer de desrespeitar as crenças alheias. Por mais irreverente que pareça - pois a verdade precisa ser dita corajosamente e sem rebuços - respeito muito o ponto de vista ou a religião de meu semelhante, porque sei que tudo está condicionado ao grau de percepção ou de entendimento de cada um. Ademais, o espírita considera a todos – católicos, protestantes, budistas, judeus, maometanos e até ateus - como seus irmãos, certo de que, quando Jesus disse "amai-vos uns aos outros", não excluiu a ninguém desse amor, que se deve aprender a dispensar a todos, indistintamente, Assim, nós espíritas, a ninguém anatematizamos, convictos de que não é a religião que salva mas a conduta. E temos ainda o bom costume de orar, em nossas reuniões, por toda a Humanidade, sem preferência de crença, de raça ou de pátria.

            Assim, confesso e reconheço que qualquer religião de moral elevada (e quase todas são assim), desde que praticada com sinceridade, poderá levar à salvação, pois o principal é o amor.

            Mas permitam-me examinar o que seja o amor, do ponto de vista evangélico ou qual a sua exata extensão. Seja este o término do presente prefácio, que vai longo e que pretendo encerrar com uma prece ao Pai Celestial, a Quem tudo devo.

            A procura da verdade é manifestação do amor que daremos a nós mesmos; assim como a transformação moral é caridade que fazemos a nosso Espírito.

            O processo de elucidação ou de esclarecimento próprio é tão importante que Emmanuel põe na boca de Paulo as seguintes palavras:

            "Poderemos atender a muitos doentes, ofertar um leito de repouso aos mais infelizes; mas sempre houve e haverá corpos enfermos e cansados, na Terra. Na tarefa cristã, semelhante esforço não poderá ser esquecido, mas a iluminação do Espírito deve estar em primeiro lugar". (Paulo e Estevão", pág. 238).

            Muito irmão pensa que basta fazer caridade aos necessitados, pois que isto é suficiente à salvação; mas se esquece do amor que deve a si mesmo, uma vez que o mandamento é: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo". (Mateus, 22:39).

            Desta forma, acompanhar qualquer linha onde se faz caridade aos outros, mas onde se deturpa a doutrina espírita, é contribuir para a confusão ou para o erro, em nome de um amor bastante imperfeito, que quase sempre é praticado com alarde, fora do Evangelho, uma vez que a lição de Jesus é esta:

            "Guardai-vos de fazer a esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.
            Quando pois deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
            "MAS, QUANDO TU DERES ESMOLA, NÃO SAIBA A TUA ESQUERDA O QUE FAZ A TUA DIREITA;
            Para que a esmola seja ocultamente; e teu Pai, que vê em segredo, te recompensará publicamente. (Mateus, 6:1 a 4).”

            Deste modo, que as palavras acima transcritas, de Nosso Senhor Jesus Cristo, sejam ponderadas por pessoas que pensam ser suficiente fazer a caridade com todo alarde, para que os outros admirem as obras que eles estão conseguindo realizar, mas divulgando um Espiritismo “eclético”, que eles mesmos inventaram... Não estou julgando, mas apenas apontando o Evangelho, a respeito mesmo da caridade.

            Vale ainda recordar a palavra sábia do Divino Mestre:

            "Nem todo o que diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do Pai, que está nos céus.” (Idem, 7 :21).

            E a vontade do Pai é que amemos o próximo, mas que também manifestemos amor a nós mesmos, procurando a verdade, lutando por ela e buscando ainda nossa própria transformação moral.

            Mas o Cristo de Deus prosseguiu no ensinamento:

            "Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônio? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?
            E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim vós que praticais a iniquidade" (Mateus 7:22 e 23).

             Por conseguinte, é necessário, é mesmo imprescindível, que o espírita examine, sinceramente, sua conduta pessoal e ainda, o meio que frequenta, para ver se, em nome de uma caridade mal compreendida ou mal praticada; ele não estará contribuindo para o erro ou para a iniquidade.

2g
‘Apreciando a Paulo’
      comentários em torno
    das Epístolas de S. Paulo
   por Ernani Cabral

Tipografia Kardec - 1958


            A verdadeira rota é o Espiritismo cristão, codificado por Allan Kardec. Fora daí também há salvação; mas onde existe o erro é mais fácil o desvio... ou a inobservância dos ensinamentos de Jesus.

            Kardec foi o Espírito missionário encarregado pelo Cristo para colher as lições do Espírito Santo e oferece-las como farol ou como rumo. Não sou eu quem diz, mas Emmanuel, Bezerra de Menezes, André Luís, Humberto de Campos e todos os verdadeiros Mensageiros do Senhor, que se comunicam com os homens de boa vontade. É a "Federação Espírita Brasileira" que o afirma e todas as Federações dos Estados a ela filiadas. Nunca é demais que se repita isto para evitar que alguns irmãos se desviem da prática legítima do Espiritismo.

            Mas Allan Kardec nada inventou, pois se limitou a consignar em suas obras as respostas que os Espíritos Superiores deram às inteligentes perguntas que formulou. Seu mérito foi apenas o do investigador honesto, que procurou e encontrou a verdade, na expressão maior de seu tempo.

            Negar valor à obra construtiva e orientadora do Codificador, é ser cismático, contribuindo ainda para a confusão que os "falsos profetas" estão espalhando nestes últimos tempos, às vezes como lobos vestidos de ovelhas.

            E foi Jesus mesmo quem advertiu:

            "Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores". (Mateus 7:15).

            Mas nós precisamos ter pontos doutrinários de referência, não podemos crer em qualquer Espírito, conforme disse ainda São João (I João 4:1). E esses pontos doutrinários que nos devem servir de referências ou de bússola, são as palavras de Jesus e de seus apóstolos e ainda, as interpretações dadas ao Novo Testamento pelo Espírito Santo, de quem Allan Kardec foi arauto, nos tempos prescritos.

            Como ensina Allan Kardec, a prática do Espiritismo é coisa muito delicada, compara-se a experiências químicas, que o homem não deve procurar sem certos conhecimentos e sem a devida cautela. Todavia, aquela prática é muito útil, quando bem orientada.

            O Espiritismo é essencialmente dinâmico ou evolutivo, não parou em Kardec, como ele mesmo previu. Mas Kardec continua sendo e será sempre, na Terra, o Codificador da doutrina espírita, de maneira que, qualquer expressão evolutiva do Espiritismo, de hoje ou de amanhã, terá de se alicerçar em Jesus e em Kardec. Fora daí, há mediunismo, mas não Espiritismo cristão.

            Reconhecemos que há muita gente de boa fé e até mesmo alguns espíritos bons metidos em certas linhas. Nada condenamos e não temos o direito de fazê-lo, pois os degraus são muitos. Mas cada um responderá pelos seus atos e ainda pelos erros a que conduzir os seus irmãos, mesmo porque o fanatismo, que algumas linhas gera, é muito prejudicial a todos. Mas aí estão os Evangelhos e a literatura espírita para esclarecer e encaminhar os homens. Para isso é preciso o estudo e reflexão. Podemos ser amigos de alguém, porém devemos ser mais amigos da verdade. Assim, não devemos transigir com o erro de quem quer que seja, mesmo que nos mereça o melhor apreço pessoal. Já examinei certas linhas, já as estudei bastante e tenho amigos e confrades queridos nelas todas. Mas não tenho o menor receio de escrever o que estou escrevendo, porque precisava afirmar tudo isto em nome de Jesus ou da Verdade, a que procuro servir com a maior sinceridade de meu coração.

            A literatura espírita é escrita, geralmente, em linguagem encantadora, sobretudo as obras de Léon Denis e as psicografadas pelo grande médium brasileiro Francisco Cândido Xavier. Sua argumentação é tão impressionante e tão clara, que alguns religiosos intolerantes proíbem sua leitura, negando validade ao salutar ensinamento de Paulo, inserto na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, 5:19 a 21:

            “Não extingais o Espírito.
            Não desprezeis as profecias.
            EXAMINAI TUDO. Retende o bem".

            Se São Paulo recomenda aos cristãos que examinem tudo e que escolham o que for bom, nenhuma igreja ou agremiação religiosa cristã tem o direito de negar cumprimento a tão sábio conselho de um apóstolo do Senhor.

            A liberdade de pensamento, como a liberdade da palavra, escrita ou falada, são aquisições do Espírito humano, asseguradas até pelas Constituições dos países democráticos, como verdadeiras conquistas da própria civilização!

            Ninguém deve amordaçar as consciências, nem querer se impor pelo pavor ou por imposições descabidas. O livre exame das coisas é direito sagrado do homem e foi o próprio Paulo de Tarso quem disse que ONDE ESTA O ESPÍRITO DO SENHOR AÍ HÁ LIBERDADE (lI Cor., 3:17).

            Portanto, errarão quaisquer igrejas que, dizendo-se cristãs, neguem autoridade e cumprimento às palavras santas de São Paulo.

            Mas, se estou inteiramente convicto, através do raciocínio, do estudo acurado sobre as diversas religiões e em face das inúmeras provas que - mercê de Deus - tenho tido, de que o Espiritismo é a terceira revelação celestial, sinto-me no imperioso e indeclinável dever de difundir seus ensinamentos, agradecendo a Jesus e a Paulo, como ao Espírito Santo, o haverem incutido em minh'alma tão sólida e inabalável certeza.

            Agradeço ainda à "Federação Espírita do Rio Grande do Sul" a generosidade para com meu pobre Espírito, paraninfando a publicação desta obra, fruto de minhas meditações e de meus minguados conhecimentos doutrinários.

            Permita o Pai Celestial que agora, com o Espírito de joelhos, Lhe ofereça este livro, dizendo:



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