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sexta-feira, 2 de setembro de 2011

'Cantos Cármicos'


Cantos Cármicos

     Karma é uma palavra sânscrita que quer dizer “ação”, mas é empregada em Espiritualismo para expressar a lei e causa e efeito, segundo a qual toda ação produz um efeito na vida do agente, no presente ou no futuro próximo ou remoto, estendendo-se esses efeitos pelas diversas encarnações do Espírito.
           
          O melhor resumo que eu conheço dessa doutrina de “Karma” ou “Carma” é um poemeto que eu sei de cor. Diz:

            “Como um oceano de cordas de ouro, tece-se em rede entrançada por todo o universo como única unidade, a lei do destino, severamente justa e sem nenhum fim.
            Nem mesmo um universo inteiro seria capaz de impedir a ação do menor dos pensamentos. Se foi lançado um pensamento, ele vibrará eternamente para criar a sorte, de conformidade com a lei cósmica.
            E nenhuma ação, por mais simples que seja, será algum dia esquecida. Um dia, voltará a quem a praticou, como onda de resgate da sorte.
            Portanto, não amaldiçoes a tua sorte, mesmo que ela te fora rigorosamente; porque ela consiste somente das dores que tu mesmo anteriormente causaste.”

            Como vê, não só a ação material, mas também o pensamento e, portanto, a palavra, formam o destino, segundo essa lei cármica, tanto para o bem como para o mal.
            
            Quando minhas queridas netas tiverem madureza bastante para estudar a lei de carma, poderão encontrar essas lições em revistas do meu tempo ou talvez em livro.
       
              Talvez elas perguntem:

            “Se a lei é inexorável como ensina a filosofia hindu, então, por que N. S. Jesus Cristo, na Oração Dominical, nos ensina a pedir perdão a Deus de nossas dívidas cármicas?”
          
            Respondo: Ele nos ensinou a pedir: “Perdoa as nossas dívidas como nós perdoamos as ofensas que recebermos, para que Deus nos perdoe; porque recebendo as ofensas e perdoando sempre, estamos pagando as dívidas antigas, sem contrair novas dívidas. Estamos vencendo a nós mesmos.

            “O perdão de Deus, portanto, é o auxílio que Ele nos concede para vencermos o passado de erros e pecados e construirmos para nós mesmos um futuro feliz. Deus não revoga Suas sábias leis, mas nos ajuda a cumpri-las, para nosso próprio bem.”
           
            Deus não pune. Ele “castiga” para salvar. Cast-ig-ar, quer dizer “tornar casto ou puro”.

            A Justiça da Lei tem por finalidade corrigir nossos defeitos. Não se pense que basta perdoar ao ignorante por não ter estudado a lição para que ele fique sabendo a lição que não foi apreendida. É preciso ajudá-lo a aprendê-la, e a ajuda para o recalcitrante e preguiçoso é o castigo menor, para que ele não sofra o castigo maior, de vida inteira: de conservar sua ignorância sobre matéria que ele precisa saber.
          
           Em suma, pela Lei de Karma, tudo que fazemos, dizemos ou pensamos, virá a recair sobre nós mesmos, formando nosso destino. Diz-se “o homem é o artífice de seu próprio destino”.

            O Cristianismo ensina com outras palavras a mesma lei. Jesus resumiu assim a Lei:

            “Tudo que desejares que os homens te façam, faze-o tu também a eles; porque nisso consistem a Lei e os Profetas” (Mateus, 7:12).
          
             Toda a Religião, portanto, expressa pela Lei e pelos Profetas, está contida nesse simples ensinamento de Karma, segundo as palavras de N. S. Jesus Cristo.
         
            Para exemplificar o que ensinou, Ele não reagiu contra os maus, não se defendeu, deixou calmamente que o caluniassem, prendessem, açoitassem, crucificassem, sem ter contra eles um pensamento ou uma palavra de revolta, contra todas as injustiças que os maus lhe quiseram fazer.
         
            Depois lhes reapareceu, brilhante e vivo como dantes, para lhes demonstrar, pela ressurreição, que a vida não é o corpo que eles perseguiram: a vida é eterna e indestrutível, porque é a centelha de Deus que anima e vivente.
          
            Diante da Lei de Karma, há pessoas que consideram inútil a prece. É erro grave assim pensar, porque a prece é ato de humildade, pelo qual reconhecemos nossa pequenez
Diante do Criador, a quem tudo devemos, e nossa humildade nos ajuda a vencer os efeitos penosos da Lei de Justiça perfeita.
         
           Além disso, a melhor prece não é pedido, é agradecimento, e nos põe em afinidade com os bons que nos ajudam a melhorar nossas próprias qualidades e vencer nossos defeitos.
           
           Devemos orar sempre. A oração nos eleva espiritualmente, nos põe em afinidade com os bons espíritos, nos aproxima da perfeição, nos fortalece na dor e nas provações.
          
           Não orar é uma arrogância do orgulhoso que supõe poder tudo sozinho, quando a verdade é que nada podemos sem o auxílio dos outros: nascemos na dependência, vivemos em dependência, morremos em dependência.
       
          A prece é uma das grandes forças da natureza. O grande médico Alexis Carrel escreveu um livro sobre o poder da prece na cura de doenças incuráveis para a medicina. Ele viveu nos hospitais e observou que em muitos casos já perdidos para a medicina, a prece operou o milagre da cura do moribundo
          
          Há muitos outros médicos que atestam o poder da prece para curar doenças incuráveis.
      
         Outros atribuem essas curas à fé e à auto-sugestão, o que vem a dar no mesmo.
   
         O pensamento é uma força criadora ou demolidora, e na prece o pensamento se torna mais poderoso, mais operante.
        
         Devemos orar sempre, por nós mesmos, pelos nossos parentes e amigos, e mais ainda pelos nossos inimigos, pelos vivos e pelos mortos, pelos bons e pelos maus ou infelizes. Ser mau é uma grande desgraça. 

        Precisamos socorrer os maus com as nossas orações, para que eles melhorem.

Ismael Gomes Braga
in “Cartas a Laura” (1ª Ed Floresta 1998)




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