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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

57 'Trabalhos do Grupo Ismael'


57


SESSÃO DE 10 DE JULHO DE 1940


Manifestação sonambúlica


            Segunda do Espírito que se apresentara como companheiro Miguel, seu imediato no comando das falanges que aquele chefiava.


Médium: J. CELANI


            Espírito. - Boa noite
            Diretor: Que a paz do Senhor seja contigo.

            E.- Cansado da luta pelo ideal espanta-me o interesse do frade e do seu lugar-tenente em atrair-me para o seu bando. E que fenômeno singular! Já não vejo a minha legião de combatentes; entretanto, ouço-lhe o vozerio de espanto e indignação. Desertor! Eles não compreendem que a minha vontade nada pode, estando eu, como me acho, com a visão tolhida e o entendimento perturbado, incapaz de concatenar ideias e formular planos para libertar o meu eu deste ambiente de fogo em que foi projetado!
            Mas, porque essa violência em meu nome, quando a minha ação tinha por escopo unicamente trabalhar pelo Cristo dentro de seus templos? Podeis, porventura, dize-me qual a razão esse ato violento de pensar e de agir?
           
            (O diretor lhe pondera que nada ocorre à revelia de uma lei perfeitamente sábia, de justiça divina; que, se ele propugnasse um ideal de paz e felicidade a bem da humanidade, que é a rebanho do Cristo, sem dúvida não veria tolhida a sua ação; que esse tolhimento indica que, devido á sua incompreensão da imanência daquela lei, ele próprio se colocara em estado de não poder definir e orientar a sua ação. Pondera-lhe que todos temos o livre arbítrio, mas livre arbítrio de criaturas, subordinado ao do Criador, isto é, condicionado pelas suas leis sábias e imutáveis. Pergunta-lhe se pode afirmar que o seu ideal era capaz de prover a felicidade do rebanho do Senhor, implicando a satisfação de todas as consciências. Pergunta-lhe se acha que Deus o abandonaria, caso assim fosse).

            E. - Jurei bandeira nas hostes do Catolicismo, nos tempos de antanho, quando esse juramento era filho de convicções espontâneas e não forçado. Não sei se a Igreja é, de fato, a depositária da Verdade, porque nesse terreno o meu estado atual abalou o conhecimento que eu possuía da verdade. Mas, penso e considero que minha alma, sincera e fervorosa no trabalho em prol da humanidade, não pode negar ou combater essa Igreja)

            E. - Porém, o Cristo foi crucificado, imolado por essa maldade que nós queremos extirpar do mundo.

            (O Diretor lhe observa que, assim procedendo, ele se colocava em oposição ao Cristo que, como acabara de ser estudado, disse não ter vindo ao mundo para julgá-lo, mas para o salvar).

            E. - Realizar! realizar a obra do Cristo no coração do homem! Como?
           
            (O Diretor cita a passagem do Evangelho de João que pouco antes fora estudada).

            E. – Sim, eles dizem que o lírio brota do monturo, que o anjo surge do homem imerso na podridão dos vícios. Mas entre os homens e o anjo, há o interregno do tempo. Eles falam assim, porque têm a liberdade de pensar; porque viajam pela amplidão, comtemplando a natureza e lendo, nos quadros que não vejo, as verdades que esclarecem.
            A Igreja, a sua infalibilidade, a sua missão, a sua obra de séculos, postas por terra, envolvidas no esterquilínio (imundície) dessa humanidade criminosa? Para surgir o que? O caos, a desordem, o crime, a anarquia, que já contemplamos no vosso plano? Para isso é que me acorrentaram a esta situação?
            Isso dizes tu (dirigindo-se ao Espírito que procurava esclarece-lo), dizes tu, livre e feliz, alma cândida, como se depreende dos teus traços fisionômicos, de todo o teu aspecto.

            (Após breve silencio):
            Sim, quando o viajor atingir o cimo da montanha e se lhe diz: desce, volta, parece te fácil que ele se disponha a volver ao passado, a retomar o caminho percorrido, cuidadoso em evitar os atalhos perigosos e os abismos, para chegar ao pouso de salvação, depois de ter carregado às costas o peso de todas as responsabilidades assumidas? Apagar estigmas, substituir cada miséria por um ato de virtude, a fim de conhecer a doutrina que o Cristo personifica e que, implantada no coração do homem, é o seu único juiz, dizes. Que beleza! Mas, ao peregrino trôpego, sem Cireneu, em trevas, sem bússola, que é o que o espera, senão escolhos, abismos, vales profundos e sombrios?
            Então, só depois disso, com a túnica do levita, após escalar novos caminhos, é que lhe cabe colaborar na edificação da Igreja do Cristo? Reedificar, dizes, sobre os escombros dos templos refulgentes de riquezas, os templos simples da humanidade e da fé! Que beleza! Quanta poesia! Templos onde as almas simples possam exteriorizar a essência do sentimento cristão, em hosanas ao Salvador do mundo!
            Ouvi tudo isso, comovido, chorei, porque todos esse anseios moravam em minha alma! E vocês me atiraram ao caos! Cegaram-me, embruteceram-me o entendimento! Em nome de que? Das verdades novas, como lhes chamais? E para que? Para minha felicidade? Deixar de servir á minha Igreja, abjurar, trair? Impossível!
            E, depois? Voltar-me-á a claridade intelectual? E os outros? Ficarão entregues à sua sorte, sem a inteligência que os orientava, sem o braço que empunhava a batuta do comando? Eles também? Ah! esta perspectiva modifica um tanto as minhas disposições.
            Servir à Igreja nova, mais consentânea com os novos tempos, adaptando velhos ensinamentos às novas condições da humanidade, favorecida pelo transcorrer dos evos (eternidade)! Mas, se a humanidade é pior do que era, cheia de velhacarias e de paixões ruins! Na aparência? E os fatos?
            Queres então a minha profissão de fé? É cedo, ainda é cedo!
            (Curto silêncio)

            Sim, se me mostrares, se o meu Espírito compreender a razão de ser dos acontecimentos, não terei dúvida. Não quero, porém, promover, para que não penses que temo o meu estado de sofrimento. Quero ser leal até ao último instante: professar consciente. Se tiver de seguir o meu calvário, fá-lo-ei de bom grado; mas a seu tempo. Não se dirá nunca que abjurei as minhas ideias de séculos premido pelo sofrimento, ou pelo temor de enfrenta-lo.
            Falaste, há pouco (dirige-se ao Diretor) em livre arbítrio. Ele não existe! Eu estava há muito tempo para vir aqui, disposto a fazer não sei o que. Contudo, enquanto mantive esse desejo, não me foi possível realizar a minha descida até vós. Onde o livre arbítrio?

            (O diretor faz diversas ponderações sobre o condicionamento do livre arbítrio à lei, que contém em si o determinismo, de maneira que o livre arbítrio de hoje, conforme o uso que dele faz, dentro de lei, a criatura, vem a ser o determinismo de amanhã. É o que se acha sintetizado no: quem como ferro fere com ferro será ferido, conforme o disse Jesus).
             
            E. – Diz-me ele (o seu mentor também invisível) que o livre arbítrio só é absoluto para o bem; não para os atos atentatórios á lei...
            Pondera que não interpretei com fidelidade o seu pensamento e acrescenta que o livre arbítrio só é amplo para a prática do bem considerado como expressão do amor ao próximo; que, para o mal, sobre restrição em beneficio do próprio espírito.

            (Depois de estar em silêncio por algum tempo): 
            Voltarei. Já me vou habituando-me a esta permuta de ideias, intercaladas de inspirações vindas do alto. Uma coisa, entretanto, ainda me confunde. Porque não podem as criaturas caminhar juntas pela mesma estrada? Porque servem umas ao Cristo de certa maneira e outras de maneira diversa, a se digladiarem todos em nome do mesmo Cristo? Toda a minha obra, boa ou má, teve por objetivo servir ao Cristo. Talvez estivesse errado no meu ponto de vista, mas fui sincero.
            Vou-me embora, porém não prescindo do cerimonial: a vossa oração.

            (O diretor lhe faz ver que não há ali cerimonial algum; que apenas se implora com o coração, mau grado à precariedade deste, a misericórdia infinita de Deus e a caridade do Pastor divino).

            (É feita uma prece)
            E. - Obrigado. Desculpai-me algum gesto mais violento e até à vista.

*

Comunicação final,  sonambúlica

Condições morais em que se encontrava o Espírito que pouco antes se comunica.- A sua próxima conversão. - Visão que os de sua ordem já tem da derrocada de suas bastilhas terrenas. - Outorga à humanidade do verdadeiro livre arbítrio. -  Condições em que devem transcorrer os trabalhos do Grupo, para que cada vez mais copiosas sejam os ensinos e os benefícios.- Sua finalidade e seu programa. - A tarefa da Federação.- Inconveniente de concitarem-se  à prática do Espiritismo experimental os ainda não capacitados para isso. - Modo diverso por que em geral se entende por aí além essa questão. - Necessidade de trazerem os obreiros de Ismael os pensamentos afinados com os dos seus maiores.


Médium: J. CELANI

            Paz, meus companheiros.
            Quando o Espírito se acha imbuído de orgulha e vaidade, torna-se muito difícil modificar-lhe as ideias, dar-lhe a compreender os fatos de maneira diversa da que lhe é habitual. Imprescindível se faz que o sofrimento execute a sua obra, facultando-lhe a meditação e a consequente modificação. Este Espírito é dessa ordem.
            Está convencido de que a sua obra é útil à humanidade e de que a sua vontade de prosseguir foi violentada por uma força que ele ainda não pode perceber qual seja.
            A seu tempo dar-se-á a sua conversão e a sua profissão de fé ele a fará entre nós.
            Tereis ainda, meus companheiros, muitos debates idênticos a este, porque chegou a hora determinada. Eles já estão vendo a derrocada de suas bastilhas terrenas e divisam com pavor as novas perspectivas. No campo da liberdade de consciência e em matéria religiosa, o poderia deles tinha por fundamento, de um lado, o confessionário e, de outro, a submissão dos potentados.
            Os novos ventos que vão soprar varrerão todas essas velharias, outorgando à humanidade o verdadeiro livre arbítrio, que só é cerceado quando se faz necessário, a benefício do Espírito.
            Mas, para que os vossos trabalhos corram em progressão, quanto a ensinamentos e benefícios, mister se torna a máxima coesão e que lhes deis toda a atenção, porque qualquer variação nas ideias, ou diversão nos pensamentos influi na eficiência dos mesmos trabalhos.
            E, dito isto, respondida fica a tua pergunta, Quintão (sobre se podia admitir a uma ou duas sessões um frade que se achava temporariamente nesta Capital e é presidente de uma Assembleia adesa, do norte do país\). Deveis adotar, em todos os casos dessa natureza, uma única orientação, a fim de evitardes perturbações e contrariedades.
            Este Grupo tem a sua finalidade e o seu programa. Não é ele, propriamente, o orientador dos trabalhos doutrinários. Essa tarefa cabe á Federação, que a vem desempenhando satisfatoriamente. Ao demais, como e porque admitir este e não aquele? seria proceder em contrário à lição que vindes de estudar e segundo a qual tendes de abster-vos de julgar, seguindo o exemplo de Jesus.
            Precisais adotar o critério de manter fechado o Grupo a quaisquer visitantes, quando estiverdes realizando trabalhos de certa importância. Noutras oportunidades, como nas sessões comemorativas, podeis abrir-lhes as portas. Se perguntardes porque, responder-vos-ei com os próprios ensinamentos da doutrina. Afinidades não se conseguem de um instante para outro e a quebra da afinidade perturba a manifestação dos Espíritos.
            Demais, não acho prudente concitar à prática do Espiritismo experimental os que ainda não estão capacitados para isso e essa capacidade ninguém a adquire assistindo a uma ou duas sessões de trabalhos práticos.
            Este modo de ver, bem os ei, não é geralmente partilhado. Por aí além, acredita-se que a simples vontade de meia dúzia de pessoas basta para que se obtenham comunicações de valor e se realizem bons trabalhos de caridade. Não penso assim, Aos trabalhos experimentais deve preceder o estudo da doutrina em geral, e, em particular, do Evangelho. A assimilação dos ensinos deste é que conduz à formação de um núcleo mais ou menos afinado em torno de uma orientação segura. Só então se pode pensar na realização de trabalhos como os que aqui se fazem, aliás com intercorrências que bem conheceis, através de não poucas dificuldades e vicissitudes.
            Dize ao Barreto que o Richard o espera aqui. Quer vê-lo como noutros tempos, fervoroso na fé e assíduo ao trabalho. Que ele tire da cabeça tudo quanto concorreu para que daqui se afastasse, pois que tudo isso não passa de coisas forjadas pelos Espíritos para divorciá-lo da sua tarefa.
            E a todos vós, meus companheiros, concito a fazerdes convergir todos os esforços para a vossa tarefa, a fim de tornardes este recinto o oásis onde retempereis as vossas energias físicas e morais. Quantas vezes, nas vossas aflições, queremos penetrar nos vossos corações e não conseguimos, por não estarem afinados conosco os vossos pensamentos! E sofremos com isso. Sofremos, porque, se assim não fosse, poderíamos modificar as vossas condições espirituais, por misericórdia do Senhor.
            Que Deus vos guarde e a Rainha dos céus vos conduza aos vossos lares, derramando sobre todos os que procuram servir a seu filho suas bênçãos de paz, de luz e de amor.
            Deus vos guarde. Bittencourt  
            

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