Pesquisar este blog

domingo, 11 de setembro de 2011

56 Trabalhos do Grupo Ismael





56


SESSÃO DE 3 DE JULHO DE 1940


Manifestação sonambúlica


          Primeira do Espírito a quem se dirigira ode  Miguel, na sessão de 5 de junho, declarando que também ele, que fora seu lugar-tenente à testa das falanges que lhe obedeciam ao mundo, se manifestaria, mas a seu tempo.


Médium: J. CELANI

           
Espírito. - Que é isto aqui?

Diretor. - Um templo e uma escola de espíritos em prova[1]

E. - Escola, admito. Vejo livros e ouvi a leitura deles. Mas, templo? Onde os círios, as alfaias, as imagens, os sacerdotes?

D. - Tudo isso poderás encontrar nos corações, não, sem duvida, nos dos homens aqui reunidos, porém nos dos Espíritos que os assistem. Deveis saber que o verdadeiro templo é o que os filhos de Deus trazem no coração.

E. - Só os santos podem, de seus corações, fazer templos.

D. - Quem são os santos?

E. - Os canonizados pela Igreja.

D. - A mando de quem?

E. - Dos cardeais, que são as altas autoridades da Igreja.

D. - Mas, os cardeais são homens pecadores; não se acham, portanto, aptos e julgar da santidade de quem quer que seja.

E. - E’ que eles sejam inspirados.

D. - E porque não o seriamos nós, quando nos assistem outros santos, mais verdadeiros, pela condição de pureza a que se elevaram, como fieis servidores do Cristo? Falas em templos; mas, os apóstolos não tiveram templos.

E. -  Criaram-nos os seus sucessores, por inspiração do Espírito Santo.

D.- E quem é o Espírito Santo?

E.- O Cristo, que precisa e não pode prescindir da colaboração dos homens.

D. - Mas, não é esse o caminho que devemos tomar. Porque vieste aqui?

E. - Pergunte ao Miguel e a esse outro. Sou de há muito um prisioneiro deles.  Embotaram-me a inteligência e, depois de longos debates com o intento de modificarem meu modo de sentir a respeito da obra da Igreja, aqui me trouxeram.

(A um observação do diretor, sobre o que sempre teve a falha de errônea a obra da Igreja, tanto que não logrou evitar as catástrofe a que assistimos, diz):

E.- É que lhe faleceram os meios de agir como nos tempos idos para obrigar os governantes a submeter-se à sua autoridade.

(O diretor observa que autoridade foi o que nunca faltou á Igreja, pois é notório que não tem feito outra coisa senão abusar dessa autoridade em que, ao demais, ela se investiu de moto próprio.)

E. - Então a Igreja não é a depositária do legado do Cristo?

D. -  Não. E Miguel, que nela militou, como tu, te poderá demonstrar, com mais competência do que nós, que a Igreja não é depositária do legado do Cristo, porquanto esse legado é constituído de amor, de justiça e de paz, coisas que a Igreja quase nunca revelou em seus atos e na sua ação evangelizadora. Tinhas, porventura, paz na tua consciência e no teu coração quando ao altar subias para oficiar, ou no púlpito para pregar? Quisera nesta hora levar-te ao Vaticano e fazer-te sentir o que ali ocorre, para perguntar-te em seguida, se lá existe a paz do Cristo.

E. - (dirigindo-se a outros desencarnados que, provavelmente, motejavam da sua situação): - Covardes! Todo Espírito forte pelo saber e pela consciência de seu valor afronta quaisquer perigos para sustentar suas ideias.

(Dirigindo-se de novo ao Diretor):

E. - A Igreja tem erros, que no Infinito são visíveis para os espíritos aptos pela inteligência e pela ilustração a apreciá-los; mas a humanidade não pode prescindir da Igreja. Ela, no momento oportuno, modificará seus processos de ensino, adotando outros mais compatíveis com os modernos tempos.

(O diretor faz algumas ponderações sobre o trabalho dos espíritos do Senhor, tendente a restaurar em toda a pureza os ensinos do Cristianismo do Cristo.).

E. - Poderiam as vossas ideias ser assimiladas por essas feras que se digladiam lá na velha Europa, mãe de todos progressos que a humanidade tem realizado e da civilização que a mesma humanidade conseguiu construir?

(O diretor entra em considerações, demonstrando que as ideias não são nossas, mas do Cristo).

E. – Não sou um hipócrita, nem aqui venho bater encoberto. Sou um servidor da Igreja, convencido da sua utilidade e do acerto de muitas de suas práticas por necessárias e imprescindíveis à humanidade, no estado em que se encontra, de evolução moral e intelectual.

E. – Como é que esse Miguel se modificou assim? Lembro-me daqueles dias em que a sua palavra eloquente e arrebatadora, ungida pela convicção de seu credo, reboava nas catedrais. Que assombro! Os fieis, tomados de compunção verdadeira, abriam seus corações à majestade dessa crença. Aqui, neste infinito, que é tortura para alguns e alvorada para tantos, lutamos juntos e juntos vencemos inúmeras vezes, derribando os insensatos que se antepunham à execução das nossas intenções.
       Um belo dia, Miguel não mais voltou para o meio dos que lhe obedecem cegamente e executavam, com a precisão de máquinas perfeitas, as suas mínimas ordens. Foi isso que me levou a dar inicio à minha obra tenaz contra vós outros.

(Dirigindo-se ao Espírito de Miguel):

             Não! Verdade, mentira, ódio, amor, palavras de renovação, pensamentos novos, novas ideias, dizes tu. Mas para as ideias novas, onde os missionários? Onde os Cristos, para vergastarem com látego de fogo os vendilhões das consciências, os tartufos?
            E achas que devo ensarilhar as armas, a fim de entrar num período preparatório de novo encontro nosso para re encetarmos uma tarefa interrompida! Sob a direção de quem? Quem poderá substituir-te, com a tua ilustração, com esse teu magnetismo que dominava e atraia as multidões? Quem? Esse cura de aldeia? Como!? Será possível!
          É Pedro esse, com suas barbas de neve e o coração transbordante de fé, pescador inculto? (Silêncio). É cedo. Esperemos que a transformação do meu eu me possibilite pegar o fio dessa doutrina que dizes a pedra do novo edifício a ser construído depois da derrocada.
          Devo então fazer novo aprendizado. Não, dizes tu. Como não? Como hei de penetrar nessas coisas transcendentes de que me falas, sem as estudar.
         Ah! cabedais, cabedais do passado! Eles são como as sementes, que precisam ficar sob uma camada de terra para, em dado momento germinarem. Compreendo. Sim, vimos então longe? Já estive fora da Igreja? Oh! mas é extraordinário! No Egito ! Oh!... Extraordinário!

(Prolongado silêncio)

        E eu que me julgava um portento de sabedoria, um teólogo profundo! Filosofia, que ensinas tu? Regras que nada valem, diante do que vi. Para apreciar isto foi que passei anos e anos debruçado sobre livros? Um quadro, um caleidoscópio que deslumbra a vista.

(Após algum tempo em silêncio)

       Sim. Não te direi  - obrigado. É cedo. Servir á nova causa? Não? Servir ao Cristo sob modalidade diferente. É isto? Esse trapo! Chamas trapos ao estandarte das nossas hostes? E qual outro desfraldaremos? A bandeira branca da paz? Mas, num mundo convulsionado de ódios e misérias?

(Depois de meditar):

       É. Tens razão; tens razão. A Inquisição sepultou a Igreja! É’ preciso então voltar atrás, renega-la como fizeste, abandonar os que nos acompanhavam?
       Tentarei, tentarei, pela grande confiança que em ti deposito. Se isso te atraiu, ao ponto de abjurares os teus ideais, algo aí haverá que escapa à minha apreciação, á minha inteligência investigadora. Voltarei.
Orar? Oremos.

(É feita uma prece).

E. – Sois cavalheiros. Não me sinto mal entre vós. Apenas gostaria, ao voltar aqui, de merecer alguns esclarecimentos, para melhor compreensão da minha descida até vós, a pedido delas. Adeus.


*


Comunicação final, sonambúlica


            Quem era o Espírito que acabara de manifestar-se. - O pressentimento, que já tem, de uma nova ordem de coisas, no campo das religiões terrenas. - Incompreensão, por parte dos Espíritos das mais baixas camadas espirituais, dos acontecimentos da terra. - Eles os encaram como os homens insensatos. – O que sucedera aos desassisados de um e outro plano, no remate dos acontecimentos. - A Igreja estarrecida. - Porque não surgem nos seus templos os iniciadores da verdade nova. – os médiuns que dentro dela vivem ignorados.


Médium: J. CELANI


            Deus vos abençoe. Esta esmola é um estimulo aos vossos esforços.
            Esse (o Espírito que se manifestara) é um dos pretensos lutadores do Infinito, que aqui vitalizam a Igreja da terra e se atiram contra todos os que discordam do ritual praticado por essa Igreja.
            Ele, porém, já sente, como todos os seus companheiros, o prelúdio de uma nova ordem de coisas no campo das religiões terrenas.
            Os acontecimentos da Terra, vistos pelos Espíritos que lhe habitam a atmosfera mais próxima, precisamente os menos evolvidos, não são compreendidos em sua verdadeira significação.
            Julgam eles que apenas se trata de um entrecho que de paixões e de orgulho levando os paroxismo, não de um movimento preparatório de novo estado de coisas para a humanidade.
            Fazem como os homens insensatos, que aplaudem os chamados atos de heroímo e valente, olvidando que o dever dos Espíritos como dos homens, é orar, pedindo ao Creador e Pai que contenha nos limites das suas respectivas tarefa de instrumentos de execução da lei, aqueles que ai agitam, impando de orgulho, pensando ser deles poderio e não do Alto.
            Quando, no remate dos aconteciementos que presenciais, começar a aparecer a obra dos missionários da renovação, os insensatos daí e daqui ver-se-ão confudidos nas levas dos relegados para o mundos condizentes com o atrazo e a cegueira em que eles se conservam.
            A Igreja está estarrecida. Porque não surgem nos seus templos os iniciadores da verdade nova? Por motivo da sua disciplina férrea, da rigidez  do seu código, resumido no – crê ou morre. Se, porventura, pudessem predicar os médiuns que dentro dela vivam ignorados, humildes servidores do Cristo, quantas maravilhas ecoariam pelas naves das suas ccatedrais faustosa!
            Meus filhos a vossa hora avança. Sei que sois homens e que é faltar á caridade retardar o vosso repouso merecido. Perdoai o meu arroubo, filho do contentamento que vai no intimo pela esmola hoje recebida.
            Que o Espírito de N. S. Jesus Cristo , Mestre dos Mestres, vos acompanhe. Deus vos abençoe. – Romualdo. 



[1] Por amor á brevidade as palavras do Diretor se achem aqui extremamente resumidas e sintetizadas quanto possível as suas considerações e ponderações.



Nenhum comentário:

Postar um comentário