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sábado, 18 de outubro de 2014

Tudo depende do Espírito


Tudo depende do Espírito
Tasso Porciúncula / (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Novembro 1962

            Na dolorosa época em que vivemos, há uma tendência, maior do que no passado, para desculpar certos desregramentos dos sentidos, sob a alegação de que “a carne é fraca”. A explicação real é muito diferente: qualquer vício somente domina as vontades fracas que não conseguem suportar o assédio terrível exercido sobre elas. Todos ou quase todos temos o nosso “calcanhar de Aquiles”. Seríamos rematados hipócritas se não o reconhecêssemos.

            Muita vez sofremos as consequências de uma educação moral deficiente, realizada sem método nem objetivo firme. Até hoje muitos pais ensinam às crianças que roubar e furtar são atos desonestos. Esquecem-se, no entanto, de acrescentar que todo pensamento ou ato lesivo a outrem, quer do ponto de vista moral, quer do material, é, em essência, um ato desonesto.

            Se deixamos de cumprir a nossa palavra, se faltamos ao cumprimento do dever, sem causa justificada de boa procedência, estamos sendo desonestos. Se evitamos praticar uma boa ação, se levamos a efeito uma ação má, se deixamos, podendo impedi-lo, que alguém aja em detrimento do direito moral ou material de outrem, estaremos sendo desonestos. Se, por pusilanimidade ou indiferença, permitimos que uma injustiça se consuma, estaremos sendo do mesmo modo desonestos. 

            Falhamos porque “a carne é fraca”? Não, porque o Espírito é fraco. Isto nos ensina Allan Kardec em “O Céu e o Inferno”. Será que você, leitor, já leu, estudando, essa obra magnífica de Allan Kardec? Se já a leu, voltou a rele-la para melhor assimilar-lhe os ensinamentos? Nossas interrogações não são sem base. Os livros de Kardec não devem ser lidos apenas uma vez: precisam ser relidos e estudados muitas vezes, sempre.

            Não há negar que “há casos em que o físico influi sobre o moral, tais como quando um estado, anormal é determinado por causa externa, acidental, independente do Espírito, como sejam a temperatura, uma doença passageira, etc. O moral do Espírito pode, nesses casos, ser afetado em suas manifestações pelo estado patológico, sem que a sua natureza intrínseca seja modificada. Escusar-se de seus erros por fraqueza da carne não passa de um sofisma para escapar à responsabilidade. A carne só é fraca porque o Espírito é fraco, o que inverte a questão, deixando àquele a responsabilidade de todos os seus atos. A carne, destituída de pensamento e vontade, não pode prevalecer jamais sobre o Espírito, que é o ser pensante e de vontade própria”. (Da “Revue Spirite”, citada em “O Céu e o Inferno” - ed. 1949, pág. 85.)

            Devemos ter sempre em mente estas palavras de Pitágoras: “A tua justa medida será aquela que impedir que te enfraqueças.” Todos os prazeres dignos da vida devem ser fruídos com sobriedade. O mal não está no uso, mas no excesso do uso, isto é, no abuso.

            Nunca, porém, procuremos desculpar a nossa insuficiência volitiva ou a nossa deficiência moral com a expressão de que “a carne é fraca”. Ela não é fraca nem forte, porque quem a dirige é o Espírito. Quando este é fraco, os vícios crescem e a tiranizam. Devemos educar-nos para podermos dirigir e controlar os nossos instintos.

            Este é o fim da educação, que é disciplina. E disciplina necessária à felicidade humana, porque sem ela não há ordem nem desenvolvimento moral.

            Tudo depende do Espírito. Se ele é débil, a carne, isto é, os vícios, o domina; se ele é enérgico, domina todas as fraquezas da vontade, porque, nesse caso, a vontade não será fraca, uma vez que a sua fortaleza ou debilidade está na razão direta da fortaleza ou da debilidade do Espírito.


Novas Revelações


Novas Revelações
Leopoldo Cirne
por W. Vieira
Reformador (FEB) Novembro 1962

            Clamas por revelações transcendentes através dos canais medianímicos.

            Com razão almejas o bem de todos no esclarecimento comum; entretanto, a revelação há de ser gradativa para ser produtiva.

            A Humanidade atravessa hoje a puberdade espiritual, fase crítica de progresso, período de transição, caminho de novo ajuste.

            Efetivamente, existem no Plano Superior inventos e descobertas que o homem está longe de conceber; no entanto, como apressar-lhes o surgimento no plano físico sem a necessária certeza de que se farão recursos do bem?

            A locomotiva não corre sem trilhos. O avião pede base. A própria profecia há de, acomodar-se nas hipóteses e nos símbolos para não arruinar o presente no circulo vicioso de inúteis indagações.

            Em toda a parte, exprime-se a luz por graus, preservando a visão, tanto quanto o alimento requisita dosagem no sustento à saúde.

            Adotemos atitude construtiva e serena no levantamento da evolução que, no fundo, é semelhante ao edifício que se alteia, tijolo a tijolo.

            Pressa é dissipação.

            Habitualmente, quando encarnados, abeiramo-nos dos missionários das grandes renovações para confundir-lhes a obra, ao invés de ajudá-la.

            Desprezando as forças da luz que nos convidam paro a vanguarda, mancomunamo-nos espontaneamente com aqueles mesmos irmãos do passado menos feliz, na retaguarda sombria a que ainda nos filiamos.

            E aderimos, sem perceber, à perturbação instintiva.

            Se a luz nos visita, procuramos as trevas.

            No foguete pirotécnico da alegria, buscamos inspirações para o balístico intercontinental da morte rápida...

            Das máquinas de solidariedade entre os povos, criamos bombardeiros destruidores...

            Do conhecimento do átomo para a paz, forjamos a bomba dos megatons que se pluralizam...

            O próprio Espiritismo não escapou de nossas intromissões indébitas.

            Da tiptologia digna e séria, muito gente passou aos espetáculos frívolos das mesas girantes...

            Companheiros invigilantes transfiguraram a clarividência em salão da buena-dicha...

            Da psicofonia edificante, outros muitos fizeram arena de ociosa conversação...

            E apareceram oportunistas à margem da sementeira.

            Se um pai desencarna, surgem filhos que lhe desejam a voz pelo filtro mediúnico, não para haurirem consolações, mas para resolverem processos de herança nos tribunais.

            Se um amigo parte para o Além, é invocado por muitos à conta de oráculo em problema de que só a polícia pode ser fiadora.

            À vista disso, de que serviriam a materialização incondicional das inteligências desenfaixadas da carne, o desdobramento da personalidade a qualquer hora, a comunicação ostensiva e indiscriminada da multidão com a Esfera Espiritual ou o intercâmbio imediato e positivo com os habitantes desencarnados de outros planetas?

            Não podemos entregar uma tocha acesa à criança, sem a pena de vê-la calcinar a si própria.

            Saibamos, assim, crescer para o Infinito, a que somos destinados na Criação, através do trabalho que devemos ao nosso aperfeiçoamento...

            Não vale fazer lume, queimando o embrião da vida.

            Cinzas não formam luz.

            Entesouremos responsabilidades e o Senhor nos considerará responsáveis.

            Não há verdadeira conquista sem justo merecimento.

            Em matéria de novas revelações, por agora, é preciso aprender a amar para conhecer, assim como quem se dispõe a sangrar os pés na escabrosa subida para alcançar os cimos e descortinar mais amplos trechos da paisagem na grandeza da luz.


sexta-feira, 10 de outubro de 2014

As Lutas de Lodge


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As Lutas de Lodge
Reformador (FEB) Dezembro 1945

            A certeza de vistas e a intolerância não são privilégio das seitas religiosas em que o dogma impera. Vamos encontrá-las também entre os que presumem possuir conhecimentos científicos, em homens que toda a gente supunha alforriados de preconceito.

            Vieram-nos estes reparos a propósito do que refere ‘The New York Sun’, de 26 de março de 1926.

            A Sociedade Real de Londres desejava que o grande cientista inglês, Sir Lodge, resignasse ao seu lugar na mencionada Sociedade, em virtude de sua crença na comunicabilidade dos Espíritos.

            Sir Oliver Lodge, em carta publicada no ‘Nature’, declara que condescende em resignar a sua cadeira naquele famoso cenáculo.

            Afirmava, assim, o ilustre cientista que já ia nos seus 76 anos de idade, que se mantinha inabalável em suas crenças, acrescentando: "Se eu tivesse alguma dúvida a cerca da comunicação dos mortos, proclamá-la-ia; mas seria insensatez falsear a verdade; isso não farei, sejam quais forem as consequências."

            São estas as palavras textuais do eminente cientista inglês, que a Sociedade queria repelir do seu seio:

            "Pede-me o Prof. H. E. Armstrong que me retire da Sociedade Real, por haver gradualmente chegado à completa convicção em assunto submetido a intenso debate e cheio de incertezas, e tê-lo dito, apesar de ainda estar em dúvida a maioria dos meus colegas da Sociedade Real.

            "Prometo que, quando tal pedido for feito oficialmente, resignarei, sem nenhuma dúvida, mas sem deixar nunca de afirmar aquilo que julgo uma verdade demonstrada pela evidência, clara e repetida."

            Uma das mais significativas referências feitas por Sir Oliver Lodge às suas crenças, deu-se no City Temple, em Uolboru Viaduct, onde ele declarou:

            "Sei que há no Universo seres de categoria mais elevada que o homem; sei ainda que estamos rodeados de grande multidão de auxiliares; que estes empregam suas forças e perícia em assistir-nos, para que possamos obter o benefício do nosso patrimônio e alcançar os nossos destinos. "

            Na Igreja da Inglaterra, em Victoria Street, declarou o grande sábio que a Ciência não pode esperar resolver o grande enigma do Universo.

            Disse mais que a Ciência não trata das origens nos seus limites extremos.

            "Não somos os únicos seres da Criação, afirma Lodge. Há ainda os que sabem mais do que nós e cujas vistas alcançam muito mais que as nossas."

            A folha nova iorquina, de onde extraímos estas notas, termina o seu relato, dizendo:

            "A carta de Sir Oliver Lodge despertou grande interesse nos meios eruditos."

            "O prof. Armstrong, que foi o instrumento que trouxe à atenção pública o conflito que se trava no mundo cientifico, é um dos mais distintos membros da Royal Society."

            A que absurdos extremos e ridículos chegam o orgulho, o fanatismo e a obcecação do espírito humano!


Bilhetes


Bilhetes

por G. Mirim (A. Wantuil)


Reformador (FEB) Novembro 1945

            Queixam-se os espíritas de que a ciência oficial repila os fatos e os ensinamentos que nos são conhecidos, sem os estudar e examinar como seria lógico e natural. Querem os nossos confrades que os senhores "sábios" venham até nós oferecendo-nos a oportunidade de lhes demonstrarmos à saciedade que os fatos são reais.

            Também me queixo eu, não dos "sábios" que estão bem onde se encastelaram, mas dos nossos confrades "acadêmicos", companheiros que procedem da mesma forma, nada admitindo além do que já conseguiram assimilar. Se se lhes fala num ponto novo da Doutrina, esses companheiros dão de costas ou refutam com a sua pretensa autoridade, quando não vão mais longe, com sofismas e até mesmo com violências, apesar de não ignorarem que a Revelação é progressiva.

            Os espiritistas "acadêmicos" fingem ignorar que estamos no abc. Sabem tudo, tudo explicam e ai daquele que ousar contrariá-los. Os demais confrades são, para eles, criaturas de má fé ou ignorantões, senão confusionistas e deturpadores.

            São esses nossos confrades como os médicos da chamada medicina oficial, essa mesma escola que pedia cadeia para os roceiros que curavam enfermos com garrafadas de cascas de quina, com esponjas torradas e com outros remédios semelhantes. Cadeia, porque curavam moléstias oficialmente consideradas incuráveis.

            Com o tempo, porém, a medicina oficial aprendeu a usar das cascas de quina sob a forma de cápsulas de quinina, e do iodo que verificaram existir nas esponjas torradas.

            Estes fatos de a medicina oficial aprender com o curandeiro, além de se contarem aos milhares, representam o progresso real da arte de curar, pois esses meios terapêuticas, uma vez observados, passaram para as Farmacopeias de todos os países e delas jamais saíram, o que não acontece com quase todas as descobertas puramente científicas, que entram e saem de moda, após alguns anos de experiências nas cobaias humanas.

            Hoje, com os passes recomendados pelo Espiritismo, os fatos se processam de igual maneira; e a nova terapêutica vem sendo reconhecida, com a conquista de médicos que já recomendam a aplicação de passes em certos casos complicados que se lhes apresentam.

            Com os nossos confrades "acadêmicos", também lentamente assim se dará. Não se pode exigir desses companheiros que pensem conosco; todavia, é lamentável a predisposição que têm para combater. Combatem tudo, e tudo sabem. Quando sentem que seus argumentos são frágeis, irritam-se e atacam: são os "doutores" em borla e capelo do Espiritismo. Alguns desprezam Kardec, outros nada aceitam além do que foi revelado ao Codificador, vários só recebem parte da Codificação e a subordinam às suas interpretações exclusivistas e restritivas. São os "doutores" em Espiritismo... 

            Se o chamado meio oficial, ligado aos interesses das academias, tem retardado o progresso dos meios curativos que o Espiritismo oferece, os meios "acadêmicos" dessa Doutrina têm ocasionado maior mal, porque não só retardam a aceitação de uma das faces, mas de todas as faces apresentadas pelo Espiritismo, para o estudo e elucidação do homem.

            Tudo, porém, parece obedecer a uma lei uniforme e imutável. Assim foi ao tempo do Cristo, assim é nos tempos atuais, mesmo porque, hoje como ontem, a revelação está acima do poder de assimilação da geração que passa.

            Com o tempo, porém, os homens se renderão ao que já nos é conhecido, enquanto nós outros, em encarnações futuras, iremos recebendo novas doses de esclarecimentos que, repelidos sempre por uma geração, serão aceitos pelas gerações seguintes.

            Contentemo-nos com o que nos for possível realizar e deixemos ao Alto a execução do plano traçado, sempre o mesmo, desde o aparecimento do primeiro terrícola.

            Que não nos impressione a lentidão. Trabalhemos!



Missões Diferentes










Missões Diferentes
Lino Teles
(Ismael 
Gomes Braga)

Reformador (FEB)
 Novembro 1961

            Num excelente artigo publicado em "O Globo", de 19-8-61, pág. 9, o conhecido escritor Eugênio Gomes interroga: "Seria Castro Alves espírita?" e responde demonstrando o interesse do poeta pelo Espiritismo, nos últimos anos de sua curta vida.

            Fato semelhante se nota nos últimos dias da vida de L. L. Zamenhof, quando ele esboçou a lápis uma tese espírita que não pode escrever, porque a morte o interrompeu.

            Igualmente Castro Alves, ao interessar-se pelo Espiritismo, em plena juventude, faleceu.

            Porque esses dois gênios não tiveram tempo de se tornarem espíritas? 

            Parece-nos que suas missões eram diferentes e teriam sido prejudicadas pelo Espiritismo, ainda fraco e muito combatido.     .

            A missão de Castro Alves era lutar contra a escravidão apontando-a como tremenda injustiça social que devia ser abolida. Ora, se ele conhecesse e pregasse a Doutrina Espírita, ensinaria a lei de carma, a existência de perfeita justiça em tudo, e consequentemente a existência da escravidão como processo de recuperação de Espíritos endividados. O escravo deixaria de ser a vítima inocente de uma instituição social injusta. Mas era preciso combater a instituição mesma, porque os senhores de escravos se tornavam culpados e por seu turno teriam de sofrer consequências. A missão do poeta era apenas de combater, como muitos outros, a escravatura, até fazerem, como fizeram, a abolição.

            Com Zamenhof a situação era outra: sua missão era estabelecer a língua internacional como instrumento de confraternização universal, e tinha que pairar acima das divisões religiosas e partidárias. O Espiritismo era e ainda é uma dessas divisões. Se ele fosse pregar Espiritismo, conquistaria para o Esperanto a hostilidade das igrejas e do materialismo reinante. Teve que limitar-se à obra linguística, deixando o Espiritismo para o futuro.

            De modo semelhante, muitos reformadores sociais têm que operar sem conhecimento do Espiritismo. Trazem no momento uma missão diferente da espírita, têm que fazer obra combativa que repugna ao espírita. Só no futuro todas as missões se reunirão num todo em favor da Humanidade inteira.

            Nota-se isso apenas quanto aos grandes Missionários. Os pequenos servidores, como nós, têm ação limitada; só podem trabalhar dentro de partidos, escolas, igrejas, onde são conhecidos. Nossa missão é muito diferente da obra dos grandes Missionários: nós agimos nas secções, e eles no todo.

            Do Blog: Existem 2 livros que falam de Castro Alves: ‘Castro Alves e o Espiritismo’ de Altamirando Carneiro e ‘Chico Xavier, o obreiro do Senhor e Castro Alves, o apóstolo da liberdade’ de Maria Antônia de Moura. Este último recebe a chancela da FEB.



Por amor à criança...

Por amor à Criança
Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Outubro 1961



            Nós que tantas vezes rogamos o socorro da Providência Divina oremos ao coração da Mulher, suplicando pelos filhinhos das outras! Peçamos às seareiras do bem pelas crianças desamparadas, flores humanas atingidas pela ventania do infortúnio, nas promessas do alvorecer!..

            Pelas crianças que foram enjeitadas nos becos de ninguém; 

            pelas que vagueiam sem direção, amedrontadas nas trevas noturnas;

            pelas que sugam os próprios dedos, contemplando, por vidraças faustosas, a comida que sobeja desperdiçada;

            pelas que nunca viram a luz da escola;

            pelas que dormem, estremunhadas, na goela escura do esgoto;

            pelas que foram relegadas aos abrigos de lama e se transformam em cobaias de vermes destruidores;            

            pelas que a tuberculose espia, assanhada, através dos molambos com que se cobrem;

            pelas que se afligem no tormento da fome e mentalizam o furto do pão;

            pelas que jamais ouviram uma voz que as abençoasse e, se acreditam amaldiçoadas pelo destino;

            pelas que foram perfilhadas por falsa ternura; e são mantidas nas casas nobres, quais pequenas alimárias constantemente batidas pelas varas da injúria;

            e por aquelas outras que caíram, desorientadas, nas armadilhas do crime e são entregues ao vicio e à indiferença, entre os ferros e os castigos do cárcere!

            Mães da Terra, enquanto vos regozijais no amor de vossos filhos, descerrai os braços para os órfãos de mãe! ... Lembremos o apelo inolvidável do Cristo: “deixai vir a mim os pequeninos". E recordemos, sobretudo, que, se o homem deve edificar as paredes imponentes do mundo porvindouro, só a mulher poderá convertê-lo em alegria dia vida e carinho do lar.


Paralelos


Paralelos
Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB) Outubro 1961

            Nosso tempo se caracteriza pela conquista do espaço sideral: - o homem já consegue viajar fora da zona de atração da Terra e a ela regressar são e salvo. Teoricamente já sabe ele que poderá firmar pé em algum dos outros planetas do nosso sistema solar, estabelecer convívio com outras humanidades, fazer aquisições preciosas com os filhos de mundos mais velhos e adiantados do que o nosso, mas somente com planetas vizinhos.

            Quando muito, no curto espaço de sua vida, poderá vir a atingir algum outro grupo de planetas próximo do nosso, mas não poderá sonhar com os sistemas longínquos, porque a viagem exigiria milênios e a vida humana é limitadíssima.

            Em nossa frente estará sempre o inexplorado espaço infinito e todo ele povoado de mundos inatingíveis para as naves do Espírito encarnado.

            Igualmente quanto ao progresso, havemos sempre de ver em nossa frente um infinito a conquistar, rumo a uma perfeição ideal, mas inatingível em toda a sua grandiosidade, porque diante de nós estarão sempre outros seres, criados em remotas antiguidades e que estão sempre progredindo, crescendo em saber e virtudes.

             Muitos desses seres já atingiram tal grandeza que nos pareceriam verdadeiros deuses, se nós os pudéssemos conceber com a nossa curta inteligência; mas não o podemos. A obra divina é demasiado grandiosa para que o homem a pudesse abranger com seu pensamento.

            Se no espaço podemos compreender que teremos em nossa frente sempre o infinito, ainda que pudéssemos locomover-nos com a rapidez do pensamento, igualmente no tempo teremos sempre a eternidade em nossa frente, para crescermos.

            Como é mesquinha e indigna do Criador a suposição de que a Terra é o centro do Universo e o único mundo habitado por seres inteligentes e que esse ser inteligente só pode crescer em conhecimentos e virtudes no curto momento que ele aqui vive, absorvido quase sempre pela conquista material do pão!

            Se o espaço e o tempo não conhecem limites, e se o grau de inteligência inata no homem varia ao infinito, como admitir que ele se confine entre o berço e o túmulo, como pensa a ciência materialista, ou só disponha deste momento fugaz para conquistar a perfeição destinada à eternidade, como pretendem as igrejas?

            O nada eterno depois da curta vida, conforme o materialismo, ou a eternização da nossa ignorância, ensinada pelas igrejas, são perspectivas igualmente repugnantes e em pleno desacordo com a observação do infinito no espaço, do eterno no tempo, da diversidade de grau de evolução com que nascem os homens e das transformações nas formas animais que os fosseis nos revelam.

            A doutrina reencarnacionista se impõe como necessidade lógica para compreendermos esse terceiro infinito - a Vida. Se o espaço não tem limites, o tempo não tem fim, também a vida não tem essas aparentes limitações que a curteza de nossa inteligência lhe traça.

            Há três linhas paralelas que se perdem em nosso horizonte intelectual: - Espaço, Tempo, Vida.


            Bendito seja Allan Kardec que nos resolveu esses problemas!

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

02. O que nós estamos lendo?



Almas em Desfile


Vinélius di Marco / Indalício Mendes
Reformador (FEB) Maio 1962

            Entre os livros mais belos e edificantes da literatura espírita, surgidos nestes últimos tempos, apontamos “Almas em Desfile”, do Espírito Hilário Silva, trazido à divulgação através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.

            Emmanuel, com aquele poder de síntese que possui, definiu a obra magistralmente:

             “...Hilário Silva, neste livro, é um retratista de corações, conclamando-nos a sentir e refletir”, “...o que ressalta de cada página é o imperativo da compreensão fraterna para que não venhamos a tombar em nossas próprias deficiências. Hilário, pois, trazendo a lume os episódios que arranca ao livro da vida, não tem outro intuito senão o de afirmar que todos nós - os viajores da experiência - precisamos do alimento amor, no prato da compaixão.”

            Se é muito difícil, na estupenda literatura mediúnica, destacar este ou aquele livro, porque todos contêm em suas páginas maravilhosos exemplos que nos indicam o acerto do rumo doutrinário, é também profundamente confortante reconhecer a excelência dos ensinamentos contidos nessas obras feitas com elementos da vida terrena, observada e colhida “ao vivo”, sem retoques nem fantasias, objetivando, sempre e sempre, mostrar à criatura humana os meios a seu alcance para compreender melhor a vida e, consequentemente, vivê-la cada vez melhor, se possível, do que a tem vivido até agora.

            Logo no início do livro “Almas em Desfile” há um episódio de notável expressão evangélica, sob o título “A fama de rico”. Quanta gente há que goza dessa fama, às vezes até sem razão sólida, mas por causa das aparências. Quanta gente, porém, há que, sendo rica de haveres, é paupérrima de qualidades morais, desinteressando-se pela vida daqueles que sofrem, que enfrentam a miséria ou se perdem nos labirintos escuros do vício.

            Outra maravilha é o conto “A evocação do Comendador”. O que aconteceu a Jorge Sales tem acontecido a muitos, pode acontecer a qualquer um de nós, que, vivendo no meio espírita, pensamos ser bons espíritas e nos equivocamos diante de problemas que não podemos equacionar devidamente, por sermos parte da operação.

            Se você, leitor, ainda não leu “Almas em Desfile”, faça-o na primeira oportunidade, a fim de não perder os exemplos instrutivos que o inspirado Espírito Hilário Silva oferece em suas páginas.

            Querem saber de outro conto magnífico? “Falta de caridade” é o seu título. Que profundeza na tessitura desse trabalho! A lição é de grande alcance e deve servir a muita gente que se supõe caridoso... às vezes.

            Neste momento, sob a influência comovedora de “Pica-pau”, outro ponto que enriquece as páginas de “Almas em Desfile”, sentimos os olhos humedecidos. Tanta vida, tanta realidade há nesse conto humaníssimo, que, só ele, justificaria o livro. Entretanto, são cinquenta e dois contos soberbos. Os primeiros vinte e seis, recebidos por Waldo Vieira; os outros, por Chico Xavier.

            Vamos concluir este artiguete, que poderia estender-se muito, com algumas palavras de Hilário Silva: “...em toda parte e em todos os dias há desfile de almas. Almas que se arrastam. Almas que lutam. Almas que riem. Almas que choram. Partilhando igualmente a marcha, caminha corretamente. Não recues, nem te apresses. Observa os companheiros, sem espanto e sem crítica, a fim de que a lição de cada um te sirva de aprendizado.”

            E compreendamos também que nós, os ainda encarnados, também somos “almas em desfile”. “Sim, em toda parte e em todos os dias há desfile de almas.”  

            Bem diz Emmanuel: “Há Espíritos que caem, ao lado de Espíritos que se levantam. É a trilha humana com os seus sonhos e esperanças, flores e espinhos, alegrias e sofrimentos. Mas por farol bendito fulgura a Doutrina Espírita, amparando e educando os caminheiros, em nome de Jesus.”

            Amparemo-nos na Doutrina Espírita, iluminando-nos em “O Evangelho segundo o Espiritismo”. Mas sejamos práticos, exemplificando aquilo que lemos e ouvimos de bom e altruístico. A vida humana, sem frutos, de nada vale. “Almas em Desfile” prova-nos isto e nos convida a viver o Espiritismo, de corpo e alma.

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Livros editados pela FEB - Garantia de fidelidade doutrinária!



01. O que nós estamos lendo?





Desaprender
Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB)
 Maio 1962

            Em seu excelente livro "Evolução anímica", escrito em 1895 e publicado em 1897, Gabriel Delanne nos conduz pacientemente pelo longo caminho da formação dos seres vivos no Planeta, desde a mais primitiva medusa até o homem, guiando-se pela Ciência e pelo Espiritismo. Faz um curso completo do aparecimento da vida e sua evolução até seu tempo, deixando-nos perfeitamente convencidos de que somos produto de uma longa caminhada, vimos de muito longe, aprendendo sempre, adquirindo faculdades, mas nem tudo que aprendemos poderá ser conservado.

            Nossa formação é produto de muitos embates contra o meio, numa incessante luta pela vida, e deu-nos qualidades egoístas e belicosas que terão de ser vencidas, porque se tornam prejudiciais ao convívio com os outros viventes, impedem a colaboração necessária ao bem de todos. Temos muito que aprender e muito que desaprender para o futuro.

            No passado aprendemos a defender-nos contra tudo e contra todos; no, futuro temos que desaprender a ciência da guerra e aprender a confiar em todos e a colaborar com todos.

            O Cristianismo nos veio ensinar a desaprender muitas coisas do passado para aprender outras para o futuro, e nesse sentido insistem sempre nossos Guias Espirituais. Parece que estamos num momento da evolução em que desaprender, corrigir-nos, é a tarefa mais urgente.

            Delanne nos mostra como se formaram lentamente nossos cinco sentidos. O primeiro que se formou foi o tato; depois, através dos milênios, foram-se formando os outros, todos destinados apenas às necessidades materiais. Mas não vamos ficar detidos neste ponto da evolução; temos que adquirir outros sentidos, para coisas espirituais, e Richet já nos fala de um sexto sentido. E notamos que alguns dos nossos contemporâneos já possuem a vista e o ouvido mais aprimorados do que o comum dos homens, porque podem ver e ouvir os desencarnados e até nos darem excelentes informações do mundo espiritual, de outras formas da matéria.

            Delanne nos diz: “no homem o embrião reproduz, em uma evolução rápida, todos os seres pelos quais a raça já passou. Todos nós no seio materno fomos uma monera, depois um molusco, um peixe, um réptil, um quadrúpede e por fim um homem:" Mas esse "fim" é provisório, porque a evolução das formas continuará. O homem não é um ponto final, um nec plus ultra na obra de Deus, ele é apenas um outro começo, início de uma nova fase da evolução eterna dos seres vivos.

            "Hoje, ensina Gabriel Delanne, temos que nos desembaraçar das paixões e dos instintos que nos restam de nossa passagem pelos reinos inferiores. A luta é longa e difícil, porque temos que modificar os primeiros movimentos perispirituais que se encarnaram em nós e que constituíam por si mesmos nossa vida mental, durante essas épocas longínquas e milhares de vezes seculares em que realizávamos nossa evolução. Mas a vontade é onipotente sobre a matéria; o progresso abre diante de nós suas perspectivas sempre mais brilhantes, e essa força mesma, que fez de nós seres inteligentes, saberá abrir-nos o caminho para mundos melhores, nas quais reinem a concórdia, a fraternidade e o amor:"

            Delanne encerra seu excelente livro com uma bela esperança que em parte falhou: - esperava ele, em 1895, que o Espiritismo vencesse as lutas de classes tão agudas do século passado. Infelizmente a Humanidade preferiu até agora o caminho mais doloroso das lutas armadas, sem levar em conta os apelos dos Céus. As duas guerras mundiais e as cruentas revoluções de nosso século parecem uma fatalidade cármica, para obrigar os homens a desaprender muita coisa errada de seu longo passado.

            Mas o espírita brasileiro é sempre otimista: esperamos que no Brasil essas lutas sejam muito amenizadas pelo conhecimento sempre crescente do Espiritismo, guiando os homens a soluções pacíficas dos problemas que afligem a Humanidade.

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            Temos que aprender muitas coisas novas e que desaprender muitas velhas, que pertenciam a outras fases da evolução: em vez de hostilizar, temos que aprender a colaborar com todos os povos



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Livros editados pela FEB - Garantia de fidelidade doutrinária! 

Perante os Mortos


Perante os Mortos
Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Novembro 1962

            Quando visites o campo convertido em relicário da cinza dos mortos, procurando tatear a lembrança dos seres queridos que o sepulcro recobre, endereça-lhes a própria alma, em forma de amor, porque eles vivem. 

            Pensa neles com o enternecimento de quem reencontra velhos amigos, apartados de ti por temporária separação.

            Qual se estivessem, involuntariamente, numa parada expectante, falam-te, em silêncio, a verdade que o verbo humano não articula.

            Basta medites para que lhes recolhas a voz...

            Poderosos de ontem, que abusavam da autoridade, lamentam o capacete esbraseado de angústia e remorso que lhes envolveu as consciências; déspotas de variados matizes, que zombaram da fraqueza ou da ignorância do próximo, conservam enterradas, no próprio peito, as lâminas repulsivas com que desataram as lágrimas alheias; juízes, que leiloaram a dignidade dos tribunais, suportam as consequências do arrazoado precioso com que vestiram sentenças ímpias; intelectuais que encharcaram a pena em lodo mental, assalariando a própria inteligência no artesanato do crime, clamam contra o nevoeiro que lhes entenebrece os pensamentos; tribunos, que esconderam propósitos sombrios em frases fulgurantes, ouvem, no adito de si mesmos, as doridas exprobrações de quantos lhes caíram na vasa das intenções subalternas; artistas, que injuriaram a Natureza, senhoreando-lhe os recursos para suscitarem nos outros a delinquência emotiva, arrastam-se, obsessos e infelizes, nos torvelinhos da insanidade; pessoas dinheirosas, que fizeram do ouro e da prata incenso constante à própria vaidade, buscam, em vão, apagar a mentira das pomposas legendas que lhes marcam os restos...

            Junto deles, porém, surge a caravana dos que chegam dos cimos, a entremostrarem o próprio rasto por mensagem de luz.

            São aqueles que sobrenadaram a onda móvel e traiçoeira das ilusões humanas, desvelando os próprios corações por lábaros esplendentes... Ostentavam nomes admirados, mas souberam transfigurar a própria grandeza no trabalho em que se tornavam pessoalmente humildes e pequeninos; foram titulados, na culminância das profissões, entretanto, colocaram o serviço aos semelhantes acima das honrarias; desempenharam comandos sociais em gabinetes governativos, contudo, transformaram a liderança em exemplo de sinceridade e desinteresse, nas causas justas; eram renomados artífices da ideia e do sentimento, no entanto, manejavam a palavra falada ou escrita por enxada solar nas glebas do espírito; foram mordomos da finança e da economia, mas converteram a fortuna amoedada em sustentáculos do progresso e em fontes da beneficência fecunda; suaram, valorosos e desvalidos, na condição de heróis anônimos que a Terra desconheceu, todavia, passaram entre os homens, extravasando a própria dor, em cânticos de alegria e esperança, nos quais honorificaram o eterno bem...

                                                                                   *

            Recordando, pois, os entes amados que te antecederam no rumo de realidades excelsas, busca a inspiração dos que conheceste retos e bons e envolve no bálsamo da prece os que tombaram sob a névoa de clamorosos enganos.

            Reflete em todos eles, enviando-lhes a simpatia de tua bênção, porquanto as criaturas de quem te despediste na morte, acreditando em separação eterna, são simplesmente os companheiros desencarnados, componentes da família maior, a cujo seio também chegarás.