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terça-feira, 20 de outubro de 2015

Obsessão



CONCEITO. - Distúrbio espiritual de longo curso, a obsessão procede dos painéis íntimos do homem, exteriorizando-se de diversos modos, com graves consequências, em forma de distonias mentais, emocionais e desequilíbrios fisiológicos.

            Inerentes à individualidade que lhe padece o constrangimento, suas causas se originam no passado culposo, em cuja vivência o homem, desatrelado dos controles morais, arbitrariamente se permitiu consumir por deslizes e abusos de toda ordem, com o comprometimento das reservas de previdência e tirocínio racional.

            Amores exacerbados, ódios incoercíveis, dominação absolutista, fanatismo injustificável, avareza incontrolável, morbidez ciumenta, abusos do direito como da força, má distribuição de valores e recursos financeiros, aquisição indigna da posse transitória, paixões políticas e guerreiras, ganância em relação aos bens perecíveis, orgulho e presunção, egoísmo nas suas múltiplas facetas são as fontes geratrizes desse funesto avassalador de homens, que não cessa de atirá-los nos resvaladouros da loucura, das enfermidades carregadas de síndromes desconhecidas e perturbadoras, do suicídio direto ou indireto que traz novos agravamentos àquele que se lhe submete, inerme, à ação destrutiva.

            Parasita pertinaz, a obsessão se constitui de toda ideia que se fixa de fora para dentro - como na hipnose, por sugestão, consciente ou não, como pela incoercível persuasão de qualquer natureza a que se deixa arrastar o indivíduo. Ou, de dentro para fora, pela dominadora força psíquica que penetra e se espraia no anfitrião que a agasalha e sustenta, vencendo lhe as débeis resistências.

            Originárias, às vezes, da consciência perturbada pelas faltas cometidas nas existências passadas e ainda não expungidas - renascendo em forma de remorsos, recalques, complexos negativos, frustrações, ansiedades -, impõe o auto supliciamento, capaz, de certo modo, de dificultar novos deslizes, mas ensejando, infelizmente, quase sempre, desequilíbrios mais sérios...

            Possuindo o homem os fatores predisponentes para o seu surgimento e fixação (os débitos exarados na mente espiritual culpada), faculta uma simbiose entre as mentes, encarnadas ou desencarnadas, mas de maior incidência na esfera entre o Espírito desatrelado do carro somático e o viandante da névoa carnal, constituindo tormento de larga expansão que, não atendido convenientemente, termina por atingir estados desespera dores e fatais.

            Sendo, todavia, a morte apenas um corolário da vida, em que aquela confirma esta, compreensível é que o Intercâmbio incessante prossiga, não obstante a ausência da forma física. Viajando pelo perispírito, veículo condutor das sensações físicas na direção do Espírito e, vice-versa, mensageiro das respostas ou impulsos deste no rumo do soma, esse corpo semi material, depositário das forças impregnantes das células, constitui excelente campo plástico de que se utiliza a Lei para os imprescindíveis reajustes daqueles que, por distração ou falta de siso, desrespeito ou abuso, ambição ou impiedade, se atrelaram às malhas da criminalidade.

            O comércio mental funciona em regime de amplas perspectivas, seja no plano físico, seja nas esferas espirituais; ou reciprocamente.

            Não sendo necessário o cérebro para que a mente continue o seu ministério intelectual, constituindo o encéfalo tão-somente o instrumento de exteriorização física, mentes e mentes ligam-se e desligam-se em conúbios contínuos, incessantes, muito mais do que seria de supor-se.

            O que é normal entre os homens não muda após o decesso corporal.

            Há sempre alguém pensando noutrem. O estabelecimento dos contatos como a continuidade deles é que podem dar curso aos processos obsessivos ou plenificadores, consoante seja a fonte emissora.

            Através da Física moderna, em ligeiro exame, podemos constatar que, à medida que a matéria foi perquirida, experimentou desagregação, até quase total extinção da ideia de estrutura.

            Dos conceitos medievais aos hodiernos, há abismos de conhecimento, viandando da constituição bruta à quintessência. Em consequência, a Terra e tudo que nela se encontra ora se convertem em ondas, raios, mentes, energias.

            Da ideia simples, que insiste, perseverante, à fascinação estonteante, contínua, até à subjugação vencedora, a obsessão é, em nossos dias, o mais terrível flagelo com que se vê a braços a Humanidade...

            Espocando em condições próprias, quais cogumelos bravos e venenosos, multiplica-se assustadoramente, conclamando-nos todos à terapêutica imediata, cuidadosa, e a medidas preventivas, inadiáveis, antes que os palcos do mundo se convertam em cenários nefandos de horror e desastre.

            DESENVOLVIMENTO. - A História é testemunha de obsessões cruéis.

            Atormentados de todo porte desfilaram através dos tempos, vestindo indumentárias masculinas e femininas, em macabros festivais, desde as guerras sanguissedentas a que se entregavam às dominações mefíticas, cuja evocação produz estupor nas mentes desacostumadas à barbárie.

            Não somente, todavia, nos recuados tempos do passado.

            Não há muito, a Humanidade foi vítima da fúria obsessiva dos apaniguados do racismo hediondo, que nos campos de concentração de diversas nações modernas, praticaram os mais selvagens e frios crimes contra o homem e a sociedade, consequentemente, contra Deus.

            Isto porque a obsessão não se desenvolve somente nos chamados meios vis, em que imperam a ignorância, o primitivismo, o analfabetismo, os sofrimentos cruciais. Medra, também, e mui facilmente, entre os que são fátuos, os calculistas e imediatistas, neles desdobrando, em virtude das condições favoráveis da própria constituição espiritual, os sémens da perturbação que já conduzem interiormente.

            Estigma a pesar sobre cabeças coroadas, a medrar em berços de ouro e nácar, a fustigar conquistadores, a conduzir perversos, esteve nos fastos históricos aureolada de poder e ovacionada pela febre da loucura, condecorando homicidas e destruindo-os depois, homenageando bárbaros e destroçando-os em voragens nas quais se consumiam, em espetáculos inesquecíveis pela aberração de que davam mostras.

            Ferrete cravado em todos aqueles que um dia se mancomunaram com o crime, aparece nas mentes e corpos estio lados, arrebentando-se em expressões teratológicas dolorosas, exibindo as feridas da incúria e da alucinação.

            Não apenas no campo psíquico a obsessão desarticulou, no passado, heróis e príncipes, dominadores e dominados, mas, também, nas execrações físicas de que não se podiam furtar os criminosos, jugulando-os às jaulas em que se fazia necessário padecerem, para resgatar.

            Hoje, em pleno século da tecnologia, em que os valores éticos sofrem desprestígio, a benefício dos valores sem valor, irrompe a obsessão caudalosa, arrastadora, arrancando o homem das estrelas para onde procura fugir, a fim de fixá-lo ao solo que pensa deixar e que se encontra juncado de cadáveres, maculado de sangue, em decomposição, apodrecido pelo escárnio, face às suas múltiplas e incessantes desídias.

            OBSESSÃO E JESUS. - Ensinando mansuetude e renúncia, quando o mundo se empolgava nas luzes de Augusto; precedido pelos arregimentadores da paz e da concórdia, que mergulharam na carne para lhe prepararem o advento, Jesus viveu, todavia, os dias em que a força estabelecia as bases do direito e o homem era lacaio das paixões Infrenes, vitimado pelas loucas ambições da prepotência e das guerras.

            Embora as luzes do pensamento filosófico de então, a espocarem em vários rincões, o ser transitava, ainda, das expressões da selvageria à civilidade, acobertado por vernizes tênues de cultura, em que o orgulho vão mantinha supremacia, dividindo as criaturas em castas e sub castas, a expensas de preconceitos mui enganosos.

            A sua mensagem de amor, no entanto, sobrepairou além e acima de todas as conceituações que chegaram então, e a força do seu verbo, na exemplificação tranquila quão eloquente de que se fez expoente, abalou a pouco e pouco os falsos alicerces da Terra, injetando estrutura salutar e poderosa sobre a qual ergue, há vinte séculos, o Reino da Plenitude.

            Nunca se escutara voz que se lhe semelhasse. Jamais se ouviu canção que transfundisse tal esperança.

            Outra vez não voltaria o murmúrio sublime de tão comovedora musicalidade.

            Ninguém que fizesse o que ele faz.

            Nenhuma dádiva que suplantasse a que ele distribuiu.

            Pelo tanto que é, tornou-se também o Senhor dos Espíritos, penetrando os meandros das mentes obsidiadas e arrancando de lá as matrizes fixas, por meio das quais os Espíritos impuros se impunham àqueles que lhes estavam jugulados pelos débitos pesados do pretérito.

            Não libertou, no entanto, os obsidiados sem lhes impor a necessidade de renovação e paz, por meio das quais encontrariam o lenitivo da reparação da consciência maculada pelas infrações cometidas. Nem expulsou, desapiedadamente, os cobradores inconscientes. Antes, entregou-os ao Pai, a Quem sempre exorava proteção, em inigualável atitude de humildade total.

            Apesar disso, os que o cercavam fizeram-se, por diversas vezes, instrumento de obsessões temporárias, a fim de que pudéssemos compreender, mais tarde, a nossa própria fragilidade, afastando assim pretensões a regimes de exceção.

            Enérgico ou meigo, austero ou gentil, cônscio da sua missão, ensinou que a terapêutica mais poderosa contra obsessões e desgraças é a do amor, pela vivência da caridade, da renúncia e da auto sublimação.

            Prevendo o futuro de dores que chegaria mais tarde, facultou-nos o Consolador, para que todos que "nele cressem não perecessem, mas tivessem a vida eterna." 

            Enquanto as luzes da cultura parecem esmaecidas pelo sexo em desconcerto, de que se utilizam os Espíritos Infelizes para maior comércio com os homens; pelos estupefacientes e alucinógenos em báratro assustador, que facultam mais amplas possibilidades ao conúbio entre os Espíritos dos dois lados da vida; pela aflição na conquista da posse, que estimula o exercício exagerado de paixões de vário porte; pela fuga espetacular à responsabilidade, que engendra o desrespeito e acumplicia o homem às torpes vantagens da carne ligeira; pela desesperação do gozo de qualquer matiz, que abre as comportas do vampirismo destruidor - o Consolador chega lucilando ao mundo e acenando com novos métodos de paz para os que sofrem, e esses sofredores somos quase todos nós.

            Obsidiados, obsessões, obsessores!

            Ei-los em toda parte, para quem os pode identificar.

            Em arremedos de gozadores, padecem ultrizes exulcerações íntimas.

            Sorrindo, têm a face em esgares.

            Dominando, se revelam vencidos por Incontáveis mazelas que brotam de dentro e se exteriorizam, mais tarde, em feridas purulentas, nauseantes.

            Mais do que nunca, a oração do silêncio e a voz da meditação, no rumo da edificação moral, se fazem tão necessárias!

            Abrir a mente à luz e o coração ao amor, albergando a família padecente dos homens, de que fazemos parte, é o impositivo do Cristo para todos os que creem e, especialmente, para os espiritistas, que possuímos os antídotos eficazes contra obsessões e obsessores, com o socorro aos obsidiados e seus perseguidores, sob a égide de Jesus.

Obsessão
Joanna de Ângelis
por Divaldo Franco

Reformador (FEB) Outubro 1972

Soma as Bênçãos


Não raro, queixas-te dos contratempos que te cercam; entretanto, não te animarias a isso, caso te dispusesses a relacionar as vantagens que te rodeiam.

*

            Alguns dias de moléstia grave terão surgido, compelindo-te a cuidados; todavia, se somas os dias de saúde relativa que desfrutaste até agora, observarás para logo quão pequena é a faixa dos constrangimentos físicos que te visitam, muitas vezes à maneira de avisos preciosos, a te preservarem contra males maiores.

*

            Não conseguiste ainda concretizar ideais determinados que te enfeitam as esperanças, mas, se anotas os desejos que já pudeste realizar, entenderás sem delonga que a Divina Providência está pronta a te amparar na materialização dos teus sonhos de natureza superior, desde que te decidas ao estudo e ao trabalho nas oportunidades de serviço que se nos descerram a todos.

*

            Sofreste reveses, quedas, prejuízos, desilusões... Antes e depois deles, porém, guardas contigo o tesouro das horas com o emprego criterioso do qual ser-nos-á possível a recuperação ou o refazimento em qualquer circunstância difícil.

*

            Amigos abandonaram-te a área de ação; contudo, não disporás do mínimo ensejo para lastimar lhes o transitório afastamento, se souberes valorizar os irmãos e cooperadores que Deus te envia ou mantém na coparticipação de tuas tarefas e experiências.

*

            Em quaisquer embaraços ou crises do caminho, soma as bênçãos que já possuis e reconhecerás que todo motivo para desalento é nuvem pequenina a desfazer-se no céu imenso de tuas possibilidades.

*

            Suceda o que suceder nas trilhas da vida, em matéria de amargura ou de aflição, ergue a fronte e caminha para diante, trabalha e aprende, abençoa e serve, porquanto, diante de Deus e à frente dos companheiros que se nos conservam fiéis, a palavra desânimo é quase sempre o outro nome da ingratidão.

Soma as bênçãos
Emmanuel
 por Chico Xavier

Reformador (FEB) Março 1970

Nota em Desobsessão



O ingrato é doente da memória.
O indiferente é enfermo da atenção.
O orgulhoso é doente da ideia.
O fraco é enfermo da vontade.
O caluniador é doente da língua.
O delinquente é enfermo da emoção.
O sovina é doente da sensibilidade.
O malicioso é doente da visão.
O imprudente é enfermo do impulso.
O desequilibrado é doente da razão.

*

            Convençamo-nos de que há enfermidades específicas na alma, como existem doenças determinadas no corpo.

            Consequentemente, é preciso lembrar que assinar recibos de ofensas será o mesmo que tratar um doente, adquirindo-lhe, impensadamente, a enfermidade.

            Perante quaisquer agravos, desse modo, saibamos vacinar-nos contra o mal, usando a luz da compreensão e o amparo da bênção.

Nota em desobsessão
Albino Teixeira
por Chico Xavier

Reformador (FEB) Março 1970

domingo, 18 de outubro de 2015

Chico Xavier

Xavier, o Poeta 
 Xavier, o Médium

            O nosso bom Chico Xavier retomou à pátria espiritual. Deixou um legado que será difícil igualar. São poucos os que doam sua vida inteirinha pelo bem dos outros como o bom Chico fez por todos nós. Nossa homenagem não busca o velhinho, ossos doídos, vista cansada, alquebrado pelos anos de trabalho mas sim aquele jovem, cheio de vigor e vontade que em 1° de Junho de 1932 se apresentava ao público de Reformador, órgão oficial da FEB.

            Curiosamente, sua primeira obra publicada neste veículo não foi uma psicografia mas sim lindos versos, de sua própria autoria, que apresentamos abaixo:

Da Treva à Luz
Esqueçamos um instante as lutas terrenas
E voemos no Azul de deífica harmonia:
Contemplaremos pois a luz de um novo dia
Sublimado e feliz de sóis primaveris.
Sigamos. Já não são os doloridos ais
Desferidos na terra em forma de agonia;
São poemas de amor, de paz e de alegria
Que ouvimos no esplendor das luzes imortais.
E após despertar desse estágio sublime,
Traremos conosco as dúlcidas lembranças
Desse eterno fulgir que o homem não traduz.
Voltamos bendizendo a dor que nos redime,
Divinizando o céu das nossas esperanças,
A marcharmos com ardor das trevas para a luz!

            Assim vibrava o coração do bom Chico aos 22 anos de idade.

            Que promessa! Que certeza!


O Polígrafo



            No início era o Xavier. Chegou de mansinho como sempre foi o seu jeito de ser. Seu primeiro trabalho mediúnico publicado foi o livro "Parnaso de Além-Túmulo" que, em Abril de 1932, quando ainda estava no prelo, já merecia rasgados elogios de parte de Manoel Quintão, através do periódico Reformador, da FEB.

            "Parnaso ... " apresenta uma coletânea de poesias de autores famosos, já desencarnados à época da publicação. A variedade de estilos literários inibia qualquer possibilidade de ser contemplada a hipótese de fraude. Os trabalhos apresentados eram tão semelhantes à obra deixada pelos desencarnados que o fraudador teria de ser um gênio para alcançar tal capacidade de reprodução de tantos estilos de diferentes autores. Chico silenciou as elites culturais e aos formadores de opinião da época. Daqueles, muitos foram os que reformularam seus conceitos espirituais e tomaram a trilha consoladora do Espiritismo. Manoel Quintão assim exprimiu-se sobre o tema:

            "Admitimos que, com tempo, paciência e aptidões necessárias, possa alguém apossar-se da técnica de um grande escritor a ponto de iludir os menos argutos, conhecedores do mister.
            De um, mas não de muitos escritores, entenda-se, e isto na prosa porque, no verso, a empresa se torna quase senão de todo, insuperável.
            Depois, há de convir, na mais otimista das hipóteses que, a quem dispusesse de tais virtudes e habilidade melhor e mais prático lhe fora construir obra sua do que atribuí-la a outrem.
            ... sobre o médium polígrafo Xavier, haveríamos de o supor, antes de tudo um tolo, deslocado do seu tempo e do seu meio, e depois de tudo, um velho faiscador de não menos velhos patrimônios literários. Mineração passadista, ao demais inútil, porque nem admite proventos pecuniários, de vez que ele, de tudo cedeu e concedeu a beneficio da Federação, com vistas à propaganda. E Xavier é jovem, é mesmo muito jovem e pobre de bens materiais.
            ... Curioso, interessante, magnífico; guarde-se o leitor para a surpresa que nos destinam de bem alto, como verdadeiro maná neste deserto árido em trânsito para a Terra da Promissão."

            Os anos se passaram, Xavier se fez Chico e, através dele, cerca de 400 livros foram a nós enviados pelo Plano Maior. Deus o abençoe e no regaço de Maria, sua mãezinha querida, aceite nossas lágrimas de reconhecimento e agradecimento pelo seu trabalho de amor e renúncia por todos nós.   A equipe do Blog

Manoel Quintão

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Ofensiva do AntiCristo



              O desolador espetáculo que o mundo ora nos apresenta é fruto do trabalho tenaz do materialismo, que jamais descansou em sua obra de demolição do sentimento religioso, estimulado pelos erros e abusos cometidos pela Igreja, empolgada pelo poder temporal e desatenta, muitas vezes, ao poder espiritual. As restrições opostas pelos líderes católicos, em outros tempos, à ciência, à liberdade de pensamento e de expressão, a outras religiões desamparadas do prestígio oficial, etc., foram ampliando divergências que afetaram sua autoridade. No passado, as lutas com adversários aguerridos, o separatismo, as dissensões, enfim, tudo quanto poderia concorrer para reduzir a área de influência do Catolicismo no mundo, principalmente na Europa (1), alcançava rápido progresso, graças igualmente ao desenvolvimento simultâneo das conquistas científicas, que vinham provando, de maneira crescente e irretorquível, a falta de base de argumentos puramente sectários, sem razão e sem lógica. De 1303 a 1447, período em que se evidenciou o declínio do papado, à Reforma (1517-1648), a Igreja foi perdendo terreno sem cessar, embora parecesse a muitos que, em determinadas ocasiões, houvesse superado as dificuldades que a abalavam. A reação do Vaticano se fez presente, então, de maneira mais positiva, quando Leão XIII divulgou a encíclica “Libertas Protestantissimum”, em 1883, e a encíclica “Rerum Novarum”, em 1891, sobre a situação dos trabalhadores (1891). Ambas, principalmente a última, provocaram polêmicas calorosas. Eram, porém, sintomas das dificuldades que a Igreja já tentava afastar para restabelecer uma autoridade que, mais e mais, lhe fugia.

            Pio XI manifestou-se contra o fascismo (1931) e o comunismo (1937); Pio XII conclamou a união contra os males do mundo, na encíclica “Summi Pontificatus” (1939), e realizou um plano de paz em 1939, sem deixar de sentir mais forte a precariedade da posição do Vaticano em face dos acontecimentos políticos e sociais. Tanto assim que, em 1945, expôs suas opiniões a respeito do poder espiritual da Igreja e os conceitos modernos do Estado. Foi, porém, João XXIII quem, em “Mater et Magistra”, acentuou corajosamente o problema das relações entre as comunidades políticas em desenvolvimento econômico e as já desenvolvidas e com alto nível de vida. De um lado, o pauperismo, de outro a riqueza. A atividade de João XXIII granjeou-lhe a simpatia geral, depois da encíclica “Pacem in Terris”, pois abriu caminho para o reajustamento que ora Paulo VI enfrenta, de certo modo preocupado com o desembaraço excessivo de numerosos elementos do clero, muito “prá frente”, contra o qual o Vaticano luta, na tentativa de evitar consequências ainda mais desastrosas para o futuro da Igreja.

            Fizemos este ligeiríssimo retrospecto para deixar o leitor mais ou menos esclarecido quanto às tentativas que vêm sendo feitas para evitar maiores estragos à autoridade da Igreja.

            De Pio XII a João XXIII, todos os papas se aperceberam da tempestade que começava a desabar sobre ela, como resultado natural, não só dos desacertos do passado, como do desembaraço cada vez maior atingido pelas forças do materialismo, “cavalo de Tróia” de reivindicações perigosas.

            Quem quer que estude os problemas da causalidade, da chamada “lei de causa e efeito” ou “lei cármica”, compreenderá, sem surpresa, que a Igreja entrou, efetivamente, na fase crítica do resgate das faltas, erros e omissões cometidos, decorrentes da sua politização progressiva, em prejuízo do seu prestígio espiritual. Quando a sua autoridade interna não sofria nenhuma contestação, a disciplina lhe assegurava uma tranquilidade hoje quase totalmente desaparecida. A indisciplina, porém, eclodiu em vários pontos, bispos, padres e freiras têm dado públicas demonstrações de desrespeito a Jesus, apresentando-o até como vulgar agitador de massas, revolucionário político igual a tantos outros que por aí andam a perturbar o mundo. Outros pregam a violência como instrumento de ousadas reivindicações, relegando para plano inferior a doutrina de compreensão, cordura e paz dos Evangelhos, sem mais esconderem o propósito de provocar o desmoronamento, não apenas da Igreja Católica, mas da Religião. Daí o recurso do papa a um ecumenismo que mal oculta seu estado de desespero, para que se consolide a coalizão de todas as chamadas “grandes religiões”, abrindo os braços de par em par para aqueles que outrora não a acompanharam, os Ortodoxos; para os que dela um dia se afastaram, os Protestantes, assim também para os que não professam o pensamento cristão, como o Judaísmo. As religiões consideradas “pequenas” e “fracas”, entretanto, não foram atraídas para esse ecumenismo de emergência, porque, sendo consideradas “pequenas” e “fracas”, não poderão criar obstáculos à tentativa de restauração de uma autoridade em agonia.

            Hão de pensar, aqueles que não conhecem os espíritas cristãos, que nos rejubilamos com o que sucede à Igreja, por sabermos da sua posição anticristã contra o Espiritismo. Não, de modo algum. Não somos ingênuos e compreendemos bem que as forças da Treva querem reduzir os grandes redutos religiosos à impotência, para, depois, ocupar-se dos que consideram pequenos, quanto ao número, embora não o sejam propriamente quanto à fé que os anima. Busca-se destruir a Religião, para que o materialismo reduza a Humanidade inteira a uma escravidão sem exemplo na História da Terra. Querem banir definitivamente, da vida humana, o sentimento religioso.

            Reflitamos, nós, espíritas, sobre tão importante quão melindroso aspecto da vida atual e compreendamos a necessidade urgente e imperiosa de seguirmos uma linha de conduta ainda mais rigorosa, quanto ao respeito que todos devemos a Deus e a Jesus, exemplificando os Evangelhos e seguindo as instruções que nos enviam nobres Entidades do Alto, todas a serviço do Mestre!

            Prestigiemos cada vez mais, pelo exemplo, a Doutrina codificada por Allan Kardec, porque somente a exemplificação nos dará forças para resistir à onda de aniquilamento dos valores morais e espirituais da Humanidade, promovida pelos propugnadores do materialismo ateu, ostensivos ou embuçados. Recordemos o sacrifício dos antigos cristãos lançados às feras, e nos unamos, pelo exemplo e pela prece, para a defesa dos princípios evangélicos!

            (1) Vide "Os conflitos entre a ciência e a religião" e "Desenvolvimento intelectual da Europa", ambos de W. Draper; "A luta entre a ciência e a teologia", de White.

Ofensiva do AntiCristo
Túlio Tupinambá / (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Fevereiro, 1970

Fé e Coragem


           Proclamar as próprias convicções, notadamente diante das criaturas que se nos façam adversas, é coragem da fé; no entanto, semelhante afirmação de valor não se restringe a isso.

            O assunto apresenta outra face não menos importante: o desassombro da tolerância pelo qual venhamos a aceitar os outros como os outros são, sem recusar-lhes auxílio.

            Cunhar pontos de vista e veiculá-los claramente é sinal de espontaneidade e franqueza, marcando alma nobre.

            Compreender amigos e adversários, simpatizantes ou indiferentes do caminho, estendendo-lhes paz e fraternidade, é característico de paciência e bondade, indicando alma heroica.

            Demonstra a própria fé, perante todos aqueles que te compartilham a estrada, mas não deixes de amá-los e servi-los, quando se patenteiem distante dos princípios que te norteiam.

            Reportamo-nos a isso, porquanto, junto dos companheiros leais, surgirão sempre os companheiros difíceis.

            Esse de quem esperavas testemunhos de amor e bravura, nas horas graves, foi o primeiro que te deixou a sós, nos momentos de crise; aquele, em cujo coração plantaste  sinceridade e confiança, largou-te ao ridículo, quando a maioria mudou, transitoriamente, de opinião; aquele outro, a quem deste máximo apreço, te retribuiu com sarcasmo; e aquele outro, ainda, é o que te criou problemas e inquietações, depois de lhe haveres dado apoio e vida.

            Todos eles, porém, se nos erguem na escola do mundo por teste de persistência no bem. A coragem da fé começará sempre através da veemência com que exponhamos as próprias ideias, diante da verdade; entretanto, só se realizará em nós e por nós, quando tivermos a necessária coragem para compreender todos os homens, ainda mesmo os nossos mais ferrenhos perseguidores, como nossos verdadeiros irmãos e filhos de Deus.

Fé e coragem
Emmanuel por Chico Xavier

Reformador (FEB) Fevereiro 1970

Exemplificar e Divulgar



            Ninguém, depois de acender uma candeia,
a cobre com um vaso ou a põe debaixo duma cama;
pelo contrário, coloca-a sobre um velador,
a fim de que os que entram vejam a luz. (Lucas, 8:16, Marcos, 4:21)


            A palavra do Mestre de Todos os Tempos envolve, sem dúvida, dois aspectos, muito importantes, do problema evolutivo dos seres humanos, indispensáveis ao próprio aperfeiçoamento: a) exemplificação, b) divulgação da verdade.

            Pe. Manuel Bernardes, escritor, poeta e filósofo português, advertia que “não há modo de mandar ou ensinar mais forte e suave do que o exemplo: persuade sem retórica, reduz sem porfia, convence sem debate, todas as dúvidas desata, e corta caladamente todas as desculpas.”

            Sêneca, o grande filósofo, preceptor de Nero, sentenciava que “é longa a estrada dos preceitos; a dos exemplos é breve e mais segura.

            S. Paulo faz a complementação: “O amor nunca falha.”

            Em nossos dias, no âmbito da literatura mediúnico-espírita, o preceito, luminoso em sua essência e belo em sua forma, vem de André Luiz, o seguro benfeitor: “A uniformidade entre o movimento das suas ideias, dos seus conceitos e das suas ações, disseca, à vista de todos, a fibra da sua vontade.”

            E, em escala maior, Emmanuel, o notável Instrutor Espiritual, indaga, sereno, compreensivo e bom: “Se possuímos a luz da verdade, porque não seguir lhe a rota de luz?”
           
            O Espiritismo é, realmente, a grande escola.

            Insuperável educandário, onde o Evangelho e a Codificação Espírita distribuem, a mancheias, orientação e consolo.

            E nós - todos nós, em verdade -, aprendizes quase sempre aptos a entender-lhes, no cérebro, os ensinos, mas falhos, no coração, no cumprimento.

            A Doutrina dos Espíritos, no entanto, é, não apenas escola a ensinar e corrigir. É, também, farmácia espiritual onde se buscam os medicamentos da fé, da esperança e da caridade, do esforço, do esclarecimento e da persistência, destinados, por ingredientes renovativos, a nos fortalecerem o coração, a nos clarearem o entendimento, de modo a bem lhe vivermos as lições, naturalmente de acordo com as nossas possibilidades individuais, quase sempre pequenas.

            Com o Espiritismo, portanto, conceitos e valores se reformulam. A caridade, com ele, não é, exclusiva e simplesmente, o ato material de atendermos, transitoriamente, à necessidade do companheiro que estagia na carência do pão e da roupa.

            Com a Doutrina dos Espíritos, caridade é, sobretudo veículo perene de ajuda substancial, nos escaninhos mais profundos da psique; a fim de que o amparo se alongue no tempo e no espaço, além das necessidades físicas.

            Com ela, corrigir não é esmagar, ao peso do verbo impiedoso ou da atitude desumana, mas ensinar com bondade e segurança, reservando ao irmão que jornadeia indeciso a iniciativa de seguir o melhor.

            O jardineiro ampara o tenro arbusto, para que ofereça ele, mais tarde, a beleza e o perfume da flor.           

            No segundo aspecto da lição, de Jesus - divulgar a verdade -, a palavra divina é convite ao trabalho incessante de sua difusão, para que as luminosas expressões da verdade não se enclausurem em bibliotecas ou gabinetes, mas se expandam, generosas e abundantes, na tribuna, no livro, no jornal ou na mensagem esparsa, a exemplo da linfa cristalina e pura que, fluindo nas encostas, fertiliza vales imensos.

            Com todo o respeito aos que buscam a Deus noutros sítios religiosos, filosóficos ou científicos, e até mesmo niilistas, a Moral Espírita, em plena harmonia com a Moral Cristã, simboliza a candeia que não devemos ocultar, mas pô-la em lugar bem visível, no altar de nossas realizações internas e externas, especialmente daquelas, para que seus reflexos alcancem outras consciências e outros corações.

            Todos nós, almas em processo de redenção e aperfeiçoamento, constituímos a farândula das almas que, em passado próximo ou remoto, esquecemos o endereço de Deus.        

            Divulgar o Espiritismo, com nobreza e dignidade, com seriedade e critério e com absoluto respeito aos seus princípios e à elevação dos Benfeitores Espirituais, não significa anseio de proselitismo. Nosso objetivo, fraterno, é de que as alegrias que fruímos, como partícipes dos banquetes de luz da Terceira Revelação, se estendam a outras inteligências, encarnadas e desencarnadas, ainda no clima da incerteza e da aflição.

Exemplificar e Divulgar
J. Martins Peralva

Reformador (FEB) Fevereiro 1970

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Profilaxia da Alma

            
              De múltiplos modos enxergamos a intervenção dos outros na salvação alheia, quando o perigo ameaça.

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            Bombeiros, aqui e além, arrebatam criaturas ao império do incêndio, repondo-as em segurança.

*

            Médicos se devotam a enfermos, preservando-lhes a vida.

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            Em todos os recantos da Terra, guardiães dedicados das vias públicas arrancam à morte legiões de pessoas, todos os dias.

*

            Um amigo acompanha outro amigo em dificuldade, caminha com ele, durante algum tempo, amparando-lhe os compromissos e livrando-lhe o passo de precipitação em falência.

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            E, entre o Plano Espiritual e o Plano Físico, nós, os desencarnados, observamos, de maneira incessante, os testemunhos de solidariedade e carinho de amigos inúmeros, domiciliados no Mais Além, que se empenham no auxílio aos companheiros que deixaram no mundo. E isso ocorre, nos menores setores da vivência terrestre.

            Aqui, é preciso suplementar a cautela de alguém, alertando-lhe a memória para fechar o gás ou desligar a força elétrica, prevenindo acidentes; ali, é necessário escoltar uma criança, pelos fios intangíveis do pensamento, frustrando lhe quedas fatais; além, é forçoso socorrer um motorista descuidado, induzindo-o a verificar essa ou aquela peça
do carro de que se vai servir, coibindo desastre possível; mais adiante, é indispensável sugerir a determinados companheiros, em divertimento, a cessação de pequenos abusos, suscetíveis de impulsioná-los a processos de obsessão.

*

            De múltiplos modos repetimos - anotamos o amor e a fraternidade operando na salvação alheia; entretanto, para que não venhamos a tombar nas trevas da ira ou do ódio, do orgulho ou da crueldade, só conhecemos um tipo de profilaxia espiritual: cada criatura deve orar, asserenar-se, abençoar os semelhantes, compreender que todos somos
necessitados da Misericórdia Divina e resguardar a si mesma.

Profilaxia da Alma
Emmanuel por Chico Xavier

Reformador (FEB) Fevereiro 1970 

Panorama



           Parece que o espírito de confusão, arrastando sua coorte de discórdia, incompreensão e desamor, tem penetrado ultimamente todos os setores humanos a fim de que a “abominação da desolação” contamine até mesmo “as coisas santas”, isto é, o movimento interno das religiões, a essência em que elas se inspiram. Nem mesmo o Consolador, tão amado pelos que por ele foram beneficiados, se isentou dos reflexos dessas investidas, pois numerosos problemas preocupam aqueles que assumiram verdadeiras responsabilidades no seio da Doutrina dos Espíritos. Frequentemente surgem ataques às obras de Allan Kardec, refutações, destruição mesmo, pois, para alguns, a codificação está “ultrapassada”, embora não aparecessem ainda obras melhores do que elas. Os Evangelhos, por sua vez, são dolorosamente rebatidos, quando o bom-senso sugere é o exame construtivo em todos os setores que interessam a Humanidade  e não o ataque e o negativismo, como alguns espíritas livres pensadores tentam fazer. De outro modo, jovens inexperientes, imbuídos de ideias materialistas, ou negativistas, se confundem, incapazes de uma análise racional entre a Doutrina Espírita, a que se filiaram, e o materialismo, que as escolas do mundo lhes apontam com foros de razão, análise que o Espiritismo vem resistindo vitoriosamente há um século.

            Em torno desse desagradável panorama negativo, um jovem aprendiz de Espiritismo, residente no interior do País, escreveu-nos, há dias, muito aflito e confuso, pedindo consolo e esclarecimentos sobre melindroso fato ocorrido em seu núcleo espírita. Disse ele que certo expositor doutrinário do núcleo em questão asseverou, publicamente, ser desnecessário o estudo completo dos Evangelhos, bastando que apenas conheçamos os pontos esclarecidos por Allan Kardec em “O Evangelho segundo o Espiritismo”. Que o estudo geral desse código cristão é perigoso, e que as Parábolas do Cristo são absolutamente inúteis, porquanto as Parábolas são interpretadas segundo o parecer de cada um. Que as Epístolas não têm valor para nós, espíritas, visto que nem mesmo se sabe se Pedro e Paulo existiram. Enfim, o “expositor” apresentou um programa de destruição daquilo  que, quando ele próprio nasceu, já encontrou no coração do próximo há cerca de vinte séculos, sem nada possuir para repor no lugar daquilo que destruiu.

            É lamentável que tais coisas aconteçam, mas a verdade é que acontecem, e o Evangelho aí está desafiando os séculos com uma literatura brilhante desde os seus primórdios, um serviço magnífico prestado à sociedade, sem que nada melhor fosse criado pelos “iluminados” da Terra a fim de substituí-lo. Nosso missivista, pois, que se tranquilize: essas críticas sempre existiram, mas a obra do Cristo é imortal e, apesar da incompreensão humana e da “competência” dos “mestres de obras feitas” há de permanecer. À proporção que o sentimento se depurar em nossos corações e o conhecimento amadurecer nossa razão, o que nos parece inútil ou defeituoso, naqueles códigos, se há de aclarar, pois nos Evangelhos também há ciência e transcendência, que nem a todos é fácil assimilar de improviso.

            Destruir, com as nossas opiniões pessoais, o que se encontra feito é fácil, não há mérito nesse trabalho. Mas realizar algo melhor do que aquilo que criticamos ou destruímos é muito mais difícil, porque frequentemente nos escasseiam méritos para tanto. Porque destruir o Evangelho, lavrando confusão no coração daqueles que se sentem bem ao acatá-lo, quando uma literatura perniciosa, erótica, deprimente, infesta o mundo, corrompendo a mocidade? Rejeitar o Evangelho, arrancando-o do coração daqueles jovens de boa vontade, os quais, na hora difícil que atormenta a Humanidade, se voltam para as coisas de Deus, engrandecendo o próprio caráter com um ideal superior, não será um crime? Sugerir-lhes, com tais críticas, que se tornem pessimistas, cépticos, ateus, será próprio de quem um dia se comprometeu consigo mesmo a difundir o bem, do alto de uma tribuna? Repudiar o exemplo dos apóstolos de Jesus, afetando descrença na existência deles, sim, é preferível, é cômodo, porque aceitá-los, imitando seus exemplos de abnegação e sacrifícios dará trabalho! Será necessário renunciar às atrações do mundo, que tanto agradam aos que vivem para si mesmos, será o sacrifício do repúdio às vaidades, e ao orgulho, que nos iludem o senso, pela adoção da humildade, do amor, do trabalho, da espiritualização de nós mesmos, da construção de valores pessoais, a fim de nos tornarmos dignos da mensagem do Cristo, como os apóstolos o foram. Aceitar os “Atos dos Apóstolos” será seguir o exemplo daqueles que a tudo renunciaram, até mesmo à família, ao bem-estar do lar, à tranquilidade da existência, para que o ideal divino, por eles difundido, penetrasse o coração do próximo e o reeducasse, enquanto eles próprios sofriam toda sorte de humilhações e martírio; e, por isso mesmo, porque ainda não possuímos capacidade para tanto, destruímos esse patrimônio humano nos corações jovens que se habilitam para, quem sabe? conseguir a capacidade que nos falta.

            As Parábolas do Mestre Nazareno são lições imortais que nos ajudam a compreender a vida e cuja oportunidade e realidade poderemos constatar diariamente, nas peripécias da vida prática de cada um. Nenhum mortal até hoje conseguiu criar conceitos mais vivos e oportunos, e Allan Kardec tratou de algumas delas com visível respeito, sem destruir as demais, visto que era “o bom-senso encarnado”. Porventura, “O Bom Samaritano” terá dois modos, ou modos múltiplos, de interpretação, como quer o nosso “expositor”? Porventura a “Parábola do Filho Pródigo” poderá ser interpretada de outra forma, senão aquela mesma que diariamente contemplamos em nossa sociedade? E “A casa construída sobre a rocha” não oferece a mesma interpretação desde o dia em que a palavra do Senhor se fez ouvir? E a voz de Jesus, bendizendo aqueles que o socorriam, quando socorriam o próximo, lição parabólica, também não brilha pela objetividade do pensamento? Porventura o senso, a razão e a lógica não nos ensinarão a compreender nessas Parábolas o verdadeiro sentido que nelas imprimiu Aquele que as criou?

            Uma mistificação não demora vinte séculos sustentando o ideal nos corações sinceros. Deus, o Criador de todas as coisas, não permitiria que, por uma mentira, que alguns sugerem ser os “Atos dos Apóstolos”, as Epístolas, etc., criaturas devotadas e sinceras derramassem o seu sangue nos suplícios dos primeiros séculos, sofridos pelos cristãos, testemunhando a sublimidade do ideal pelo qual morriam, e nem o cérebro humano seria capaz de inventar personalidades da superior envergadura de Pedro e de Paulo. Que, pois, o caro missivista não se preocupe com o que possam dizer os “expositores” livres pensadores, discípulos de Renan e não de Jesus e de Kardec. São ideias pessoais que não se conseguirão impor. Procure antes dedicar-se ao estudo fiel da Revelação Espírita, do Evangelho, de todos os compêndios, mesmo profanos, dignos de serem acatados, pois o mundo, e não somente o Espiritismo, necessita de personalidades cultas, mas bem orientadas, capazes de criarem o reino de Deus em si mesmas a fim de estabelece-lo no mundo, e não de imitadores de opiniões alheias negativistas e destrutivas. Que os estude também na vida prática e sentirá a alma edificada, invulnerável à agressão de “expositores” que assim pensam porque ainda não conheceram o sofrimento, têm satisfeitos até hoje os próprios desejos e paixões, mas, no dia em que a dor realmente os visitar, saberão compreender não só as Parábolas do Senhor, mas também procurar a companhia de Pedro e de Paulo, a fim de se consolarem meditando no heroísmo deles a frente das penúrias suportadas, ao mesmo tempo que aproveitando dos ensinamentos por eles deixados há dois mil anos aos corações humildes e de boa vontade, capazes de compreenderem a mensagem do Cristo a eles e aos demais discípulos confiada para nosso aproveitamento.
Panorama
Frederico Francisco / (Yvonne A. Pereira)

Reformador  (FEB) Jan 1970

Lendo e Comentando II



              Em primeiro lugar, é bom sabermos que a nossa atividade espiritual e o esforço que fazemos, no sentido de nos renovarmos interiormente para ajudar aqueles que nos buscam, são levados em conta e nos credenciam a uma ajuda por parte dos nossos...

Lendo e Comentando  (trechos)   2
Hermínio A. Miranda

Reformador (FEB)  Janeiro 1970

Lendo e Comentando (trechos) I



           ...nada recebemos de graça e ..., portanto, o nosso desenvolvimento espiritual é produto do nosso próprio esforço, dentro do contexto da lei de causa e efeito. Isto quer dizer...que o universo é regido pela justiça divina. Não importa quem seja o indivíduo ou qual seja a sua posição no mundo, ele está sujeito à operação das mesmas leis naturais como qualquer outra pessoa. Não há exceções, nem maneiras de enganar ou fugir à sequência imutável da lei de causa e efeito. Se isso fosse possível, a justiça divina seria inferior à que foi elaborada pelos homens. Alguns pensam, em momentos de crise, que podem fazer uma barganha com a Divindade. Tem sido sugerido com toda a seriedade que o arrependimento no leito da morte ou a recitação de alguma crença teológica tem
poderes para inutilizar o inviolável princípio de causa e efeito e absolver a responsabilidade pessoal.

            É bom que, de vez em quando, nos recordemos desses princípios. Para isso, nada melhor que vê-los expressos em palavras que sirvam de alimento à nossa meditação. Ainda hoje, decorridos tantos séculos e após tantas conquistas espirituais de notável significado, há quem julgue poder “negociar” as coisas que deseja com Deus, num tipo de barganha impossível, como se Deus fosse simples dono de uma barraca de feira. Outros propõem negócios semelhantes aos Espíritos, mediante oferendas e promessas, muitas vezes visando a conseguir favores especiais legítimos ou lamentavelmente ilícitos e inconfessáveis. Todas essas tentativas e manobras vão para o nosso “fichário” espiritual, onde se registam os atos de nossa responsabilidade, a fim de que no futuro sejam retificados os erros cometidos.

             É preciso aqui fazer uma distinção essencial e indispensável. A prece não é uma barganha; é nela que vamos encontrar os recursos de que tantas vezes precisamos para atravessar as crises surgidas de nossas imperfeições. Orar é uma atitude de defesa espiritual, na qual buscamos conforto, proteção e ajuda. Nossos mentores espirituais conhecem nossas deficiências e necessidades melhor do que nós próprios e somente podem ajudar-nos naquilo que não contrarie dispositivos da lei divina, nem interfira com o nosso programa de trabalho ou com o exercício do nosso livre-arbítrio. Não podem, por isso, prestar-nos favores ilícitos nem fazer por nós aquilo que nos compete realizar. Por isso há preces que, aparentemente, não são atendidas. Somos ajudados na medida das nossas boas intenções, dos nossos méritos e, principalmente, das nossas necessidades, isto é, em concordância com o nosso programa de trabalho evolutivo.

Lendo e Comentando  (trechos) 1
Hermínio A. Miranda

Reformador (FEB)  Janeiro 1970

+1 do Bóris Freire





“De toda dor que há na vida
A mais intensa e feroz
É a da vida de outras vidas
Que luta dentro de nós.”

Boris Freire por Chico Xavier

Reformador (FEB) Jan 1970

Mensagem do Bóris




“O mal reclama três dotes:
Silêncio, perdão e prece,
Coisa que não se comenta
É como se nunca houvesse.”


Boris Freire 
por Chico Xavier

Reformador (FEB) Jan 1970

Entre Irmãos



       Um tipo de beneficência indispensável ao êxito nas tarefas do grupo: o entendimento entre os companheiros.

            Não nos referimos ao entendimento de superfície, mas à compreensão de base,
através da paciência recíproca, que se apresente, na esfera do trabalho, para a superação de todos os empeços.

            Acostumamo-nos a subestimar as exigências pequeninas, como sejam a supressão
de um equívoco, a reformulação de um pedido, uma frase calmante em hora difícil, o afastamento de uma queixa... E a tisna de sombra passa a enovelar-se com outras tisnas de sombra; a breve espaço, ei-las transformadas em bola de trevas, intoxicando o ânimo da equipe, com a obra ameaçada de colapso ou desequilíbrio.

            Não ignoramos que um parafuso desarranjado numa roda em movimento compromete a segurança do carro, que o curto-circuito em recanto esquecido e suscetível de incendiar e destruir edifícios inteiros ...

            Mesmo assim, não sanamos, comumente, o mal-entendido, capaz de converter-se em agente de perturbação ou desordem, arrasando largas somas de serviço, no qual se garante a paz da comunidade.              

            Estabelecido o descontrole no mecanismo de nossas relações uns com os outros, pausemos um minuto de meditação e prece, para observar com serenidade o desajuste em causa ou o hiato havido. Em seguida, aceitemos a mais elevada função da palavra: a da construção do bem, e saibamos esclarecer-nos, mutuamente, esculpindo o verbo em tolerância e fraternidade, a fim de que a marcha eficiente do grupo não se interrompa.          

            Certifiquemo-nos de que muito coração do caminho espera unicamente um toque de gentileza para se descerrar à alegria e ao trabalho ao apaziguamento e à renovação, lembrando certas portas de nobre e sólida estrutura que aguentam golpes e murros de violência, sem se alterarem, mas que se abrem, de imediato, sob a doce pressão de uma chave.
Entre Irmãos
Emmanuel por Chico Xavier

Reformador (FEB) Jan 1970 

Mediunidade e Escrúpulo


             Frequentemente encontramos muitos médiuns, retardados em serviço, sob escrúpulos infundados.

            Afirmam-se receosos de auxiliar.

            Qual se os Espíritos benevolentes e sábios devessem tratá-los, à conta de máquinas, com evidente desrespeito à liberdade de cada um, incompreensivelmente esperam pela inconsciência, a fim de serem úteis.

            Os servos da luz e da verdade, no entanto, aspiram a encontrá-los na condição de companheiros de trabalho e não como sendo robôs ou fantoches sem noção de responsabilidade nos encargos que assumem.

            Que dizer do escriturário que permanecesse no posto, incessantemente e nas mínimas circunstâncias, à espera de que o diretor do escritório lhe insensibilizasse a cabeça, a fim de atender às próprias obrigações? do enfermeiro que só obedecesse na atividade assistencial aos doentes, quando o chefe do hospital lhe impusesse os constrangimentos da hipnose?

            Convençamo-nos, em Doutrina Espírita, de que estamos todos reunidos na Seara do Bem; que os imperativos do trabalho e da fraternidade se repartem na equipe; que os nossos ideais e compromissos se nos continuam uns nos outros; e que a Obra da Redenção pertence fundamentalmente ao Cristo de Deus e não a nós.

            Compreendido isso, perceberemos, para logo, que ajudar aos irmãos em dificuldades e provas idênticas ou maiores que as nossas é simples dever, e que, em matéria de escrúpulo, a preocupação só é válida quando nos entregamos aos arrastamentos do mal, com esquecimento de que estamos convidados, aceitos, engajados e mobilizados no serviço do bem aos outros, que redundará invariavelmente em nosso próprio bem.

Mediunidade e escrúpulo
Emmanuel por Chico Xavier

Reformador (FEB) Jan 1970