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quarta-feira, 1 de abril de 2020

Alunos Rebeldes



“Alunos” rebeldes
Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Agosto 1958

            Entre os benefícios que o Espiritismo vem prestando à Humanidade, há também os que contribuem para ajudar religiões anestesiadas por absurdos dogmas ou entorpecidas por tradições ronceiras (que se negam a evoluir), sempre nocivas aos povos por lhes impor a fé naquilo que não compreendem, mas que aceitam em virtude de não lhes permitirem a liberdade de discernir. O Espiritismo e os espíritas têm sido vítimas de implacável perseguição do Catolicismo que, apresentando sempre a imagem do Cristo, nem sempre se lembra de apresentar, concomitantemente, o sentimento de tolerância inseparável da verdadeira doutrina de Jesus. Não obstante isso, os espíritas continuam ajudando o Catolicismo a se repor nas andas que lhe dão a sensação de invulgar prestígio no mundo de hoje.

            Sempre os espíritas demonstraram a inconveniência das missas em latim, porque os adeptos do Catolicismo acompanhavam o terço sem saber porquê. Um belo dia, surgiu a notícia de que as missas seriam, salvo um ou outro caso, em português, isto é, na língua vernácula. Em junho último, segundo lemos no vespertino carioca ‘O Globo’, do dia 23, frei Hildebrando P. Martins, O.S.B., nesta frase que deve ter causado inveja ao pendor sensacionalista de muito apurado técnico de publicidade – “a mais recente novidade para o Brasil, no domínio espiritual” – anunciou que, de acordo com o novo ritual bilíngue, serão ditos em português, daqui por diante, os sacramentos do batismo, da extrema-unção (exceto a oração) e do matrimônio (exceto o “Ego Conjugo” e a bênção das alianças). E isto, acrescentou, para maior compreensão e aumento de piedade do nosso povo.

            Como se vê, nós, os “demônios”, continuamos a ser úteis à igreja, abrindo-lhe os olhos. Há pouco tempo, ela decidiu que, em vez de “Padre Nosso”, seja dito nas igrejas e nos ambientes católicos, “Pai Nosso”, consoante antiquíssima prática espírita. Portanto, como já dissera Pangloss, “tudo vai bem, como nos melhores mundos possíveis”. O Espiritismo vai realizando, sem alarde, sem pretensão, sua obra de reforma, educação e esclarecimento do mundo. E o Catolicismo tem-se beneficiado dessa obra, procurando também reformar-se...

            Uma outra notícia de “0 Globo” de 20 de Março, telegrama dessa data, da U.P. apresenta título curioso: “O alto clero cubano não consegue harmonizar seus pontos de vista.”

            E no corpo do telegrama lê-se o seguinte: A Igreja Católica, única força que ainda pode apresentar uma fórmula que evite a continuação da luta fratricida, não definiu sua atitude depois de pedir um Governo de unidade nacional e após ter fracassado a gestão de sua missão conciliadora. A Igreja Católica, o episcopado cubano, toma suas decisões por acordo unânime de cinco bispos e o cardeal Manuel Arteaga. O certo é que alguns bispos  tendem a identificar-se com a oposição, outros com o Governo e alguns preferem que a Igreja mantenha uma atitude de neutralidade. Assim, não existe acordo.” Todos os grifos são nossos. Ninguém se entende no alto clero cubano. Isso é velho. Naturalmente, consoante uma praxe tradicional da Igreja, seu clero se divide de caso pensado, porque, assim, estará sempre com o grupo vencedor. O essencial é poder ficar de mãos dadas com o poder dominante. Sempre foi assim e naturalmente continuará sendo assim . Basta correr os olhos pela História e recordar um pouco o passado.
           
            Evidentemente, essa atitude não se coaduna com as lições do Cristo e também não está de acordo com o que ensina o Espiritismo, que é o Cristianismo redivivo. Acontece, porém, que no mesmo mês de Março deste ano publicou ainda “0 Globo”, do Rio, um telegrama de São Paulo, datado do dia 20, com este título saborosamente cinematográfico, que honra o “sense of humour” do redator respectivo: “Padre e prefeito entraram em luta com C. Camilo Peppone”. Como a nota anteriormente mencionada, essa também em três colunas. Como não temos muito espaço, transcreveremos somente o seguinte: “Por interferência do Juiz de Direito da Comarca, Sr. Renato Torres, estabeleceu-se uma trégua na luta, pela imprensa e através do púlpito, que vinham travando, há tempos, o Prefeito Jaime Regalo Pereira e o Padre José Canônico, da cidade de Descalvado, no interior do Estado. Como noticiamos, a população local dividiu-se, acompanhando vivamente interessada o desenrolar dos debates, quando ataques cerrados e, por vezes, contundentes foram feitos pelo prefeito ao pároco, principalmente depois do tríduo carnavalesco,  durante o qual, com autorização do Vigário, foram realizados bailes na Casa Paroquial.”  Os grifos continuam sendo nossos.

            A confusão vem de longe e irá longe. Como se poderia esperar que um padre, principalmente sendo “canônico”, mandasse realizar bailes carnavalescos na Casa, Paroquial? Se isso não fosse publicado por um jornal autorizado e respeitável, como “O Globo”, francamente, não acreditaríamos. Enfim, s padres precisam ler mais um pouco do que publica o Espiritismo. É para seu bem que o dizemos...

            Tenhamos esperança, porém. As coisas já estiveram piores. Nem todos os alunos apresentam o mesmo índice de elevado aproveitamento do que se lhe ensina. É preciso, porém, ter paciência e, sobretudo, pertinácia. E da edificante comunicação que o luminoso Espírito de Emmanuel transmitiu Francisco Cândido Xavier, sob o título “Educação”, recordemos aqui esta frase: “O Espiritismo, sobretudo, é obra de educação.”      


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