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sábado, 11 de abril de 2020

A Prece



A prece
Alex Carrel / Lino Teles (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Julho 1941

            Alex Carrel, o autor de “O homem, esse desconhecido", é um nome planetariamente acatado como cientista e pensador. Neste momento está sendo muito divulgado em todas as Américas um seu esplêndido artigo sobre o poder da prece.

            Declara o grande médico que em sua clínica teve ensejos de verificar o poder supranormal da prece, quando os recursos da terapêutica haviam falhado; no entanto, o maior milagre da prece não é esse de curar corpos enfermos, no conceito de Carrel. Muito mais do que isso faz a prece, porque cura almas doentes, melhora e transforma o
homem, elevando-o para Deus.

            Sob a onda de materialismo que vem escravizando o mundo, a prece ficou esquecida. O homem passou a crer de preferência na força material, mais evidente, do que na Fonte mesma da força, que é o Espirito. Houve uma dessas lamentáveis evidências falsas que tantas vezes nos têm enganado, como quando supúnhamos que o Sol girava em torno da Terra. A ilusão de força material foi tão grande que em certo momento o Chefe da Igreja Católico-Romana aconselhou o emprego da força militar contra o perigo pagão que ameaçava o mundo, isto é, até o Infalível Doutor da Igreja foi colhido pelas malhas da ilusão de que a força material existia como causa e não somente como efeito de ação do Espirito. Nesta situação, o ensinamento de Carrel vê, de grande oportunidade, porque nos lembra que temos arma poderosíssima, invencível, para lutar contra a tempestade que desencadearam os erros acumulados durante milênios.

            Aos leitores de Reformador talvez pareça ocioso aconselharmos destas colunas a prece, pois que isso vem sendo repetido desde o primeiro momento em que se estuda Espiritismo; mas, não nos parece seja assim no convívio com os nossos irmãos. O homem velho é muito forte ainda; tenta por todos os meios impor-se às ideias novas. O espírita está sempre disposto a criticar, ridiculizar, irritar-se, como qualquer materialista. Conheço até um que é incapaz de conversar cinco minutos sem ferir a alguém com a mais impiedosa mordacidade; vive extravasando malevolência e despeito e apesar disso, desses terríveis exemplos negativos, é um pregador da doutrina, faz preces em público. Saberá ou poderá orar quem passa a vida rebuscando meios de amesquinhar, ferir, ridiculizar seus irmãos? De certo que não. O Mestre por excelência condicionou a eficácia da prece ao perdão das ofensas. Uma alma cheia de malignidade, que não soube perdoar as ofensas e amar os inimigos, é incapaz de orar, se bem possa dizer belos palavreados com o nome de prece. Antes de colocar a oferta sobre o altar, é necessário acertar as desarmonias com os ofensores ou ofendidos. Passar quinze horas de azedumes, afundando-se nas trevas do malquerer e, depois disso, cinco minutos em prece, é de uma insensatez absoluta. Só pelo exercício perseverante adquirimos uma capacidade. Para adquirirmos a prática de orar, temos que passar a vida cultivando pensamentos de amor, de harmonia, de perdão; escolher a nossa leitura, evitar todas as palestras que nos desarmonizem a alma; fugir de toda a sorte de irritação; cultivar, enfim, a afinidade com os grandes Espíritos. Sem esta preparação de todo instante, não saberemos orar, por mais brilhantes que sejam as nossas palavras com pretensão a prece.

            Acima de tudo, a prece é amor e só ama quem está exercitado para isso. Quem se exercita a odiar, só pode odiar, mas nunca orar.

            Ao espírita que conhece a lei das reencarnações, que sabe quanto somos influenciados pelos Espíritos atrasados, que crê numa Justiça Superior que tudo governa e dirige, nada deveria ofender, surpreender ou irritar. Tudo está dentro de uma lei perfeita e qualquer irritação é revolta contra a lei. Logicamente o espírita deveria estar sempre “vigiando e orando para não cair em tentação”.

            A prece é uma força poderosíssima, invencível, capaz de operar milagres; lamentável é que tão pouco saibamos cultivar em nossa alma esse poder superior. A forma literária da prece nenhuma significação tem. As melhores preces são sem palavras, formadas de sentimentos elevados para os quais a pobre linguagem humana ainda não cunhou vocábulos. A prece que não brote do coração espontaneamente, sem cogitar de palavras, fica na Terra, não sobe a Deus.

            Como obter esse estado superior de prece espiritual?

            Pela contemplação da obra divina, das manifestações da vida, Flammarion nos diz que chegou a uma dessas preces sublimes (1). Foi esse o seu caminho. Para outros, haverá outras sendas que conduzam ao mesmo alvo. A meditação sobre a justiça que se nos revela pelo conhecimento da lei de causa e efeito, em muitos é bastante para conduzir ao estado superior de prece. Outros encontram suas inspirações refletindo sobre o progresso de todos os seres e de todas as coisas, comparando o passado com o presente e prevendo o futuro grandioso da humanidade.

            Muitos são os processos de nos elevarmos à atitude de prece e só um é o processo oposto que nos impede de orar: a pretensão a juiz. Quem pretenda ser juiz de seus irmãos, da natureza, de Deus, dispondo de conhecimentos limitados no tempo, servindo-se de aparências incompreensíveis, irrita-se, enleia-se, desce e escraviza-se às trevas.

            Não julgar é a lei.

            Vivemos entre maravilhas, na superfície de uma estrela. Por toda parte a natureza é um hino de harmonia e beleza ao Criador. Leis admiráveis e infalíveis governam os movimentos dos astros e dos átomos. O crescimento e reprodução das plantas, a alegria dos animais, a inteligência dos grandes homens, tudo é grandioso e belo no mundo. Tudo nos pode encantar e enlevar desde que os nossos olhos sejam bons e não se detenham erradamente julgando acabada uma obra em formação e pondo-se a criticá-la. Essa obra mala acabada é o nosso irmão com pretensões a juiz e condenador de aparências.

            “Devemos orar sempre, pensar sempre em Deus e procurar cada vez mais elevar-nos à compreensão das maravilhas do Universo, sem nos prendermos demasiado a um só momento da eternidade. Um momento isolado da vida da humanidade pode parecer-nos um pandemônio; mas, ligado esse momento aos milênios passados e futuros, tudo se torna harmonioso e justo, digno da sabedoria do Eterno.

            A prece constante é a luz que iluminará a nossa jornada rumo ao futuro.

(1) “Deus na Natureza”.

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