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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Universalidade do Espiritismo




Universalidade do Espiritismo
Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB) Novembro 1942

            Um amigo muito culto, portador com dignidade de diploma de uma das nossas escolas superiores, católico-romano praticante relatou-nos dois fatos por ele verificados, de comunicações de mortos, fora de rodas espíritas. São estes os fatos: alguns meses depois de falecido o chefe de uma família católica, a viúva admitiu a seu serviço uma criadinha que não conhecera o morto e nada sabia dos negócios dos esposos. Certo dia essa jovem criada caiu desmaiada. Socorrida pelas pessoas da família, pôs-se a falar com a voz, os modismos, os pensamentos do morto, sobre assuntos materiais do Inventário de seus bens. Não só declarou que era o falecido chefe da família, como o demonstrou pelos conhecimentos que revelou de todos os negócios e interesses da viúva. Se bem todos na família desconheçam o Espiritismo, não ficou dúvida de que tenham recebido longa comunicação de seu chefe, por intermédio de uma pessoa que não sabia coisa alguma de mediunidade.

            O nosso relator, igualmente, não duvida da autenticidade da comunicação e limita-se a dizer que não quer aprofundar-se nesses assuntos.

            Ainda o mesmo cavalheiro nos relata o caso de uma pessoa conhecida, que no momento da morte falou em voz direta com uma senhora amiga e dela se despediu, em outra cidade. Ambos os casos ocorreram entre pessoas dignas de toda a fé e boas católicas.

            Esses dois relatos nos trouxeram à lembrança uma multiplicidade de casos semelhantes, que temos ouvido em rodas católicas, de pessoas que desconhecem o Espiritismo. Quase que todas as famílias possuem um ou alguns casos de manifestações de Espíritos. São aparecimentos, vozes diretas, sonhos premonitórios, incorporações espontâneas e outras modalidades dos mesmos fenômenos que o Espiritismo estuda e classifica. É assim e não poderia ser de outro modo, porque os fenômenos espíritas são eternos e universais deram-se e dão-se em todos os lugares e em todos os tempos. Foram a base inicial de todas as religiões e são igualmente o alimento de todas as crenças religiosas em todos os tempos. Sem esses fenômenos, que confirmam os livros sagrados, as ideias religiosas teriam morrido no mundo, o materialismo absoluto teria dominado todas as consciências.

            Portanto os fenômenos básicos do Espiritismo se dão sempre e mantêm vivas as religiões em toda a face do planeta. São as comunicações de santos que enchem a literatura católico-romana e sustentam a fé nos fieis. Uma das formas de comunicação mais comuns entre os católicos são as curas de enfermidades obtidas por intercessão de um santo. Cada santo tem a sua história de curas milagrosas bem documentada. É a mais comum, mas não a única. As aparições de mortos aos vivos são registradas nos anais da Igreja e em muitos processos de canonização.

            Fora de discussão, pois, está que os mesmos fenômenos do Espiritismo são igualmente do Catolicismo e de todas as religiões. Outra coisa, porém, é a filosofia propriamente dita. Os Espíritos sempre se comunicaram em todos os meios e em todos os tempos mas a formação da filosofia espírita é recente e foi elaborada pelo confronto das comunicações de muitos Espíritos em muitos lugares, não em fatos isolados de indivíduos que se manifestam.

            Virá a ser universalmente aceita a filosofia espírita, assim como está aceita a "ciência", isto é, o conhecimento das manifestações de mortos? A ciência consiste no conhecimento da verdade bem verificada e não passa além. A filosofia, porém, vai muito além e justifica a religião, esclarece os caminhos a percorrer, estabelece regras de conduta, transforma o indivíduo e consequentemente as coletividades.

            A universalidade dos mesmos fenômenos até agora não conduziu à unidade de crenças, deixou a humanidade dividida em múltiplas seitas, que reciprocamente se hostilizam e cada uma delas pretendendo o monopólio exclusivo da verdade. Virá o Espiritismo a reunir todos os filhos de Deus sob uma única bandeira no futuro? Para
esta pergunta procuramos resposta nas comunicações dos Espíritos superiores. Em 1857 apareceu a primeira edição de "O Livro dos Espíritos"; logo há mais de 85 anos que foram escritas as palavras que vamos ler.

            Sob o número 798, Allan Kardec pergunta: "O Espiritismo se tornará crença comum ou ficará sendo partilhado, como crença, apenas por algumas pessoas?"

            Resposta dos Espiritos:

            "Certamente que se tornará crença geral e marcará nova era na história da humanidade, porque está na natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos. Terá, no entanto, que sustentar grandes lutas, mais contra o interesse, do que contra, a convicção, porquanto não há como dissimular a existência de pessoas interessadas em combate-lo, umas por amor próprio, outras por causas inteiramente materiais. Porém, como virão a ficar isolados, seus contraditores se sentirão forçados a pensar como os demais, sob pena de se tornarem ridículos".

            A essas palavras ditadas do Alto há perto de um século, poderíamos juntar hoje a luz da experiência. O número de estudiosos do Espiritismo cresceu sempre e vem formando uma literatura imponente. Nota-se pelos serviços de livraria que os intelectuais, os pensadores, tomam interesse cada vez maior por esse estudo. A literatura dos adversários, contestando o Espiritismo, tem diminuído sempre. Hoje no Brasil não há um livro, contra o Espiritismo, em pleno vigor, esgotando edições. Todos os que apareceram, viveram pouco tempo e desapareceram. Ao contrário, os livros de defesa do Espiritismo se contam sempre vivos, sempre no cartaz, esgotando edições, há mais de meio século. Há obras espíritas em português que já alcançaram muitas edições e continuam em pleno vigor. Há obras novas que já esgotaram diversas edições. Referimo-nos somente ao Brasil, por falta de dados seguros para examinar o assunto noutros países; mas, a situação em outros países é muito semelhante à nossa: o combate contra o Espiritismo diminui e a propaganda cresce. Não seria exagero dizermos que, sobre o Espiritismo, se esgotam mais livros do que sobre todos os outros movimentos religiosos juntos, com exceção somente da Bíblia entre os protestantes. A Bíblia, porém, é aceita pelos espíritas como obra de interesse a favor do Espiritismo, e não como obra contrária.

            Esse crescimento constante da literatura espírita e sua aceitação cada dia maior demonstra que o nosso movimento ganha terreno entre os intelectuais, entre os pensadores, isto é, entre os homens que consciente ou inconscientemente dirigem a humanidade. Em outras palavras: como movimento intelectual, o Espiritismo já ocupa
um dos primeiros lugares entre os movimentos religiosos do mundo, se bem que como movimento social, sua posição ainda seja modesta.

            A influência social do Espiritismo é ainda pequena e disso temos prova nas guerras que se desencadeiam por toda parte. Quando a influência social do Espiritismo for grande, a guerra será abolida da face da terra. Ninguém pode supor que os espíritas de um país se reúnam de armas na mão para atacar os espíritas de outro país. O triunfo do Espiritismo será o estabelecimento da paz universal. Talvez esse futuro esteja longe, mas virá um dia.

            Para o momento, o que mais nos interessa é verificar se o Espiritismo tem assegurado o seu futuro, se não está sujeito a que algum Constantino o ponha a serviço de sua política, matando-o assim.

            Em muitos países a propaganda do Espiritismo é proibida e nisso não há grande mal, porque seria impossível harmonizar o ideal espírita com o ideal político de tais países. É mesmo preferível desaparecer da propaganda pública, a ter que se submeter a ideologias completamente opostas às do Cristianismo. Dizemos da "propaganda pública" porque a propaganda privada é feita pelos Espíritos e não está sujeita a limitação alguma dos Estados. Na Alemanha, na Itália, na Rússia, no Japão, apesar, de todas as proibições, os Espíritos se comunicam e não podem ser presos, nem fuzilados, nem queimados. Somente, as comunicações não podem ser publicadas, permanecem nos lares, nas rodas íntimas, esperando o tempo oportuno para se divulgarem.

            Semelhante proibição, e mais violenta ainda, teve o Cristianismo nos primeiros séculos, mas isso não impediu a sua perpetuação no mundo. Mais perseguido ainda do que o Cristianismo tem sido o Judaísmo, e não desapareceu do mundo.

            O Espiritismo igualmente não desaparecerá nem mesmo nos países onde é violentamente perseguido, e sempre permanecerá a liberdade em alguns pontos do planeta para conservar a nossa literatura. Hoje em todos os países da América, na Grã-Bretanha e em outros lugares, é livre a propaganda espírita. Assim, pois, o futuro do Espiritismo está assegurado no mundo todo, porque não cremos que o mundo todo venha a cair em poder da tirania, e porque a tirania é impotente para impedir as manifestações dos Espíritos.

            Graças a Deus, em nossa Pátria, desde os tempos do Império até os nossos dias, foi sempre assegurada aos espíritas ampla liberdade de propaganda. Nem durante os estados de guerra, quando todas as liberdades individuais sofrem limitações em favor do bem comum, sofremos qualquer limitação de ensinar e pregar da tribuna e da imprensa as consoladoras verdades do Espiritismo. Cumprem-se, portanto, as profecias escritas há 85 anos passados e o Espiritismo se vai incorporando aos conhecimentos humanos que hão de estabelecer uma nova era para a humanidade. Os fenômenos multiplicam-se dentro e fora das nossas fileiras; e os fenômenos são fatos e os fatos não se destroem com palavras.


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