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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Médiuns e Mediunidade


Médiuns e mediunidade
Sylvio Brito Soares
Reformador (FEB) Março 1951

            Em todo ser humano existe uma faculdade que lhe é peculiar, a que todos chamamos mediunidade. Assim, o homem é uma espécie de antena, mais ou menos sensível, em condições, portanto, de captar com variável precisão as infinitas ondas vibratórias que se espalham em nosso ambiente terrenal, ondas que tanto podem ser inferiores, como plenas de sabedoria e amor. Não nos esqueçamos de que o verdadeiro significado de mediunismo é percepção espiritual.

            Há indivíduos que não se julgam médiuns no sentido geralmente emprestado a este vocábulo, mas que, no entanto, são dotados de uma percepção espiritual muito acentuada. Suas vibrações, harmonizando-se de maneira tão perfeita com as das entidades do Além, veiculam ideias e pensamentos desses invisíveis, deixando-os absolutamente convictos de que estão externando seus próprios pensamentos e ideias.
            Há criaturas que, sem o saberem, são médiuns notáveis, ora reproduzindo magníficas frases musicais que lhes soam distintamente aos ouvidos; ora compondo versos encantadores que bailam, voluteiam em suas mentes, sem que saibam, em verdade, explicar o porquê de tais fenômenos. No intuito, porém, de lhes darem uma explicação, apelam simplesmente para a tão decantada inspiração. Mas o certo é que os negadores do mediunismo se limitam a dizer que a inspiração é um sentimento que nasce espontaneamente no coração, no espírito. E criaram, então, talvez sugestionados pela mitologia da antiga Grécia, as figuras do gênio, da musa, da música, como verdadeiras deusas.

            Mozart, por exemplo, esse grande musicista que aos seis anos de idade já assombrava os meios cultos da velha Europa, com suas geniais produções, respondendo certa ocasião à pergunta que lhe fizeram, isto é, qual a maneira ou método que seguia para compor, limitou-se a dizer: “Quando me acho em boas disposições, completamente só, durante o meu passeio, as inspirações musicais vêm com abundância. A verdade, porém, é que não sei explicar de onde nem como vêm”.

            Beethoven, o magistral compositor das famosas sonatas, tinha o dom de escutar as harmonias siderais, e vibrante de emoção as reproduzia, tanto quanto lhe permitia a gama musical da Terra., rudimentar em confronto com as infinitas tonalidades e consequentes acordes inteiramente impossíveis de ser por nós obtidos, dado o baixo teor potencial vibratório do meio em que vivemos, pois, como se sabe, as notas musicais são efeitos de ondas vibratórias e os acordes mais agradáveis aos nossos ouvidos compõem-se de notas que produzem por exemplo 400, 500, 600 e 800 ondas por segundo. Daí, sem dúvida, o ter Schumann escrito este pensamento, que se encontra em sua correspondência: “Tenho por vezes ímpetos de esmagar o meu piano, cada dia mais incapaz, na sua estreiteza, de conter a minha ideia”. E essa idem era indubitavelmente o eco das sonorosas harmonias siderais que ele, médium sem o saber, percebia, deslumbrado, sem as poder reproduzir através do teclado de seu piano.

            Os grandes e reais artistas são médiuns videntes e audientes que sofrem extraordinariamente, pelas impossibilidades de reproduzirem aquilo que ouvem e veem.

            Leão Tolstoi foi, sem a menor sombra de dúvida, um médium. Com cinco anos de idade concluíra que a vida “não era um período de divertimento, mas uma tarefa muito pesada”.

            Shakespeare, nome mundialmente conhecido, hoje sabemos ter sido possuidor de notáveis faculdades mediúnicas. Henri Thomas, em sua “História da Raça Humana” referiu-se ao extraordinário autor de "Hamlet", entre outras coisas, disse: “Compreender Shakespeare é compreender o complexo mistério da Criação, pois suas peças são a reprodução, em miniatura, de todo o drama estupendo da vida. Santayana fez notar, num de seus sonetos, que Deus dobrou a Criação ao criar Shakespeare”.

            “Shakespeare foi um homem dotado de pensamentos e da linguagem de um Deus. No entanto, externamente, sua vida foi tudo, menos divina - A carreira desse grande poeta foi uma das menos poéticas do mundo”.
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            “Os críticos transformaram-no em católico e ateu, patriota e pacifista, pregador e cínico humanitário e misantropo, realista "snob" e democrata utópico. Ele não era nada disso e, no entanto, bastante paradoxalmente, era tudo isso”.

            Vamos transcrever, para melhor documentarmos ainda a mediunidade de Schumann, a seguinte carta por ele escrita, em 7 de Abril de 1839, a Clara Wieck:

            “Já te contei o triste pressentimento que me assaltou entre 24 e 27 de Março, enquanto escrevia minha nova composição. Nessa obra encontrarás uma frase repetida com insistência; parece alguém a suspirar do mais fundo do coração. Durante o improviso vi cortejos fúnebres, esquifes e gente em desespero e, ao terminar esse ciclo de quatro peças, procurei durante largo tempo um título, que lhe conviesse; ocorreu-me o de “Fantasia fúnebre". Não achas isto curioso? Enquanto trabalhei, senti-me tão comovido que me vieram, sem motivo e sem eu saber porquê, as lágrimas aos olhos. Horas depois chegou-me a carta de Teresa... Só então compreendi o motivo da minha emoção”.

            Note-se que a carta de sua irmã Teresa, a que Schumann se refere, continha a notícia que seu irmão Eduardo se achava em agonia, falecendo pouco depois.

            A aptidão para o mediunismo, como aliás todas as aptidões humanas, precisa cultivada com muito carinho e devotamento. E os nossos Maiores do Além asseveram, mesmo, ser necessário santificar-se essa qualidade, isto é, convertê-la no ministério ativo do bem. Daí o concluir-se que todos os que desejam manter salutar intercâmbio com as esclarecidas entidades do Além devem, antes de tudo, higienizar os seus sentimentos, moderar seus impulsos, refrear suas paixões pelas coisas mundanas e, sobretudo, alimentar a chama sagrada do amor. Porque inúteis serão sempre as nossas rogativas de luz se nos preservamos nas sombras, baldados serão os nossos pedidos de felicidade se continuarmos semeando sofrimentos.

            Há inúmeros casos de pessoas que praticam o mediunismo, ignorando, por completo, as obras básicas da nossa doutrina, e por essa falta de conhecimento é comum vermos, diariamente, médiuns que poderiam ser magníficos veículos, para esse intercâmbio espiritual, ficarem inteiramente inutilizados.

            Precisamos ter sempre em mente este sábio conselho que um bondoso mensageiro do Além nos ofereceu: “Não provoqueis o desenvolvimento prematuro de vossas faculdades psíquicas. Ver sem compreender e ouvir sem discernir pode ocasionar desastres vultosos ao coração. Buscai, acima de tudo, progredir na virtude e aprimorar sentimentos. Acentuai o próprio equilíbrio e o Senhor vos abrirá a porta dos novos conhecimentos!”

            É por isto que os espíritas e especialmente os médiuns espíritas carecemos ler e meditar profundamente as obras de Kardec, a fim de que cientes e conscientes das grandes responsabilidades que pesam sobre os nossos ombros, saibamos comportar-nos com galhardia e fé, em todos os momentos acidentados de nossa marcha em busca do progresso espiritual!

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