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segunda-feira, 18 de novembro de 2019

O Protestantismo e o Espiritismo - Parte 8







35    “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941
                                                                                                                  

CAPITULO VIII


...dentro de pouco tempo o nome de Cristo será inteiramente rejeitado e o espiritismo se colocará no seu verdadeiro terreno,  o de uma oposição radical
ao próprio Cristo e ao Cristianismo.
(Folheto da Califórnia).


            Estas palavras deveriam ser escritas da maneira seguinte: 
            "Dentro de pouco tempo o Espiritismo terá destruído o trono de Satã erigido pelos protestantes e terá construído, no coração de cada crente, o trono onde o Cristo irá ficar para vivificado e dirigi-lo ; e cada crente, isento de todo o medo e de todas as superstições, ficará em condições espirituais de bem compreender qual a vontade do seu Mestre e como é que ele impera como Rei, no seu reino que não é deste mundo; e o protestantismo será totalmente rejeitado, e o legitimo cristianismo será colocado no seu verdadeiro terreno".
            Duas vezes escreveu o autor do folheto protestante da Califórnia que os espiritistas provam a sua grande ignorância pelo fato de continuarem a ser espiritistas, conhecendo os Evangelhos.
            O autor do folheto é que prova ignorar que os maiores sábios do mundo se têm preocupado em estudar o Espiritismo, visando desmascará-lo com argumentos esmagadores, empregando para isso métodos científicos, como fizeram William Crookes, Alexandre Aksakof, Dr. Paulo Gibier e outros (1). E todos esses sábios trazem a público seu testemunho favorável, demonstrando ao mundo a origem divina da doutrina espírita, que hoje ninguém ousa refutar senão de má fé, por inveja ou interesses materiais. Hoje, nenhuma pessoa culta se abalança a contradizer seriamente o espiritismo: diante das provas apresentadas universalmente, só poderão fazê-lo pessoas ignorantes ou que tem interesses em trapacear, achando que o espiritismo lhes vai perturbar os meios de facilmente se locupletarem a custa dos semelhantes; porém, a guerra que lhe movem os adversários não altera nem de leve a sua marcha progressiva em toda a parte do mundo; pelo contrário, as perseguições auxiliam sobremaneira a sua divulgação.

(1) Vd. Fatos EspiritasUm caso de desmaterializaçãoAnimismo e EspiritismoO Trabalho dos mortos, (do Dr. Nogueira de Faria).




35b “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941
                                                                                                                      

            Os adversários referem-se também ao caso da moça obsidiada por Espíritos levianos, que era explorada pelos seus senhores interesseiros, como se vê em Atos, XVI: 16-18, que seguindo Paulo, Silas e Lucas, dizia: "Estes homens que nos anunciam o caminho da salvação, são servos de Deus altíssimo". Tomam esta passagem como argumento irrefutável, dizendo que, mesmo anunciando uma verdade, Paulo não admitia que aquele Espírito adivinhante continuasse a dizê-lo.
            '"Se Paulo expulsou o Espírito por Jesus Cristo, o espírito não podia ser de Deus, mas do diabo", porque Cristo não pode lançar fora Cristo, como Satanás não lança fora Satanás."
            E supõe que este argumento é um golpe mortal, infalível, que destrói pela base a doutrina do Espiritismo.
            Também o Sr. Antônio Ernesto chama a atenção para esta passagem, dizendo que Satanás, para mais facilmente enganar, falava a verdade, dando testemunho ao povo, dizendo que aqueles homens eram servos de Deus altíssimo e que anunciavam o caminho da salvação, tentando por essa forma iludir a boa fé dos incautos, e Paulo desmascarou o astucioso Satã, mandando-o sair da moça...
             Fortes argumentos!           
             E todos os que leem pela mesma cartilha dizem que tamanha lógica fecha a porta a toda e qualquer argumentação ... é o non plus ultra. Não há mais que dizer! Cui refragare nemo potest ...

....................

            Vejamos se podemos dizer alguma coisa que possa esclarecer esta passagem.
            Todos os que estudam os Evangelhos, sabem perfeitamente que, naqueles tempos, havia uma epidemia de obsessões. Os Espíritos obsessores atacavam grande número de pessoas que os atraiam como o imã atrai o ferro, tal como vemos em São Marcos, V: 1-8; São Mateus, XV: 22; S. Marcos, 1: 23-26; Mateus, XVII: 14-18; S. Marcos, XVI: 9; S. Lucas, X: .17; Atos, V: 16; S. Lucas, X: 20; Atos, XVI: 16.
            Provado está que naquele tempo havia muitas pessoas atacadas da doença que hoje a ciência médica oficial denomina histerismo, epilepsia, por lhe desconhecer a causa. Aquelas pessoas eram atacadas por Espíritos turbulentos (1) e entre essas pessoas obsidiadas havia algumas furiosas, que, arrastadas pelos Espíritos malignos, residiam nos cemitérios, entre os túmulos, ferindo-se com as pedras, uivando como animais, que ninguém podia amansar: quando as prendiam com cadeias de ferro, elas as partiam e se escapavam. Muitas dessas eram curadas por Jesus e seus discípulos. Aquela moça que tinha um Espírito adivinhante era uma doente, como são as muitas mulheres e homens epilépticos, que ainda hoje existem em todas as camadas sociais, Os possessos furiosos são encerrados nos manicômios: chamam-nos loucos: a maioria deles frequentava as igrejas, alguns eram incrédulos, outros irreligiosos e todos entregues a vícios vergonhosos, ou viviam vida irregular...  pessoas que não se davam a frequência sistemática de sessões espiritas!..

(1)    Pessoas que nunca se entregavam à prática de espiritismo.


35c     “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941


            Conta-nos o historiador, que os apóstolos achavam-se em pequena cidade da Macedônia, chamada Filipos, onde estiveram por alguns dias, e num sábado dirigiram-se para próximo de um rio, em lugar onde costumavam fazer orações, e assentados falavam às mulheres que, ali se ajuntaram. Dentre aquelas mulheres, só uma compreendeu bem o que Paulo dizia; era Lídia a vendedora de púrpura em Tiatira e só a esta o Senhor lhe abriu o coração para compreender o que Paulo dizia. (Atos, XVI, 12-14). No meio de tantas, só uma pode compreender. As outras não!
             A mesma coisa acontece entre os protestantes: do meio dos milhares que estudam a Escritura, há um ou outro que a compreende! A maioria está com o coração fechado...
            Quando os apóstolos estiveram alguns dias na residência de Lídia, saindo para orar (em algum outro lugar) u'a moça obsidiada seguia-os dizendo: "Estes homens que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus altíssimo". Nos primeiros dias, os apóstolos toleraram que ela dissesse a verdade, mas, conhecendo que ela era dessas mentecaptas perturbadas por Espíritos levianos, enfastiaram-se de ouvir da sua boca sempre as mesmas palavras: Paulo, depois que conheceu que era uma obsidiada, ordenou ao Espírito se calasse e deixasse a mulher em paz. Assim, em nome de Jesus, ele curou-a. Os apóstolos se descontentaram da enfadonha repetição das mesmas palavras que por muitos dias aquela moça lhes dizia!
            Ora, isso é muito natural. Quem é que se não aborrece de ouvir todos os dias sempre as mesmas palavras?!
            Ainda que seja uma grande verdade, repetida milhares de vezes, não somente fica muito barateada, como enfastia os ouvintes de tal maneira que se torna importunação.
            Todos os que nos dedicamos à leitura dos livros santos, sabemos que Jesus disse: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai senão por mim; Eu sou o bom pastor: Eu sou a ressurreição e a vida; Eu sou o pão vivo que desceu do céu; Eu sou a porta por onde entram as ovelhas; Eu, sou a luz do mundo; Eu sou a videira verdadeira e meu pai é o agricultor; porfiai por entrar pela porta estreita, porque a larga conduz à perdição; os maus irão para as trevas exteriores, onde há o ranger dos dentes; para o inferno irão os malditos, para o diabo e seus anjos; os benditos de meu Pai irão para o reino que lhes está aparelhado desde o princípio do mundo, etc., etc.”
            E que os apóstolos disseram: “O sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo o pecado; em nenhum outro há salvação, porque do céu abaixo nenhum outro nome foi dado, senão o de Jesus; único mediador entre Deus e os homens; crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa; a fé sem as obras está morta; a caridade cobrirá multidão de pecados; ninguém pode pôr outro fundamento senão, o que já foi posto; hoje se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações; porque a palavra de Deus é viva e eficaz e mais penetrante do que a espada de dois gumes: porque todos devemos comparecer ante o Tribunal do Cristo, para que, cada um receba a recompensa do que tiver feito no corpo, de bem ou mal, etc., etc.”
            Ora, ninguém nega essas palavras; lá estão nos livros do Novo Testamento. Ninguém as contesta (1).

               (1) Bhagavad Gita; Parte VIII: 11-12.

            Há perto de quinhentos anos, os protestantes vêm repetindo, repisando, remoendo e barateando as mesmas palavras; vêm citando e recitando, todos esses versículos; batendo na mesma tecla todos os dias, todos os meses, todos os anos, todos os séculos: É aquela cantiga de carro, com a qual os carreiros não se incomodam; sempre o velho gramofone fazendo girar o mesmo disco, já todo riscado e roído pelo uso, e cuja agulha com a ponta gasta pelas infinitas repetições dá um som fanhoso que enfastia os que estão sempre ,e continuamente ouvindo-o...
            Por fim, acabam por não lhe prestar mais atenção.
            O protestantismo com essas repetições está fazendo o mesmo que fazia a moça que seguia Paulo, Lucas e Silas, em Filipos de Macedônia (1) que Paulo mandou calar, porque, o que dizia já se tornava um escândalo que os descontentava.

                 (1) Macedônia - País da Europa antiga, ao norte da Grécia, que compreendia essencialmente, nas bordas orientais do Pindo, entre os maciços do Olimpo ao S., e do Ródopo ao N. E., as bacias do Haliacmon, do Axios, do Strimon e dos Nestos, cercados pelos montes Orbelos, Scomios e Hemos. Existem narrativas antigas da Macedônia, em linguagem multo defeituosa, .escritas por Tucídides de Heródoto.

            Por que não procuram a verdade comparando as coisas espirituais com as espirituais? (1 Coríntios, II: 13-14-15). Por que não tiram da letra que mata o espirito que vivifica? (Hebreus, VI: 1; Filipenses, III: 14). Sobre este caso da moça doente, o que acima está escrito basta para que os leitores vejam a razão do nosso lado.

36 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941



CAPITULO IX


            Os protestantes têm um prazer imenso em acusar de ignorantes os espiritas que se entregam às práticas de religião demoníaca. Abrem a Bíblia e andam a cata de versículos que possam servir para lhes justificar a acusação.
            Esses versículos são citados sem a menor análise, sem o menor estudo, sem a menor verificação. Se fazem isso por engano, por ignorância ou por má fé, não o sei; não posso ser juiz da consciência de outrem: Não os acusarei. Os que tiverem bom senso, julguem conforme a inspiração que lhes faz vibrar os sentimentos de justiça.
            Por exemplo; eis o que diz o folheto:
            "Em I a Timóteo, IV: 1,' o apóstolo escreve que o Espírito manifestamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a Espíritos enganadores e a doutrina de demônios"; não nos deve surpreender nada do que se passa em redor de nós; os espiritistas dão ouvidos a Espíritos enganadores e a doutrina de demônios" . Com prevenção, o autor copiou somente o versículo 1 e não prosseguiu copiando os versículos seguintes ao primeiro, que anunciam os característicos da doutrina de demônios! Os versículos que se seguem, dizem que os Espíritos enganadores prescreviam doutrinas proibindo o casamento e o uso da carne. Ora, os protestantes sabem muito bem que não são os espiritistas que decretaram leis proibindo o casamento e o uso da carne às sextas-feiras. Os espiritistas não são ignorantes que não saibam distinguir a verdade da impostura. Seguem o que diz São João na sua primeira epístola, (IV: 1), não creem em todos os Espíritos mas discernem, analisam as comunicações: eles têm o dom de discernir os Espíritos (I Coríntios, XII:10;. XIV: 29). Não aceitam doutrinas que não estejam de acordo com o conjunto da doutrina verdadeira (Isaías, VIII: 20). Os Espíritos que ensinarem doutrinas discordantes da verdadeira, dão mostras de estarem ainda nas trevas da ignorância, são enganadores. Nas sessões se apresentam muitos destes que, caem em contradição e se deixam conhecer pela incoerência das próprias ideias.
            São Paulo escreveu a Timóteo, IV: 1: "O Espírito manifestamente diz". Logo, São Paulo era espírita: conversava com os Espíritos. Ele repelia os Espíritos levianos, Ignorantes e maus, (combatia contra as bestas), (1) e só aceitava conselhos dos Espíritos sábios, somente fazia o que estes lhe ordenavam. (Atos, XXI: 4; XVI: 7; XVII: 23; XVIII: 5). São Pedro também era espírita, porque também recebia ordens dos Espíritos; (Atos, X: 19 e versículos 31-32; XI: 12). Filipe também era espírita, porque ouvia e executava as ordens dos Espíritos. (Atos, VIII: 26-29); O centurião Cornélio era espírita, porque atendeu às ordens de um espírito que lhe dirigiu palavras de paz e de esperança, enchendo de alegria o seu coração de crente sincero. (Atos, X: 4-7-8).

            (1) Combatia contra as bestas em Éfeso (I Coríntios, XV: 32), - discutia e doutrinava os Espíritos turbulentos.

            Pedro, Paulo, Filipe, apóstolos de Jesus eram espíritas, assim como também o eram os demais apóstolos e discípulos, como provado ficou acima. Jesus Cristo era e é o chefe do Espiritismo. Ele efetuou uma sessão espirita num lugar particular, num alto monte, com três médiuns e recebeu comunicação de dois espíritos Santos. (São Mateus, XVII: 1-8).
           

.........................

            Os espíritas, pois, não se deixam enganar pelos Espíritos mentirosos que se lhes apresentam; sabem discerni-lo. Não são idiotas, como supõem os protestantes. 
            Aos Espíritos ignorantes e maus, que não conheceram o Evangelho, o presidente diretor da sessão ensina-lhes e faz pacientemente uma pregação anunciando-lhes o Evangelho; explicando-lhes o que não tiveram oportunidade de aprender quando encarnados. Os espíritas não andam perdendo tempo com futilidades. Um trabalho bem dirigido, com médiuns bem comportados, é trabalho muito proveitoso para os Espíritos dos que faleceram sem conhecer a verdade. A sessão espirita é um meio utilizado por Jesus, a fim de pregarmos o Evangelho também aos mortos, isto é, anunciar a verdade à imensa maioria que desencarna diariamente sem conhecimento das verdades divinas, e ao mesmo tempo, útil e proveitosa para o estudo do Evangelho explicado pelos Espíritos dos justos aperfeiçoados, (Hebreus, XII: 23), que esclarecem tudo, à medida do adiantamento e grau de compreensão intelectual dos assistentes.
            Os versículos bíblicos citados em desabono do Espiritismo, em vez de o destruírem servem para confirmá-lo, e os protestantes veem derrubados todos os seus argumentos pelos próprios efeitos das suas referências às Escrituras. É o mesmo que esforçar-se alguém por apagar um incêndio esguichando lhe querosene...

.......................

            Se bem haja ainda muita coisa a dizer, para demonstrar aos protestantes os erros de suas afirmações, todavia, não prosseguimos, porque alguma coisa já se tem escrito e isso basta para esclarecer quem não procede de má fé.
            O capítulo seguinte é a conclusão deste apêndice, ou segunda parte da "Carta aberta" em resposta aos falhos argumentos dos nossos irmãos adversos.


37   “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941
                                                                                                       

CAPITULO X


Si in bac vita tantum in Christo
sperante sumus, miserabiliores sumus omnibus hominibus.
(I Coríntios, XV:19).

            Na Escritura, em vários lugares, há muitos versículos que concordam e explicam o versículo acima, da vulgata; são aqueles já citados nesta obra:        
             - “Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá - Chega a hora em que os mortos ouvirão a voz do filho do homem e os que a ouvirem viverão;
             Porque, para isso foi pregado o Evangelho também aos mortos, para que na verdade fossem julgados segundo os homens na carne, porém, vivessem segundo Deus em Espírito", etc.         
            Ora, estes versículos e muitos outros iguais, disseminados em o Novo Testamento, são suficientes para confirmar a doutrina dos Espíritos, que ensina a pregação do Evangelho aos mortos que não tiveram a ventura de o ouvir nesta vida terrena e podem ouvi-lo mesmo depois de sua partida deste mundo.
           Deus nunca fecha a porta ao arrependimento, e todos os mortos que se arrependerem, em virtude da pregação que ouvirem, serão salvos por Cristo, também na outra vida.
            A parábola do filho pródigo é um exemplo frisante desta verdade ensinada pelo próprio Cristo: O filho perdido que estava afastado do Pai, arrependeu-se e voltou para a casa paterna; o Pai o recebeu e abraçou; pôs lhe um anel no dedo e organizou um festim de regozijo pela sua volta. Isto compreendido, analisado e provado, não dá lugar a dúvidas no pensamento do crente, porque a justiça e a misericórdia do Pai se estendem a vivos e mortos.
            No mundo dos Espíritos estão todos os entes que viveram na terra; lá, porém, eles estão de certo modo, em melhores condições de aceitar o Evangelho, quando doutrinados com paciência e amor, demonstrando se lhes o itinerário errado que percorreram nesta vida e que em consequência desses mesmos erros é que ainda continuam sofrendo na vida do espaço. Suas obras os seguiram e colocaram na situação em que se encontram.
            A maioria da humanidade não se importa com o que há de ser, quando o Senhor chamá-la a contas. Há os embaraços materiais, a necessidade de procurar os meios de vida; a luta contra os obstáculos que se antepõem às conquistas da liberdade e da independência, que todos procuram sem cessar, e por isso, a maioria é que busca algo relativo à existência futura. Assim que, o espaço está povoado dessa imensa multidão que morre todos os dias, em toda a parte do mundo, às vezes em massa, em guerras e calamitosas epidemias sempre ocorrentes. Todas essas almas desencarnadas, desembaraçadas das dificuldades da vida material, são torcidas que fumegam; (1) não serão apagadas. Basta haver alguém que as sopre, a fumaça que delas se desprende se transformará em viva chama, e terão oportunidade de ouvir a verdade: as palavras do Cristo, as quais se chegarão como à fonte de água viva, com a qual se desalterarão da sede que as devora.
             Na outra vida, não tendo mais necessidade de adquirir alimento e vestes para um corpo já inexistente, as almas ou Espíritos só terão necessidade de aliviar a sua carga, e esta só pode ser alijada de seus ombros na ocasião em que o véu lhes for tirado, em virtude do Evangelho que poderão ouvir e compreender o que aqui não sentiam necessidade de procurar, por lho impedirem as preocupações materiais.
            Infelizmente, os sacerdotes e ministros das religiões supondo que o Espiritismo é coisa muito má, o combatem e perseguem sem saber que estão cavando um abismo que os atrai infalivelmente. Quando passarem desta a outra vida, terão caído no abismo que eles mesmos cavaram, e lá sentirão necessidade das orações dos espíritas. Somente os espíritas poderão, em nome de Jesus, dar-lhe alívio e tira-los da situação penosa em que se acharem.
            Sim! Somente os espíritas, porque os protestantes negam as orações pelos mortos; os padres católicos dizem missa pelas almas, mas essas missas são vendidas por dinheiro, e as rezas pagas não servem de refrigério aos Espíritos sofredores. (1) Isaías XLII: 3.
            Jesus Cristo, o Mestre que presidiu à formação deste sistema planetário; que é o seu diretor e protetor, o Chefe supremo de todos os povos da terra e do espaço, está atualmente multiplicando o número dos centros espiritas em toda parte, e até nos insignificantes recantos do globo.
            E os trabalhos desses centros são dirigidos por ele mesmo, a fim de que o seu Evangelho de salvação seja pregado em Espírito e em Verdade para salvação de vivos e mortos, porque já chegou a ocasião predita por Ele: "Chegará a hora em que os mortos ouvirão a voz do filho do homem" e não é como pensam os protestantes: "evangelho de condenação para os que morreram sem arrependimento", porque a este versículo se segue outro: “e os que a ouvirem, viverão”.
            “O arrependimento só é permitido por Deus, nesta vida, antes de morrer; depois, porém, será tarde. O indivíduo que não aceitou o Evangelho, estará irremediavelmente perdido e não haverá remissão depois da morte.”
            Estas palavras me foram ditas pelo Revmo. Costa, o pastor que, de tempos em tempos desembarca nesta estação e anda de casa em casa convidando gente para ouvir-lhe os sermões. Em discussão que entabulamos, ele me disse essa e outras conclusões que o protestantismo tira da Escritura e com as quais fanatiza os fracos de imposições.
            Um homem, protestante fervoroso, tem um filho a quem muito ama, porém, que não é protestante e não professa nenhuma religião; não tem incentivo para crer e não sente nenhuma necessidade de arrependimento. Sucede que morre o pai e vai para o céu, visto que era protestante, (os protestantes vão todos para o céu).
            Depois, morre também o filho e a alma deste vai para o inferno. O pai, vendo o filho no inferno, pede a Deus que se compadeça da alma daquele seu filho; que lhe faculte um meio de reparação das suas faltas, para que ele possa sair do sofrimento. Deus, porém, nega-lhe e diz que a, condenação do filho é irrevogável e que aquela alma terá de ficar nas mesmas condições pelo tempo infinito; que não há esperança nem rogos, nem orações de vivos e de mortos que possam remove-lo daquele tormento.
            Que desengano! Que tristeza daquele pai por ver o filho naquele miserável estado e não poder nada fazer em seu benefício! Ele vê continuamente o filho amado no tanque de fogo! De que, pois, lhe serve o gozo do céu? Como pode ele sentir-se feliz nesse céu dos protestantes, se permanece continuamente preocupado com a situação desgraçada do filho que se contorce em dores infinitas, sem ter quem o socorra?
            O céu desse pai não é um lugar de gozo, quando o filho não pode gozar com ele; ele, sim, é que sofre moralmente com o filho, as dores do inferno! ...
            E Deus, vingativo e carrancudo, não tem misericórdia nem do pai nem do filho... Será possível que os protestantes julguem que Deus é pior que os homens e que os homens amam aos seus filhos mais que Deus às suas criaturas?
            "Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens", disse Paulo aos habitantes de Corinto (1). (I Coríntios, XV: 19).

            (1) Corinto - Cidade da Grécia, no istmo e ao fundo da baía do mesmo nome, perto do golfo de Lapanto. 4525 habitantes.

            Aquele pai a quem me referi, vendo o filho em sofrimento, lembrar-se-á das palavras de Paulo aos Coríntios: - Para seu filho ainda há esperança em Cristo, na outra vida; seu filho não ficará miserável infinitamente, e o gozo daquele pai será completo, porque, ele mesmo como o "Espirito de um justo aperfeiçoado", (Hebreus, XII: 23) irá ministrar-lhe o Evangelho, levando-o a uma sessão espírita deste mundo, ou mesmo do espaço, (2) em assembleia geral dos Espíritos evangelistas, de maneira que, tanto aqui como lá, a alma do filho poderá sair dos sofrimentos morais pelo arrependimento e mudança completa que se opera em sua natureza íntima, pelas preces ou orações da fé, em nome de Jesus (1).

             (2) Assembleia Geral dos Espíritos, ver "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, por Humberto de Campos".

            (1) Vd. "Céu e Inferno", de Kardec - Com. de Espíritos sofredores.

            O pastor, Rvmo. Costa, não quis mais ouvir-me, deu-lhe pressa de se retirar, e contrariadíssimo disse-me que ele, quando morrer, irá diretamente para Júpiter! E eu lhe respondi: "Desde já avalio o seu desapontamento quando os olhos de sua matéria se fecharem neste mundo e o seu Espirito despertar do outro lado! Que desilusão a sua quando lá encontrar tudo completamente diverso do que supunha e afirmava sem convicção".
            Nervosamente pôs a mão no bolso e tirou um folheto com 17 páginas, medindo 10 centímetros de altura e três polegadas de largura, com os seguintes dizeres por título:

"O Espiritismo julgado pela Palavra de Deus”
Grant publíshíng House
2827 Hians St., Los Angeles
Califórnia"

            E concluiu: "Está aqui minha resposta. Aí o senhor lerá o que é o Espiritismo. Analise este folheto e depois me responda.
            Eu sou metodista e preciso estar na hora certa, onde tenho de pregar a Palavra de Deus. O senhor quer ir ouvi-la?"
            Aceitei o folheto e muito agradecido, respondi que não ia ouvi-lo porque também tinha um culto a celebrar com minha família, em minha casa. Depois que se retirou o reverendo, pensei comigo:
            - Este homem quer ensinar-me a palavra de Deus e nem ele mesmo sabe o que é essa palavra...
            Desejo muito aprender o que ainda não sei e não desejo ouvir o que já milhões de vezes tenho ouvido, a saber: Teorias contestadas por absurdas e anti cientificas, refutadas já há muito tempo e rejeitadas pela razão e bom senso.

*

            Meus leitores julguem se preciso ouvir os sermões do Revmo. Costa, para poder ficar sabendo a doutrina cristã...

*

            Para responder o folhetinho da Califórnia, tem o leitor este apêndice diante dos olhos.

***

NOTA FINAL

Urim e Thummim – Uriel – Oráculo (1)


            Muitas destas respostas foram conservadas, quer pelos autores, quer pelos mármores. A série mais curiosa foi revelada pelas escavações do Epidauro.
            Plutarco escreveu em forma de diálogo uma obra intitulada: O FIM DOS ORACULOS. O autor, muito ligado aos velhos cultos, via com pena a decadência dos oráculos (1). Explica a sua cessação pelo papel que neles desempenhavam os gênios ou demônios, seres intermediários entre Deus e os homens, ora, benéficos, ora maléficos, manifestando-se a presença dos demônios pelo desenvolvimento da faculdade adivinhadora ou inspiração. É a inspiração que faz falta às gerações contemporâneas de Plutarco.
            A argumentação de Plutarco perde-se as vezes em anedotas e narrativas maravilhosas. O diálogo pinta bem o estado dos espíritos cultivados no século II da nossa era, a miscelânea de curiosidades e de credulidade, o amor ao sobrenatural e a falta de crítica.

                (1) No romance de F. P. Escrich "O Mártir do Gólgota", diz: "Quando nasceu Jesus, os oráculos emudeceram."
                (2) Et respondi ad me angelus qui missus est ad me, cui nomem Uriel. (IV Esdras, IV: 1).

(2) O Livro ex canônico de Esdras, (IV livro, Capítulo IV: 1 e V: 20) personifica Uriel como sendo um anjo que trazia a Esdras as palavras e as revelações de Deus. 
Em hebraico, a palavra Uriel significa luz de Deus, Urim, segundo outros autores é o mesmo oráculo a que davam o nome de Uriél, nome frequentemente usado pelos litúrgicos orientais. Os judeus, os rabinos e os poetas, fazem dele uma das personagens de suas lendas e ficções.

FIM DA SEGUNDA E ÚLTIMA PARTE

     (1)  Et ego jejunavi diebus septem ululans et piorans, sicut mihi mandavit Uriel, angelus.   (IV Esdras, V: 20)     

            (1) Livros canonizados de Esdras só existem dois: o primeiro com o nome de Livro de Esdras, o segundo com o nome de Neemias. O terceiro e o quarto estão fora do cânon. Mesmo na vulgata latina, aprovada pelo papa Clemente VIII, estão colocados depois do Apocalipse de São João.

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