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segunda-feira, 18 de novembro de 2019

O Protestantismo e o Espiritismo - Parte 3




14 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941
  
CAPÍTULO XII


O Israelismo estava dividido em seitas por cujas doutrinas
 Deus não era responsável.

            Exatamente! Deus não é também responsável pelas doutrinas das seitas protestantes, porque todas elas são falsas. As presbiterianas, as batistas, as metodistas e outras, são todas contraditórias e os seus respectivos ministros se guerreiam mutuamente por causa dos seus princípios dogmáticos. Cada uma se julga com direito de legitimidade! Deus, porém, não se curva à arrogância dos homens ou às paixões humanas. "
            - Os presbiterianos dizem que os batistas são mergulhadores; os batistas e os metodistas dizem que os presbiterianos são hereges: uns e outros se maldizem e se excomungam! Qual dessas seitas está com a verdade? Bem disse Jesus: Como vedes o argueiro no olho do vosso irmão e não vedes a trave no vosso? Que é do amor que o Mestre recomendou em João, XIII: 34-35? Mateus, VII, 3-5.
            As três seitas que mencionei representam os três papas que ocuparam ao mesmo tempo a cadeira de São Pedro (1), conforme citou o pastor no seu: "- Tu és Pedro" Benedito XIII em Avignon, Gregório XII em Roma e João XXII em Pisa! Os três papas se excomungavam mutuamente, cada qual se julgava o legitimo. As três seitas aludidas não fazem também o mesmo?

            (1) Cadeira de São Pedro! Este apóstolo teve rede, anzóis, varas, linhas e objetos de pesca e também algum pangaio ou canoa. Os Evangelhos não nos falam em cadeira de S. Pedro!
            Também se diz: - Anel de São Pedro. Talvez tivesse tido algum anel de ferro ou de lata, pois o Mestre ordenou-lhe abster-se de possuir ouro ou prata. (Atos, III, 6; S. Mateus, X, 9).

            Como poderia Deus sancionar essa presunção dos homens, produto do orgulho ou da fraqueza humana?!

*

            Omne regnum in seipsum divisum desolabitur, et domus supra domum cadet. Jesus. Lucam. Caput. XI: 17. 

15 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941
  
CAPÍTULO XIII

É contra o bom senso e a razão concebermos a ideia de ter o matemático
que voltar à escola para aprender que dois mais dois são quatro.

                       Quanto ao fato de Sócrates ou outros filósofos e matemáticos reencarnados irem à escola aprender o a b c, não é mesmo compreendido por quem não pensa na extensão do tempo e da eternidade. Cérebros que não se gastam em raciocínios, acorrentados a dogmas impostos, não gozam da faculdade límpida e livre do pensamento; e por isso mesmo, limitados no seu acanhamento, não têm estímulo para os surtos da águia ...  Rastejam! (1)

             (1) Vd. Spiritus Maledictus, de Surignac, pago 137 a 1ª. edição. - A surpresa de Alarico de Anteguera.

            Se mil anos são como um dia e um dia é como mil anos, como diz a Escritura e o Espiritismo confirma, que fica sendo a duração de uma vida?
            Nada também fica sendo o tempo que o filósofo gasta para recordar-se do que sabia (1).

            (1)  Vd. “A Gênese” de Kardec: "Uranografia geral - O espaço e o tempo.

            Os conhecimentos que os Espíritos adquirem em existências sucessivas, são sua propriedade; não os perdem ao voltar à Terra. Aliás, como se justifica a inteligência de uns e o cretinismo de outros? (2) Por que dá Deus a uns facilidade para aprender tudo, em pouco tempo, e nega a outros, que lutam com dificuldade e pouco aprendem por motivo de rudez de entendimento? Como se justificam as precocidades intelectuais?

            (2) Bhagavad Gita, Parte VI, 44-45.

            Passemos a responder a outra objeção, porque esta é pura infantilidade.
            João Batista respondeu aos judeus que lhe perguntaram: Sois Elias? - Não sou - foi a resposta de João (3).

            (3) Vd. "Verdade e Luz" nº 3, de 3 de junho de 1922.

             Isso faz apenas supor que João, como os demais homens, não se recordava das suas existências anteriores e só pôde responder sinceramente não ser Elias por não se lembrar de o haver sido. Somente Jesus podia sabe-lo, por sua natureza superior e por sabe-lo revelou-o aos discípulos quando julgou conveniente, estabelecendo assim um luminoso farol para a ulterior inteligência de vários pontos das Sagradas Escrituras.
            Se João Batista se lembrasse de haver sido Elias, ficaria talvez triste e desanimado com o recordar-se dos crimes que cometera quando Elias; ser-lhe-ia isso, talvez, motivo para perturbar lhe a tranquilidade e impedir o fiel desempenho da sua missão como precursor do Messias. (Jó VIIT: 9).
            Se o Sr. pastor for visitado por alguns desconhecidos que lhe vão perguntar quais as suas ocupações; que profissão exercia antes de ser pastor - provavelmente responderia que não tem que dar satisfações; mas, como é um homem educado, responderá com evasivas para não ofender aos curiosos que o interrogam. Pois foi isso o que fez João. Não quis perder tempo em discutir com os fariseus. Diz o texto que os tais curiosos eram fariseus. João conhecia as suas intenções. A missão que ele viera desempenhar não era discutir e disse não ser Elias para evitar polemica fastidiosa e dar fim à sua insistência: Não sou Elias, não sou profeta; sou a voz que clama no deserto!
            Nós lemos que ele disse aos fariseus:
            "Raça de víboras! Quem vos ensinou a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento". (Mateus, II: 7-8).
            O ser ou não Elias, pouco importava àquela raça de víboras que o interrogava; o que mais importava era produzirem frutos dignos de arrependimento.
            A essa mesma raça de víboras Jesus chamava de "sepulcros branqueados, hipócritas, enganadores, lobos vestidos com peles de ovelhas".
           Se os sacerdotes e levitas queriam saber se João era Elias, que procurassem nas Escrituras, pois se João dissesse que de fato era Elias, eles não dariam crédito, como ainda hoje acontece.  Nada adiantaria que João dissesse: - Eu sou Elias - Para pôr um termo à conversa, ele disse: "- Não sou Elias". O Sr. pastor também responderia aos desocupados e levianos que lhe dirigissem perguntas indiscretas, com palavras de acordo e na mesma altura do valor moral dos perguntadores, para evitar discussões intempestivas, que só servem para fazer perder tempo.
            Outro argumento do Sr. pastor:
             Kardec não aprendeu teologia e talvez nem nunca abrisse a Bíblia, não podia ter sido Jan Huss, o mártir do concílio de Constança.
            Em que critério o rev. Pastor apoia essa afirmação?
            Camille Flammarion, o sábio de reputação mundial que foi amigo íntimo de Kardec, isto é, de Hippolyte Leon Denizard Rivail, ainda existe e poderá dizer ao Pastor se Kardec foi um ignorante (1).

            (1) Vd. Biografia de Kardec e discurso de FIammarion no ''O Principiante Espirita" e nas "Obras Póstumas". Kardec não só era teólogo profundo, como também poliglota e distinto doutor em medicina.
            B. S. - Existia ainda, em 1923 quando se imprimiu a 1ª edição deste livro, pois faleceu em 1927.

            Jan Huss foi vítima dos padres inquisidores que lhe queimaram o corpo. O mesmo sucederia com Kardec, seria também queimado vivo se existisse a inquisição no seu tempo.
            Queimaram lhe os livros em Barcelona por não poderem queimar o corpo. Hoje, seus adversários pretendem queimar lhe a reputação no fogo inquisitorial da mentira, da calúnia e da maledicência.
            Seu Espírito luminoso lembra-se das palavras do divino Messias e perdoa aos seus detratores. (Mateus, V: 11).
            Quanto ao delicado assunto de ser Jesus o mesmo Deus, não tratarei aqui. A um muçulmano não se pode dizer de chofre que Maomé não foi profeta.

*

            Não é possível em uma carta tratar de assunto que dá para encher volumes. Em poucas linhas é impossível acomodar uma ciência com milhares de citações bíblicas e seus comentários (1).

            (1) Leiam-se "Obras Póstumas" - Estudos sobre a natureza do Cristo por A. Kardec e a obra: - "Jesus Cristo será o mesmo Deus Criador?" de ManoeI José da Fonseca - Emp. editora "O Pensamento".'

            Nesse ponto, os insultos que o pastor caridosamente lança ao rosto dos espíritas, não os atingem.
            Lastimam estes, entretanto, que os senhores ministros que estão constantemente com a caridade nos lábios, tenham tanta facilidade em caluniar e maldizer do que não compreendem!
            A boca fala do que enche o coração, disse o Mestre. Fazem orações, cantam hinos, pregam a caridade em seus templos, e ao mesmo tempo insultam, caluniam e maldizem do próximo. De suas bocas procedem a benção e a maldição... fontes de onde brotam água doce e água amargosa. (Tiago III 1-2).
            Preguem os senhores protestantes o que quiserem, jamais conseguirão mudar os planos do Criador, nem modificar as suas leis eternas e imutáveis. 


16 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941


CAPÍTULO XIV
...Porém, quando vier o Espírito da Verdade que procede do Pai,
ele testificará de mim. Batem palmas os espíritas e dizem:
É o espiritismo! Serão sinceros? Parece que não.


            Vejamos pelas Escrituras se é o Espiritismo e se os espíritas são sinceros. São João, XIV: 26; XV: 26; XVI: 13. Todos esses versículos anunciam o Espírito da Verdade que Jesus ia mandar, a fim de ensinar mais tarde as coisas que Jesus não revelou aos seus discípulos e ao povo, porque eles não as podiam compreender naquele tempo:
            "Ainda tenho muitas coisas que dizer; mas vós não as podeis suportar agora. (João, XVI: 12). Porém, quando vier aquele Espírito da Verdade, ele vos guiará em toda a verdade, porque não falará de si mesmo, mas falará tudo que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que estão para vir", (S. João, XVI, 12).
            No dizer do Mestre, o Espírito da Verdade teria de vir mais tarde explicar as suas doutrinas e dizer muitas coisas que eles não compreendiam ainda naquele tempo.
            É a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes, dizem os protestantes.
            Mas, continuemos a analisar comparando versículos com versículos. São Pedro, em seu discurso, disse: "Varões judeus, e todos que habitais em Jerusalém, seja-vos isto conhecido e escutai as minhas palavras: Estes homens não estão embriagados como vós pensais, sendo a terceira hora do dia, mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias, diz Deus, que do meu espírito derramarei sobre toda a carne e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos mancebos verão visões e vossos velhos sonharão sonhos. E também do meu espírito derramarei sobre os meus servos e minhas servas e profetizarão naqueles dias". (Atos, 11: 14; Joel 11: 28-32).
            Pensem bem os senhores pastores e reflitam um pouco comigo sobre estas palavras de Pedro. Que é o que ele disse ao povo que o escutava? Não se referiu a profecia de Joel, que Deus derramaria, nos últimos dias, do seu espírito sobre toda a carne?
            Ora, (pensem bem) se a promessa do Espírito fora só para os que estavam concordemente reunidos, (Atos, 11: 1), isto é, somente aos apóstolos, Pedro não diria com Joel "Sobre toda a came". Que quer dizer: sobre toda a came?
            Se o Espírito devia ser derramado sobre toda a carne, não seria, por conseguinte, somente aos apóstolos. 
            Pergunto também o que querem dizer estas palavras de Joel, confirmadas por Pedro:
            "Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos mancebos verão visões, vossos velhos sonharão sonhos"? Os Revs. pastores não veem nestas palavras o que está acontecendo em toda parte do mundo: o desenvolvimento da mediunidade?
            Se o Espirito Santo ou os Espíritos da Verdade, viessem somente aos apóstolos, no dia de Pentecostes, não seria derramado sobre toda a carne: Velhos, mancebos, homens, mulheres, filhos e filhas, servos e servas... e não seria nos últimos dias; pois, há quase dois mil anos que houve a efusão do Espírito no dia de Pentecostes... Entretanto, Pedro confirma: "Nos últimos dias". É o sinal dos tempos que o protestantismo não quer ver.
            Os tempos são chegados.


16b “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941


            Os Espíritos da Verdade descem sobre os profetas de hoje: nossos filhos e filhas, nossos pais, nossos amigos (os cristãos que amam ao Senhor Jesus e que adoram a Deus em espírito e em verdade), e que se reúnem concordemente como os apóstolos no dia de Pentecostes, concentrados, profetizam, isto é, servem de instrumento aos Espíritos do Senhor, que nos vêm confirmar as palavras do Mestre, como havia prometido; e por boca dos profetas de hoje, recebemos o ensino do Espírito da Verdade, Espíritos santos; Espíritos bons; Espíritos do bem.
            As Escrituras estão cheias de manifestações espíritas. Médiuns foram Moisés e todos os profetas; médiuns os apóstolos; médiuns têm sido os que viram os Espíritos do Senhor: Todos os que enxergaram os Espíritos ou Anjos, eram médiuns.
            Abundam as aparições no tempo do Cristo e dos apóstolos, como se vê pela leitura dos Evangelhos e dos Atos, onde também se leem descrições de extraordinários e assombrosos fenômenos de espiritismo. Não é preciso que eu faça citação de todos, porque os senhores pastores protestantes muito bem os conhecem.
            Se em todos os tempos os Espíritos do Senhor se têm manifestado no mundo, (Hebreus, I: 1) no tempo do Cristo, no tempo dos apóstolos, aos primitivos cristãos e aos devotos do catolicismo romano; por que razão deixam hoje de se manifestar e só o diabo, ou maus Espíritos são os que gozam o prazer de seduzir e perder a humanidade com o consentimento de Deus?
            Se nossos filhos, nossas filhas, nossos mancebos, (médiuns desenvolvidos, profetas), não profetizam, não recebem os Espíritos do Senhor, quando, então, há de cumprir-se a profecia de Joel confirmada por Pedro?
            Em que tempo o Senhor derramará seu Espírito sobre toda a carne?! (1)

            (1) Vd. Artigo do Dr. Viana de Carvalho, no cáp. II, pág. 11: "Argumento talho".

            Joel teria profetizado uma mentira?
            Ter-se-ia Pedro enganado confirmando-a?


 16c “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941


            Os Espíritos da Verdade manifestam-se hoje por toda parte e continuarão a manifestar-se, até reunir toda a humanidade sob o único estandarte de Jesus, até acabar com as seitas, até destruir todo o erro de suas criaturas, para que se cumpram as palavras do Cristo:
            "Haverá um só rebanho e um só pastor".
            Os Espíritos da Verdade continuarão a manifestar-se até fazer todo o mundo conhecer a Deus como Jesus o conhece.
            As manifestações e aparições nestes últimos tempos têm-se dado também entre os protestantes e católicos, porém, os ministros e padres as abafam para não se divulgarem entre os seus fiéis e crentes, porque lhes contrariam os interesses materiais e as atribuem às emboscadas de Satã! (1)

            (1) Vd. A estigmatizada de Campinas pelo Dr. Souza Ribeiro.

            Jesus diz que, sendo maus, nós não damos aos nossos filhos pedra em vez de pão, serpente em vez de peixe, assim nosso Pai celestial nos dará bons Espíritos quando lho pedirmos (Lucas, XI: 12-13).
            Não são porventura todos eles Espíritos ministradores, enviados para servirem a favor daqueles que hão de herdar a salvação? (Hebreus, I: 14).
            As igrejas, católica e protestante deviam deixar de render culto a Satã dando-lhe um poder maior que o de Deus; maior que o do Seu Messias, e conhecerem que só Deus é Todo-Poderoso e deu todo o poder a Jesus, como seu médium. Que o erro, o mal, a confusão, hão de forçosamente desaparecer da face da terra e que será firmado no coração de todos os viventes humanos o reino de Jesus, em toda a sua plenitude, patenteado pelo amor do próximo, pela tolerância, pelo perdão, pela caridade em todas as suas modalidades, que são a condição única de salvação, como ensinou Jesus em Mateus, (XXV: 31-46).
            Creio que o Sr. pastor não ignora que o Espiritismo está-se propagando de norte a sul, de leste a oeste, no mundo inteiro. Em toda parte, tanto nas grandes, quanto nas pequenas cidades, em todas as conversações, tanto de sábios como de medíocres, desde o castelo dos opulentos à choupana dos pobres, o assunto predileto é o Espiritismo e suas manifestações. É um assunto que, atualmente, preocupa o pensamento de milhões de criaturas. Fundam-se jornais e revistas, organizam-se institutos; publicam-se milhares de livros, editam-se e reeditam-se de ano (1) em ano, estabelecem-se escolas e até os jornais profanos das capitais e do interior, (e isto no mundo inteiro), comentam largamente o Espiritismo triunfante... E, forçoso é confessar que o catolicismo romano em quase dois mil anos e o protestantismo em quinhentos anos não fizeram o que o Espiritismo fez em cinquenta anos!

            (1) Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira - Rio - O Clarim de Matão etc.

            Se isso é o poder do diabo, segue-se que o diabo está tomando conta do mundo e Deus não se importa com isso: Jesus abandonou o seu povo e o entregou nas mãos de Satã; as profecias são mentirosas, ao cumprimento da palavra de Joel citadas por Pedro também são coisas diabólicas...
            Somente a interpretação da Escritura feita por protestantes é que é a verdadeira.
           Presunção nascida do orgulho ou do fanatismo?

  
16d  “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941


            Toda a planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada, disse Jesus. (Mateus, XV: 13).

            Entre os fariseus havia também alguns médiuns inspirados. Sem conhecerem o Cristo, eles anunciavam verdades que eram inspirações divinas. Lemos nos "Atos dos Apóstolos" um exemplo: Perante o tribunal onde estavam sendo julgados e condenados à morte os apóstolos, pelo motivo de anunciarem o Evangelho, levantou-se um do conselho chamado Gamaliel, doutor da lei muito respeitado pelo povo; este, procedendo com prudência e critério, mandou que por um pouco levassem para fora os acusados e disse ao povo:
            "Varões israelitas, acautelai-vos enquanto ao que haveis de fazer acerca desses homens. Porque antes destes dias levantou-se Teudas dizendo ser alguém: deste se acercou o número de uns quatrocentos homens, o qual foi morto e todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos e reduzidos a nada. Depois deste levantou-se Judas o galileu, nos dias do alistamento e levou muito povo após si; também este pereceu e todos que lhe deram ouvidos foram dispersos. Agora digo-vos: Dai de mão a estes homens e deixai-os, porque, se esse desígnio ou essa obra é de homens, se desfará; mas se é de Deus não podereis desfazê-la; para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus. E concordaram com ele". (Atos, V: 33-40).
            Por estas palavras do sábio fariseu Gamaliel, podemos raciocinar que, se o Espiritismo não fosse obra de Deus ou desígnio do Altíssimo e sim, tão somente dos homens, ele teria já acabado no seu inicio: morreria logo depois de haver nascido e não se propagaria assim com tanta rapidez, de um a outro extremo do mundo: seria a planta que o Pai celestial não plantou, seria arrancada como o foi a de Teudas e a de Judas o galileu (1).

            (1) Os propagandistas e pregadores não precisam viajar, pregando aqui, ali e acolá, porque em toda parte há médiuns e há Espíritos que os fazem falar.

            Se o Espiritismo é uma mentira, por que então se alastra essa mentira e se perpetua em todas as classes da sociedade? Não se pode conceber mentira que tenha força para convencer os incrédulos, os materialistas e os mais desconfiados sábios e filósofos.
            Por que é que Deus não arrancou essa planta daninha e deixa que ela avassale o mundo? Então o demônio tem mais poder do que Deus? Querem os senhores pastores protestantes ser mais justos do que Gamaliel?
            Antes de tudo, devemos ser lógicos se não quisermos cair no ridículo.




17  “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941



CAPÍTULO XV

Confundir o Espírito Santo com os espíritos que se comunicam
nas sessões espíritas é chamar o preto branco e o louco ajuizado...

           
            Os Espíritos que falam pela boca dos médiuns espíritas não merecem crédito aos senhores protestantes; entretanto, como é que eles acreditam quando o Espírito Santo fala pela boca de um quadrúpede, que nem fala nem tem inteligência?
           O Espírito que falou pela boca do burro de Balaão, os senhores pastores não dizem que era Espírito Santo ou o próprio Deus?

            Diz a Escritura que só depois que o burro falou é que Balaão viu o anjo do Senhor. (Números, XXII: 28-29-30) (1)

            (1) Não deixa de ser interessante o estranho fato exarado no quarto livro do Pentateuco de Moisés, chamados Números, entre o Levítico e o Deuteronômio; o diálogo de Balaão com a sua jumenta; O profeta de quem diziam ser adivinho, fazia feliz o povo que abençoasse e desgraçado o que amaldiçoasse.

            Balac, rei dos Moabitas, desejoso de se vingar dos Israelitas, mandou os senadores de Moab e os anciãos de Madian com dinheiro para que Balaão fosse com eles e amaldiçoasse o povo de Israel, com intuitos tendentes a lança-lo fora de seu país. Balaão recusou as ofertas do rei; mas este reiterando teimosamente as solicitações, acabou vencendo a obstinação do profeta, que finalmente consentiu em satisfazer a vontade de Balac, rei dos Moabitas.

            Estando em viagem para se desempenhar de insensata e perniciosa incumbência, o profeta que cavalgava a sua jumenta, sentiu-se sobremaneira contrariado, quando mesma empacando em caminho, não avançava para diante ou empinava apoiando-se nas patas traseiras. É que a jumenta não podia pisar sobre o Espírito de Senhor, que se pos adiante, impedindo decisivamente a continuação da marcha, a fim de evitar se realizasse a hedionda obra da maldição sobre o povo de Jeová.

            A besta enxergava o Espírito; o profeta, porém, não o enxergava e dava-lhe varadas; ela apanhava a surra e procurava passar, desviando-se daquele ser angélico e fulgurante que a detinha; comprimiu o pé do profeta de encontro ao muro e ele, indignado, espancava ainda mais o pobre animal...

            Então, a besta falou: - "Que te fiz eu? Por que me feres? Esta é já a terceira vez que me estás batendo!"

            Balaão respondeu: - "Porque o mereceste, escarnecendo-te de mim. Tivera eu aqui uma espada e agora mesmo te mataria... "

            Replicou a jumenta:

            - "Acaso não sou eu a tua besta em que tu sempre costumaste a cavalgar até hoje?

            Dize-me se te fiz já cousa semelhante".

            Ele lhe respondeu:

            - "Nunca".

            Então, os olhos de Balaão foram abertos e ele viu o Espirito do Senhor materializado na sua frente, empunhando uma espada desembainhada e lhe censurando por ter maltratado injustamente o animal. Números XXII: 28-29-30. Kardec - Livro dos Médiuns, cap. XII, pág. 303, 14ª ed. em português.


            Antes de Balaão ver o anjo, espancava a cavalgadura. O Espírito que a fazia empacar censurou o profeta pelo seu procedimento, logo depois de haver sido visto por ele.
            Eis aí a figura do pastor protestante simbolizada na pessoa de Balaão. (II Pedro, II: 16).
            É necessário que uma cavalgadura fale para que ele possa acreditar seja o Espírito Santo (1).

            (1) Espírito Santo - A palavra "Santo" é usada na Escritura, para distinguir os Espíritos bons, evoluídos, aperfeiçoados, sábios, - dos levianos, brincalhões, zombeteiros, maus e ignorantes. '

            - Pobre protestantismo!..
            O Sr. pastor chama a atenção para um versículo da Escritura, o único que parece emprestar alguma força sugestiva aos seus argumentos. É aquele que destacou da carta de Paulo aos Hebreus, IX: 27.
            Os protestantes lançam mão deste versículo único como a tábua de salvação: Agarram-se a ele como padres no "Tu és Pedro" de Mateus; IX: 27.
            Analisemos, ainda, esse mesmo versículo por ele citado e vejamos a que fica reduzida a teoria confusa do protestantismo.

                                                                       Escritura:

            E como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo... Hebreus, IX: 27 (2).

             (2) Vd. 2ª parte desta obra, capítulo VI: Estudo do lugar onde estava Samuel e para onde devia ir Saul.

Teologia protestante (1)

            (1) Teologia, pelos Revmos, Amos Binney e Daniel Stelle, trad. por J. J. Ramsom - Edição de 1885- (Publicação da Igreja Metodista Episcopal do Sul).

            A alma nem morre nem dorme com o corpo. Tem de ficar em lugar intermediário que a Escritura denomina - Seio de Abraão - Paraíso - durante o tempo que medeia a morte e a ressurreição final, depois da qual entrará em julgamento. O dia do juízo final ou juízo universal é aquele em que deve terminar o presente estado de existência da humanidade em geral, do passado e do presente; julgamento geral dos anjos e dos homens justos e ímpios, de todos os tempos."  (Páginas 140 a 150).
            Esta teologia está em harmonia com os versículos de Hebreus, IX: 27? Não, porque no versículo diz que após a morte segue-se o juízo, e os teólogos protestantes não concordam e dizem que a alma tem de esperar em um lugar intermediário, durante um tempo incalculável, até o dia do julgamento...  e esse julgamento se dará depois da ressurreição! Não está aí uma incoerência, unia confusão dos senhores protestantes?  
            O próprio autor da citada teologia diz o seguinte, explicando o que é o céu: "Quanto a localidade exata deste lugar, a Escritura não fala e as conjeturas humanas são várias e se contradizem. Em geral ele é representado como sendo um lugar separado desta terra, portanto, para cima". (Página 51).
            Onde o alto ou baixo no universo? Os senhores teólogos não conhecem astronomia? Não terão estudado as obras de Flammarion e outros? Coisa curiosa na boca de um teólogo protestante o que consta do segundo período da mesma página citada: "Nada é revelado deste mundo celeste para satisfazer a nossa curiosidade nesta vida, mesmo os espíritos dos mortos, ao voltar para a terra não tem sido permitido revelar o que se lhes foi descoberto..."
             Estes ministros, autores da citada teologia protestante, acreditam que os espíritos dos mortos voltam à Terra e conversam com os homens viventes e não podem revelar aos curiosos o que lhes foi descoberto!.. Estes dois inteligentes teólogos não são da mesma opinião do Sr. Antônio Ernesto, que diz que somente Satanás se comunica com os homens.
            Se os Espíritos dos mortos voltam â Terra, de onde vêm eles? Onde estão? Se alguma vez já voltaram à Terra, donde vieram? Do céu? Do inferno? Do paraíso? Depois de julgados, ou antes disso? - Como explicam os senhores pastores estas dificuldades, se negam a comunicação dos Espíritos?
            NOTA: Se os protestantes estudassem o Espiritismo para saber e não para combater, teriam noção, clara do que significa "morrer uma só vez; primeira ressurreição; segunda ressurreição; primeira morte; segunda morte... (Hebreus, IX: 27; Apocalipse, XX: 6;XX: 14; XXI: 8).  
            Se a Escritura não explica e as conjecturas humanas são várias e contraditórias, como disseram os autores da citada teologia, onde os senhores protestantes irão achar a explicação?

            Qui ambulat in tenebris, nescit quo vadat. (João XII:35)
             Do Blog: “Quem anda nas trevas não sabe aonde vai”



18   “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941


CAPÍTULO XVI


            O último argumento do Ver. Antonio Ernesto é sobre os frutos do Espiritismo. Ele chama a atenção para o testemunho de vários médicos diretores de hospícios, que acusam o Espiritismo como único responsável pelos casos de loucura que enchem os manicômios.
            De modo que, antes de haver Espiritismo não havia loucos?
            No tempo em que Jesus pregava de cidade em cidade, havia obsidiados, a muitos dos quais Jesus curou.
            Conforme contam os livros do Novo Testamento, havia nesse tempo uma epidemia de loucura (obsessões). Aqueles loucos ou obsidiados (endemoninhados), teriam sido também vítimas do Espiritismo? Quererão os senhores pastores dizer que o Espiritismo de Jesus Cristo e de seus apóstolos foi a causa que transtornou os cérebros daquela gente, produzindo-lhe o desiquilíbrio mental? (Mateus VIII: 28-34; XV :22; XVI 14-21; Marcos, V: 1-18; VII: 25; IX: 17; Lucas, IV: 33-36; VIII: 27-29; IX: 39-42; Atos, VIII:7; XVI: 16: XIX: 13-16 e V: 16; Os gadarenos, o jovem lunático, a filha da mulher cananeia e muitos outros.
            Se houvesse hospícios e médicos psiquiatras no tempo do Cristo, acusá-lo-iam como responsável pelos loucos neles contidos... Veja Mateus, VIII; 34: Mandaram o Cristo embora por ser ele o culpado da morte e perda da tropa de suínos e do prejuízo do seu proprietário, e diziam que ele expulsava os maus espíritos em virtude do príncipe dos demônios. Tudo quanto diziam contra o Cristo dizem igualmente contra o Espiritismo.
            Os apóstolos também foram várias vezes metidos na cadeia, acusados de andar pervertendo o povo e perturbando a tranquilidade pública, como Sócrates condenado a beber a cicuta, da mesma fôrma, os primeiros cristãos acusados como autores responsáveis pelo incêndio de Roma...
            Será também o Espiritismo responsável por todos os tuberculosos, cancerosos, paralíticos, cegos, sifilíticos e estropiados de todo o gênero, que enchem os hospitais?             .
            Isso faz lembrar o caso de um moribundo, prestes a expirar, ao qual o padre levara um deus de metal: Era noite e a casa de campo paupérrima. Não havia luz outra que fumarenta lamparina de querosene. "Beije" - dizia-lhe o padre - este é deus crucificado, trouxe-o para ajudar-te a bem morrer. Por tua culpa é que ele foi pregado nesta cruz: Olhe aqui suas mãos varadas pelos cravos; olhe estes pés pregados a marteladas. Tudo isto por causa dos teus pecados. E o padre ora levantava, ora abaixava a lamparina, e a chama da gordurenta e suja lamparina tingia a imagem metálica apresentada ao moribundo.
            Em dado momento, o moribundo arregalou os olhos e disse ao padre:
            "O senhor está queimando as mãos e os pés do seu deus; e quando se formarem aí as feridas da queimadura, o senhor dirá que sou eu o culpado!"
            Nos manicômios tanto pode existir espíritas como católicos romanos, protestantes e também incrédulos e ateus! Tem-se visto muitas pessoas ficarem obsidiadas em consequência de pregações fanáticas de frades e protestantes (1).

            (1) Vd. "Doenças Mentais", página 22 - Dr. Julio de Matos, ilustre médico português. - Briand e Chaudé - "Medicina Legal" - "O Espiritismo e o Padre" de B. Fonseca, Cap. II - Artigo A loucura e as religiões. Vd. Cap. XV da mesma obra.
           
            Quem tem a tara hereditária, tanto pode ficar louco no seio do protestantismo ou do espiritismo, como do catolicismo romano; do maometismo, do budismo ou do positivismo. Não são poucos os obsidiados curados pelo Espiritismo; coisa que os padres e os pastores protestantes não podem fazer.
            Em vários sanatórios espiritas se hão operado verdadeiros prodígios por meio do Espiritismo: Loucos neles internados e tratados pelos espíritas, em pouco tempo saem completamente restabelecidos.
            Eu mesmo, com auxílio de alguns médiuns, tenho tratado com êxito vários obsidiados considerados perdidos pelos diagnósticos clínicos, como completamente incuráveis; entretanto, os mesmos, em juízo perfeito podem atestar o seu integral restabelecimento. O fato destas curas pode ser comprovado por todos os habitantes do bairro onde resido.
            Portanto, o argumento da loucura não tem valor algum. A loucura não é fruto do Espiritismo: é acidente que pode atingir tanto a uns como a outros prosélitos de quaisquer seitas religiosas. Todos os espiritas não estão nos manicômios, assim como toda a humanidade não está nos hospitais.



 19   “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941
                                                                      

CAPÍTULO XVII


            Muitos protestantes têm-me perguntado em que lugar das Escrituras se encontram sessões espiritas presididas por Jesus. Todos eles tem saído pensativos e desnorteados com as passagens que lhes tenho mostrado. São fatos que os senhores protestantes leem sempre e não compreendem.
            Raciocinemos sobre a passagem de Mateus, XVII: 1-9:
            "Seis dias depois, Jesus levou consigo a Pedro e a Tiago, e a João seu irmão, e os conduziu em particular a um alto monte (1). E transfigurou-se diante deles e o seu rosto resplandeceu como o sol, e os seus vestidos se tornaram brancos como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias falando com ele, Pedro tomando a palavra, disse a Jesus: Se queres, façamos aqui três tabernáculos: um para ti, um para Moisés e outro para Elias. Estando ainda a falar, eis que uma nuvem luminosa os cobriu. E eis que uma voz da nuvem disse: Este é o meu filho amado em quem me comprazo: escutai-o. E os discípulos isto ouvindo caíram sobre seus rostos e tiveram grande medo. E Jesus aproximando se lhes, tocou-os e disse: Levantai-vos e não tenhais medo. E erguendo eles os olhos, a ninguém viram senão unicamente Jesus. E descendo do monte, Jesus lhes ordenou, dizendo: A ninguém conteis a visão, até que o filho do homem tenha ressuscitado dos mortos". (Mateus, XVII 1-9).

             (1) O Monte Tabor, ao S. O. do Lago de Tabarich, a 11 km; S. E. de Nazaré, com perto de 1000 metros de altura!

***

            Jesus conduziu os seus três médiuns a um alto monte, a um lugar particular, longe da curiosidade ignorante da multidão incrédula e estúpida - um lugar onde pudessem ficar em silêncio, em recolhimento, onde não houvesse nenhuma perturbação que embaraçasse os fluídos mediúnicos. Postos em concentração, os médiuns ficaram em transe. O ambiente ficou preparado e em condições de receber os altos Espíritos de Moisés e Elias. A luz do céu irradiou ali. Os médiuns viram o rosto de Jesus resplandecer como o sol e as suas vestes se tornarem brancas como a luz. Eles pensaram que eram o rosto e a roupa materiais do Mestre que eles viram transfigurados. Jesus e os antigos mortos, Moisés e Elias, ali se manifestaram visíveis aos médiuns, com os seus corpos espirituais (corpos astrais; perispíritos).
            Os Espíritos de Moisés e Elias conversavam com Jesus e Jesus com eles. Terminada a conversação do Mestre com os Espíritos, um clarão os cobriu. Um fluído luminoso envolveu os corpos fluídicos daqueles Espíritos Santos: Uma nuvem luminosa escondeu, tanto a Moisés e Elias como também a Jesus: desapareceram das vistas dos três médiuns concentrados. Estes, tomados de grande medo, (pois não sabiam o que isto significava). Para Pedro, Tiago e João, isso era uma coisa estranha! Caíram sobre seus rostos; ficaram assombrados com aquela manifestação, porque não estavam familiarizados com sessões espiritas; talvez duvidando, supondo-se alucinados. Uma voz que saiu da nuvem luminosa, disse-lhes: Este é o meu filho amado em quem me comprazo: Escuta-lo”.
              Terminada a sessão, Jesus despertou os médiuns daquele estado de transe mediúnico - estes ergueram os olhos e só viram Jesus. Moisés e Elias já não estavam mais ali. O fenômeno do aparecimento dos Espíritos já se havia realizado. A sessão terminada, retiraram-se os Espíritos dos profetas e Jesus lhes disse que não temessem e que a ninguém contassem o que se havia passado em sua sessão espírita, porque os ignorantes nada compreenderiam. Só mais tarde é que São Pedro pode explicar os fenômenos da mediunidade. (Atos, II: 14-19).
            Para realizar uma sessão espírita como esta, é necessário um local longe do barulho, um lugar muito particular, com médiuns virtuosos e bem desenvolvidos, entre pessoas que não pensem no mal, que possam concentrar-se em verdadeiro recolhimento - longe dos lugares profanos; distanciado dos meios onde haja discussões, maledicências, blasfêmias, juízos temerários, calúnias, injúrias, inveja; enfim, longe do bulício criminoso e mau da sociedade corrupta. Foi por isso mesmo que Jesus subiu a um lugar particular, conduzindo os seus médiuns ao cimo de um monte de perto de mil metros de altura. Sem essa condição não se efetuaria o aparecimento de Moisés e Elias.



19b “O Protestantismo e o Espiritismo”
por  Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira    1941
              
            S. Paulo escrevendo aos coríntios, recomendou cuidado nas sessões que eles realizavam:
            "Falem dois ou três profetas e os outros julguem; porém, se a outro dos que estiverem assentados for revelado alguma coisa, cale-se o que falava primeiro; porque todos podeis profetizar, uns depois dos outros, para que todos aprendam e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. (I Coríntios, XIV: 29-32) .
            Quando os cristãos de Corinto se reuniam para sessões, os profetas (médiuns) deviam falar - um depois outro - e quando fosse revelada alguma coisa a outro que estivesse assentado, o primeiro que estivesse falando deveria calar-se.
            Não devem todos os médiuns aceitar ao mesmo tempo os Espíritos, mas, cada um por sua vez. O médium pode resistir à influência do Espírito, enquanto outro estiver dando comunicação, porque os Espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas.
            Falem dois ou três médiuns, cada um por sua vez, diz S. Paulo; e os outros julguem, isto é, os que não são médiuns analisem as comunicações e vejam, provem se são verdadeiras, porque, nem todos os Espíritos são verdadeiros e pode algum ser mistificador - diz São Paulo: e os outros julguem.
            São João diz:' "Não acrediteis em todos os Espíritos, mas provai se o são de Deus. (I Ep. João, IV: 1). Por isso mesmo, Deus deu o dom do discernimento dos Espíritos. Ele dá o dom da mediunidade a uns, a outros dá o do discernimento, nas manifestações que são dadas a cada um para o que for útil. (I Coríntios, XII: 7-9-10).
            Ora, analisando e comparando versículo com versículo, acha-se aí a doutrina do Espiritismo praticada pelos cristãos de Corinto. Se não for assim, que é o que se pode compreender do contido no capítulo XIV da I Epístola aos Coríntios, versículos 26-32, se não na congregação dos cristãos uma sessão espirita?
            No versículo 29 fala-se dos médiuns; no versículo 30 refere-se às comunicações espiritas; no Capítulo XII, versículo 7, fala-se das manifestações, e no versículo 10 fala-se no dom de discernir os Espíritos, de examinar as comunicações para conhecer se os Espíritos são verdadeiros, porque os mentirosos caem em contradição. São João recomenda não crer em todos os Espíritos, mesmo porque podem surgir muitos médiuns falsos e embusteiros e por estes, os Espíritos mentirosos e levianos podem ensinar doutrinas erradas e contraditórias.
            Vemos também em I Timóteo, IV: 1-3. "Ora, o Espirito manifestamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, prestando ouvidos a Espíritos de erro e a doutrina de demônios, que com hipocrisia falarão mentiras e terão cauterizada a sua consciência; que proibirão casar-se e que proibirão o uso das viandas etc."
            Essa profecia realizou-se no decreto eclesiástico do celibato clerical e proibição do uso da carne ás sextas-feiras, contrariando ao apóstolo São Paulo no que recomenda em sua primeira Epístola a Timóteo, III: 2; e I aos Coríntios, X:25.
            Em outros lugares fala-se em comunicações de Espíritos: Veja-se Filipenses, II: 1; I Reis ou Samuel, XVI: 13.
            Iria longe se me propusesse demonstrar pelas Escrituras as manifestações espiritas; as comunicações e sua confirmação. Não teriam conta as citações e comentários, mas bastam estas para que saibam os senhores protestantes que o Espiritismo é a doutrina de Jesus e a dos seus apóstolos: é a mesma doutrina adotada e praticada pelos primeiros cristãos, antes da apostasia católico-romana.
             Se não houvesse comunicações de Espíritos, (manifestação dada para o que for útil) São Paulo não diria que Deus deu o dom de discernir os Espíritos, e S. João não diria - para provar os Espíritos: "Não acrediteis em todos os Espíritos." (I João, IV: 1). Se os Espíritos não se comunicassem, não haveria o que discernir... O dom do discernimento teria sido então, inutilmente dado... Deus nada faz inútil!
            Se os Espíritos não se comunicavam entre os primeiros cristãos, São João não soube o que escreveu quando recomendou não crer em todos os Espíritos.
            Os protestantes podem responder que era para prevenir contra as ciladas do diabo... Mas São João diz: Provai-os se são de Deus...  Logo, algumas comunicações vinham da parte de Deus e não eram exclusivamente do diabo, visto como poderiam discernir e analisar as doutrinas que recebiam. "E a Escritura não pode ser anulada". (S. João, X: 35).         
            Os primeiros cristãos realizavam sessões espíritas ou não as realizavam. Se não realizavam, os apóstolos escreveram falsidades e a Escritura é anulada...
            Pelo que acima ficou dito e provado, o Espiritismo era praticado pelos primeiros cristãos; é a prova de que ele era de fato a religião de Jesus. Faziam sessões com toda a precaução, aprendiam e eram exortados ao bem, cada um desempenhando o cargo que lhe era confiado para exercer a sua mediunidade (dom de profecia): eram os intermediários entre os Espíritos e os homens; eram, por assim dizer, os aparelhos telefônicos que ligavam o mundo invisível com o mundo corporal, por meio dos quais, os Espíritos de Verdade prometidos por Jesus lhes explicavam suas doutrinas. Eram os castiçais que existiam nas sete igrejas da Ásia. Em cada igreja havia um castiçal (um médium) por meio do qual a luz brilhava, (o Espírito dizia às igrejas as doutrinas do Mestre.) Apocalipse, II: 29; III: 3 e 13; III: 22. - Jesus ameaçou a igreja de Éfeso de lhe tirar o seu castiçal. (Apocalipse, II: 5).
            Já ao tempo do Velho Testamento os Espíritos do Senhor se comunicavam com os homens por meio dos médiuns. Doutra forma, Deus que é Espírito e não carne, não seria reconhecível a humanidade terrestre.
            Os médiuns no tempo antigo chamavam-se profetas. Vejamos o que diz a Bíblia a esse respeito:
            "Antigamente, em Israel, todo o que ia consultar a Deus, dizia assim: - Vinde e vamos ao vidente - porque, aquele que hoje se chama profeta, chamava-se então Vidente. (I Samuel ou Reis, IX: 9)."
            Os médiuns de hoje não são outra coisa: são os videntes da antiguidade, são os profetas do tempo em que foi escrito o Livro de Samuel.
            Nós lemos no Velho Testamento muitos fatos que se entendem por comunicações espíritas, dadas por intermédio dos profetas. Ler e meditar bem os versículos seguintes: I Samuel ou Reis, XVI: 13 e XIV: 14-15-23; e XVIII: 10, Zacarias, IV: 1-4-5; Ezequiel, II: 2; e III: 12 e versículo 24. A leitura destes versículos nos dá a entender que os médiuns de hoje são tão profetas quanto o eram Zacarias e Ezequiel. A não ser assim, não sabemos como entender as Escrituras.
            Analisemos mais um trecho do Velho Testamento:
             "Então enviou Saul mensageiros para trazerem a David, os quais viram uma congregação de profetas, profetizando, onde estava Samuel, que presidia sobre eles: e o espírito de Deus veio sobre os mensageiros de Saul e também eles profetizaram (I Samuel ou Reis, XIX: 20)" A tradução de Figueiredo diz: "E o espírito do Senhor se apoderou também dos mensageiros de Saul e começaram também a profetizar". (I Reis, XIX: 20).
            Os soldados de Saul que foram prender a David, encontraram uma congregação de médiuns e Samuel presidindo a uma sessão espírita. Os soldados que eram também médiuns (profetas), foram também tomados pelos Espíritos, e também tomaram parte na sessão presidida por Samuel.
            Se assim não se deve compreender, os senhores protestantes que expliquem de outra forma, se quiserem torcer as Escrituras.
            Nos versículos 21-22-23 do mesmo capítulo citado, em continuação, diz o historiador que Saul enviou ainda muitos soldados atrás dos primeiros e por fim foi ele também e todos assistiram à sessão espirita e todos ficaram mediunizados sob a presidência de Samuel.
            A Bíblia é, pois, o livro que muito bem ensina o Espiritismo, para quem tem ouvidos de ouvir e olhos de ver; mas, quem tem o entendimento obcecado pelo fanatismo; conserva os ouvidos tapados e os olhos fechados e diz que o Espiritismo é incompatível com a Bíblia.
            Os pastores e seus crentes, aos quais tenho pedido explicações destas coisas, prometem dar a resposta em outra ocasião, e essa ocasião ainda não chegou, porque muitos deles se tornaram espiritas convictos e foram todos excomungados pelo protestantismo... Eu fui um dos excomungados!
            Independente de interesse material, durante dez anos preguei o protestantismo. A Bíblia é o livro que mais tenho estudado na vida, mas, depois que dei com estes barrancos da Escritura e quando perguntava aos abalizados teólogos; sem que eles me satisfizessem, fui procurar a explicação na doutrina do Espiritismo. E assim fazem os que de fato são cristãos. Esse o motivo da decadência do protestantismo em toda parte, essa a explicação da evasão dos prosélitos de boa fé, que enchiam os templos protestantes...
            O restante dos que ainda teimam, está com a consciência cauterizada e vê o preto branco e o louco ajuizado.

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