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domingo, 12 de abril de 2015

O incrível médium Edgar Cayce

O incrível médium Edgar Cayce

Vinélius de Marcos / (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Março 1971

            A grandeza do espiritismo se afirma de maneira positiva em múltiplos aspectos, assinalados já, a despeito dos descrentes profissionais e do cepticismo cientificista,
que repete sem cessar o episódio de Tomé. A história do Espiritismo, pelo menos a partir da revelação de Hydesville, é farta de fatos e acontecimentos extremamente convincentes, que resistiram às mais rigorosas provas, realizadas por homens de comprovada reputação científica.

            Evidentemente, num simples artigo, não iremos acumular exemplos sobre exemplos, colhidos dentro e fora do Brasil, através dos anos. Temos, aqui, médiuns excelentes, dotados de faculdades mediúnicas diferentes, como, para não deixarmos de mencionar algum, Francisco Cândido Xavier e aquele que foi conhecido por Arigó, que se tornaram afamados mundialmente. Pretendemos, entretanto, fixar o nome de Edgar Cayce, famoso médium norte-americano, relativamente desconhecido da maioria dos espíritas brasileiros. Predisse ele as duas grandes guerras que abalaram o mundo, a partir de 1914 e 1939, a morte do Presidente John Kennedy, a luta racial nos Estados Unidos. Realizou curas que surpreenderam e espantaram a vanguarda de médicos norte-americanos, tornando-se a maior figura do Espiritismo (neo espiritualismo ) na grande República setentrional. Chamam-lhe ainda hoje “O Profeta Adormecido”, porque, quando em transe mediúnico, se apresentava como que em estado hipnótico, falando pausadamente e com segurança. Cayce, através da sua magnifica mediunidade, não apenas fez diagnósticos surpreendentes, como realizou curas espantosas, em casos em que a Medicina se confessou impotente, apesar da dedicação e dos conhecimentos dos médicos. Era por meio de suas “leituras” (readings) que os Espíritos faziam as “revelações”. Como quase sempre acontece, Edgar Cayce era um homem simples, sem conhecimentos próprios que o autorizassem a alcançar os resultados maravilhosos que sua mediunidade proporcionou. Confessou-se reencarnacionista, embora sinceramente dissesse que não entendia a reencarnação. Aliás, um de seus biógrafos, pois não há nos USA apenas um, atribui-lhe as seguintes palavras, num diálogo a respeito do assunto: “Eu não compreendo a reencarnação, mas há uma porção de coisas em que nós acreditamos, mas não compreendemos. Acredito no que Einstein diz a respeito da relatividade, mas não a compreendo. Acredito nos átomos, mas não os compreendo. Há quem compreenda a reencarnação. Os hindus, por exemplo, a compreendem. Acredito que Jesus a ensinou também.” E menciona o terceiro capítulo de João, que trata da conversa entre Nicodemos e Jesus, no qual o tema da reencarnação é claramente discutido. E Edgar Cayce, interpretando corretamente o trecho, esclarece, ao responder a seu interlocutor, que achava não haver sido o Mestre específico ao tratar do assunto, segundo se lê no capítulo referido, que Jesus ensinou ao povo o que era possível em sua época, tanto mais que dissera que não viera mudar a lei mas dar-lhe cumprimento.

            É bem interessante o trecho, porque revela a familiaridade do famoso médium com o Evangelho, que aduziu: “O mundo estava num ponto em que Ele poderia - como pode demonstrar que a virtude é mais mental do que física e que o amor não é uma simples questão de receber ou trocar, mas de dar, e isso está claro no cap. V de Mateus. Se examinarmos bem o assunto, encontraremos que está perfeitamente exato com a teoria da reencarnação e com a ideia de que só o espírito, a mente, é real e que o pensamento constrói a alma, mais do que os atos. Estes são apenas as expressões do pensamento, de qualquer maneira. Assim, Jesus lhes deu a lei que resulta da crença na reencarnação. A teoria em si era demasiado complexa para o povo, e Ele realçava a necessidade de o seguirem, como um exemplo para a vida perfeita. Não há dúvida alguma sobre o que Jesus ensinou. Somente uma alma perfeita pode entrar no Céu. Somente Jesus era perfeito. Mas a Cristandade permitiu que o povo começasse gradualmente a pensar em Jesus como um ideal inatingível. Por isso, hoje em dia, ninguém julga necessário ser como Jesus para se alcançar o céu.”

            Eis aí uma soberba lição deixada por Edgar Cayce, que ainda se refere a João Batista como reencarnação de Elias e diz que a expressão – “quem com ferro fere, com ferro será ferido” - é uma alusão nítida à responsabilidade cármica. Thomas Sugrue, em “The Story of Edgar Cayce”, dá-nos um manancial extraordinário de informações sobre o célebre místico e médium norte-americano, falando de suas impressionantes previsões, muitas das quais já se realizaram inteiramente e outras começam a surgir com uma força que os fatos denunciam como suscetíveis de plena confirmação.

            Outro de seus biógrafos, Jess Stearn, em “Edgar Cayce - The Sleeping Prophet
(“O Profeta Adormecido”), menciona outro episódio curioso, em que se viu envolvida
Eula Allen, que recebeu de Cayce a primeira pálida ideia da reencarnação. O famoso
médium lhe dissera: “Eu já a conheci antes”, quando se encontraram pela primeira vez. Ao ouvir essa frase, confessa Eula o seu espanto, porque, intimamente, tinha o sentimento de já haver conhecido Cayce. Este aludiu, então, à reencarnação, provocando da interlocutora inesperada reação: “Quer dizer que eu poderei voltar como animal?” Cayce sorriu, esclarecendo que reencarnação não é transmigração, pois, segundo a lei, a criatura humana não retrocede. “A alma é eterna. Deus não tem os braços curtos” - disse ele. “Você vai e volta outra vez”.

            Surpreendida, Eula ouviu o “profeta adormecido” revelar que ela havia vivido, temporariamente, em outras encarnações, na Irlanda, em Roma, na Síria, no Peru, em Atlantis e no oeste bravio dos Estados Unidos, antes da Guerra da Secessão. O trecho é interessantíssimo. Na Irlanda, Eula Allen foi Rosa O'Deshea, dissera Edgar Cayce. Ao ouvir isto, ela confessou gostar muito particularmente de música irlandesa, mencionando a canção “When Irish Eyes are Smiling” ( “Quando os olhos irlandeses estão sorrindo”).

            Sempre reagindo à ideia reencarnacionista, Eula, excitada, se sentia cada vez mais envolvida pelas evocações do “profeta adormecido”. Não concordava em haver sido uma “dance hall shill” , isto é, uma mulher destinada a entreter os fregueses, induzindo-os a dançar e a fazer despesas, para cujo desempenho usava o nome de Etta Tetlow. A propósito, há uma particularidade importante. Contou Eula que, em 1963, estava na Califórnia quando uma mulher, saracoteando, a ela se dirigiu, saudando-a: “Alô, Etta!” Eula recuou. Jamais poderia esperar ser chamada por esse nome - Etta. Não há dúvida, porém, de que a ocorrência, embora não tenha caráter comprobatório, pode ser considerada como uma evidência de ser Eula Allen a reencarnação de Etta Tetlow. É mencionado outro pormenor curioso: doutra feita, Eula avistou grandes cartazes coloridos (“posters”), recordando os barulhentos dias da Barbary Coast, em São Francisco da Califórnia, como anúncio e convite para diversão numa casa de danças (“dance halls”) do local. Um nome se destacava nos cartazes: Tetlow!

            Edgar Cayce surpreendeu, com a sua mediunidade extraordinária, médicos, geólogos, cientistas, engenheiros, quer com as suas predições impressionantes, quer com os diagnósticos que fazia adormecido, com os remédios que receitava quando todos os recursos da Medicina eram impotentes, com o que dizia a respeito de terremotos e outras manifestações da natureza. Tendo nascido em 18 de março de 1877, desencarnou em 3 de janeiro de 1945, deixando não apenas longa esteira de serviços mediúnicos mas, também, mediunizado ou não, esclarecimentos valiosos sobre a reencarnação, e a interpretação do Velho e do Novo Testamento segundo o Espiritismo, embora ele não haja sido um espírita, tal como nós o compreendemos. Mas, não obstante, foi um espírita na maioria de suas manifestações e opiniões. Em estado de transe, dava aos consulentes informes referentes às vidas que tiveram em outras encarnações, como no caso acima citado, de Eula Allen.

            Os arquivos que deixou - valiosíssimos, pois contêm preciosos dados para o estudo das manifestações psíquicas - fazem parte hoje do patrimônio da “Association for Research and Enlightment”, sediada em Virgínia Beach, Flórida.


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