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terça-feira, 9 de abril de 2013

31 e final. "Fenômenos de Materialização"


31

Fenômenos de Materialização
por   Manoel Quintão
 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
 1942
           
Sursum Corda!    c/c


            Mas, senhores, aqui chegado, parece que tocamos o ponto nevrálgico, o plexo vital da questão.

            E ao toca-lo, também nos parece que a todos nós coletivamente, e individualmente a cada um, cabe, desde logo, o maior escote de responsabilidades na reconstrução moral do mundo.

            Porque, a despeito de um conhecimento mais real e nítido da nossa origem e finalidade, nós que temos na encarnação temporária o só objetivo de um iniludível expurgo moral, insistimos no erro de presumir que esse expurgo se processa mais pela razão que pelo sentimento.

            A razão instrui, mas não constroi.

            O sentimento é o que educa e orienta a razão. E é o que fazia dizer ao poeta: que "admirava os sábios mas amava os santos".

            Não é, portanto, com palavras, principalmente, que se educam espíritos.

            As palavras são o veículo das nossas ideias e desejos, mas não são as ideias nem os desejos.

            Basta, como sabeis, uma simples variação de tonalidade para transverter o efeito de um vocábulo.

            Imaginai dois indivíduos fazendo idêntica e simultânea leitura, possuídos, porém, de emoções e sentimentos diversos. Trépido ou desencantado um, produzirá no auditório indiferença ou tédio; arrojado ou sereno, outro, despertará entusiasmos.

            Tanto é verdade que, para ensinar não basta o saber e conhecer. É preciso sentir, é preciso vibrar.

            Ora, nós outros não possuímos virtualmente essa faculdade aprimorada do sentimento pronto para vibrar em consonância divina; já porque o malbaratamos em orgias enervantes de espiritualidade frustra, já porque embiocados na carne e num planeta de forte densidade especifica, que tanto vale dizer premência instintiva.

            Haveremos, pois, para lograr as maravilhas virtuais da Fé, de apelar sempre para aqueles que a possuem patrimonialmente viva, e haurida, e alimentada de fontes inestanques e incorruptíveis.

            Precisamos socorrer-nos de quantos in natura rerum já prescindem do látego da Dor para decantação do sentimento, porque, na verdade, irmãos, tal a nossa indigência moral, que, de regra, só um grande desgosto ou um grande temor nos comovem e capacitam para estados conscienciais transcendentes a este casulo, que é o nosso orgulho e a nossa vergonha, e no qual vimos dormindo o sono monolítico da mulher de Ló, voltada a face para a cidade da maldição.

            É a visão aflitiva, é a cosmorâmica dantesca das nossas tribulações permanentes, é este pandemônio do mundo com as suas catástrofes telúricas, políticas, sociais, domésticas, tragédias coletivas e tragédias individuais, guerras e suicídios; assassínios e roubos, depredações e peculatos, perfídias e calúnias; podridão de corpos e podridão de almas; é tudo isso a embotar-nos, a envenenar-nos, a desviar nosso sentimento das linhas puras e construtivas da Fé!

            Na verdade, meus amigos, é preciso ser um Briareu para remontar a vasa do lodo que assoma e estarrece os mais nobres impulsos que ainda possamos conservar, como restos de uma energia evanescente, amparada pelos nossos maiores do outro plano.

            Não nos iludamos, contudo, mesmo porque, aqui estamos todos à face da Grande Esfinge, que nos diz: '- decifra-me ou te devoro!

            É preciso decifrar nos flagelos do mundo o segredo mirífico da sua evolução, que é a nossa evolução.

            Comecemo-la por nós, em função dos nossos lares, na educação racional de nossos filhos.

            Amemo-los, não com esse amor humaníssimo, inquinado da mesma eiva que a este mundo nos trouxe - o orgulho - mas, com aquele amor que Deus aponta na majestade e na glória da sua lei e da sua obra, até onde pudermos senti-las, para compreende-las.

            Amemo-los na prece, na exemplificação do trabalho, da paciência, da abnegação, da renúncia, do sacrifício. Façamos lhes sentir que o Pão nosso que lhes damos não é "nosso", mas do Pai que no-lo dá, e que o não dá incondicionalmente, para que melhor o degustemos do que ao outro, que desperdiçamos em detrimento nosso e de outros irmãos, mortos à fome de justiça e misericórdia.

            Ao invés dessas futilidades que preenchem a vida e a mente das criaturas do século, e que, afora da tarefa objetiva, indeclinável, derivam para o culto dos sentidos corporais e só a eles colimam, ensaiemos o culto do silêncio e da meditação de nossos destinos, a exemplo do que faziam e fazem os grandes iniciados de todos os tempos.

            O Divino Mestre dizia: - eu estou no mundo mas não sou do mundo, vós outros sois do mundo mas eu não sou do mundo...

            Jesus é o paradigma da perfeição, o modelo vivo da Lei da Vida. O nosso ideal outro não pode ser senão o de estar no mundo pelo corpo, sem ser do mundo pelo Espírito.

            Só assim, de resto, a exemplo seu, teríamos a Fé que vivifica os corações e remove as montanhas.

            Com essa Fé e por ela, sem palavras, levantou Ele a Madalena do túmulo da abjeção corporal para os alcantis do Amor espiritual; com ela ressurgiu a Lázaro do túmulo da podridão carnal para edificação dos seus.

            Poderes da Fé e de uma dupla sublimidade: restauração de corpo e restauração de espirito! Esta, maior que aquela.

            Aí tendes, irmãos e confrades, o que importa perseguir na obra da regeneração humana, que eu quis sintetizar na educação de nossos filhos, pela restauração dos Lares-Templos.

            Obra de Fé, portanto, obra de sentimento, nunca de palavras.

            Se eu aqui acorresse no só propósito de ser ouvido num encandeamento de sons e de gestos, sem sentir o que vos dissesse; e se vós aqui estivésseis no só intuito de me ouvirdes sem vibrar, para viver as minhas palavras e conceitos, não seríamos dignos, eu de vós e vós de mim, para indignos sermos, todos, das esmolas de Jesus, que de fato dignificam estas tertúlias espíritas, quais oásis reconfortantes para a caravana do deserto árido, talado de Simouns, que é a vida humana propriamente dita - peregrinação imponentemente aspérrima e dolorosa, na verdade, mas também consoladora, porque firmada na antevisão da Canaã maravilhosa, já prometida ao profeta máximo do Sinai.

            Com ele, pois, em meio à sarça ardente das nossas provas, oremos constantemente para ouvir, e não apenas predicar mas praticar, o Decálogo entorpecido de vinte séculos na consciência de tantas gerações.

            Oremos aqui e fora daqui, principalmente em nossos lares, para que eles possam, nectários de ouro, atrair desde logo os falangiários do Amanhã que serão, ao dizer dos nossos maiores, os precursores válidos na Fé, para o legítimo reinado de N. S. Jesus Cristo, na Terra.

            Pois que! não ouvis? Há vinte séculos também, as milícias do Senhor entoavam, à luz das estrelas de um céu puríssimo, pelas quebradas dos cerros vírides, aos ouvidos de pacíficos pegureiros, este cântico sublime e único, que a Humanidade mal compreende: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade!

            Sursum corda! irmãos...

            Depois desta festa eucarística, recolhamo-nos ao Templo-Lar, para o ofício maior no altar do coração.

            E que os nossos Guias aqui presentes possam alviçareiramente dizer:

            - Amém...

            Sursum corda!




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