Pesquisar este blog

domingo, 7 de abril de 2013

29. "Fenômenos de Materialização"



29
Fenômenos de Materialização
por   Manoel Quintão
 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
 1942
           
Sursum Corda!       a/c
           


            Não tendes necessidade de que alguém vos ensine,
 porque a unção que recebestes de Deus permanece em vós e vos anima.
 João 1ª Ep. 11, 27

            De que servirá o preço na mão do louco para comprar sabedoria,
pois não não tem entendimento.
Salomão - Provérbios.


            Confrades, irmãos, amigos, aqui me tendes...

            E ao comparecer entre vós, ainda uma vez, não tenho em mira ensinar nem edificar, mas comungar no santo propósito de atrair a este recinto os verdadeiros arautos daquele Cristianismo que há vinte séculos se vem graduando no mundo e para o mundo, através de vicissitudes e lutas que pareceriam irremissíveis, se, no problema de sua remissão houvéramos de computar o fator Tempo, pela noção de nossos calendários e não daqueles ciclos que entreabrem no ádito das consciências, indefinível embora, a cortina da Eternidade.

            Hoje, de fato, vamos compreendendo, e mais -  sentindo que o Mensageiro Divino, o Cristo de Deus, em nome do qual eu vos saúdo, não falou nem exemplificou para um "povo eleito" - qual o pretendera Pedro, com os judeus, nem apenas para uma geração de gentios, como liberalmente quisera Paulo; mas para toda a humanidade planetária e extra planetária, ad vitam aeternam.

            Na casa ele meu Pai há muitas moradas (1) disse-o Ele, e mais: - tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco (2).

            (1) João XIV, 2
            (2) João X, 16

            Assim considerando o Cristianismo do Cristo, mundial e gentílico, com Paulo, em contradita a Pedro; e considerando que, ser cristão em Cristo é ser perfeito, porque Ele também o disse: Sede, pois perfeitos como vosso pai celestial (3) - a sua doutrina não colimaria, apenas, frutos de uma existência terrena, singular e única, para qualquer determinada geração, fixada no tempo e no espaço.

            (3) Mateus V, 48

            Não, confrades caros: o Cristianismo transcende, desde logo, nos seus primórdios, em essência, a quaisquer convenções e restrições que lhe queira traçar a sempre limitada inteligência humana.

            Porque o Cristianismo é luz, e a luz - como bem proclamou o grande vate Guerra Junqueiro em magistral poema, (4) - não tem medida.

            (4) ‘Funerais da Santa Sé’

            A que lhe atribuem os homens na contingência da própria evolução, é progressiva no tempo e no espaço, tal como a conceitua Kardec na "Terceira Revelação".

            E com isto, temos implícita e explicitamente firmados os postulados de imortalidade e reencarnações sucessivas e progressivas, antevistos e rebuscados por todas as pristinas Teogonias, por todas as escolas filosóficas, da mais remota antiguidade histórica aos nossos dias, em que eles se reafirmam e confirmam por fatos inconcussos e, de mais a mais, empolgantes.

            Entretanto, já que falamos em fatos, permitido nos seja dizer, em apoio de nossa tese, que eles só por si não bastam para edificação na Fé, ou por outra: - que ela, a Fé, por divina em essência, não nos chega através dos sentidos ditos corporais, nem pela inteligência comum: - Tu viste, Tomé, e creste; felizes os que não viram e creram (1).

            João XX, 29

            Sim, senhores, felizes dos que hoje, entre nós outros, já não precisam dos fenômenos ostensivos da manifestação dos Espíritos para vê-los e senti-los dentro e fora de si, vivos, ardentes, realíssimos e sublimados no mesmo hausto de eternidade, em anseios de Amor, de Progresso e de Paz.

            Sim, porque esta era a verdadeira doutrina, a finalidade superior da "Santa Eucaristia", que o Catolicismo cesareano deixou se corrompesse no transcurso dos séculos, ao sabor de conveniências temporais, por implantar a soberania calculada de um pontificado absoluto, infalível e inapelável!

            Seria, talvez, curioso traçar-vos aqui, sucintamente embora, o panegírico dessa luta que se iniciou com Constantino, no ano 313 de nossa era, luta que ainda perdura, sempre alterada na forma, porém, não desnaturada na essência; luta que tem custado à humanidade Himalaias de sacrifícios em oblatas de sangue e lágrimas, o que fez dizer a um sacerdote e doutor da Sorbonne (1) que a conversão do Imperador não converteu o Cesarismo mas perverteu o Cristianismo.

            (1) Pe Alta – Le Christianisme Cesaréen.

            Evidentemente: as adesões em massa diluvial à Igreja nascente, até a véspera arvorada em escola de martírio, tal como se dá, hoje, entre os abissínios da politica temporal, haveria de modificar, como modificou, toda a organização apostólica em sua simplicidade e pureza originais, para transformá-la em instituição mundana, substancialmente política e da pior politica, porque rebuçada da mais ignóbil tirania: - a que pretende estrangular as consciências. Mas, seria com tal penegírico desviar-nos do propósito aqui colimado, ainda porque, em doutrina, ao método destrutivo, preferimos sempre o construtivo.

            Allan Kardec - figura modelar do bom senso - que é, como sabeis, estalão de consolidada evolução e madureza espiritual - prescreve para a obra de reconstrução racional da humanidade, que se não deve deslocar uma pedra sem haver a mão outra que a substitua, sob pena de comprometimento de todo o arcabouço arquitetônico.

            E também Jesus disse que não vinha destruir a Lei, mas dar-lhe cumprimento.

            Que a pedra fundamental da Verdade assenta na Fé, antes que no conhecimento e na inteligência...

            Homens de talento, homens ditos de ciência, são, em regra, os que mais céticos se nos deparam, julgando-se emancipados de misticismo pela só observação dos fenômenos exteriores tais como incidem nos seus aparelhos, por sua vez condicionados ao relativismo das próprias faculdades, e esquecidos de que, fora do alcance de sua objetivação concreta, há todo um infinito de forças que lhes escapa ao conhecimento, mas não à razão.

            Comum é dizer-se que a ciência é o conhecimento exato da lei ou das leis que regem um fenômeno.

            Nós, do nosso ponto de vista, proporíamos outra definição, menos preciosa, sem dúvida, porém mais razoável, qual a de observação e definição dos fenômenos, tais como se nos apresentam, para lhes atribuir uma lei de causalidade imanente e essencialmente incognitiva, sempre.

            Assim, quando estudamos a formação de um cristal podemos, até certo ponto, induzir a existência de uma força de coesão, simétrica e constante, das suas moléculas, para conhecer e determinar a forma de tais ou quais formações cristaloides.

            O que não podemos, jamais, é ponderar e definir a natureza dessa força.

            Dinamismo superior, denominou-a o Dr. Gustave Geley. (1)

            (1) De L’Inconscient au conscient

            Questão de palavras... Não importa.

            Se, em vez de um fragmento de quartzo ou de sílica considerarmos uma semente vegetal, poderemos presumir da sua decomposição e germinação no seio da terra; poderemos computar os elementos físico-orgânicos que lhe promovem o crescimento, a floração, a frutificação; poderemos decompor esses elementos e fazer, em suma, a fisiologia e a anatomia da planta.

            O que não poderemos, jamais, é conhecer a força íntima desses elementos, nem elabora-los ou sequer combina-los para a síntese viva de uma planta.

            Destarte, sabemos por indução e dedução, que na mais ínfima semente reside o potencial da vida de uma arvore, ou de uma floresta; mas não conhecemos senão extrínseca, empírica ou supositiciamente, a trama de energias convergentes e concorrentes à individualização dessa planta.

            Em toda essa elaboração vital, em toda essa objetivação calculável e mensurável aos nossos sentidos, permanece ou remanesce, da semente à flor, da raiz ao fruto, todo um mistério.

            E, se do chamado reino vegetal passarmos ao animal?

            Se considerarmos a embriogenia em toda a sua multiformidade, do vibrião e do óvulo á cítula, até ao ser autónomo, laboratório, por sua vez, de outras células, de outros germens, de outras vidas?

            Mistério, pois, e sempre mistério! Mistério no micro, mistério no macrocosmo!

            Mistério do infusório e mistério de um mundo ou de um sistema de mundos - infusórios do Infinito que não abrangemos, que não conhecemos, mas, que, - ainda por mistério - sentimos dentro e fora de nós!

            Oh! Majestade divina! oh! Divino mistério!

            Como penetrar-Te, como a Ti ascender senão pela Fé, que também não definimos, porém sentimos?

            Sim, irmãos pela Fé, pelo milagre da Fé ...

            Sobrenatural? Decerto. A Natureza é sobrenatural, como bem o afirmou o sabio Izoulet (1).

            (1) Les forces inconnues - Jules Bois, prefácio.
           
            Mas, a Natureza não é sobrenatural a si mesma, e revelando-nos intrínseca e extrinsecamente a sua imanência, em determinismos inteligentes, deixa entrever a perenidade do seu e nosso destino.

            Não têm razão os que negam a realidade do Invisível e do Intangível, porque ninguém vê normalmente uma onda sonora, um fluido elétrico, como ninguém toca a emanação de um perfume.

            A vida está por toda parte, e, se pesquisas oceanográficas a recolheram a milhares de metros na profundeza abismal de mares congelados, ela pode, ela deve abrolhar, igualmente, na profundeza abismal dos firmamentos estelares.

            Ainda há pouco, Picard remontava a estratosfera terrena, por estudar os raios cósmicos.  Amanhã, - quem sabe - familiarizados com os ambientes interplanetários, poderemos, graças a instrumentos ainda hoje inconcebíveis, comunicar com os nossos irmãos Marcianos.

            Marconi, do seu iate ancorado em Gênova, iluminou a Exposição de Sydney, na Austrália! O invisível e o intangível de hoje, serão o visível e tangível de amanhã. As maravilhas do nosso século são oceanos de esperanças, são lenços brancos do Infinito, agitados para nós, bojando realidades inéditas.

            Esperemos; mas, como esperar sem Fé?




Nenhum comentário:

Postar um comentário