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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Exemplos primeiro....



Exemplos primeiro...
Marcílio Gonzaga
Reformador (FEB) Abril 1947

            No ensino, a primeira coisa a fazer é exemplificar, depois, então, explicar teoricamente o exemplo, estabelecendo regras.           

            Nas doutrinas, igualmente, é preferível exemplo sem teoria do que teoria sem exemplo. O Espiritismo parte todo de fatos para teorias, como as ciências naturais, mas nunca de teorias para fatos. 

            Em religião, os mais brilhantes pregadores que não exemplificam seus ensinos nada conseguem para si mesmos nem para os outros. Conhecemos um velho doutrinador que morreu decepcionado de notar que o mundo não lhe seguiu os lindos ensinos, mas ele mesmo seguiu caminhos muito diferentes daqueles por ele lindamente pautados em discursos e escritos. Mas, examinando bem, foi ele o primeiro a não seguir seus ensinos. Não soube exemplificá-los na vida e o mundo preferiu seguir lhe a frieza dos exemplos ao ardor da pregação. É sempre assim com indivíduos e escolas.

            Há exemplos muito acima da nossa capacidade e que não poderíamos mesmo dar presentemente, mas há outros ao nosso alcance e este alcance determina nossa tarefa. Há muitos espíritas que praticam com a máxima abnegação a assistência aos necessitados. Quer preguem ou não seus princípios, serão acompanhados e imitados, porque dão exemplos e só estes impressionam e modificam as almas. Conheço outros que ficam muito abaixo: só sabem exemplificar a divulgação e o uso do Esperanto, mas também estes fazem escola, são acompanhados e colaboram na preparação do futuro.

            Se Jesus se houvesse limitado à pregação, provavelmente não existiria Cristianismo, tudo ficaria esquecido na Judeia pouco depois do seu desaparecimento. Se Paulo se limitasse a fazer discursos e escrever epístolas, teria desaparecido no século primeiro. Ambos, porém, exemplificaram brilhantemente a Doutrina que pregavam e foram seguidos em seus exemplos e a Doutrina se eternizou no mundo. 

            Dentro do nosso movimento espírita há muitos setores de trabalho, mas em todos eles prevalece a lei do exemplo: quem ensina pelo exemplo, mesmo que não saiba falar nem escrever, encontra auxiliares e produz alguma coisa em  seu setor de trabalho; quem fala muito bem do amor, escreve lindamente, mas não exemplifica, será seguido somente nesse mesmo exemplo, isto é, por pessoas teóricas, bem falantes, mas que não produzem frutos de natureza alguma, só produzem palavras que passam e desaparecem com o tempo.           

            Basta examinar o movimento para notar-se que é assim, mas porque é assim? Porque os homens seguem apenas exemplos e não palavras? 

            É porque as palavras sem obras não são sinceras, não encontram apoio dos Espíritos superiores, são apenas literatura, beletrismo vazio. Mas as obras, pequenas ou grandes, são sinceras, vêm do Espírito e não somente do cérebro cultivado.

            O maior trabalhador vivo do Espiritismo no Brasil emprega 90% do seu tempo a servir aos sofredores, muitas vezes por entre lágrimas, recebendo ingratidão e injúrias, e somente 10% à pregação. Pois estes 10% produzem mais do que toda a pregação de todos os outros pregadores juntos: fala diretamente aos corações, transforma a vida de milhares de pessoas. É a sinceridade encarnada. Algum dia hão de verificar a nossa ousada afirmação de hoje. É necessário, primeiramente, que o tempo faça sua obra de apurar o que tem vida e o que só tem brilho falso.              

            Portanto, só depois do exemplo que podemos dar e que cada um de nós poderá decidir qual é a sua tarefa. Muitas vezes a tarefa é humilde, obscura, muito menor do que a que aspiramos, mas se só nela podemos exemplificar; só ela nos pertence e seria perder tempo, prejudicar a Doutrina, o tentarmos coisas de maior vulto. Felizmente, não existe um só espírita que não possa exemplificar alguma coisa e assim descobrir sua missão.

            Exemplos primeiro, senão estaremos enganando a nós mesmos e, se possível, os outros. Quase nunca enganamos os outros, porque, como Espíritos, eles sentem a realidade, onde não a podem entender nem explicar. O sentimento é sempre muito mais forte do que o pensamento por isso é o sentimento e não a razão, quase sempre, que determina nossos atos.      

            Confessar a verdade é bom, porém exemplificá-la é muito melhor.   



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