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sábado, 2 de fevereiro de 2013

25. 'O Cristianismo do Cristo e o dos seus vigários.'



25

 “O Cristianismo do Cristo
e o dos seus Vigários...
           
Autor: Padre Alta (Doutor pela Sorbonne)
Tradução de Guillon Ribeiro
1921
Ed. Federação Espírita Brasileira
Direitos cedidos pela Editores Vigot Frères, Paris


            Nenhum homem imparcial ousará dizer que pensar no povo seja um mal e, em verdade, o clero hoje com ele se ocupa, tomado de admirável zelo, por meio de obras sociais inteiramente novas, que não apenas por meio de novas devoções. O mal, contra que protesto, lamentando achar-me quase de todo só nesse protesto, por demais fundamentado, é o de esquecerem que também há intelectuais no mundo, mesmo no mundo eclesiástico, e que pretender impor aos homens inteligentes as infantilidades doutrinárias e devocionais, que podem bastar aos ignorantes e fazer honra aos simplórios, é exigir que a inteligência dos ininteligentes seja a medida da inteligência cristã e que a ciência dos primários seja a única ciência ortodoxa.

            S. Paulo, em sua primeira Epístola aos Coríntios, afasta, com todas as delicadezas necessárias, os pseudo inspirados de Deus que falavam línguas incompreensíveis e que chamavam a isso "falar em espírito". Escreveu ele: "Na Igreja, prefiro dizer cinco palavras com a minha inteligência, a fim de também instruir os outros, a dizer dez mil nessa espécie de língua" (33).

            (33) XIX,19.

            Tomemos para nós, cristãos do vigésimo século, o conselho que ele dá em seguida: "Irmãos, não sejais crianças, no que concerne ao juízo; sede crianças para a malícia, sim, mas, pelo que respeita ao juízo, sede homens feitos." E o juízo consiste em examinar antes de crer, como ele o disse aos Tessalonicenses. No mundo da inteligência, a inteligência é juiz e a autoridade nada tem que ver com as questões de Ciência. "Somente Deus é Deus, Jesus Cristo é o messias de Deus", ensina o Cristianismo e nisso está toda a Religião Cristã. Tudo o mais é questão de Teologia, logo, pois que a Teologia é uma ciência, questão de ciência e não de obediência.

            "O Espírito sopra onde quer", disse Jesus a Nicodemos e o próprio Nicodemos não teria admitido que o Espírito sopre onde queira a cúria romana. Os Nicodemos de hoje, esses têm a liberdade de crê-lo por conta própria; mas, não nos imponham, por favor, a sua credulidade. A base, o critério da fé verdadeira é a razão: "Não creríamos, diz S. Tomás de Aquino, se não víssemos que é racional crermos". E S. Bernardo, com toda a rudeza, diz que substituir a razão pelo bel prazer, no governo dos homens, é bestialidade" (34). Eu, por mim, direi, mais respeitosamente: "É cesarismo!" Então, concluirá a Igreja Cristã, quando for verdadeiramente crístã : pois que a razão é o instrumento de Deus e a força o instrumento de César, demos a César o que vem de César e a Deus o que vem de Deus: Reddite ergo quae sunt Coesar Coesari et quae sunt Dei Deo. Voltemos à crença pela luz e deixemos aos cegos a obediência cega.


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