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quinta-feira, 21 de abril de 2011

'Carta Doutrinária'




‘Carta Doutrinária’ escreve Guillon Ribeiro

Reformador (FEB) Agosto 1950

            Trecho de carta de Guillon Ribeiro, então Secretário da FEB, a um confrade de São Paulo. É ela datada de 12 de Janeiro de 1927.

            “Paz em Jesus
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            Por agora, apenas direi ao meu distinto e caro amigo, para mostrar que a ninguém será fácil demonstrar-me a inaceitabilidade do que nessa obra (de Roustaing) se contém, o seguinte: fui o seu tradutor; consumi no trabalho de sua tradução cinco anos; para traduzi-la, reli muitas vezes e meditei demoradamente cada um de seus pontos, a fim de ser fiel no transplantar para o nosso idioma os pensamentos ou idéias expressos neles; de então para cá jamais deixei de estudá-la atenta e cuidadosamente e, através de todo esse tempo, cada vez mais se tem patenteado ao meu espírito a sublimidade e a veracidade da “Revelação da Revelação”, a realidade da sua procedência espiritual, a luminosidade imensa dos ensinos que encerra, e que tudo faz dela uma obra a que nenhuma outra, de procedência humana, se pode comparar. Com relação à corporiedade do Cristo, digo-lhe sinceramente que, se não fora a revelação constante na obra de Roustaing, eu, depois do estudo aprofundado que tenho feito dos Evangelhos à luz do Espiritismo, especialmente do Evangelho de João, preferiria aceitar o dogma católico da divindade de Jesus, a admitir que Ele haja sido um Espírito encarnado como qualquer outro, isto é, aprisionado dentro da matéria grosseiríssima de que são constituídos os nossos corpos putrescíveis.
            Dito isso, unicamente para lhe dar a ver que o meu espírito aceita plenamente, sem restrição de espécie alguma, a revelação referente ao corpo do Cristo, contra a qual ainda não vi formulada uma só objeção que resista a um exame sério, em face dos ensinos codificados pelo Mestre Sr. Allan Kardec, preciso acrescentar uma observação relativamente às Dissenções que o amigo diz, como dizem outros, a obra de Roustaing ou a questão do corpo de Jesus tem produzido entre os espíritos.
            A observação que quero fazer é a de que essa dissensão não tem sido provocada ou ocasionada pelos que aceitam aquela obra, mas sim pela intolerância dos que a repelem, os quais, regra geral, desconhecendo a legitimidade das convicções daqueles, idêntica, pelo menos, às suas próprias convicções, entendem de, à viva força, por assim dizer, fazer com que eles as abandonem, para comprazer-lhes.
            Um exemplo: A Federação, desde os primeiros anos de sua existência, adota, estuda em suas sessões públicas, propaga por esse meio a obra de Roustaing e por ela orienta a sua ação doutrinária. Entretanto, nem dos seus Estatutos nem do Regulamento de Adesão, consta qualquer dispositivo estabelecendo como condição, para que uma sociedade se torne adesa, que adote aquela obra. O meu prezado amigo pode dar testemunho de que até hoje, nem quando manifestou desejo de efetuar a sua adesão, nem depois, nenhuma insinuação foi feita ao “Paz Consoladora”, para que adotasse a aludida obra. O mesmo testemunho podem dar todas as outras Associações adesas, como qualquer pessoa, porque ela procede com estas do mesmo modo que com aquelas.
            Entretanto, a Federação é constantemente hostilizada pelos anti-rounstainguistas, muitos dos quais não hesitam em cobri-la de baldões e de inventarem (inutilmente, aliás) o seu desprestígio, porque não repudia a “Revelação da Revelação”.
            Isso significa apenas uma profunda incompreensão, de parte de muitos, do maior número talvez, do que é ser espírita. Se os que abraçam a Doutrina dos Espíritos se compenetrassem de que ser espírita é ser cristão e que ser cristão é um estado da alma, é uma questão de sentimentos paradigmados pelo modelo que o Pai nos proporcionou, nenhuma desarmonia ou discórdia se produziria no seio da família espírita, por motivo de discordâncias de opiniões. Estas, entre verdadeiros espíritas, podem divergir profundamente, sem que isso de modo algum afete a cordialidade dos sentimentos de bondade e tolerância de uns para com os outros, e menos ainda o da fraternidade completa que os deve caracterizar.
            Sejamos pois, reciprocamente tolerantes, respeitemos as opiniões dos nossos irmãos sem crença, cuidemos de esclarecer os que desejem ser esclarecidos, mas não pretendamos nunca que os outros aceitem tudo o que aceitamos, nem que repilam o que nosso entendimento não pode assimilar, e a concórdia, a harmonia, a união fraterna reinarão entre todos os que se dizem espíritas. Procedendo todos desta forma, demonstrando todos, dessa maneira, que os anima o desejo sincero de terem as almas iluminadas pela luz da verdade, que é uma só e se acha, para nós terrícolas, personificada em Nosso Senhor Jesus Cristo e consubstanciada, portanto, em seus ensinos e mandamentos, todos sintetizados no - amai-vos uns aos outros, como eu vos tenho amado, Ele amorosamente fará, por intermédio de seus mensageiros e veros servidores, que a perfeita comunhão de sentimentos, de idéias e opiniões venha a reinar onde já reine inteira comunhão de sentimentos.
            Perdoe o meu bondoso e caro amigo esta por demais extensa tirada, e creia na sincera estima e nos sentimentos de fraterna amizade deste seu irmão, que ardentemente lhe deseja, como para si mesmo, constante paz espiritual e a misericordiosa assistência dos bons Espíritos do Senhor.”  


Nota do blogueiro: A partir da direção atual, a situação se inverte e a presidência da FEB passou, após mais de 110 anos, a ser ocupada por um não-rountanguista.

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