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quinta-feira, 31 de março de 2011

'O Retrato de Jesus' 04/04




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O texto, conforme Leopoldo Cirne:
           
‘Retrato de Jesus’
            “Existe atualmente na Judéia um homem de uma virtude singular, a quem chamam Jesus Cristo; os bárbaros tem-no como profeta; os seus sectários o adoram como sendo descendido dos deuses imortais.
            Ele ressuscita os mortos e cura os doentes, com a palavra ou com o toque; é de estatura alta e bem proporcionada; tem semblante plácido e admirável; seus cabelos são de uma cor que quase se não pode definir, caem-lhe em anéis até abaixo das orelhas e derramam-se-lhe pelos ombros com muita graça, separados no alto da cabeça, à maneira dos Nazarenos.
            Sua fronte é lisa e larga, e suas faces são apenas marcadas de admirável simetria: sua barba, densa e de uma cor que corresponde à de seus cabelos, desce-lhe uma polegada abaixo do queixo e, dividindo-se pelo meio, forma mais ou menos a figura de um forcado.
            Seus olhos são brilhantes, claros e serenos.
            Ele censura com majestade, exorta com brandura; quer fale, quer obre, fá-lo com elegância e com gravidade. Nunca o viram rir; tem-no, porém, visto chorar muitas vezes.   
            É muito sóbrio, muito modesto e muito casto. Enfim é um homem que, por sua beleza e perfeição, excede os outros filhos dos homens.”

            Finalmente, apresentamos o texto em outra versão. Agora, de Gustavo Macedo:

            Vê-se agora na Judéia um homem de uma virtude singular, que chamam Jesus Cristo. Os judeus pensam que é um profeta, mas os seus sectários adoram-no como tendo descendido dos Deuses Imortais. Resuscita os mortos e cura toda a espécie de enfermidades, pela palavra ou pelo contato. É de estatura assaz alta e bem formado, de porte suave e venerável.
            Os cabelos são de uma cor a que eu não poderia facilmente comparar outros; caem anelados até embaixo das orelhas, donde se espargem pelos ombros, com muita graça dividindo-o no alto da cabeça, ao modo dos nazarenos.
            A sua fronte é lisa e espaçosa, as faces coloridas por um ligeiro rubor; o nariz e a boca conformados com agradável simetria.
            A barba, espessa, é da cor correspondente à dos cabelos. Descendo uma polegada abaixo do queixo e dividindo-se ao centro, toma pouco mais ou menos a configuração de uma forquilha.
            Os olhos brilham-lhe claros e serenos. Censura com majestade, exorta com mansidão. Ou seja que fale ou que proceda, fá-lo com elegância e gravidade.
            Nunca o viram rir, algumas vezes, o viram chorar. É muito moderado no seu todo, muito modesto e discreto. Finalmente é um homem que, pela sua singular beleza e divinas proporções, ultrapassa os filhos dos homens.”

                  Aqui chegamos. São muitas as variantes a pesquisar. Não que busquemos o texto original. Sabemos que, como os Evangelhos, o ‘Retrato de Jesus’ deve ter sofrido alterações, interpolações, supressões etc., além do que não tem a importância daqueles. Fica, porém, esse material à disposição de algum pesquisador que queira levar o assunto adiante pelo simples prazer de viver e reviver as coisas principais.

'O Retrato de Jesus' 03/04




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             Gustavo Macedo indica também, como referência, a nota do Padre Luiz Picard na “TRANSCENDENCE DE JESUS - CHRIST” tomo 1º, pag. 417”.
            A busca não parou aí. Ao reler a introdução que Elias Barbosa escreveu em “Entrevistas”, por Chico Xavier / Emmanuel (7ª Edição IDE - Agosto 1991), destacamos “... Emmanuel, ao tempo de Jesus, se chamou Publio Lêntulus, e ao que se sabe foi a única autoridade que efetuou perfeita descrição dele, o Cristo, através de célebre carta (1) publicada em numerosas línguas,...”
           Na chamada de rodapé, Elias Barbosa indica:
             ‘(1) Cf. Almerinda Rodrigues de Melo “Para  Conhecer e Amar Jesus”, 2ª Ed. 1936, autorizado por D. Duarte Leopoldo e prefaciado por Carolina Ribeiro; e Reynaldo Kunts Busch, “Padre Manoel da Nóbrega, Missionário e Educador”, São Paulo, 1970, pág. 28.’
            São nossas 4ª e 5ª fontes de pesquisa.
            Chegamos ao mês de outubro de 1996 e seguimos com  pesquisas no Reformador, iniciadas em 1903 e, até aqui, atingindo o ano de 1944 (Agosto), e nos deparamos com artigo de Sílvio Brito Soares sob título “Públio Lêntulus”. No corpo do artigo, Sílvio Brito Soares faz referência ao artigo publicado no ‘Diário de Notícias’ de 21 de julho de 1944, assinado por Silvano Cintra de Melo, que reproduzimos:
            “Em ‘La Grande Encyclopedie’ - tomo 22 - Editeur, H. Lamirault et Cie., Paris e ‘Enciclopedia Universal Ilustrada-Europeo-Americana”, tomo XXIX, Editores, Hijos de J. Espasa, Barcelona, lê-se o seguinte:
            “Públio Lêntulus - Suposto predecessor de Pôncius Pilatos, na Judéia, a quem é atribuída a autoria de uma carta dirigida ao Senado e povo romano, relatando a existência de Jesus Cristo.” A Enciclopédia espanhola adianta mais: “Por essa carta, Públio Lêntulus oferece pormenores sobre o aspecto exterior de Jesus e de sua qualidades morais, terminando-a com a afirmativa de que o Cristo era ‘o mais formoso dos filhos dos homens’. A origem deste documento é desconhecida; o certo é que foi impresso pela primeira vez na “VITA CHRISTI”, de Ludolfo Cartujano (Colônia, 1474)   e, pela segunda vez, na introdução das obras de Santo Anselmo (Nuremberg, 1491).
             A carta também se encontra referida na publicação ‘Lar Católico’, acreditadamente do ano 1940, em artigo do frei Benvindo Destefani.”
            As duas enciclopédias e a publicação ‘lar Católico’ são nossas 6ª, 7ª e 8ª fontes de pesquisa.
            Em Setembro de 1967, o Reformador (FEB) apresentava, à página 207,  artigo de Sylvio Brito Soares sob o título... “A Mediunidade de Chico Xavier e a Crítica”. É o que leremos a seguir:
            “Ao comemorarem agora, os quarenta anos ininterruptos de trabalhos mediúnicos de Francisco Cândido Xavier, acreditamos seria interessante lembrar uma crítica então feita no tocante a supostas inverdades contidas no romance escrito mediunicamente pelo Espírito de Emmanuel, e intitulado “Há dois mil anos...”
            Resumia-se essa crítica no fato de que jamais existiu Públio Lêntulus, uma das encarnações de Emmanuel, e que, portanto, jamais poderia ter sido ele ‘governador da Judéia’, ao tempo de Jesus.
            Fôramos, na época, entrevistado a respeito pelo redator de um vespertino desta Capital, quando, então, tivemos ensejo de lhe prestar os seguintes esclarecimentos: Quem lê “Há Dois Mil Anos...”, verifica que, nesse romance, não há qualquer referência a Publio Lêntulus como governador da Judéia. É que o crítico ouviu cantar o galo, sem, entretanto, saber onde.
            Foi Públio Lêntulus, de fato, senador romano, mas, por motivos de ordem particular, viveu longos anos na Palestina. César, para justificar sua ausência de Roma, confiara-lhe missão especial, talvez de caráter reservado, permitindo-lhe, assim, direito à percepção de subsídios.
            Consta mesmo do relato de Emmanuel que Públio Lêntulus escrevera longa carta a um amigo seu residente na Capital dos Césares, com vistas ao Senado Romano, sobre a personalidade de Jesus, encarando-a serenamente, sob o restrito ponto de vista humano, sem nenhum arrebatamento sentimental.
            Por ocasião da célebre Páscoa do ano de 33, encontrava-se Públio Lêntulus em Jerusalém, quando Pôncio Pilatos, embaraçado com o julgamento de Jesus, solicitara ao Senador o obséquio da sua presença no palácio do governo provincial,
a fim de solucionar um caso de consciência.
            Públio Lêntulus estava, pois, investido de amplos poderes, na qualidade de emissário de César e do próprio Senado; a ele, portanto, todas as autoridades da província, inclusive o próprio governador,
eram obrigadas a prestar obediência.
            Até aqui, evidentemente, utilizamo-nos, apenas, dos subsídios históricos contidos no livro “Há dois mil Anos...”.
            Agora, preciso se faz esclareçamos que, durante os primeiros séculos do Cristianismo, os Pais da Igreja viviam desejosos, como era natural, de conhecer o retrato físico de Jesus. As informações que então colheram não foram satisfatórias, por imprecisas. Apelaram, por isso, para as profecias, e, mal interpretando o verdadeiro sentido do versículo 2 do capítulo LIII de Isaías, concluíram eles ser Jesus completamente destituído de beleza física. Na opinião de Celso, era Jesus de pequena estatura, feio e disforme. Santo Agostinho confessava: “Como seria o seu rosto, ignoramo-lo inteiramente.”
            E diz Daniel-Rops que, se tivermos em conta o rigor com que a ortodoxia judaica proscrevia qualquer representação da figura humana, pouco nos deve surpreender o fato de não poder ser encontrado o retrato autêntico de Jesus. E esperar-se das verdadeiras testemunhas - dos evangelistas - que nos descrevessem a aparência carnal do Mestre, é estar equivocado, tanto a respeito da psicologia deles como dos seus objetivos: não será significativo que a única descrição de Jesus, que se encontra nos quatro textos, é a do Cristo glorificado, no momento da Tranfiguração?
            Nestas condições, parece bastante inútil pretender retomar uma discussão que animou extraordinariamente a Igreja, sobretudo nos primeiros séculos, para saber se Jesus teria sido belo ou feio. Ao passo que Justino, o Mártir, o diz ‘sem aparência, sem beleza e com aspecto desprezível; que Irineu (o mesmo que declarava ‘ignorada’ a imagem carnal de Jesus-Cristo) o classificava de ‘enfezado’; que Orígenes o tinha por ‘pequeno e sem graça’; que Cômodo fazia dele ‘uma espécie de escravo’, de figura abjeta’; que certas lendas, mesmo, o davam como leproso, - outros comentadores, pelo contrário, pronunciavam-se firmemente pela sua beleza, tais como Gregório de Nissa, João Crisóstomo, Ambrósio, Jerônimo e tantos outros.
            Clemente de Alexandria exprimia, no entanto, uma profunda verdade, ao escrever: ‘Para nós que desejamos a verdadeira beleza, só o Salvador é belo’ e, sob uma forma paradoxal, os apócrifos ‘Atos de Pedro’ queriam, sem dúvida, dizer a mesma coisa: ‘era ao mesmo tempo belo e horrendo’. A verdade é que as duas teses procuravam dar força aos vaticínios da Escritura.
            Segundo consta do ‘Dictionnaire de la Bible’, de Vigouroux, teve início, em terras egípcias, uma forte reação no tocante ao físico de Jesus, tanto assim que a partir do século IV a crença de que Nosso Senhor fora o mais belo dos filhos dos homens tornou-se predominante.
            Mas, a bem dizer, faltava um documento autêntico, capaz de firmar, entre os cristãos latinos, a certeza de que o físico de Jesus não era, absolutamente, o então revelado por esses Pais da Igreja. Daí, sem dúvida, o haver surgido a idéias de forjarem a célebre carta conhecida como  ‘Epistola Lentuli’, e isto por saberem, naturalmente, que o senador Públio Lêntulus se encontrava na Ásia Menor na época em que Jesus fora crucificado.
            Note-se que essa carta continha inicialmente apenas a assinatura de Públio Lêntulus; mas, diz Vigouroux, sacerdote de Saint-Suplice, em seu aludido ‘Dictionnaire’, que os copistas, ignorando qual o título a darem ao suposto autor dessa ‘Epístola’, resolveram, sponte sua, colocar, uns, o procônsul, enquanto outros o de governador. E é perfeitamente explicável usassem esses copistas, naqueles tempos e indistintamente, tanto procônsul como governador, por serem tais palavras de sentido equivalente.
            Se consultarmos o ‘Vocabulário Histórico-Geográfico dos Romances de Emmanuel’, de autoria de Roberto Macedo, vamos saber que procônsul quer dizer Propretor: governador de província romana, escolhido pelo Senado dentre cônsules e pretores. 
            De maneira que foi a própria Igreja que, de maneira apócrifa, declarou ter sido Públio Lêntulus governador da Judéia.
            Para o que acabamos de expender, servimo-nos das seguintes obras: The Catholic Encyclopedia, sob os auspícios de The Knights of Columbus; Catholic Truth Comittee (Nova York); Enciclopédia Universal Europeo-Americana, editores - Hijos de J. Espasa, Barcelona; La Grande Encyclopédie, editores H. Lamiraut & Cie., Paris; Dicitionnaire de La Bible, de Vigouroux; Jesus no seu Tempo, de Daniel Rops.
            Disse alguém que ‘há críticas e mesmo censuras que honram mais do que os elogios’. Assim, as críticas ao “Há dois mil anos...” serviram para mais realçar essa obra de indispensável valor literário e histórico, e também para evidenciar a refulgência do seu autor espiritual e a magnífica mediunidade de um Francisco Cândido Xavier.”

O Retrato de Jesus 02/04




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O livro “História de Roma” de Indro Montanelli, Ed. Record, Copyright 1969, em seu capítulo 22 ‘Uma ceia em Roma’ , quando fala de Sila e da corrupção reinante em Roma nos estertores da República, dá a palavra a um membro do tribunal de nome Lêntulo Sura, que fora absolvido pelos jurados com maioria de dois votos e que falou, batendo com a mão na cabeça: “- Com os diabos, comprei um a mais. E por um preço maior!...”   Assim, ampliamos as informações sobre a primeira encarnação conhecida de Emmanuel, à época com moral e valores bem distintos de poucos séculos após.

            Para melhor localizar Sura no seu contexto histórico, registremos, ainda com base em Indro: Sila foi edil em 99, pretor em 98 e eleito proconsul em 88 a.C.. Lúcio Cornélio Sila era seu nome. Excelente comandante, corajoso e com ascendência sobre seus soldados. Como pretor foi comandante de uma divisão da Capadócia até que montou um exército e se interpôs a Sulpício Rufo, tomando o poder em Roma. Assume o comando militar como proconsul e permite a eleição de dois cônsules para o despacho dos assuntos da pátria: o aristocrata Cneu Otávio e o plebeu Cornélio Cina. Otávio e Cina se desentendem imediatamente. Otávio vence e Cina foge. Morrem 10 000 em Roma. Cina rearma-se e retorna a Roma. Mata Otávio e outros senadores. Sila cercava Atenas enquanto Cina governava despótico em Roma. Sila toma Atenas onde correm rios de sangue. As vitórias sucediam-se até que Flaco chega com a ordem de substituí-lo no comando. Flaco abandona a idéia, subordina-se a Sila que, por sua vez, retorna a Roma. Cina morre por seus soldados. Após vencer outros opositores, Sila retorna a Roma em 27/28 de Janeiro de 81 a.C., triunfante. Sila cunhou moedas sendo dele a 1a estátua equestre de Roma. Governa por dois anos, distribui terras aos veteranos, revigora o Senado, recoloca o poder nas mãos desse mesmos senadores e retira-se da vida pública. Após, morre (de câncer?). Os patrícios, ao invés de recolocar em ordem o governo e a sociedade, usam esse mesmo governo para roubar, corromper e matar. Tudo era uma questão de dinheiro.
Neste momento, César estava na Espanha em campanha.
      Este o ambiente social em que viveu Lêntulus Sura.          
            Tomemos  agora  outra  fonte:  “A  Natureza  do  Corpo  de  Jesus  Cristo”,  edição  da  Cruzada Espiritualista,  RJ (edição de 1930), de Gustavo Macedo, sem nos prendermos ao conteúdo do livro propriamente dito. 
           
            “De  um   velho  manuscrito,  descoberto  por  Mr.  DU  SHILLEUL,  em  1853,  na  Biblioteca  de  DONAL       - Vide ANNAES DA PHILOSOFIA CHRISTÃ, t. 8º, pag. 370.”
            Em nossas pesquisas localizamos o original em francês chamado “Annales de Philosophie Chrétienne” - Recueil Périodique, páginas 372 a 375, 2e Édition, 1841, Tome VIII, Paris (Au bureau des Annales de Philosophie Crétienne, Rue St. Guillaume, nº24, Faub. St. Germais 1834):

            “Lettre de P. Lentulus Sur La Personne de Jésus Christ
            L’antiquité ecclésiatique n’a point fait mention de cette lettre; ce n’est que vers le 14e au le 15e siècle qu’elle a été publiée et citée: il est donc probable qu’elle été inventée par quelque auteur du moyen-âge, qui, encore, n’a past fait grande preuve d’habilité.
            Nous allons d’abord donner quelques renseignemens sur son origine et sur son authenticité; nous la ferons connaitre ensuite.
            Il existait dans la bibliothèque d’Iéna un manuscrit des evangiles exécuté dans le 15e siècle, en tête duquel on lisait:
            ‘On assure qu’au tems de César Octave, Publius Lentulus, proconsul om Judée, sons le roi Hérode, écrivit aux sénateurs romains la lettre suivante, qui fut trouvée plus tard par Eutrope, dans les Annales de Rome.’
            Venait ensuite la lettre, écrite en belles lettres d’or.
            S’il faut s’en rapporter à ce texte, la non - authenticité de cette lettre n’est pas douteuse. Em effect, ce Publius Lentulus n’ est point connu dans l’histoire, et c’est à tort qu’on nous le présente comme proconsul, et ayant exercé les fonctions de gouverneur en Judée, avant Ponce Pilate. - C’etait Valérius Gratus qui remplissait alors ces fonctions, ou, pou parler plus exactement, les fonctions de procurateur de la Judée. Gratus fut envoyé dans ce pays l’an 15 de l’ ère vulgaire. Pilate lui succéda, l’an 26, et y exerça cet emploi jusqu’en l’an 38, cinq ans à-peu-près après la mort de Jésus, époque ou il fut dénoncé, jugé et condamné à l’exit. - Il eut ensuite pour successeur Marcéllus - On voit donc qu’il n’est nullement parlé de Lentulus.
            Quant à cet Eutrope, que l’on dit avoir recueilli cette lettre dans les archives du sénat, son existence n’est pas plus connue que celle de Lentulus.  Suivant les uns, ce serait l’abréviateur de  l’Histoire romaine (né  vers  l’an 310  et  mort  vers 390 ), que l’on a voulu favie passer pour chrétien, parce qu’il a dit que Julien avait persécuté de christianisme, mais sans verser de sang. Suivant d’autres, ce serait Eutrope, disciple d’un certain Abdias que l’on dit avoir été premier évêque de Babylone,  et l’un des soixante - douze disciples du Sauveur. Ces deux opinions sont aussi dénuées de preuves l’une que l’autre.
            Cependant, si cette lettre n’est pas authentique, les renscignements qu’elle renferme ne sont pas  moins curieux, en ce qu’ils paraissent contenir toutes les traditions qui avaient cours sur la personne du Sauveur Jésus, à l’époque ou elle aéte composée. Elle présente encore cette circonstance assez particuliere, que ces traits du visage sont semblables à ceux qui sont assignés à la figuré de Sauveur dans le portrait d’une haute antiquité, qui existe dans la chapelle de Saint-Calliste des Catacombes, et que nous donnons dans la lithographie jointe à ce Nº, figure 3.”
           
TOME VIII Nº 47 - 2e edition - 184
            Voici la traduction littérale de cetre lettre, qui a été reproduite plusieurs fois en toutes les langues:

            “On a vu dans ce tems paraître un homme, et il vit encore,  un  homme d’une grande vertu, qui se nomme Jésus-Christ; in le dit un prophète puissant en ouvres, ses disciples l’appelent Fils de Dieu.
              Il ressuscite les morts, et guérit toute espèce de maladies et d’incommodités. Cet homme est dúne stature haut et bien proportionnée.(1)
            Sa physionomie annonce la sevérité, mais elle a beaucoup déxpression, de sorte que ceux qui le regardent ne peuvent s’empêcher de l’aimer, et en même tems de la craindre. Ses cheveux, tirant sur le roux, descendent lisses jusqu’au bas des oreilles, et de là tombent en boucles floitances avec grâce sur ses épaules; ils sont parlagés sur le sommet de la tête à la manière des Nazaréens.
            Sont front est unit et serein, il n’a aucune tache sur la figure. Ses joues sont relevées d’un certain incarnant, qui n’est point trop foncé. Il est d’un aspect agréable et ouvert. Son nez et sa bouche son très bien. Sa barbe, assez touffue et de la couleur de ses cheveux, se partage en deux au bas du menton.
             Il a leux yeux bleus et très-brillans. On remarque em lui quelque chose de formidable quand il réprimande et qu’il fait des reprouches, tandis que la douceur et l’amabilité accompagnet toujours ses instructions et ses axhortations. Son visage a une grâce admirable mêlée de gravité. On ne l’a jamais su rire, mais on l’a vus pleurer.
            Sa taille est bien prise; ses mains sont longues et belles, et ses bras ont beaucoup de grâce. Son langage est toujours graveet mesuré, mais il parle peu.
             Enfin on ne peut discovenir en le voyant, qu c’est le plus beau des hommes.” (1)

            “Tel est le portrait de Jésus-Christ, tracé par le prétendu Lentulus. Il est certain qu’on n’y trouve rien qui répugne à l’idée que l’on peut se faire de la personne du Sauveur, ni à ce que nous en dit l’Évangile.

            (1)      Jean-Henry Maius  (theologi  cognominis  filius)  dans  ses  Observationes  sacral, lib.III,   p.21.   remarque
 (d’aprèsune lettre de S. Jean Damascène à l’empereur Théophile, donnée par Combetis dans son Originum Constantotinopolitarum manipulus, p.114), que le Sauveur est réprésenté excellenti statura junctis superciliis, oculis venustis; et que Nicéphore (dont nous parlerons bientôt) lui donne une taille de sept palmes (5 pieds 4pouces 2lignes), quoique le P. Vavassor, d’après le moine Epiphanius, ne lui donne que six palmes. Voy son livre de forma Christi, c.III, nº5 S 4.
            L’Evangile semblerait donner à entendre que Jésus-Christ n’était pas très-grand; car s’il eùt été d’une taille supérieure, Zachée (S.Luc., XIX, 2, 5, 8) n’aurait pas eu besoin de monter un sycomore pour le voir et le distigner dans le foule.”

quarta-feira, 30 de março de 2011

O Retrato de Jesus 01/04



O Retrato de Jesus
          
Tudo começa quando, no 2º trimestre de 1996, fui presenteado com um texto publicado na Revista do Círculo Militar e que falava do ‘Retrato de Jesus’. Segundo esta fonte, tal documento teria origem no arquivo do Duque de Cesadini, em Roma. Essa origem  inquietava-me. Era vaga e certamente imprecisa. Como alcançar informação mais completa?

            Semanas adiante, em estudos na Sala de Leituras da FEB, no Rio de Janeiro, deparo-me com o Reformador de 1º de Janeiro de 1903 que apresentava artigo de Leopoldo Cirne discorrendo sobre a personalidade de Jesus. Tecidas as considerações iniciais o autor refere-se a documento histórico já publicado no próprio Reformador, em sua edição de 1º de Julho de 1900, sob a epígrafe “A Fisionomia de Cristo”. Tratava-se de ‘documento do punho de um governador romano da Judéia, contemporâneo de Jesus, precedendo-o de breves comentários, que nos dispensamos, todavia, de renovar’.

            Fizemos então uma primeira tentativa de abrir essa página da história. Em contato com o Presidente da FEB à época solicitamos o texto de Julho de 1900 a que se referia Leopoldo Cirne. Infelizmente não foi possível o acesso a essa informação, nos afirmou o Presidente, em carta generosa e delicada. Devido à sua importância histórica e à fragilidade material, esses exemplares do Reformador, de 1883 a 1902, só poderiam ser consultados em ocasiões excepcionais. Mesmo assim, estremado em gentilezas, o Presidente nos indica um artigo de Boanerges (Indalício Mendes) a que nos referiremos mais adiante.

            Note-se bem que Leopoldo Cirne escrevia em 1903 e que o nome Emmanuel era do conhecimento dos espíritas exclusivamente por sua bela contribuição à codificação por Kardec através da página intitulada “O Egoísmo”, no capítulo XI de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. Os encarnados de então não poderiam antecipar que Emmanuel 
tornar-se-ia o grande arauto do espiritismo no século XX.

            Chico Xavier, por sua vez, reencarnaria em 1910, iniciaria sua missão em 1927 e teria Emmanuel perante si apenas em 1931, quando, doente dos olhos, psicografava “Parnaso de Além-Túmulo” . Em 7 de Setembro de 1938, em mensagem íntima, escreveu Emmanuel: ‘Algum dia, se Deus mo permitir, falar-vos-ei do orgulhoso patrício Públio Lêntulus, afim de algo aprenderes nas dolorosas experiências de uma alma indiferente e ingrata. 

           Esperemos o tempo e à permissão de Jesus’.

A permissão foi dada, o tempo chegou, e a 1ª edição de ‘Há dois mil anos” é levada a público em 1939 (Ed. FEB). Até então e por  aproximadamente 70 / 80 anos o nome de Emmanuel não se ligara ao de Públio Lêntulus e à sua descrição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ajudou-nos nestes escritos o saudoso Clovis Tavares em... 

“30 Anos com Chico Xavier” 5a Ed. IDE Agosto 1991.

            Retornemos à carta do presidente da FEB. Em seu conteúdo, nos foi também indicado artigo de Boanerges, de abril de 1976, reproduzido em abril de 1996, sob o título:  ‘Quando amanhecer o dia...’. Alí, o autor afirma:  “No entanto, é a célebre Carta de Lentulus que exige maiores atenções de nossa parte. Os estudiosos dizem não existirem evidências históricas desse Senador, mas nós sabemos que o ‘Larousse do século XX’ registra a figura de Públio Lentulus Sura, que Emmanuel identifica como sendo ele mesmo, quando avô daquele que seria o Senador. Isso é, de fato, uma pista. No entanto, os pesquisadores preferem ter a carta na conta de apócrifa. A carta é dirigida ‘ao Senado e ao templo Romano’, e vem sendo classificada como poética, e psicologicamente de grande efeito.’

            Prossegue Boanerges, agora em nota de rodapé: “De fato, a identificação de Públio Lêntulus Sura é uma pista de localização de um tronco familiar. Na realidade, existiram dezenas de Lêntulus na ocasião, além de termos de considerar que o documento, se não pode ser dito como de Públio Lêntulus, tampouco lhe pode ser negado historicamente. Existe, a  rigor, um ponto apenas onde pode surgir dessemelhança válida: O Lêntulus da carta diz-se Governador de Jerusalém. De um certo modo, coonestando a complexidade do assunto, convém ressaltar que há diversos textos para a mesma carta, e até mesmo nos jornais antigos - quando o reproduziam - poder-se-ia, facilmente, detectar as diferenças.”

            No “Larousse Du XXe Siècle” (4º Tomo), em 6 volumes, Copyright 1931, lê-se o que se segue:

            “Lentulus,  nom  de  l’une  des  branches  de  la  famille  Cornelia,  à  Rome. On  Connait  surtrout:  Lentulus Sura  (P. Cornelius), complice de Catilina, étranglé en prison en 63 av. J.C. - Lentulus Spinther, consul en 57, ami de Cicéron et de Pompée. - Lentulus Marcellinus, (Cneius Cornelius), consul en 50, qui défendit la liberté contre les triumvirs.- Lentulus Getulicus (Cossus Cornelius), consul l’an 1er av. J.C. (II dut son surnom à des succés contre les Getules et se distingua sons Tibère.) Lentulus (Cneius Cornelius), fils du précédent, consul en 26 de notre ére, conspira contre Calígula et périt en 39. Il avait composé une Histoire et des Poésies.”
            Ainda no “Larousse Du XXe Siècle” (2º Tomo), encontramos os seguintes esclarecimentos:

            “Cornelia (famille), maison patricienne de l’ancienne Rome, dont les quatre branches principales étaient celles des Lentulus, des Maluginensis, des Ruffinus et des Scipio. Aucune famille romaine n’a fourni plus de grands hommes que la gens Cornelia.”
            “Cornelia (famille), maison plébéienne de l’ancienne Rome dont la branche la plus connue et celle des CinnaLe poète Gallus, l’historien Tacite, le médecin Celsus, le biograph Cornelius Nepos se rattachaient à cette famille. On trouve des Cornelius Dolabella, Balbius, Merolla, Mammula, Blasio, etc...”   

Luis XI - Confissões...- Parte 01/04



Luís XI: Confissões
que a História não Revelou
Kleber Halfeld
Reformador (FEB), pág. 80 - Março 1990

           Muito historiadores traçaram os dados biográficos de Luís XI. Sua vida. Suas Obras. Seu pensamento.
       
Alguns detalhes, porém, ficaram ignorados. Detalhes que somente seriam conhecidos no século XIX, através da mediunidade de uma menina de 14 anos!
                                  
 *
          
           Quando Kardec, em janeiro de 1858 [1], teceu comentários a respeito de Ermance Dufaux, referindo-se à obra que mediunicamente ela recebera da heroína de Domrémy, teve oportunidade de encerrar sua página com estas palavras:

            “Voltaremos à história de Joana d’Arc, para explicar os fatos de sua vida, relacionados com o mundo invisível; então citaremos o que a respeito ela ditou ao seu mais notável intérprete.” (Destaquei.)

            (O leitor já terá adivinhado que o Codificador fazia alusão à própria Ermance Dufaux.)

            A leitura completa dessa página escrita por Kardec permite-nos enumerar os seguintes itens, referência feita a médium:

1.         Psicografou a obra “História de Joana d’Arc ditada por ela mesma”, quando tinha 14 anos de idade!
2.         Além desta, escreveu duas outras. Uma, a respeito de Luís XI. Outra, sobre Carlos VIII.
3.         Notava-se em sua mediunidade especial pendor para os fatos históricos.
4.         Um curioso fenômeno observou-se com o passar do tempo; as Entidades Espirituais que de início haviam optado pela psicografia, elegeram depois o sistema psicofônico.
5.         Jamais recebeu a médium comunicações que não fossem de ordem elevada.
6.       Kardec, que teve oportunidade de conhecê-la pessoalmente, fez questão de frisar que “os incrédulos farão sempre mil e uma objeções; mas para nós que vimos a médium, a origem do livro (referindo-se à biografia de Joana d’Arc) não poderia ser posta em dúvida”.

            Adiantou ainda que “sua instrução era a das meninas de família decente, educadas com cuidado, mas, ainda quando tivesse uma memória fenomenal, não seria nos livros clássicos que iria encontrar documentos íntimos, dificilmente encontradiços nos arquivos da época”.

            Semelhantes apreciações do Codificador, sempre prudentes na observação de todos os acontecimentos, deixam-nos à vontade para enfocar no presente trabalho as confissões feitas pelo antigo Rei da França (Luís XI), através da mediunidade de Ermance Dufaux.

         Meu objetivos, baseado em pesquisas realizadas, não é tanto o de acrescentar dados que tenham escapado aos historiadores, embora seja esse um pormenor sempre proveitoso para o nosso aprendizado. O importante é deixar consignado que através da mediunidade podem as Entidades Espirituais esclarecer, no tempo em que julgam oportuno, detalhes até então desconhecidos.

            Aliás, é interessante ressaltar que Kardec foi deveras feliz quando, referindo-se à história de Luís XI, afirmou:
            “(...) Como fenômeno de manifestações, este trabalho oferece um interesse especial;  prova que as comunicações espíritas podem esclarecer-nos sobre a História, desde que nos saibamos colocar em condições favoráveis.”(...) [2]

            No trabalho Dúvidas do mar, da terra e do céu[3], tive ensejo de citar exemplos alusivos a semelhantes revelações por parte do mundo espiritual.



[1]  “Revue Spirite”.
[2] “Revista Espírita”, junho de 1858.
[3] “Reformador”, abril de 1984.

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                                                                 IV
  
Prosseguindo, diz monsenhor Martins:
“Só a Igreja Católica tem a plena justificação da verdade da sua doutrina e a legitimidade da sua missão por meio do milagre, fato que só pode ser produzido por Deus. O milagre é a derrogação das leis naturais em relação a um caso particular; e essas leis, sendo regidas unicamente por Deus é somente Deus quem as pode derrogar... Nas outras associações religiosas podem apresentar mistificações, ilusões, enganos ou fraudes; ou prodígios que não exigindo um poder infinito podem ser feitos pelos demônios.”
A asserção de monsenhor cai por terra, pois todos os tempos e em todos os credos a fé nos ídolos sempre tem produzido os mesmos efeitos que produzem alguns dos ídolos da Igreja Católica. Comecemos pelos judeus, a quem Moisés curou pelo efeito da fé na serpente de bronze, curando os que foram mordidos pelas cobras. Em todos nos tempos, os sacerdotes de todas as crenças produziam o que se chama impropriamente de milagres. Poder-se-iam citar inúmeros exemplos. Até Apolônio de Tiana, que abraçou as crenças de Pitágoras, fazia curas maravilhosas. Só o clero, que falsamente se denomina cristão, as não faz, e isso pela simples razão de estar obcecado pela posse do ouro e do domínio das consciências.
Os chamados milagres da Igreja são unicamente produzidos pela fé na Virgem, no que o clero de modo algum intervém. A fé, sim, nesse grande Espírito, cheio de piedade pela Humanidade sofredora, o qual, devido às suas altas virtudes, obtém da misericórdia infinita do Criador as esmolas que implora, sempre, porém, dentro dos limites da sua justiça. Monsenhor mesmo o confessa no seu livrinho dizendo: “Quando Deus não quer os santos não rogam”, e como de tantos que vão a Lourdes e outros pontos onde se explora a credulidade pública, nem um por mil foram aliviados, fica demonstrado claramente que os santos não rogam tanto quanto monsenhor apregoa.
Quanto à derrogação das leis, com semelhante afirmação monsenhor derroga a onisciência do Criador, pois instituiu leis sem saber que de futuro, para fazer um especial favor à Igreja Católica, as teria de revogar. Imagine monsenhor, um Deus imprevidente! Não é blasfêmia?
Quanto à segunda parte, sobre os prodígios praticados pelo demônio nas associações que não comungam com o rev., a sua própria consciência bradou quando monsenhor escreveu este absurdo. E o rev. sabe que hoje há pouca gente que não procura o Espiritismo como último recurso para ser curada; e a grande maioria (talvez não exagere dizendo-a de 80%), dos que se curam por ele, é constituída de católicos, sem que ninguém os procure dissuadir das suas crenças.
Diz ainda monsenhor: Todos os católicos devem condenar tudo quanto é condenado pela Igreja Católica, porque se ela condenasse o que é bom, conveniente, necessário, deixaria de ser divina. Ela condena o livre pensamento (que Deus concedeu à criatura quando lhe outorgou o livre arbítrio), a liberdade de consciência (que é outro dom do Criador), o socialismo (porque ela quer socialismo só para si e nada para os outros), o Positivismo, o Espiritismo (porque proclama a verdade de Deus e a imortalidade do espírito), o Protestantismo, a Maçonaria, o divórcio (e absolve a ladroagem, o assassínio, o adultério e todos os crimes que os fiéis lhe confessam).
E com isso a Igreja lavrou um tento, pois, pretendendo ser de Jesus, condena-o, porque o maior socialista foi justamente Ele, e o segundo foi seu precursor João, o qual, quando a multidão, afluindo ao seu batismo o interrogava sob o que deveria fazer, disse: “Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem nenhuma, e quem tiver alimento faça o mesmo”. Não é isso socialismo, monsenhor?
E Jesus, da mesma forma, disse ao moço rico: “Vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu”. Mas Jesus não tinha onde repousar a cabeça e os seus pretensos representantes vivem em palácios; e como não os querem vender e repartir o produto com os pobres pregam contra
As doutrinas ensinadas por Jesus. Querem proibir o livre pensamento dos outros para melhor os poderem engazopar. Mas Deus não o quer e é por isso que o Espiritismo que os apavora, está se propagando tão rapidamente.


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            Diz o monsenhor Martins no 4º capítulo do seu livrinho: “Só a Igreja Católica é que constitui sociedade religiosa perfeita, como deve ser constituída por Jesus”.
            “Em todas as sociedades que não têm à sua frente uma autoridade suprema, a quem todos os membros devem obedecer, em vez de ordem e respeito, reinarão a insubordinação, a anarquia e a confusão. Pondo-se de parte a igreja católica, nenhuma outra associação religiosa tem um chefe espiritual e soberano, a quem todos prestem a devida submissão”. “Todos os sacerdotes, todos os bispos do mundo inteiro obedecem ao papa”.
            Não há dúvida de que esta obediência é um fato, mas será um bem?
            Parece-me que não, pois o papa é homem falível como todos e, como o próprio monsenhor diz no seu livrinho, “O erro será sempre o erro, embora o mundo inteiro o adote”.
            Monsenhor sabe que o papado é criação do sanguinário general Focas, do sétimo século, que, por despeito, deu ao bispo de Roma, o título de bispo dos bispos, não sendo, portanto, obra de Jesus.
            Sabe também que sem liberdade não pode haver progresso e que, dando Deus o uso da razão ao homem, não foi para que ela fosse escravizada a quem quer que seja, e, se a Igreja ainda tem adeptos, é porque em matéria religiosa o homem é preguiçoso para meditar. Enquanto queima as pestanas para resolver problemas difíceis ou negócios que lhe dêem ganho material, aceita os maiores absurdos em matéria religiosa, como monsenhor mesmo diz.
Também monsenhor não ignora que há exceções e que valiosos elementos têm recebido luz e abandonado a Igreja, até entre o próprio clero, por terem descoberto que a divindade da Igreja é uma vã pretensão, como não ignora que entre Pedro e Paulo houve desavenças, como as houve mesmo no tempo de Jesus entre os apóstolos, e eles eram os escolhidos. Portanto, se existe obediência na Igreja Católica, é devido ao interesse do clero que não quer perder o emprego, É esta a única razão da obediência.
Já vê que não é por santidade, nem do papa nem da Igreja, que há obediência, e sim pela boa invernada, de que todo o clero goza.
A Igreja de Jesus, porém, foi na sua origem a reunião dos convertidos por Pedro e pelos outros apóstolos, convencidos da superioridade dos missionários, dos quais procuravam sempre seguir os conselhos e direção para auxiliarem e cooperarem na difusão da Boa Nova. A Igreja do Cristo formava-se dos sinceros e verdadeiros crentes, judeus ou gentios que aceitavam a Lei do amor que Jesus veio pregar aos homens.
A Igreja de Jesus é a totalidade dos filhos submissos e zelosos, que se reúnem por intenção, quando não o podem fazer de fato; mas não são os templos construídos pelos homens, nos quais, segundo a palavra de Paulo, Deus não habita.
E Paulo diz na sua 2ª epístola aos Coríntios: “E que consentimento tem o templo de Deus com ídolos? Porque vós sois o templo de Deus vivente, como Deus disse: Nele habitarei, e entre eles andarei”.
Ter-se-ia enganado Paulo?
E cá entre nós, que ninguém nos ouça: monsenhor sabe que o sonho dos papas é obterem de novo o poder temporal. Daí a posição dúbia que o Vaticano tem mantido nesses cataclismos que desolam o mundo inteiro, desejoso da vitória daqueles que lhe podem servir de escadinha para subir de novo ao trono do rei.
Assim seriam os papas imperadores das consciências, com o conseqüente restabelecimento da Santa Inquisição.
            Este é o sonho e a prova palpável de que o clero é inimigo das instituições do nosso país, obrigado, como é, em obedecer ao papa, como monsenhor mesmo apregoa.
            Mas, descanse monsenhor, e isto digo em segredo, a vitória será dos aliados e, como já tive ocasião de dizer ao seu colega de Cuiabá, a vitória das democracias e do socialismo, que a Igreja também combate, será o princípio da queda da grande Babilônia predita por João no Apocalipse, Babilônia que é a Igreja Católica.


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                                                           II
           

            No terceiro capítulo do seu livrinho, monsenhor Miguel Martins, é um tanto incoerente, quando ensina: “O homem não tem o direito de, a seu capricho, nem mesmo à sua vontade (sem o especial consentimento do monsenhor), escolher para si uma qualquer das religiões existentes; porém, tem o dever de adotar unicamente aquela de que ele tem a perfeita certeza que é a religião verdadeira, a que foi revelada por Deus.” E adiante diz: “Em qualquer tempo que lhes sobrevenha qualquer dúvida, deverão consultar, estudar, ponderar, e logo que se convençam que a sua religião é falsa, devem imediatamente procurar professar aquela que julgam verdadeira.” Muito bem! Mas acaba o terceiro capítulo com a seguinte frase: “Por conseguinte, tributemos todo amor, dedicação e devotamento à nossa religião; (ainda bem) e, pelo contrário, votemos todo desprezo, ódio e rancor a tudo quanto convém, interessa, agrada a todas as outras seitas e associações contrárias e adversas à nossa religião.” (Mal, muito mal).
            Quase que sinto monsenhor dizer: ah! Pois que, de certo, o rev. seria logo elevado a Inquisidor-mor.
            Foi esta a tolerância que Jesus pregou e exemplificou? Então o freguês tem por obrigação escolher a religião que, de acordo com a sua consciência, seja a melhor, mas se esta não for a católica – fogo nele?
            Que bela lógica! Não, monsenhor, o rev. descarrilou, pois, como ensina logo no princípio do 4º capítulo: -- “O Evangelho é a história mais verdadeira que se possa imaginar” – e, sendo assim, como é que monsenhor pode pregar o que acima cito? Não será o que Jesus previu quando disse que os tempos teriam chegado “quando a abominação da desolação estivesse no lugar que deveria ser santo?” Não é a abominação das abominações?
            Não é a Igreja que desvirtua o que ela sabe ser o mais verdadeiro? Não ensina ela só os versículos que lhe convêm, do Evangelho, escondendo aqueles que a condenam? Monsenhor não ignora que lá está a condenação da grande Babilônia e dos atos que ela praticou e pratica.
            Lá, Jesus manda: “Ide e pregai o Evangelho, curai os enfermos, ressuscitai os mortos, expeli os maus espíritos”, “dai de graça o que de graça recebeis”; e, em obediência a esse preceito, a Igreja não cura, não ressuscita, não limpa os leprosos, não liberta os possessos e vende tudo o que de graça recebe, isto é, vende aquilo que finge ter recebido. Não é verdade, monsenhor?
            O Espiritismo, seguindo os preceitos, ensina a salvação universal, mostrando um Deus cheio de bondade e misericórdia, ao passo que a Igreja ensina a condenação eterna, fazendo representante de Deus um monsenhor Miguel Martins.
            O Espiritismo prega o amor a todos sem cogitar de crenças, seitas religiosas ou nacionalidades, pois que no Além não há divisões nem limites e todos somos irmãos, filhos de um só pai. Lá, cada um sofre, ou goza, de acordo com os seus atos. Ter pertencido a esta ou àquela seita nada vale, se os sentimentos não estiverem apurados, de acordo com os ensinos que têm baixado à Terra em diversas partes do mundo e em diversas épocas, e a todos ensinando igualmente a moral que Jesus exemplificou – o amor ao próximo.
            O Espiritismo ensina, ainda, que as práticas pagãs da Igreja Católica e os seus atos exteriores nenhum valor têm perante o Criador, pois só servem para deslumbrar a vista sem atingir o coração da criatura, e que, de acordo com os ensinos de Jesus, quem quiser orar e implorar a misericórdia do Pai deve fazê-lo fechado no seu quarto e não imitar o clero que, nesse mesmo capítulo, Jesus ordena. (S. Mateus, cap. 6)
            Pregando o ódio, o desprezo e o rancor, parece-me que monsenhor terá que voltar muitas vezes ao mundo antes que salve a sua alminha. Essa intolerância pode estar muito de acordo com a Igreja, mas não com o Evangelho, onde Jesus ensina a tolerância dizendo: “Não proibais que façam curas em meu nome; pois quem não é contra vós, é por vós” – e condena aqueles que, nada fazendo, lhe chamam Senhor, Senhor. Não é verdade também isto, monsenhor?


06/10 'O Livro dos Médiuns de Paulo, o Apóstolo'


6

            Logo apareceram os mercadores de mediunidade, que sempre os houve por toda parte.
            - Alguns exorcistas judeus itinerantes – diz Lucas nos versículos 13  e seguintes – decidiram também invocar o nome do Senhor Jesus sobre os que estavam possuídos por Espíritos maus e diziam: ‘Conjuro-te por Jesus, a quem Paulo prega’.
            Esses judeus eram sete e filhos de um tal Esceva, sumo sacerdote. Pois bem, o Espírito possessor logo lhes respondeu:
            - Conheço Jesus e sei quem é Paulo, mas e vocês, quem são?
            Diz ainda o narrador que em seguida o homem possesso atirou-se sobre os bisonhos exorcistas e os pôs em fuga, em frangalhos e cobertos de ferimentos, o que causou grande sensação e espanto em toda a cidade de Êfeso.
            O episódio é instrutivo sob vários aspectos e o desenvolvimento da prática espírita, a partir do século XIX, veio confirmar e explicar com perfeição o incidente. A mediunidade, como qualquer faculdade humana é, em si mesma, neutra. Tanto pode ser empregada num sentido como noutro, na prática do bem ou como instrumento do mal. Aqueles que a exercem ou que lidam com Espíritos, t~em que estar protegidos pelas boas intenções, pelo estudo, pela fé, pela prece, senão se tornam joguetes e vítimas de seres truculentos do mundo espiritual.. No caso narrado por Lucas, os exorcistas inexperientes invocaram Jesus e citaram Paulo, mas o Espírito que lhes conhecia as intensões interpelou-os de maneira incisiva, percebendo perfeitamente que não falavam em nome do Cristo e nem do seu apóstolo. Em Trôade, enquanto Paulo pregava, um jovem chamado Êutico  cochilou e caiu de uma janela de grande altura. Ao tomatem seu corpo no chão, foi dado como morto. Aí, conta Lucas, no capítulo 20, versículos 10 e seguintes:
            - Paulo desceu, curvou-se sobre ele e, tomando-o pelos braços, disse|; ‘Não, se perturbem, pois sua alma ainda está nele.’
            Com seus recursos mediúnicos, Paulo conseguiu que o Espírito do jovem retomasse a posse do corpo físico. É de notável precisão doutrinária, do ponto de vista espírita, a sua afirmativa de que ‘a sua alma ainda está nele’. A despeito da imobilidade que denunciava a cessação da vida orgânica, Paulo certamente podia ver que o Espírito ainda se achava preso ao corpo e, com algum esforço e ajuda espiritual, conseguiria ‘reviver’ o jovem.
            Mais uma observação apenas: o trecho é dos que foram escritos na primeira pessoa do plural. Lucas foi, portanto, testemunha ocular do fato. Narra-o em primeira mão e com precisão, o que denota que ele também, como todos os bons trabalhadores daquela época, conhecia mais acerca do mecanismo das leis espirituais do que a grande maioria haveria de conhecer nos séculos seguintes até o advento do Espiritismo.