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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Centenário de um Mito


Centenário de um mito

Túlio Tupinambá / (Indalício Mendes)
Reformador (FEB)  1970

            Passou quase despercebido no mundo, o que reputamos assaz significativo, o centenário da imposição do dogma da infalibilidade papal, verificada em 1870, em meio a verdadeira tempestade de divergência, dentro e fora da Igreja católica.

            Vinha essa ideia sendo acalentada desde muitos anos, mas “somente no princípio do século VII, a presunção dos prelados romanos encontrou guarida no famigerado imperador Focas, que outorgou a Bonifácio a primazia injustificável de BISPO UNIVERSAL. Consumada essa medida, que facilitava ao orgulho e ao egoísmo toda sua nociva expansabilidade, tem-se levado a efeito, até hoje, os maiores atentados, que culminaram, em 1870, na declaração da infalibilidade papal”  (1) .

                (1) "Emmanuel", do Espírito Emmanuel,  pág. 29),  4ª ed. FEB.

            O papa Pio IX viu-se, graças a isso, investido de poderes irrestritos, tanto mais que, segundo P. Jacinto (2), RÉF. CATHOL., pág. 121, “BASTA-LHE DECLARAR QUE TEM EM MIRA PRONUNCIAR UMA DEFINICÂO EX-CATHEDRA: por outra, BASTA QUERER SER INFALÍVEL”, para que sua vontade prevaleça definitivamente. O famoso estadista inglês Gladstone, em “The Vatican Decrees”», IV, pág, 35 (ibidem), esclareceu suficientemente (2) o poder do ex-cathedra, em poucas palavras: “Um indivíduo há e só um, a quem cabe declarar EX-CATHEDRA o que for EX-CATHEDRA e o que não for, coisa que poderá fazer sempre, quando e como entenda. Esse indivíduo é o próprio papa. O preceito é que documento nenhum expedido por ele será válido sem um certo selo ; mas esse tal selo fica entregue à custódia dele mesmo e sob as suas chaves”...

                (2) "O Papa e o Ooncílio" de Janus, página 97) 3ª Ed., ELOS.

            Com muito senso disse Léon Denis que “um dos maiores erros da Igreja, no século dezenove, foi a definição do dogma da infalibilidade pessoal do pontífice romano(3). Na verdade, “o Vaticano conservará seu poderio enquanto puder adaptar-se a todos os costumes políticos das nacionalidades; mas quando o Evangelho for integralmente restabelecido, quando a onda de uma reforma visceral purificar o ambiente das democracias com a luminosa mensagem da fraternidade humana, desaparecerá, não podendo ser absolvido na balança da História, porque, ao lado dos poucos bens que espalhou, está o peso esmagador das suas muitas iniquidades” (1), adianta Emmanuel (ob. cit., pág. 32).

            (3) "Cristianismo e Espiritismo" de Léon Denis, págs. 20 e seg., 4ª Ed., FEB.

            O dogma da infalibilidade nada mais representa do que um instrumento de arbítrio, porque - os fatos o comprovam, de 1870 até hoje - essa infalibilidade não passa de um mito, decorado por pretenso privilégio divino, como se Deus participasse de conciliábulos humanos a serviço de grupos mais interessados nos interesses profanos do que, realmente, nos problemas espirituais.

            Papa ou não, o homem, seja ele quem for, está sujeito ao determinismo cármico. Por maiores poderes temporais que enfeixe nas mãos, por mais lata que seja a sua cultura, por mais extraordinário que se mostre o seu talento, por mais terrível que se apresente a sua posição política, será sempre um homem, isto é, um ser subordinado à Lei retificadora do carma, que interfere automaticamente nos efeitos do comportamento humano. Essa Lei - de Causa e Efeito, de Causalidade - é indefectível, inexorável, fatal, acima das mais audaciosas pretensões humanas, mas benéfica ao futuro do homem. Ninguém escapa à sua ação corretora, disciplinadora e redentora, seja um deplorável devasso, um mísero mendigo, um virtuoso, um potentado, um humilde ou um ditador feroz, servido por poderosos exércitos. Nenhum pistolão pode evitar ou modificar os seus efeitos, porque se trata de uma lei equânime, divinamente justa, pois distribui equilibradamente as suas sanções, beneficiando o bem e punindo o mal. Os antigos, embora a interpretassem erradamente, conheceram-na. É o “olho por olho, dente por dente”, de que nos fala a Bíblia.

            A vida humana, individual ou coletiva, não lhe foge aos efeitos sanificadores. As vicissitudes da Igreja, depois de, durante séculos, haver ela dominado a Humanidade, não nos surpreendem, pois está no Evangelho  - “a cada um segundo suas obras” - muito sutilmente mencionada, a sanção cármica. O exame retrospectivo do desenvolvimento da Igreja, à luz da História, demandaria tempo e um espaço de que não dispomos. Entretanto, mostraria que seu itinerário, muitas vezes tortuoso, aleitou e fortaleceu o materialismo ateu que, hoje, atormenta, desorienta, desespera, amedronta e polui a Humanidade, através da violência, da desmoralização e desagregação da família, pelo livro, pelo teatro, pelo cinema, pela televisão, pelo rádio, facilitando a múltipla divulgação e propaganda ostensiva da sodomia, do uranismo (homossexualidade) e de outras perversões que rebaixam o gênero humano, além de amiserá-lo fisicamente pelo uso de tóxicos inúmeros. Diremos, como Ruy Barbosa, ao referir-se aos Documentos do teólogo Friedrich, acerca de fatos escabrosos referidos nessa obra jesuítica: “...a pena a custo, recalcitrando, mal nos pode transcrever, para lição dos incautos, essas sordícias ultramontanas, e onde outros lances, ainda mais grosseiramente cínicos repugnam, até em latim, à decência mais trivial”  

            (4) (ob. cit., páginas 281-282) .

            Em nome de estranha liberdade, defendida pelos que se comprazem na degenerescência da juventude, prato preferido dos demagogos destes tempos, está sendo convulsionado o mundo. O ceticismo e o ateísmo, irmãos colaços, porfiam em amortecer e extinguir a fé no coração das criaturas já desesperançadas de uma vida menos torturante, acenando-lhes com a miragem de um paraíso criado pela imaginação febril de “camelots” em delírio. Estamos enfrentando séria crise de “fim de século”, agravada, desta feita, pela conjunção de circunstâncias extralegais, oriundas de ideias, como algumas de Freud, destinadas a levar o homem de volta à animalidade.

            A Igreja tem lutado contra isso, sem dúvida alguma. Seríamos insinceros se o negássemos. E deve unir-se moralmente a todos os credos que trabalham para arrancar a Humanidade do caos materialista, porque há o objetivo ateísta de destruir as religiões, mas a todos os crentes, cristãos ou não, cumpre o dever de permanecerem fiéis a Deus, na salvaguarda da Religião, mesmo porque jamais poderá o homem prescindir do Pai. Os desatinos de uma época morrerão ao alvorecer da época seguinte, enquanto a Religião, como o Sol, continuará a vivificar a alma humana, a aquece-la, a confortá-la porque o destino do homem é Deus, malgrado os desvairamentos ateístas, que serão corrigidos pelo determinismo cármico, em outras encarnações.

            Abandone a Igreja os dogmas que ainda a separam da razão humana e poderá ressarcir o mundo de erros, equívocos e omissões cometidos no passado. A exortação do famoso bispo, Dr. Strossmayer, no concílio que aprovou o dogma da infalibilidade, não deve ser por ela esquecida: “Salvai a Igreja do naufrágio que a ameaça, e busquemos todos, nas Sagradas Escrituras, a regra da fé que devemos crer e professar!”.

            É preciso que assim seja porque as religiões defrontam um perigo comum. Somente a fé em Deus e o respeito às determinações do Alto poderão afastar as nuvens negras que obstam a passagem da claridade solar. Os antigos cristãos foram lançados às feras, mas o triunfo das feras foi momentâneo, pois a fé sobreviveu para glória do mundo! 

Verdades Espíritas na Bíblia

Verdades Espíritas
 na Bíblia
Sylvio Brito Soares
Reformador (FEB) Março 1971

            Há quem supunha que nós, espiritistas, depreciamos a Bíblia.

            Absolutamente. O que acontece é que os ensinamentos contidos nesse velho livro, considerado sagrado, foram superados com o advento do Cristianismo. Não obstante, ele revela, realmente, verdades de cunho moral, verdades de fundo histórico, verdades de caráter religioso, escritas todas por criaturas humanas sob a inspiração do Alto.

            Devemos lembrar, no entanto, que o verbo inspirar é oriundo do latim - Inspirare -, que quer dizer: soprar dentro ou sobre.

            Inspiração, portanto, é a ação de inspirar alguém, de aconselhar, de sugerir alguma coisa. E os portageiros desses conselhos, dessas sugestões são, na linguagem bíblica, os anjos, os quais, no entanto, nada mais são, em verdade, do que espíritos libertos do corpo carnal e já possuidores de apreciável progresso moral e intelectual.

            A leitura da Bíblia tem de interessar a todos os estudiosos, porque nela vamos, encontrar passagens interessantes para bem apreciarmos a marcha evolutiva dos povos primitivos, e também conselhos dignos de nossa meditação. Somos, por isso, leitor assíduo desse livro, que foi o primeiro a ser publicado impresso, em 1455, como gostamos igualmente de ler Buda, Confúrio, Sócrates, Platão e outros. E depois, no Velho Testamento, vamos apreciar uma série de fatos comprobatórios da comunicabilidade dos espíritos desencarnados com aqueles que ainda se acham ligados a um corpo de carne. Os espíritos desencarnados sempre exerceram e continuam exercendo influência muito acentuada na vida dos chamados vivos.

            O notável teólogo e grande tribuno norte-americano, reverendo Charles Reynalds Brown, decano da Universidade de Yale e pastor da Igreja Congregacionista de Oakland,  fez constar de seu livro “Os Pontos Principais da Crença Cristã” estas palavras: “O dia de Pentecostes não foi uma maravilha isolada, que se operou no início de uma nova dispensação, para atrair a atenção. Foi uma amostra do modo pelo qual as forças do mundo invisível (isto é, os Espíritos) podem ser invocadas para ajudar as nossas próprias forças morais no estabelecimento do reino de Deus”.

            Cumpre-nos acentuar que desde o primeiro livro do Velho Testamento, que é o “Gênesis”, até o último, o Apocalipse, ou Revelação, os ensinos ministrados pelos Espíritos se sucedem de maneira positiva, insofismável. O próprio Moisés não ouviu a voz de Deus, mas, sim, a dos Espíritos, e isto quem afirma é o apóstolo Paulo, quando disse: - “Vós que recebestes a lei por ministério dos anjos” (anjos, do latim ANGELUS, significa mensageiro, o que anuncia). “A lei foi anunciada pelos anjos” (veja-se Atos dos Apóstolos, 7 ;53, e Epístola aos Hebreus, 2 ;2). “Anjos são espíritos”, afirmou ainda o apóstolo Paulo, em sua Epístola aos Hebreus, 1 ;7. E que papel representam esses Espíritos? E' ainda Paulo quem responde: “São uns administradores, enviados para exercer o seu ministério a favor daqueles que hão de receber a herança da salvação” (Epístola aos Hebreus. 1:14).

            Moisés ouviu e viu o anjo, ou espírito que falava na sarça que ardia no monte Sinai (Atos 7:30-1). O Espírito da mãe de Lemuel aparece-lhe e dá-lhe esta sábia, edificante e instrutiva comunicação: “ ... Abre a tua boca a favor do mundo, pelo direito de todos os que se acham em desolação. Abre a tua boca, julga retamente e faze justiça aos pobres necessitados” (Provérbios, 31 ;1/9).

            Um Espírito apareceu a Manoah e à sua mulher, fala-lhes claramente por mais de uma vez (.Juízes, capo 13). Espíritos com corpos perispirituais aparecem a diversas pessoas (Mateus 27:83). O Espírito de um macedônio comunica-se com Paulo (Atos, 16 ;9). Um Espírito fala com Aarão e Míriam e promete manifestar-se a um médium vidente ou profeta, ou a comunicar-se por meio de sonhos (Números 12:6). Os judeus acreditavam que os Espíritos do mundo invisível se comunicavam com os encarnados (Atos 23: 9). Jeremias esperou dez dias a comunicação de um Espírito (Jer. 42:7). Ezequiel descreve a incorporação de um Espírito (Ezequiel cap. 1 e cap. 2, V. 2). O profeta Daniel, médium vidente, viu um Espírito voando e que repousou nele (Dan. 4:8 e 9; 21/22), Um Espírito anuncia a José, em sonho, o nascimento de Jesus (Mat. 1:20). Um Espírito, em sonho, recomenda a José que fuja com a família para o Egito. a fim de escapar à fúria de Herodes (Mat. 2;13). Um Espírito evita que os magos caiam na cilada preparada pelo rei Herodes (Mat. 2;7/12).

            Os 22 capítulos do livro Apocalipse, com 404 versículos, foram ditados ao apóstolo João Evangelista, quando exilado na ilha de Patmos, por ser discípulo do Nazareno. Eis como fala o apóstolo : “Eu João, vosso irmão, que tenho parte na tribulação, e no reino e na paciência em Jesus, estive em uma ilha que se chama Patmos, por causa da palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus. Entretanto, em êxtase num dia de domingo, ouvi por detrás de mim uma grande voz como trombeta, que dizia: “- O que vês, escreve-o num livro e envia-o às sete igrejas que há na Ásia: a Éfeso, a Smirna, a Pérgamo, a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia e a Laudicéia”.

            A Bíblia, pois, é a grande e insuspeita difusora da verdade Kardequiana, razão por que nós, espíritas, jamais podemos repudiá-la, porquanto nos fala, abundantemente, ser uma realidade as manifestações espíritas.


A Parapsicologia e o cavalo morto


A Parapsicologia
e o cavalo morto

Newton Boechat
Reformador (FEB) Março 1971


            É conhecida aquela estória de um rei que tinha extremada estima ao seu cavalo. Ela ia ao ponto de, constantemente, o monarca advertir ao tratador do animal, nos seguintes termos: “se algum dia tu me comunicares que o meu cavalo morreu, eu te matarei!”

            Passados muitos anos, certa manhã, o tratador chegou ao estábulo e deu, aflito, com o belo corcel estendido no chão, hirto, pois que morrera durante a noite, de modo inexplicável...

            Como o tratador era homem inteligente, pensou num jeito de escapar da morte.

            Plenamente confiante de que se livraria do castigo, o homem chegou, reverente, junto ao trono, à hora do informe habitual e expôs:

            - Senhor! Tenho notícia talvez chocante para vos dar... Hoje cedo, fui ao estábulo, a fim de alimentar o vosso fogoso animal, com cuidadosa ração. Entretanto, em lá chegando (e aqui soluçou) surpreendi-me! O vosso cavalo estava caído, hirto, frio... não respirava, não fazia nenhum movimento, não tinha sensibilidade, as juntas estavam enrijecidas e também, Senhor. .. as moscas esvoaçavam em torno dele, como se esperassem, avidamente, o momento de um banquete macabro...

            O rei, que escutava atentamente, com respiração opressa, levantou-se de um salto, crispou os punhos, franziu a testa em sinal de contrariedade profunda e exclamou em alta voz:
           
            - Então o meu cavalo morreu? ..

            Ao que, resoluto e calmo, o guardador do animal, respondeu:

            - Eu não vos disse que morreu... Vossos lábios, sim, parecem proferir a realidade! 

             E assim escapou da morte certa.

            A estória do cavalo do rei que aqui resumimos, suscita-nos um comentário.

            Certos estudiosos de fenômenos psíquicos, não obstante terem após algumas dezenas de anos, observado inúmeros fatos reais, tentaram e tentam, por meios inúmeros, criados por investigadores irrequietos, interpretar a fenomenologia mediúnica “fisiologicamente”, embora nem sempre suas “explicações fisiológicas” correspondam, por falta de lógica.

            Batizaram diversos fenômenos com palavras envernizadas, sem contudo, apresentarem novidade alguma.

            As mesmas expressões fenomênicas, expostas no “O Livro dos Espíritos” e no ‘O Livro dos Médiuns” com muita antecedência, tem nos anais da Parapsicologia nomes exuberantes, tais como: criptomnésia, telecinésia, psícocinésia, criptestesia pragmática, prosopopese-metagnomie, etc. etc.

            Vocabulário elegante e escorregadio, ginástica de palavras e hipóteses que não coincidem com a própria linguagem do fenômeno, não mais convencem. Imperioso é positivar, sem preconceitos acadêmicos, a realidade espiritual, como fizeram sábios do passado e do presente (de Richet a Bozzano e deste a J. B. Rhine).

            Enquanto a maioria dos parapsicólogos persistir no caminho confuso dos neologismos que nada explicam, a Parapsicologia não poderá dar ao pensamento humano uma diretriz segura em que ele se firme.

            O rei da estória é o preconceito das cátedras; a exposição do tratador simboliza a evasiva dos 'doutos' que torcem a verdade, embora constatando-a, a fim de preservarem o título e a vida; o cavalo é a imensa série de fenômenos mediúnicos que gritam ao mundo que os mortos vivem.

            Parapsicologia foi termo adotado por Rhine, mas cunhado por Max Dessoir em 1889 e usado largamente por Boirac.

            Os fenômenos que ela estuda, de órbita inteligente ou “psigâmica” ou de órbita física ou “psikápica”, são os mesmos que se deixaram investigar por experimentadores da velha Metapsíquica, criada por Richet.

            Lançar mão de fenômenos supranormais, como os de telepatia ou premonição e querer inocula-los como oriundos da psique humana, produtos de reações mentais e emocionais do homem, sem sobrevivência ou sem sua coordenação por Espíritos - numa dosagem sábia na lei do mérito ou demérito individual -, como fazem certos parapsicólogos com ou sem batina, gregos e troianos, é francamente falsear o culto à Verdade.

            Não estamos no caos, não vivemos à deriva das Leis Divinas! Se assim fosse, as faculdades e os fenômenos ficariam ao “deus-dará” ... quem possuísse faculdade de premonição - telepatia direta ou indireta -, se salvaria ante acidentes ou perigos iminentes, salvando, outrossim, seus parentes e amigos...
           
            E quem os não possuísse...


            Sem fator moral na pesquisa, sem observar os quadros psíquicos, coordenando-os em grandes e pequenos esquemas para a necessária consequência ética, a vida não teria um telefinalismo e seria um beco sem saída... 

Relembrando Casimiro Cunha (2)...



Doutrina, aviso e conselho,
Dentro de casa ou no templo,
Só valem quando mantidos
No clima do bom exemplo.

Casimiro Cunha
por Chico Xavier

Reformador (FEB) Maio 1956

Relembrando Casimiro Cunha...



Muito luxo, muita festa,
Muito aplauso e muito vinho
São nevoeiros dourados
Para ensombrar o caminho.

Casimiro Cunha
por Chico Xavier

Reformador (FEB) Maio 1956

O Cristo monopolizado

Será que mudou alguma coisa na igreja de Roma?


O Cristo monopolizado
Editorial
Reformador (FEB) Maio 1956

            S. Eminência o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, D. Jaime de Barros Câmara, em
emaranhada e confusa palestra contra o Espiritismo, pela Rádio Vera Cruz desta Capital, conforme registou o “Jornal do Commercio” de 24 de Março do corrente ano, chamou ladrões aos espíritas, por reverenciarem estes a figura inigualável de N. S. Jesus-Cristo. “Pois queiram ou não - repisou S. Em. - roubo é.”

            Pelo que se entende, mais adiante, unicamente os católicos podem e têm o direito de pronunciar e reverenciar o “santo” nome de Jesus. Aos demais cristãos, não ligados à Igreja de Roma, foge-lhes o direito de possuir o Cristo, de seguir lhe as pegadas, de receber-lhe o influxo amoroso. Vemos, assim, a quanto vai a intolerância e o exclusivismo de uma religião que se arroga o direito de monopolizar a própria pessoa do grande Crucificado, espelho do nosso Criador, que, segundo as palavras do Filho, é Pai dele e Pai de toda a Humanidade.

            Além do mais, não precisaríamos roubar o “Cristo” do Catolicismo, pois conosco temos o Cristo vivo do primeiro século do Cristianismo, em toda a sua simplicidade e vigor, e cujo amor infinito não conhece as fronteiras levantadas pelas raças, pelas línguas e pelas religiões facciosas.

            Empregando o mesmo verbo - roubar, utilizado por D. Jaime, diremos nós, mas sem contestação, que o Catolicismo é um amontoado de roubos realizados no correr dos séculos, ao ponto de hoje se nos apresentar como um movimento divorciado do verdadeiro espírito do Cristo, vivendo à custa de César e a este ligado para o domínio das massas analfabetas de certos países.

            Da simplicidade da religião do Cristo, já hoje nada mais resta. Os andores, procissões e imagens do Paganismo, a indumentária multicolor, os templos suntuosos, o sacerdócio organizado das religiões do Oriente, e mil e uma coisas, quer materiais, quer espirituais, “roubadas”  de inúmeras religiões espalhadas pelo Mundo, tudo isso deturpou de tal forma o Cristianismo nascente, que dele nada mais ficaria de lembrança se não fora o Protestantismo e, posteriormente, de 1857 para cá, a ação do Espiritismo, o Consolador prometido pelo Mestre da Galileia, que veio restaurar o velho edifício construído na Palestina, escoimando-o de um amontoado de roubos, de dogmas absurdos, de rituais extravagantes e de erros e impurezas sem número.


            Destarte, respeitosamente a D. Jaime devolvemos a injúria, acrescendo, apenas, para a sua meditação, essa radiosa promessa de Jesus: Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles. 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Formas de Governo

Formas de  Governo

Cristiano Agarido /
 (Ismael Gomes Braga)


Reformador (FEB) Maio 1956

            Os primeiros governos do mundo foram espíritas, embora pouco se cogite disto. Foram os Espíritos desencarnados, tomando nomes de deuses e deusas das mitologias, que deram aos homens suas primeiras organizações sociais e governamentais.

            Saltando-se o longo período das mitologias, que nos chegou muito deformado pelas lendas, com seus deuses e deusas bons, maus e péssimos, detentores ainda de todas as paixões humanas, vamos encontrar em formação o povo de Israel que nos deu o Monoteísmo.

            Era um Espírito de tremenda energia, de acordo com as necessidades daquele tempo, quem ditava ao povo suas leis, por vezes admiráveis, sábias, como o Decálogo, o Regulamento para o Ano Jubilar e outras; mas sempre de dura severidade, porque se tratava de dominar um povo endurecido e brutalizado por séculos de escravidão no Egito.

            O médium que primeiramente recebeu instruções desse Espírito, ou quiçá desse grupo de Espíritos encarregados de governar os judeus e fazer deles uma nação coesa e capaz de resistir a todas as vicissitudes da História, foi Moisés.

            Dentre as partes maravilhosas do Pentateuco, uma é o já mencionado Regulamento para o Ano Jubilar, que se acha no Levítico, cap. 25: 8 a 28.

            Por esse Estatuto ficava afastado o perigo de acumularem-se as terras e outros bens em mãos de uns poucos, com empobrecimento total das grandes massas humanas.

            Era uma legislação social avançadíssima, ditada há três mil e quinhentos anos, e até hoje irrealizada.

            Depois de Moisés surgiram outros médiuns em Israel e foram ditando novas leis, novas formas de governo.

            O primeiro rei dos judeus foi escolhido e sagrado por um médium, Samuel. Esse primeiro rei, Saul, se desviou de sua missão e foi condenado pelo Espírito de Samuel, já então desencarnado, como lemos no relato da bela sessão espírita realizada na cidade de En-Dor, da qual temos ata minuciosa: no Primeiro Livro de Samuel, cap. 28: 1 a 25.

            As formas de governo foram-se tornando mais materialistas e perdendo afinidade com o mundo espiritual superior, deixando dominar-se pelos Espíritos inferiores, contudo, continuou a crença, quase sempre errada, de que era Deus quem escolhia os reis.

            Essa influência espiritual na direção dos povos sofreu os mais tremendos desvios. Desceu a verdadeiros abismos na Idade Média, quando a Igreja Romana, onipotente, parecia inspirada exclusivamente por Espíritos inferiores e cruéis, encarnados e desencarnados,

            Nas linhas gerais da evolução da Humanidade, porém, sempre se observa um Plano Elevado que se cumpre lentamente, no sentido duplo de organizar a vida dos homens de modo a resolverem os problemas passageiros da matéria, e promover o progresso intelectual e moral dos Espíritos.

            A tendência mais forte de hoje é no sentido da socialização dos bens, da produção, do trabalho, com a finalidade de abolir da Terra a pobreza material e fazer reinar a abundância para todas as criaturas.

            Neste sentido vão-se realizando trabalhos pasmosos de colaboração e solidariedade, parecendo que em breve tempo a pobreza será um termo arcaico na linguagem humana. Em todas as formas de governo, no entanto, tenham elas o título que tiverem, há uma elite dirigindo as grandes massas humanas; existe uma aristocracia espiritual governando. Pouco importa que o regime se diga monarquia, república, democracia, nacionalismo, fascismo, comunismo, o que há sempre é o governo de uma pequena aristocracia espiritualmente superior às massas.

            Democracia é uma bela palavra, mas nunca dominou e parece que nunca dominará; porque as massas são sempre conduzidas pelas elites espiritualmente mais inteligentes, mais enérgicas, que as governam e lhes ditam as leis.

            Longe de ser um mal, essa situação é um bem, porque as aspirações das massas - se elas tivessem aspirações - seriam de nível muito baixo, tremendamente egoísticas e dispersivas. Na verdade, porém, as massas não têm aspirações coletivas: aceitam as ideias que lhes são apresentadas pelas elites dirigentes que orientam e governam o mundo. Igualmente no mundo espiritual não há democracia: só há aristocracia. O governo não sobe das massas de Espíritos atrasados, por meio de eleições, para os Espíritos superiores que dirigem e governam. Estes recebem ordens, sempre de cima e não de baixo.

            Nos regimes democráticos da Terra, igualmente, o poder não sobe do povo para o governo, como se supõe, porque o povo, isto é, as massas, são orientadas pelas elites na propaganda eleitoral.

            Todas as formas de governo são dirigidas somente por uma pequena aristocracia de Espíritos mais elevados do que a grande massa humana. 

            Até agora essa aristocracia dirigente só pode governar pela força das armas dirigidas contra as massas; mas, pela evolução, a força das armas terá que ser substituída por outra mais alta: pela força da compreensão e do amor.

            Quando a Compreensão e o Amor orientarem os homens, eles serão guiados pelas Altas Esferas espirituais; permanecerão sempre em convívio com Altos Espíritos desencarnados. Os grandes médiuns - conscientes ou não - surgirão por toda a parte e o mundo terá um governo espírita, mas de Espíritos muito mais amorosos do que os antigos que falavam pela boca de Moisés e outros profetas. A Humanidade então já estará redimida e não necessitará de dores e abalos para caminhar, porque saberá progredir conscientemente pelos impulsos amorosos em busca do bem para todos.

            Para esse grande porvir caminhamos todos.


Durante o sono do corpo

Durante o sono do corpo
Editorial
Reformador (FEB) Maio 1956

            Numa bela preleção que ocupa as páginas 188 a 190 de Instruções Psicofônicas, temos que estudar um dever novo para nossa consciência normal. O autor é Calderaro, um instrutor espiritual com quem já travamos conhecimento no livro de André Luiz, “No Mundo Maior”.

            Se depois da "morte" nos esperam novas tarefas a realizar, igualmente depois do dia,
quando nosso corpo provisoriamente "morre"  pelo sono normal, temos deveres a cumprir no mundo espiritual, mas raras vezes cumprimos tais deveres, porque o nosso dia nos acarretou desarmonias, perturbações, e o tempo do sono é empregado somente "em esforço compulsório de reajuste".

            Calderaro nos dirige um apelo, para melhorarmos nossa conduta, a fim de podermos cumprir nossos deveres como espíritos interinamente desencarnados:

            “Convidamos, assim, a vocês, tanto quanto a outros amigos a quem nossas palavras possam chegar, à tarefa preparatória do descanso noturno, através do dia retamente aproveitado, a fim de que a noite constitua uma província de reencontro das nossas almas, em valiosa conjugação de energias, não somente a benefício de nossa experiência particular, mas também a favor dos nossos irmãos que sofrem.
         Muitas atividades podem ser desdobradas com a colaboração ativa de quantos ainda se prendem ao instrumento carnal, principalmente na obra de socorro aos enfermos que enxameiam por toda aparte.  
         Vocês não desconhecem que quase todas as moléstias rotineiras são doenças da ideia, centralizadas em coagulações de impulsos mentais, e somente ideias renovadoras representam remédio decisivo.
         Por ocasião do sono, é possível a ministração de amparo direto e indireto às vítimas dos labirintos de culpa e das obsessões deploráveis, por intermédio da transfusão de fluidos e de raios magnéticos, de emanações vitais e de sugestões salvadoras que, na maior parte dos casos somente os encarnados, com a assistência da Vida Superior, podem doar a outros encarnados."

            Esta mensagem toda merece muito meditada para ser posta em prática. Há grandes deveres a cumprir durante o sono do corpo e nós perturbamos o Plano Divino de ação em benefício dos sofredores e de nós mesmos, porque nos desarmonizamos com a Lei durante o dia; em nossa vida agitada e exaustiva, de modo que passamos essas horas preciosas do sono somente consertando as ruínas que fizemos durante o dia.

            Como é grande a nossa ignorância!


Aperfeiçoamento

Aperfeiçoamento
Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Maio 1956

            A plantação aproveita-se da chuva e do sol que a castigam para produzir a riqueza do pão.

            O manancial vale-se da areia e da pedra que lhe ferem a corrente, a fim de purificar as próprias águas.

            O tronco embrutecido submete-se à inclemência da lâmina para transferir-se do mato selvagem ao conforto doméstico.

            A Natureza é pródiga de lições vivas ao nosso anseio de aprimoramento.

            É imprescindível saibamos aproveitar os obstáculos por ensinamentos seguros e positivos.

            A grande ciência começou no duro trabalho de alfabetização.  
            
            A música divina nasceu do solfejo monótono e desagradável.

            Cristo não nos induziu a servir aos nossos adversários simplesmente porque nos deseje soerguer, de imediato, à galeria dos heróis e dos santos, e nem nos recomendou o júbilo na dor porque pretendesse transportar-nos, de inopino, a paraísos ainda inabordáveis ao nosso entendimento.

            É que dos atritos da senda procede para nós o tesouro da experiência, quando não nos encarceramos na teia infernal da indisciplina e do ódio, do desânimo ou da desesperação.

            O inimigo gratuito é sempre um excelente instrutor e qualquer espécie de sofrimento pode ser degrau de acesso a novos horizontes do Espírito.

            Decerto, o Senhor em nos exortando - sede perfeitos! - não esperava a improvisação de asas angélicas em nossos ombros, assim como o cultivador da terra não conta com frutos na sementeira de um dia...

            O Mestre aguarda a nossa perseverança na boa vontade para com todos, até o fim de nossa luta, de vez que a boa vontade, significando serviço incessante ao próximo, é o nosso primeiro passo para a aquisição do amor sem mácula e da verdadeira sabedoria.


            Amemos e trabalhemos sempre, sem indagar, aprendamos com o mundo e com a vida, sem revolta e sem mágoa, recapitulemos nossas lições no dever bem cumprido, quantas vezes se fizerem necessárias, e, assim agindo, estejamos certos de que o Divino Orientador virá ao encontro de nossas dificuldades humanas, arrebatando-nos ao conhecimento dos Planos Superiores, onde nos colocaremos em marcha sublime para a glória imortal. 

o Servo Insaciável


O Servo Insaciável
Irmão X  
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Maio 1956

            Fatigado da imensa luta que sustentara nas esferas inferiores, Belino Castro rogou ao Senhor a bênção da reencarnação.

            Estava cansado, dizia.

            E porque chorasse, compungidamente, um Mensageiro Celeste arrebatou-o do império das sombras e o trouxe para a Terra.

            Encantado, Belino recebeu honrosa incumbência. Renasceria para a obra da fraternidade cristã.

            Além dos serviços naturais que lhe diziam respeito à própria recuperação diante da Lei, seria prestimoso benfeitor dos doentes. Protegeria os enfermos, distribuiria com eles a coragem e a consolação em nome de Deus.

            - Não precisa impressionar-se demasiado com a aquisição de elementos materiais para a execução da tarefa - disse-lhe o emissário divino  - mantenha as mãos no arado generoso do trabalho e o seu serviço atrairá os recursos de que necessite.

            - Mas - ponderou Belino, preocupado -, e quando surgirem dificuldades imprevistas e especiais?

            - Utilize a prece e, em seguida, canalize suas forças na direção do objetivo. O suprimento ser-lhe-á, então, entregue por nós, através de circunstâncias aparentemente casuais, para o serviço que lhe compete.

            E Belino tornou ao corpo num lar de excelente formação evangélica.

            Desde cedo, foi instruído para a verdade e para o bem.  

            Moço ainda, recolhia do Alto o apelo incessante ao ministério que lhe cabia e, por essa razão, costumava dizer:

            - Sinto que tenho abençoada missão a realizar, em favor dos enfermos. Muitas vezes, sonho a ver-me ao pé de numerosos doentes, enxugando lágrimas e limpando feridas. Não descansarei, enquanto não puder construir um grande hospital.

            Mas Belino condicionava a edificação a certos fatores que considerava essenciais e, por isso, lembrando instintivamente a recomendação do benfeitor divino, movimentava a oração, canalizando as próprias forças.

            - Poderia auxiliar os enfermos - dizia -, mas aguardava um emprego vantajoso.
E o emprego vantajoso lhe foi concedido.

            - Sim - afirmava -, agora, para adquirir segurança, tenho necessidade de um bom casamento.

            E o bom casamento lhe veio ao encontro.

            - Devo possuir filhos robustos que me auxiliem - ponderou.

            E os filhos robustos adornaram-lhe os braços.

            - Tudo prossegue regularmente - reconheceu -, mas uma casa própria é indispensável à minha paz.

            E a casa própria surgiu, confortável e ampla.

            Para ser útil aos enfermos - ajuntou -, não posso alhear-me dos bons livros.

            E preciosa biblioteca enriqueceu lhe o templo familiar.    

            - Sem bons negócios, não posso atirar-me à empresa - considerou.

            E os bons negócios vieram auxiliá-lo.

            - Um automóvel particular resolveria as minhas questões de tempo, alegou.

            E, em breve, um carro acolhedor incorporara-se lhe à propriedade.

            - Agora, é imperioso conquistar bons rendimentos - pediu ao Céu, em comovente rogativa.

            E bons rendimentos rodearam lhe o nome.

            - Quero mais rendas - insistiu a lamuriar-se.

            E mais rendas vieram.

            Nessa altura, os filhos já estavam crescidos e Castro implorou vantagens materiais para eles e as vantagens solicitadas apareceram. Em seguida, notando que os rapazes lhe afligiam o pensamento, suplicou a chegada de noras dignas para o ambiente familiar. E as noras chegaram.

            Belino, porém, continuou rogando, rogando, rogando...

            Certa feita, quando reclamava favores para os netos, chegou a morte e disse-lhe:

            - Meu amigo, o seu tempo esgotou-se.

            O interpelado, sob forte susto, clamou de si para consigo:

            - Meu Deus! meu Deus!  e a minha tarefa? Não posso deixar a Terra sem cumpri-la...
Ainda não pude sequer visitar um doente! ...

            A recém-chegada, contudo, deu-lhe apenas alguns instantes para a bênção da oração.

            Castro, ansioso, tomou o Testamento do Cristo, e, de mãos trêmulas, abriu-o precipitadamente. De olhos esgazeados, esbarrou com estas palavras constantes no versículo vinte, no capítulo doze das anotações de Lucas:

            - “...esta noite, exigirão tua alma e o que ajuntaste para quem será?"

            Mas, antes que Belino pudesse entregar-se a novas e desesperadas petições, a morte apagou lhe temporariamente a luz do cérebro e o reconduziu à Vida Espiritual.


Os fatos comprovam as profecias

Os Fatos
comprovam as profecias
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Agosto 1972

            A humanidade atravessa largo e doloroso período de agitada transição,
comprovado pelo panorama de violências e incompreensões, de intransigências e rebeldias estranhas. O sentimento de ódio se estende a numerosas nações, perturbadas por pregoeiros de ideias e doutrinas desfraternas, sem compatibilidade alguma com os postulados evangélicos deixados pelo Cristo de Deus.

            A personalidade admirável e respeitável de Jesus, entretanto, continua sendo motivação para as mais extravagantes demonstrações grosseiras, quer no teatro, quer no cinema, quer em publicações diversas. Para alguns, o Mestre não passou de um vulgar agitador político, ambicioso do poder, um líder com todas as mediocridades que caracterizam muitos dos indivíduos que, simulando aceitar seus princípios, nada mais querem do que corromper o sentimento cristão, explorando a ingenuidade e a inexperiência de outros mais crédulos do que sensatos, afeiçoando-os a práticas diametralmente opostas às preconizadas nos Evangelhos.

            Os trinta anos que faltam para terminar o século atual assinalam semelhanças, em determinados pontos, com o mesmo período do século XIX, apenas com a diferença de que, agora, a humanidade se vê também diante de uma revolução tecnológica mais profunda e por isto mesmo capaz de alterar fundamentalmente o esquema de vida nos anos porvindouros. Relembrando a “coincidência”, ideias utópicas, ânsias de excessiva liberdade, em favor do estabelecimento de um realismo animalizante, colidem com princípios de moral doméstica. Vícios repulsivos são impostos à mulher, dia a dia mais desencontrada de si mesma, graças a modas ultrajantes, que a desnudam e a transformam, para tristeza das pessoas equilibradas, em simples objeto destinado à lubricidade do materialismo delirante deste fim de século. Buscam, os reformistas, o aniquilamento da Religião, desfraldando a bandeira do racionalismo niilista. Tentam eles dominar o mundo pelo medo, subvertendo a vida normal dos povos que querem trabalhar em paz, assegurando a tranquilidade da família, para alcançar melhores níveis existenciais.

            “O Espiritismo” vem, como “vinha, ( ... ) na hora psicológica das grandes transformações, alentando o espírito humano para que se não perdesse”, e não se perca, “o fruto sagrado de quantos trabalharam” e trabalham, sofrem “e sofreram no esforço penoso da civilização. Com as provas da sobrevivência, vinha reabilitar”, como o faz ainda hoje, “o Cristianismo que a igreja deturpara, semeando, de novo, os eternos ensinamentos do Cristo no coração dos homens. Com as verdades da reencarnação, veio explicar, e explica ainda, “o absurdo das teorias igualitárias absolutas, cooperando na restauração, do verdadeiro caminho do progresso humano.

            Enquadrando o socialismo nos postulados cristãos, não se ilude com as reformas exteriores, para concluir que a única renovação apreciável é a do homem íntimo, célula viva do organismo social de todos os tempos, pugnando pela intensificação dos movimentos educativos da criatura, à luz eterna do Evangelho do Cristo. Ensinando a lei das compensações no caminho da redenção e das provas do indivíduo e da coletividade, estabelece o regime da responsabilidade, em que cada espírito deve enriquecer a catalogação dos seus próprios valores. Não se engana com as utopias da igualdade absoluta, em vista dos conhecimentos da lei do esforço e do trabalho individual, e não se transforma em instrumento de opressão dos magnatas da economia e do poder, por consciente dos imperativos da solidariedade humana. Despreocupado de todas as revoluções, porque somente a evolução é o seu campo de atividade e de experiência, distante de todas as guerras pela compreensão dos laços fraternais que reúnem a comunidade universal, ensina a fraternidade legítima dos homens e das pátrias, das famílias e dos grupos, alargando as concepções da justiça econômica e corrigindo o espírito exaltado das ideologias extremistas.

            “Nestes tempos dolorosos em que as mais penosas transições se anunciam ao espírito do homem, só o Espiritismo pode representar o valor moral, onde encontre o apoio necessário à edificação do porvir.” (1)

            Essas palavras de Emmanuel foram escritas e publicadas há anos e revelam a extensão do grande problema humano, ainda em pleno evolver. Já então o eminente Espírito perguntava: “Onde estão os valores morais da humanidade?”  e dava, ele mesmo, a seguinte resposta: “As igrejas estão amordaçadas pelas injunções de ordem econômica e política. Somente o Espiritismo, prescindindo de todas as garantias terrenas, executa o esforço tremendo de manter acesa a luz da crença, nesse barco frágil do homem ignorante do seu glorioso destino, barco que ameaça voltar às correntes da força e da violência, longe das plagas iluminadas da Razão, da Cultura e do Direito.” Eis confirmada a previsão de Emmanuel: o “barco” que ameaçava voltar às correntes da força e da violência voltou e foi tomado de assalto. A situação atual do mundo nada mais é do que o desenvolvimento natural de antigos erros, cuja imprudente repetição veio revigorar o materialismo, mais forte desde que, em 1870, Pio IX decretou a “infalibilidade papal”. Da mesma forma que, certa feita, enérgica e saneadora ação espiritual exilou do sistema de Capela milhões de Espíritos rebeldes, a serviço da Treva “a Terra, como aquele mundo longínquo, ver-se-á livre das entidades endurecidas no mal, porque o homem da radiotelefonia e do transatlântico” (já agora também da televisão, da energia nuclear, dos astronautas que conquistaram a Lua) “precisa de alma e sentimento, a fim de não perverter as sagradas conquistas do progresso. Ficarão no mundo os que puderem compreender a lição do amor e da fraternidade sob a égide de Jesus, cuja misericórdia é o verbo de vida e luz, desde o princípio.” (1)

            Emmanuel faz-nos relembrar Sócrates, quando afirma, com a sua convincente autoridade: “Como nos tempos mais recuados das civilizações mortas, temos de reafirmar que a maior necessidade da criatura humana é a do conhecimento de si mesma.(2) E prossegue: “Na atualidade do planeta, tendes observado a desilusão de muitos utopistas (...), que sonharam com a igualdade irrestrita das criaturas, sem compreender que, recebendo os mesmos direitos de trabalho e de aquisição perante Deus, os homens, por suas próprias ações, são profundamente desiguais entre si, em inteligência, virtude, compreensão e moralidade. O homem que se ilumina conquista a ordem e a harmonia para si mesmo. E para que a coletividade realize semelhante aquisição, para o organismo social faz-se imprescindível que todos os seus elementos compreendam os sagrados deveres de auto iluminação”. (2)

            O problema da crença é muito importante. “A maioria dos homens possui religião, mas não tem crença. As aparências não exprimem convicção. O culto externo oculta o cepticismo interior. A fé desertou das almas, e o homem se afastou de Deus.”  “Aos poucos, a humanidade vai entrando num estado de alarma, alimentado pelas crises, catástrofes, conflitos, que se sucedem, dia a dia, com crescente impetuosidade, como se obedecessem a longânimo propósito de adestrar o espírito do homem para insuperáveis provas, abalos e emoções. O trauma dos acontecimentos máximos, sem prévia preparação, poderia ser fatal à espécie humana. Daí a lenta, mas progressiva, imersão do mundo em atmosfera pressaga e opressiva, de incerteza e insegurança, de confusão e ansiedade, e a estabilização de um clima universal de agitação.

            O que era excepcional se vai tornando normal, como para habituar o homem a viver em permanente apreensão e induzi-lo, assim, a vigiar, a fim de não se ver arrebatado pelos sucessos. Breve, dentro das espessas nuvens que envolverão o planeta, só haverá um respiradouro: a oração. Basta considerar os acontecimentos que se verificaram na primeira metade (do século XX), para se avaliar o que poderá suceder na segunda metade do século atual.” (3)

            Não desejamos alongar-nos nas citações.

            Todavia, muita coisa, infelizmente, acontecerá até a década de 1980. Jeane Dixon vaticinou: “As duas maiores dores de cabeça da América serão o problema racial e a China Vermelha.” Os jornais nos informam cotidianamente que esse problema vem atormentando o Governo norte-americano e, ainda há pouco, grave atentado quase tirou a vida de um político ianque racista. Antes de 1999, não haverá a sonhada paz no mundo e “o tratado sobre as experiências nucleares será prejudicial à América.(4) Um homem nascido no Oriente Médio, em 1962, trará a missão enganosa de unificar todos os credos rivais numa fé única, mas simbolizará o Anticristo. “Seu poder aumentará grandemente até 1999”, mas só nos princípios da década de 1980 começará a sentir a força desse homem.” (4) Isto foi o que, em sua segunda extraordinária visão, Jeane Dixon anotou. Não estamos aqui endossando nada, mas precisamos considerar que essa senhora norte-americana teve já visões que se confirmaram integralmente, como o assassínio do Presidente Kennedy, o lançamento do Sputnik 1, a queda de Nikita Kruschev, etc. Ficaremos nisto. Ninguém se iluda. As combinações políticas destes últimos meses demonstram aspectos inesperados do jogo que as mais poderosas nações do mundo vêm realizando. Mas nada disso acontece à revelia dos Espíritos Superiores. Reportemo-nos às profundas e impressionantes lições do episódio da “grande estrela da Constelação do Cocheiro, que recebeu, na Terra, o nome de Cabra ou Capela”.

            Procuremos compreender que “aqueles seres angustiados e aflitos, que deixavam atrás de si todo um mundo de afetos, não obstante os seus corações empedernidos na prática do mal”, foram “degredados na face obscura do planeta terrestre”; andaram “desprezados na noite dos milênios da saudade e da amargura”; reencarnaram “no seio das raças ignorantes e primitivas, a lembrarem o paraíso perdido nos firmamentos distantes. Por muitos séculos não viram a suave luz da Capela, mas trabalharam na Terra acariciados por Jesus e confortados na sua imensa misericórdia”. (5)

            Meditemos bastante, nós, que temos a iluminar a nossa rota o espírito do Evangelho de Jesus. “O Espiritismo, na sua missão de Consolador, é o amparo do mundo neste século de declives da sua história; só ele pode, na sua feição de Cristianismo redivivo, salvar as religiões que se apagam entre os choques da força e da ambição, do egoísmo e do domínio, apontando ao homem os seus verdadeiros caminhos.(1)

            Não desmereçamos o valor das profecias.

            Emmanuel, em “O Consolador”, páginas 152 a 155, trata dos profetas e afirma: “Em tempo algum as coletividades humanas deixaram de receber a sublime cooperação dos enviados do Senhor, na solução dos grandes problemas do porvir.”

            Meditemos, pois. Reexaminemos as entrelinhas das profecias que revelam os rumos da humanidade, porque a História não se faz apenas nos livros, mas, principalmente, na carne e na alma dos homens que participam, em cada época, em cada ciclo, dos dramas que hão de realizar, no espírito humano, a purificação necessária ao estabelecimento de dias melhores.

            (1)       Emmanuel - "A Caminho da Luz", páginas 187 a 196.
            (2)       Emmanuel - "O Consolador", págs. 30, 129 e 130.
            (3)       Leoni Kaseff - "A Profecia e o Fim dos Tempos", pág. 54.
            (4)       Ruth Montgomery - "O Dom da Profecia", págs. 149, 160 e 163.
            (5)       Emmanuel - "A Caminho da Luz", págs. 28 a 30.