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sábado, 11 de dezembro de 2021

O Espiritismo e as conclusões de Lombroso

 Cesare Lombroso


O Espiritismo e as Conclusões de Lombroso - I

por Michaelus (Miguel Timponi)

Reformador (FEB) Novembro 1944

             Pobre humanidade! Tão descrente, tão fraca, tão orgulhosa, debate-se entre os dois extremos, a vida e a morte, tateando, apalpando as balizas do caminho, em meio à dúvida à incerteza e ao mistério.

             Filósofos, homens de ciência, escritores e intelectuais, curvados sôbre o livro da vida, sem desviarem um momento o seu ponto visual, imobilizados dentro das seculares muralhas do preconceito e da infalibilidade, só encontram, veem, observam, dissecam, analisam e discutem a matéria tangivel, ou tudo que lhes afeta os sentidos, erigindo princípios e articulando postulados.

             Diante, porém, do empolgante e grandioso espetáculo da Natureza, em que tudo é movimento, força, vibração, calor, luz, eletricidade, magnetismo; em que tudo se coordena com a maior precisão, desde o infinitamente pequeno ao infinitamente grande; em que fenômenos insólitos e inexplicados surgem, a cada passo, derrogando princípios que pareciam axiomáticos e incontrastáveis - os sábios da Terra sentem, mas temem confessá-Io, que há algo de superior que à sua ciência ainda não foi dado desvendar.

             Agitam-se intensamente as células cerebrais, queima-se fósforo nesse laboratório admirável, em que o pensamento surge e exterioriza-se em vibrações, movimento e fôrça, mas nada resulta para eles de certo, de positivo. Debatem-se os sábios nessa angústia, torturam o seu espírito com as conjecturas e as hipóteses do sobrenatural e do misterioso; arquitetam novos princípios e novas teorias, mas nada surge que possa passar incólume pelo crivo da razão e da lógica.

             Falta-lhes a fé, falta-lhes a humildade, que é o reconhecimento de que nada sabem; falta-lhes a percepção de Deus, falta-lhes abandonar a estrada das grandezas materiais, onde pontificam a vaidade e as glórias mundanas, e seguir o caminho íngreme, árduo, eriçado de dificuldades e tropeços, mas que conduz às altas claridades do Eterno e do Absoluto.

             O telescópio e o microscópio não veem Deus, porque somente a fé o alcança e o concebe.

             De quando em quando, porém, eis que surge do seio da Ciência um dêsses espíritos insaciados, que não se resignam com as fórmulas máximas abundantes de palavras, mas ocas de substância, e se atiram às pesquisas em busca de explicações mais reais, mais seguras, menos confusas e menos arbitrárias, e de que possa emergír o princípio ou a causa das coisas.

             Então, prosternados, humilhados, diminuídos em seu orgulho científico, sentem que há um princípio superior, inteligente, dominante, sem o qual não se poderia conceber a origem dos mundos. E a luz, a príncípío, como um ponto tênue e longínquo, e depois aos jorros, inunda esses espíritos, coroando-lhes o esforço e a tenacidade, abríndo-lhes de par em par as portas desse templo majestoso donde se descortina a eternidade de um Deus único, autor de todas as coisas, e causa de todaa as causas.

             Unem-se a Fé e a Ciência, e, de mãos dadas, seguem por essa esteira luminosa a proclamar a existência dessa verdade primária e a dizer com Gabriel Delanne: - “O Deus que compreendemos é a infinita grandeza, o infinito poder, a infinita bondade, a infinita justiça! É a iniciativa criadora por excelência, a fôrça incalculável, a harmonia universal! Paira acima da criação, envolve-a com a sua vontade, penetra-a com a sua razão, é por êle que os universos se formam, que as massas celestes rolam seus esplendores nas profundezas do vácuo, que os planetas gravitam nos espaços, formando radiantes auréolas em torno do Sol. Deus é a vida imensa, eterna, indefinível.”

             A Ciência indaga, pesquisa e, afinal, deduz que não se confundem matéria e espírito e que este é imortal e perfectível. A Fé, que vai buscar a sua inspiração no drama do Gólgota, fortalece a Ciência,  traça-lhe o âmbito de ação e supre-lhe as deficiências.

             Mas aí! Suprema decepção! Amarga aventura! Aquele que se agiganta em prosseguir nesse caminho, proclamando a existência de um mundo Invisivel formado pelos Espíritos que deixaram o seu invólucro material, mundo que se comunica com os vivos, que se agita com os mesmos erros e as mesmas paixões da Humanidade terrena, é capaz de produzir fenômenos estranhos - corre o risco de ser apontado como charlatão ou como louco.


 
             Essa é a história de todos os homens de ciência que se atreveram a estudar os fenômenos espíritas.

             Cesare Lombroso, o grande professor de Psiquiatria e Medicina Legal na Universidade de Turim e, a princípio, um dos mais ferrenhos opositores do Espiritismo, não escapou a essa regra geral. Espírito de escol, autor de uma teoria penal sobre o homem delinquente, combatente intrépido no campo da antropologia criminal, habituara-se a êsse alvoroço da crítica . tendenciosa e esneculatíva, que jamais conseguiu abater-lhe o ânimo.

            A vida dos grandes pensadores modernos, disse Viveiros de Castro, referindo-se a Lombroso, tem alguma coisa de pungentemente doloroso e triste. É a maneira por que o público acolhe seus livros, resultado de tanto tempo consumido em longo estudo e profundas cogitações. No começo é uma gritaria infernal contra o ímpio que se atreve a combater idéias que a tradição consagra e os sábios aceitam e defendem, insultos e ridículos chovem sobre a cabeça do desgraçado, considerado um louco ou um bobo, digno do hospício ou da forca. Mas depois que essas idéias, após uma luta titânica, desesperada, conseguem impor-se pela força irresistivel da verdade, qualquer tipo ousa dizer as maiores sandices em nome do sábio, cujas obras nunca leu, cujas opiniões desconhece completamente. Só muito tarde é que a justiça se faz completa, e isto quando o sábio descansa no túmulo ou tem o espírito desiludido e amargurado. A essa sorte triste, quase fatal, dos pensadores modernos, não escapou o eminente sábio, cujas descobertas geniais criaram a moderna antropologia criminal.


 

O Espiritismo e as Conclusões de Lombroso - 2

por Michaelus (Miguel Timponi)

Reformador (FEB) Dezembro 1944

 

            Diversa não lhe foi a recepção quando, ao cabo de longas, tenazes e árduas experiências, relegando a sua oposição ao Espiritismo, enfileirando-se entre os sábios que estudaram o assunto, resolveu publicar o seu livro – “Pesquisas sobre os fenômenos hipnóticos e espíritas”.

             No prefácio dessa obra, Lombroso nos dá conta de como foi tratado: “Quando ao termo de uma carreira rica, senão de vitórias, pelo menos de tremendas batalhas, em favor das novas correntes do pensamento humano na psiquiatria e na antropologia criminal, iniciei as pesquisas e depois a publicação de um livro sobre os fenômenos ditos espíritas, de todos os lados surgiram a gritar-me, mesmo os amigos mais caros: - quereís destruir um nome honrado, uma carreira que, depois de tantas lutas, chega finalmente a sua meta, com uma doutrina que todo o mundo não só repudia, mas, o que é pior, despreza e considera ridícula."

             Sem embargo dessa atoarda, a mesma que persegue a todos quantos despertam um dia e recebem os radiantes alvores de uma nova verdade -o que somente surge após ingentes e perseverantes esforços, Lombroso prossegue corajosamente e exprime a sua determinação com estas palavras: - “Pois bem: tudo isso não me fez hesitar um só instante em continuar no caminho iniciado. Senti-me, ao contrário, mais deliberadamente impulsionado para a frente, porque me parecia uma fatalidade coroar uma vida consagrada às pesquisas de novas idéias, combatendo pela idéia mais combatida e talvez mais escarnecida do século. Parecia-me, também, um dever encontrar-me, até o último dos meus já contados dias, precisamente lá onde mais eriçados surgem os obstáculos e mais enfurecidos são os adversários.”

             Bela profissão de fé! Empolgante e comovedora deliberação de um velho e afadigado lutador, mas que, com espírito jovem, caminhou para o sacrifício, tendo a alentar-lhe os passos a esperança de encontrar, já no fim da estrada, onde suas fôrças estariam, talvez, esgotadas, a verdade que procurou durante tôda uma vida!

             E ei-Io novamente a reafirmar: - “se sempre nutri uma grande paixão pela minha bandeira científica, tive outra ainda mais ardente: a adoração da verdade, a constatação do fato.”

             Para a causa espírita a opinião de Lombroso era tanto mais insuspeita quanto é certo que era ele um dos seus opositores mais cultos, tendo somente concordado em ocupar-se do exame e estudo da questão depois que, em fins de março de 1891, num hotel de Nápoles. em pleno dia, estando a sós com a célebre médium Eusápia Paladino, viu objetos pesadíssimos que se erguiam do solo sem qualquer contato.

             Entregou-se, então, seriamente, às experiências com essa médium, as quais, segundo afirma, para que pudessem ser minuciosamente descritas exigiriam um enorme volume. Por isso, em seu livro, "Ricerche sui Fenomeni Ipnotici e Espiritici", expõe somente aquelas que foram igualmente assistidas por Aksakof, Richet, Giorgio Finzi, Ermacora, Brofferio, Gerosa, Schiaparelli e Du-Prel, precedidas sempre das precauções mais indícadas, como sejam: examinar a médium, mudar-lhe as vestes, ligar e manter seguros os pés e as mãos, controlar a luz elétrica de maneira a poder usá-Ia, ligando-a ou desligando-a à vontade.

             Os fenômenos observados e examinados foram os seguintes: levantamento parcial e completo de mesas, medida da força aplicada ao soerguimento lateral; variações da pressão exercida por todo o corpo do médium sôbre uma cadeira; aparições de mãos sob fundo ligeiramente iluminado; elevação e transporte da médium para cima de uma mesa com a cadeira em que se encontrava sentada; diversos contatos, inclusive com uma face humana; som de trombeta, etc., etc.

             Ultrapassaria de muito o objetivo deste artigo transcrever o relato analítico que faz Lombroso sôbre cada um dos fenômenos observados. O que nos interessa, neste momento, é a transcrição textual das suas conclusões:

             “Assim, pois, diz ele, todos os fenômenos maravilhosos que havíamos observado na obscuridade completa ou quase completa, nós o obtivemos, afinal, à luz, sem nunca perder de vista a médium, sequer por um instante. Por isso, a sessão de 6 de outubro foi para nós a constatação evidente e absoluta da justeza das nossas impressões anteriores obtidas na obscuridade; foi a prova incontrastável de que para explicar os fenômenos da completa obscuridade, não havia mister supor uma fraude da médium, nem uma ilusão de nossa parte; foi a prova de que  esses fenômenos podem resultar das mesmas causas que os produzem quando o médium é visível por meio de uma luz suficiente, tornando

possível observar-lhe a posição e os movimentos. Ao tornar público este breve e incompleto relato das nossas experiências, devemos ainda exprimir as nossas seguintes conclusões:

 “1º) - Que, nas circunstâncias dadas, nenhum dos fenômenos, obtidos à luz mais ou menos intensa, teria podido ser produto de um artifício qualquer;

 2º) - Que a mesma convicção pode ser afirmada em relação à maior parte dos fenômenos obtidos em obscuridade completa. Em relação a certa parte desses últimos, poderíamos bem reconhecer, in massima, a possibilidade de imitá-Ios por meio de qualquer hábil artifício do médium. Todavia, depois do que acabamos de dizer, é evidente que essa hipótese seria, não somente improvável, mas também inútil em, nosso caso, porque, mesmo com o admití-Ia, o conjunto dos fatos assegurados com precisão não estaria comprometido."

             Essas conclusões não poderiam ser mais claras, mais positivas, mais honestas e mais verdadeiras partindo, como partiram, de um sábio que havia duramente escarnecido dos espíritos das mesinhas... e das cadeiras (io, che avevo deriso per tanti anni gli spiriti dei tavolini... e delle sedia!).

             Magnífica lição, maravilhoso exemplo, que, infelizmente, não encontram ardorosos imitadores entre os sábios e os fil6sofos, apaixonados sonhadores, enamorados das gloríolas terrenas, os quais têm os olhos fitos nos umbrais das academias oficiais, onde a ciência orgulhosa decreta inapelavelmente os princípios da sua infalibilidade, negando a Deus, glorificado nas alturas, e negando a paz aos homens de boa vontade.

             O sábio professor da Faculdade de Turim, buscando a verdade, em meio à hostilidade dos seus contemporâneos, provou sobejamente que não era doutor em Israel.



 


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